quarta-feira, 8 de abril de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 78)


WAGNER, Richard Wilhelm (1813-1883) –Tem muito idiota que não gosta de Wagner porque ele seria anti-semita. Sandice, ele se interessou durante toda a sua vida apenas por duas coisas: fuder e compor. Se não tivesse existido, provavelmente a ópera moderna não existiria. Falar em romantismo é falar neste homem de fortíssima personalidade e penentrantes olhos azuis que, para os medíocres de ontem e de hoje, tinha um grave defeito: sabia que era um gênio e queria ser reconhecido como tal.
O mundo seria bem mais pobre do que é sem o Anel dos Nibelungos, uma série de quatro óperas baseada na mitologia nórdica, para não falar de Parsifal, sua última produção, que foi produzida por três judeus.
Dava-se ao luxo de escrever seus próprios libretos, cujo valor musical não excedia o valor poético.
No seu tempo nenhum homem conseguiu cantar, representar e reger suas óperas como ele.
Aprendeu a tocar piano sozinho e aos quinze anos já havia escrito uma tragédia em versos. Antes disso, porém, já havia comido todas as empregadas que passavam pela casa de seus pais (que mexiam com música e teatro) e um sem-número de primas.
Tinha essa capacidade incomum de botar os olhos numa mulher e ter a certeza – sempre confirmada – de que ela iria para a cama com ele.
Em 1833, deixou a Universidade de Leipzig para ser maestro de pequenas companhias de ópera que viajavam pelo interior da Alemanha e da Áustria. Comeu quem quis.
Aliás, houve uma que não deu para ele: Christianne Wilhelmine Planer, atriz de uma companhia da qual ele era maestro. Perseguiu-a durante dois anos até que ela disse: “Dou, mas só casando”.
Casaram, ele com vinte e três e ela com vinte e sete anos. Amavam-se muito, mas cedo ela descobriu duas manias do marido: uma tesão que ia além dos limites da sua cama e uma capacidade fora do comum de viver atolado em dívidas.
Richard Wagner achava que dava muita beleza ao mundo e que merecia ser recompensado, pagando ou não as suas contas.
De 1839 a 1842, os dois passaram um tempo tumultuado em Paris. Lá conheceram Jessie e George Laussot. Ela inglesa, boérrima, de vinte e um anos, e ele francês, riquíssimo, amante da boa música, com quarenta anos.
George manteve Wagner financeiramente durante dois anos até descobrir que há dois anos ele comia a sua mulher. Com um revólver na mão, o francês disse ao compositor alemão: “Você é um filho da puta mal-agradecido. Tira o time antes que eu te dê um tiro”.
Antes de tirar o time, Wagner tentou convencer Jessie a fugir para a Grécia com ele. Ela, porém, havia se afeiçoado ao dinheiro do francês.
Wagner ficou putíssimo, mas continuou compondo, comendo o mulherio sempre fascinado por seu talento músico-sexual, gastando acima de suas posses e se desculpando com a mulher: “Minna, eu te amo muito. Não podes dizer que sou um mau amante. Mas tenho uma tesão gigantesca. Essas mulheres todas, porém, são paixões passageiras. Não valem nada comparadas ao nosso amor”.
“E se eu resolver sair dando por aí?”, perguntou ela.
E ele: “Por que, se faço amor contigo sempre que sentes vontade?”
Assim foram levando a vida até o dia em que Wagner conheceu Karl Wasendonck, um homem riquíssimo que, penalizado com as dívidas do compositor, sempre perseguido por credores e pela polícia, resolveu pagá-las.
Karl o apresentou a sua belíssima mulher, Mathilde. Assim que se viu sozinha com ela, ele não perdoou: “Você sabe que nós nos amamos, não é mesmo?”
Mathilde devia ter uma personalidade extraordinária, pois respondeu: “Eu te amo e você me ama, mas antes de irmos para a cama quero contar tudo ao meu marido”.
Não só contou como convenceu o marido: 1) a aceitar a situação; 2) a desistir de fuder com ela; 3) a sustentar Wagner e a sua mulher Minna e a instalá-los numa casa vizinha à deles.
Mathilde e Wagner eram extremamente discretos, mas um dia Minna descobriu uma carta dele para ela em termos francamente fodais. Ficou irritadíssima e foi tomar satisfações com Mathilde, que também ficou putérrima. Respondeu: “Em primeiro lugar, eu pensei que você soubesse, e em segundo lugar, acho uma sacanagem ele não ter te contado”. Ipso facto mandou Wagner à merda e voltou para a cama do marido, cujo moto era “quem espera sempre alcança”.
Aliás, Minna também mandou o marido à merda e foi viver a sua vida. Ocasionalmente, ele a visitava para uma fodinha, mas nunca mais voltaram a viver juntos.
Pouco antes disso tudo acontecer, porém, Wagner recebeu a visita de seu aluno predileto, o pianista Hans von Bülloweda e a mulher dele, Cósima von Büllow, filha do grande concertista e grande comedor Franz Liszt, apenas dois anos mais velho que Wagner que, na época, tinha quarenta e cinco anos.
O grande erro da vida de Büllow foi ter dito a Cósima, logo após o casamento: “Vamos passar a Iua-de-mel na casa do meu mestre, Richard Wagner”.
Lá eles foram apresentados à amante Mathilde e à mulher Minna. Cósima não sabia que seria a terceira.
Ela tinha vinte e cinco e ele quarenta e cinco anos. Wagner já havia comido a irmã mais velha de Cósima, mas levou três anos para convencê-la a trepar com ele.
Durante muito tempo ela ficou dividida entre von Büllow e Wagner, mas este era um profissional.
Cósima acabou abandonando o marido e indo viver com o amante, levando com ela as duas filhas.
Foi nesta época que alguém se apaixonou loucamente por Wagner, já considerado gênio e irresponsável. Nada menos que Luís II, da Baviera. Tinha dezoito anos, gostava de música e de tomar no rabo.
Wagner estava longe de qualquer tendência homossexual, mas o seu ego ficou inchadíssimo: “Porra, estou com quase cinquenta anos e tem um rei apaixonado por mim. Será que vou conseguir renunciar às mulheres?”
O rei idolatrava Wagner, a quem chamava de “Meu amado mestre”, e Wagner idolatrava a grana do rei, que durante um ano gastou à vontade, até que os conselheiros do Viadarca lhe informaram: “Majestade, ousamos informar que a influência do compositor Richard Wagner não é saudável nem para o senhor e nem para a Baviera”.
Ninguém sabe se Wagner introduziu a sua batuta na tuba real, mas o fato de acabar com o rei parece não tê-lo afetado.
Aproveitou o fato de Minna ter morrido e de von Büllow ter pedido o divórcio alegando infidelidade conjugal para se casar com Cósima, que acabou se revelando a mulher da sua vida. “Ele é um gênio e eu tenho que conviver com isso.” Tiveram dois filhos e viveram felizes para sempre.
Treze anos depois do casamento, Wagner já rico e famosíssimo, estava num castelo em Veneza compondo à luz de vela. Como era também um atleta, disse a uma das suas filhas: “Quer ver como seu velho pai ainda dá umas cambalhotas?” A menina disse que sim e ele deu dois saltos mortais e caiu de pé. Voltou para o piano e continuou compondo.
De madrugada, Cósima o encontrou agonizante. Dizem que ela teria ficado vinte e quatro horas abraçada ao seu cadáver e em seguida teria cortado seus longos cabelos e os colocado dentro do caixão sobre o peito do marido.
Lizst, seu sogro e outro grande fudedor, embora bem mais discreto e menos agitado, teria comentado: “Desconfio que este sacana comeu mais mulheres do que eu”.

