quarta-feira, 8 de abril de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 76)


VERLAINE, Paul (1844-1896) – Ele era filho de militar e um excelente poeta lírico, provavelmente o melhor da sua época. Ela chamava-se Mathilde Mauté, da classe média francesa, bonita e apaixonada. Quando se conheceram e casaram, ele tinha vinte e cinco anos, era gentil, boa-pinta e famoso. Ela era uma menina de dezessete anos que queria ser feliz.
Algumas semanas após o casamento ela notou que o seu Paul estava sempre cansado na hora do fuder e quando o fazia, fazia mal. Às vezes passava dois, três dias sem aparecer em casa e se ela ousasse reclamar, ele a cobria de porradas.
Ela ficou grávida, mas continuou apanhando e quando o filho do casal – George – nasceu, ele quase o matou quando o nenê o acordou com o seu choro.
Como ela era uma menina muito asseada, ele passou a não tomar banho, provavelmente para fazer com que ela se afastasse dele.
Pobre Mathilde, devia pensar: “O que será que o Paul quer?”
Fora eu vivo e conhecesse o casal naquela época diria: “Mathilde, o Paulinho quer sentar em cima de um trolho”.
Mathilde acabou descobrindo de que coceira sofria o seu marido quando um dia — eles já estavam casados há três anos — ele apareceu em casa com um garoto de dezessete anos e disse: “Mathilde, te apresento o meu amigo Arthur Rimbaud. Ele vai morar conosco”.
Rimbaud, embora garoto, era um bom filho da puta e um melhor poeta, melhor que Verlaine, inclusive.
Uma noite, Mathilde acordou e encontrou Verlaine dormindo com Rimbaud.
A partir desta noite os dois perderam a vergonha. Se comiam na frente de Mathilde que, dura, não teve coragem de se mandar.
Em 1872, vendo que Mathilde não se mandava, Verlaine e Rimbaud saíram de casa para não mais voltar. Rimbaud, aliás, aproveitou para afanar uma flauta de marfim de Mathilde.
Se Verlaine se apaixonou, aparentemente, o mesmo não aconteceu com Rimbaud, que trepava com todos os viados de Paris quando não estava escrevendo ou enchendo a moringa de absinto, bebida muito em moda na época.
Paulette não aguentou e deu um tiro nele. Ele não morreu, mas Verlaine passou dois anos na cadeia.
Rimbaud aproveitou para abandonar a poesia e a viadagern. Viajou para a Etiópia, onde comeu muitas nativas enquanto contrabandeava armas.
Em 1891, voltou para a França a fim de se casar, mas morreu no mesmo ano em Marselha, graças a uma perna gangrenada.
Mathilde, assim que passou a lei do divórcio, entrou com uma ação e se casou de novo aos trinta e três anos. Teve dois filhos com um mestre de obras.
George, seu filho com Verlaine, nunca passou de chefe de estação do metrô de Paris e toda vez que ouvia falar no nome do pai, tomava um porre. Morreu de porre em 1926.
Verlaine continuou escrevendo poesia – nada que pudesse se comparar com a produção dos primeiros anos – e morreu na casa de uma velha prostituta – Eugénie Krantz –, todo fudido, aos cinquenta e dois anos.
Apesar dessa história sórdida, em menos de cinco anos Paul Verlaine e Arthur Rimbaud produziram a melhor poesia francesa da última metade do século XIX.
Hoje dão nome a dois edifícios contíguos, de luxo, em Ipanema, no Rio de Janeiro, cujos moradores só lêem Vinícius de Moraes, com exceção do inquilino do 701 do Verlaine, que é vidrado em Baudelaire, que também era francês, também era bom poeta, mas não sentava em objetos estranhos.

VENÉREA, Doença – Não, não é isso que a senhora está pensando. A doença não se chama venérea porque Vênus um dia pegou uma gonorréia de Marte, com o qual corneava seu marido, Vulcano. Aliás, Vênus era uma deusinha muito mixuruca de origem desconhecida, associada à jardinagem. Mais tarde é que os romanos decidiram associá-la a Afrodite, a deusa grega do amor. Como não há setor da história da humanidade que não esconda alguma sacanagem política, Vênus não fugiu à regra.
Júlio César clamava ser descendente de Enéas, o fundador do Lazio, filho de Afrodite. Isso lhe dava origem divina e o direito de ser proclamado deus, bem como os seus descendentes. Quem sabe um pouco de História sabe também o mal que esta pretensão fez à saúde de Júlio César.
Mas voltamos à doença venérea. Como a gonorréia, a sífilis, o cancroide, o galo, a linfogranulama, são transmissíveis por microorganismos muito sacanas como os espiroquetas, os gonococos, os bacilos e os vírus, através da relação sexual, receberam o nome de doença do amor.
Até Alexander Flemming descobrir a penicilina na primeira metade deste século, milhões e milhões de homens e mulheres morreram de doenças do amor.
Todas essas doenças, entretanto, não passam de frescuras se comparadas com a AIDS, que também se transmite através do ato sexual.
Para que esses vírus todos não entrem dentro do organismo é que se inventou a camisa-de-vénus, ou seja, a camisa do amor para combater a doença do amor.
Hoje em dia é difícil encontrar uma mocinha dadeira que não ande com uma coleção de camisas-de-vênus na bolsa.
As mais sofisticadas chamam as camisas de blusas de Afrodite.
Outra versão apócrifa diz que deuses astronautas trouxeram as camisas do planeta Vênus para o México no século II d.C. e informaram aos astecas: “Um dia virão homens pelo grande rio, montados em animais de quatro patas. Eles virão para fuder o povo de vocês. Para evitar isso, dêem-lhe essas camisas que trouxemos do nosso planeta”.
Com camisa ou sem camisa, a verdade é que os espanhóis fuderam os astecas, cujos descendentes, hoje em dia, continuam sendo fudidos pelos americanos.

VERMILYE JR., Claudius (1929- ) – Todos achavam que ele era um bom pastor episcopal, assim como o Jimmy Swagart, que até pouco tempo atrás aparecia na televisão brasileira e, em voz dublada com acento americano, dizia aos mortos de fome do meu país que se eles parassem de bater punheta e de pensar em sacanagem, iriam para o céu.
Mas, como eu ia dizendo, todos achavam que o Claudius Vermilye era gente fina porque havia fundado uma instituição de caridade para garotos desamparados, chamada “A Fazenda dos Meninos”, perto de Winchester, no Estado do Tennessee.
Gostavam dele principalmente porque não vivia enchendo o saco da vizinhança pedindo donativos.
Um dia, porém, uns sete anos atrás, umas velhinhas, como acontece no cinema, resolveram fazer uma visita ao bom pastor.
Encontraram o bom pastor enrabando um menino de onze anos e sendo enrabado por um de quinze.
Como ele arranjava dinheiro para manter a fazenda? É simples: convidava viados e bocas de fogo riquíssimos para orgias com os garotos. 
Filmava o troço todo e depois revendia as cópias pelo mundo afora. 
Tinha clientes até na Arábia Saudita, o encuflechado!
As velhinhas foram à polícia e a garotada botou a boca no trombone.
Hoje o filho da puta está na cadeia cumprindo uma pena de quarenta e cinco anos.
Na mesma cadeia, aliás, deviam botar o Jimmy Swagart, que pregava a fidelidade ou a total abstenção sexual mas pagava prostitutas para desfilar peladas na frente dele. Troço nojento. 
Não ele pagar as putas pra desfilar, mas o fato de ser ele o pagador: o tartufo que sabia que na prática a teoria é outra. Roubava do povão pra dar pras putas.

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