WENDY Carlos (1939- ) – Já imaginaram, vocês estarem vendo televisão cm casa à noite e de repente aparecer uma cantora de seus quarenta e poucos anos chamada Caetana Velez? Até aí nada demais. Mas se ela for autora da música, a música for excepcional e ela possuir uma voz bela e afinadíssima? Vocês, certamente, se perguntarão: “Mas quem é esta mulher maravilhosa? Onde esteve escondida este tempo todo?” 
E se, em seguida, Caetana Velez se tornar uma sensação com milhões de fãs no Brasil inteiro, faturando os tubos com discos onde só aparecem composições interpretadas por ela? 
Vocês compreenderiam tudo se depois de alguns anos, Caetana Velez desse uma entrevista à revista Playboy e confessasse: “Em verdade, eu já fui Caetano Veloso. Hoje, depois da operação, sou Caetana Velez”.
É claro que isso não aconteceu com Caetano Veloso, que continua aí mais caetaníssimo que nunca, amado por centenas de milhares de fãs.
Mas aconteceu com Walter Carlos, cantor, compositor e músico, cujo álbum Switched on Bach vendeu milhões de cópias no fim dos anos 60 nos Estados Unidos e na Europa.
Rico, famoso, boa-pinta, Walter não era feliz pois se sentia uma mulher, presa num corpo de homem.
Um dia, encheu o saco e começou a andar vestido de mulher.
Não deixou de fazer sucesso por isso.
Ao contrário: foi co-responsável pela trilha sonora do filme Laranja Mecânica, escrito por Anthony Burgess e dirigido por Stanley Kubrick.
Depois disso, Walter Carlos desapareceu durante alguns anos e em seu lugar surgiu Wendy Carlos, que em 1979, confessou numa entrevista à revista Playboy: “Eu já fui Walter Carlos. Hoje sou Wendy Carlos”.
O que restava de Walter ficou na mesa de operações do médico que extirpou o pênis e os testículos do famoso músico. '

P.S.: Em verdade, este verbete deveria estar na letra “C”, pois o sobrenome é Carlos, mas quando vi já era tarde. Há quem garanta que Wendy Carlos disse a amigos depois da operação: “Quando acordei da anestesia, me arrependi. Mas quando vi já era tarde”.

ABC do Fausto Wolff (Parte 77)


VILLA, Pancho (1878-1923) – Bom sacana! As mulheres que ele não conseguia comer na conversa, comia na marra. Apesar disso, juntamente com Emiliano Zapata, foi o grande herói da revolução mexicana iniciada em 1910. Corajoso, grande estrategista, foi também objetivamente cruel. Imaginem que matou mais de oitenta mulheres e crianças que viviam no seu próprio acampamento, pois elas atrasavam a marcha das tropas. Mesmo assim, é o personagem que mais se aproxima da descrição de Robin Hood, o aventureiro que roubava dos ricos para dar aos pobres. Infelizmente, no Brasil temos apenas Nibors Doohs, ou seja, Robins Hoods ao contrário, que roubam dos pobres para dar aos ricos.
Villa tinha 1,80m de altura, cabelos pretos ondulados, um bigode do tamanho do do Sarney e uma cara de idiota, pois, sofrendo de adenóides, não conseguia fechar os lábios. Muita gente morreu por não entender que o dono da cara de idiota não era idiota.
Não se pode acusá-lo de ter sido feminista, mas como ele mesmo dizia, “me gusta casar”. E gostava mesmo de casar. Tanto que casou setenta e cinco vezes. Nem esperava uma mulher morrer para casar com outra. Era um verdadeiro polígamo.
Um dia lhe perguntaram: “Como el general”, patente que se autoconcedeu, “consegue padres para casá-lo?” Resposta: “Es simples. Digo a el padre que sino me casa le meto una bala en la cabeza”.
Villa, que em verdade se chamava Dorotéo Arango, usava o pseudônimo porque teve que fugir de casa aos quinze anos, depois de matar o cara que tinha comido a sua irmã. Deve ter pensado: “Se comeram a minha, vou comer a dos outros”.
Certamente não era o que se poderia chamar de marido fiel, mas exigia fidelidade das suas mulheres.
Às vezes não casava, quando as mulheres já eram casadas, por exemplo.
Adelita – quem não conhece a famosa canção-símbolo da revolução mexicana? – era mulher de um dos seus soldados. Ele a surpreendeu na cama com Villa. Em vez de dar um tiro nos dois, imaginem o que fez o corno idiota? Deu um tiro nos próprios cornos.
Chateado, Villa mandou Adelita se coçar nas ostras. Sorte dela, pois ele poderia tê-la matado, uma vez que era de opinião que “las mujeres infieles deben ser muertas”
Manteve durante toda a vida uma incrível tesão por sua primeira mulher – Manuela Casas –, que morava na cidade de Parral.
De quinze em quinze dias ia visitar a cama de “la senõra”. Seus inimigos sabiam disso.
No dia 20 de julho de 1923, ano do nascimento de Stanislaw Ponte Preta, que não tem nada a ver com esta história, o pessoal que não ia com a cara do Pancho deixou-o comer Manuela durante horas.
Quando ele saiu e embarcou no seu Dodge do ano, levou treze tiros no peito para aprender a não querer ser mais macho que os outros.

VIRGINDADE – Como a dos jornalistas independentes, a classe das virgens está em plena extinção. Principalmente depois do advento da pílula. Há na Dinamarca, em pleno centro de Copenhague, a estátua de um soldado prestes a soprar uma corneta. Diz a lenda que ele a soprará quando passar à sua frente uma virgem com mais de quinze anos. De virgem mesmo, só a corneta, que jamais emitiu um som.
Mas vamos à virgindade propriamente dita.
Quando levada a sério, pode ser classificada como um estado de total inexperiência sexual.
Quando a serviço da hipocrisia e do falso moralismo, é a história da mocinha que deu todos os orifícios menos aquele.
A importância dada à virgindade, principalmente a feminina, varia de cultura para cultura.
Os povos antigos davam pouca importância ao assunto, embora os árabes, até hoje, considerem as não-virgens inaptas para o casamento.
Estas firulas, evidentemente, acontecem com as filhas de pais pobres que chegam a gastar um dinheirão para convencer o médico a passar um atestado afirmando que a moça perdeu a virgindade sem que houvesse contato sexual.
Eis as estimativas levadas a efeito nos Estados Unidos: em 1920 cerca de 70% da população feminina chegava virgem ao casamento.
Trinta anos depois apenas 40% era virgem e, provavelmente, todas feias.
Hoje em dia as virgens não chegam aos 10%.
E tem mais: a maioria das garotas modernosas dos grandes centros como Roma, Paris, Londres, New York, Los Angeles e – palmas para ele que ele merece – Rio de Janeiro têm vergonha de se confessarem virgens.
Com a aparição do vírus da AIDS, há uma possibilidade da virgindade voltar à moda. Melhor ser quadrada que defunta.
Pessoalmente, acho que se trata de uma questão de hábitos, costumes, tabus, com os quais não se deve interferir e que tem seu tempo de vida.
Do mesmo modo que compreendo que um casal jovem não queira se arriscar a um casamento sem antes testar sua compatibilidade sexual, também entendo que uma jovem – e até mesmo um jovem – queira manter a sua virgindade até o casamento.
O que é criminoso é querer impingir, através de novelas cretinas de televisão, os hábitos de Ipanema nas pequenas cidadezinhas do Nordeste.
Observem este primor de hipocrisia na Inglaterra vitoriana, quando era inconcebível a ideia de uma jovem não casar virgem: os javalis taradões da sociedade inglesa pagavam os tubos para as donas de puteiros lhes arranjarem donzelas para serem defloradas.
Cada bordel tinha um médico de plantão para recosturar a “virgem” assim que o freguês saísse. Esta mesma virgem seria desvirginada por outro tarado no dia seguinte. Todo mundo ganhava muita grana, mas devia doer pacas.
De qualquer modo, aí vai um aviso para moças e rapazes: uma jovem pode romper o hímen sem fazer amor ou pode fazer amor sem romper o hímen.
A moralidade, a justiça, a fraternidade de uma sociedade independem de uma membrana. Uma coisa, porém, é certa: a membrana está lá por algum motivo e é frágil.
Quando tinha menos de vinte anos escrevi um poeminha para uma adolescente. Era mais ou menos assim: “Não vende esta flor que nasce entre as coxas tão cedo na feira, menina! Há um jardineiro só para ela. Ele virá em silêncio e na hora certa, o reconhecerás”. Esses troços...

VOYEURISMO – O voyeur está para o exibicionista assim como o sádico está para o masoquista. Um não existe sem o outro. O exibicionista gosta de se mostrar enquanto que o voyeur, para completar sua satisfação, precisa ficar na moita, escondido, discretíssimo. De uma certa forma a quase totalidade dos homens e uma minoria de mulheres são voyeurs.
Quem, caso tenha a oportunidade de ver uma bela mulher tirando a roupa no edifício em frente, não apagará a luz do seu apartamento para curtir a cena com calma? Se tiver um binóculo, melhor ainda.
Neste sentido inofensivo, todos os homens são voyeurs e todas as mulheres são exibicionistas: basta ir a qualquer praia e ver milhares delas de fio dental.
O verdadeiro voyeur, o profissional, porém, só obtém satisfação sexual olhando.
É capaz de se arriscar a levar um tiro, escalar um edifício inteiro, só para ver um casal trepando. Bate a sua punhetinha e vai embora sem aporrinhar ninguém.
Existem, é claro, mulheres exibicionistas que se despem com toda a calma do mundo em frente a uma janela aberta e que gozam simplesmente por saberem que no escuro, em algum lugar qualquer, escondidão, tem alguém olhando para ela.
A diferença fundamental entre o voyeur amador e o profissional é a seguinte: enquanto o amador, ao ver um casal trepando, gostaria de estar no lugar do homem, o profissional não tem nenhum interesse nisso; quer mesmo é ficar espiando.


VULVA, José Maurício (1923- ) – Chegou a jogar algum tempo no São José, de Porto Alegre, que não existe mais. Em 1947, fez parte do famoso trio de alfes, Orozimbo, Prego e Vulva. Abandonou o esporte para fazer carreira no Itamaraty e chegou a ser segundo-secretário da nossa embaixada em Lagos, na Nigéria, onde foi visto pela última vez em 1958. 
Sua carreira, dizem, foi bastante prejudicada pelo fato de ter lábio leporino, o que dificultava a comunicação com os nativos.

Chama-se vulva, também, a parte externa da genitália feminina: grandes lábios, pequenos lábios, clitóris, abertura da uretra e a abertura da vagina (é, ali mesmo!) propriamente dita.
Voltando ao desaparecido José Maurício, no dia em que perdeu um pênalti contra o Juventude, de Caxias do Sul, em jogo decisivo, a torcida do São José cobriu ele de porradas.

O locutor da rádio Farroupilha se esbaldou: “Estão tascando o pau no Vulva”. Coisas da vida.

ABC do Fausto Wolff (Parte 76)


VERLAINE, Paul (1844-1896) – Ele era filho de militar e um excelente poeta lírico, provavelmente o melhor da sua época. Ela chamava-se Mathilde Mauté, da classe média francesa, bonita e apaixonada. Quando se conheceram e casaram, ele tinha vinte e cinco anos, era gentil, boa-pinta e famoso. Ela era uma menina de dezessete anos que queria ser feliz.
Algumas semanas após o casamento ela notou que o seu Paul estava sempre cansado na hora do fuder e quando o fazia, fazia mal. Às vezes passava dois, três dias sem aparecer em casa e se ela ousasse reclamar, ele a cobria de porradas.
Ela ficou grávida, mas continuou apanhando e quando o filho do casal – George – nasceu, ele quase o matou quando o nenê o acordou com o seu choro.
Como ela era uma menina muito asseada, ele passou a não tomar banho, provavelmente para fazer com que ela se afastasse dele.
Pobre Mathilde, devia pensar: “O que será que o Paul quer?”
Fora eu vivo e conhecesse o casal naquela época diria: “Mathilde, o Paulinho quer sentar em cima de um trolho”.
Mathilde acabou descobrindo de que coceira sofria o seu marido quando um dia — eles já estavam casados há três anos — ele apareceu em casa com um garoto de dezessete anos e disse: “Mathilde, te apresento o meu amigo Arthur Rimbaud. Ele vai morar conosco”.
Rimbaud, embora garoto, era um bom filho da puta e um melhor poeta, melhor que Verlaine, inclusive.
Uma noite, Mathilde acordou e encontrou Verlaine dormindo com Rimbaud.
A partir desta noite os dois perderam a vergonha. Se comiam na frente de Mathilde que, dura, não teve coragem de se mandar.
Em 1872, vendo que Mathilde não se mandava, Verlaine e Rimbaud saíram de casa para não mais voltar. Rimbaud, aliás, aproveitou para afanar uma flauta de marfim de Mathilde.
Se Verlaine se apaixonou, aparentemente, o mesmo não aconteceu com Rimbaud, que trepava com todos os viados de Paris quando não estava escrevendo ou enchendo a moringa de absinto, bebida muito em moda na época.
Paulette não aguentou e deu um tiro nele. Ele não morreu, mas Verlaine passou dois anos na cadeia.
Rimbaud aproveitou para abandonar a poesia e a viadagern. Viajou para a Etiópia, onde comeu muitas nativas enquanto contrabandeava armas.
Em 1891, voltou para a França a fim de se casar, mas morreu no mesmo ano em Marselha, graças a uma perna gangrenada.
Mathilde, assim que passou a lei do divórcio, entrou com uma ação e se casou de novo aos trinta e três anos. Teve dois filhos com um mestre de obras.
George, seu filho com Verlaine, nunca passou de chefe de estação do metrô de Paris e toda vez que ouvia falar no nome do pai, tomava um porre. Morreu de porre em 1926.
Verlaine continuou escrevendo poesia – nada que pudesse se comparar com a produção dos primeiros anos – e morreu na casa de uma velha prostituta – Eugénie Krantz –, todo fudido, aos cinquenta e dois anos.
Apesar dessa história sórdida, em menos de cinco anos Paul Verlaine e Arthur Rimbaud produziram a melhor poesia francesa da última metade do século XIX.
Hoje dão nome a dois edifícios contíguos, de luxo, em Ipanema, no Rio de Janeiro, cujos moradores só lêem Vinícius de Moraes, com exceção do inquilino do 701 do Verlaine, que é vidrado em Baudelaire, que também era francês, também era bom poeta, mas não sentava em objetos estranhos.

VENÉREA, Doença – Não, não é isso que a senhora está pensando. A doença não se chama venérea porque Vênus um dia pegou uma gonorréia de Marte, com o qual corneava seu marido, Vulcano. Aliás, Vênus era uma deusinha muito mixuruca de origem desconhecida, associada à jardinagem. Mais tarde é que os romanos decidiram associá-la a Afrodite, a deusa grega do amor. Como não há setor da história da humanidade que não esconda alguma sacanagem política, Vênus não fugiu à regra.
Júlio César clamava ser descendente de Enéas, o fundador do Lazio, filho de Afrodite. Isso lhe dava origem divina e o direito de ser proclamado deus, bem como os seus descendentes. Quem sabe um pouco de História sabe também o mal que esta pretensão fez à saúde de Júlio César.
Mas voltamos à doença venérea. Como a gonorréia, a sífilis, o cancroide, o galo, a linfogranulama, são transmissíveis por microorganismos muito sacanas como os espiroquetas, os gonococos, os bacilos e os vírus, através da relação sexual, receberam o nome de doença do amor.
Até Alexander Flemming descobrir a penicilina na primeira metade deste século, milhões e milhões de homens e mulheres morreram de doenças do amor.
Todas essas doenças, entretanto, não passam de frescuras se comparadas com a AIDS, que também se transmite através do ato sexual.
Para que esses vírus todos não entrem dentro do organismo é que se inventou a camisa-de-vénus, ou seja, a camisa do amor para combater a doença do amor.
Hoje em dia é difícil encontrar uma mocinha dadeira que não ande com uma coleção de camisas-de-vênus na bolsa.
As mais sofisticadas chamam as camisas de blusas de Afrodite.
Outra versão apócrifa diz que deuses astronautas trouxeram as camisas do planeta Vênus para o México no século II d.C. e informaram aos astecas: “Um dia virão homens pelo grande rio, montados em animais de quatro patas. Eles virão para fuder o povo de vocês. Para evitar isso, dêem-lhe essas camisas que trouxemos do nosso planeta”.
Com camisa ou sem camisa, a verdade é que os espanhóis fuderam os astecas, cujos descendentes, hoje em dia, continuam sendo fudidos pelos americanos.

VERMILYE JR., Claudius (1929- ) – Todos achavam que ele era um bom pastor episcopal, assim como o Jimmy Swagart, que até pouco tempo atrás aparecia na televisão brasileira e, em voz dublada com acento americano, dizia aos mortos de fome do meu país que se eles parassem de bater punheta e de pensar em sacanagem, iriam para o céu.
Mas, como eu ia dizendo, todos achavam que o Claudius Vermilye era gente fina porque havia fundado uma instituição de caridade para garotos desamparados, chamada “A Fazenda dos Meninos”, perto de Winchester, no Estado do Tennessee.
Gostavam dele principalmente porque não vivia enchendo o saco da vizinhança pedindo donativos.
Um dia, porém, uns sete anos atrás, umas velhinhas, como acontece no cinema, resolveram fazer uma visita ao bom pastor.
Encontraram o bom pastor enrabando um menino de onze anos e sendo enrabado por um de quinze.
Como ele arranjava dinheiro para manter a fazenda? É simples: convidava viados e bocas de fogo riquíssimos para orgias com os garotos. 
Filmava o troço todo e depois revendia as cópias pelo mundo afora. 
Tinha clientes até na Arábia Saudita, o encuflechado!
As velhinhas foram à polícia e a garotada botou a boca no trombone.
Hoje o filho da puta está na cadeia cumprindo uma pena de quarenta e cinco anos.
Na mesma cadeia, aliás, deviam botar o Jimmy Swagart, que pregava a fidelidade ou a total abstenção sexual mas pagava prostitutas para desfilar peladas na frente dele. Troço nojento. 
Não ele pagar as putas pra desfilar, mas o fato de ser ele o pagador: o tartufo que sabia que na prática a teoria é outra. Roubava do povão pra dar pras putas.