quarta-feira, 8 de abril de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 78)


WAGNER, Richard Wilhelm (1813-1883) –Tem muito idiota que não gosta de Wagner porque ele seria anti-semita. Sandice, ele se interessou durante toda a sua vida apenas por duas coisas: fuder e compor. Se não tivesse existido, provavelmente a ópera moderna não existiria. Falar em romantismo é falar neste homem de fortíssima personalidade e penentrantes olhos azuis que, para os medíocres de ontem e de hoje, tinha um grave defeito: sabia que era um gênio e queria ser reconhecido como tal.
O mundo seria bem mais pobre do que é sem o Anel dos Nibelungos, uma série de quatro óperas baseada na mitologia nórdica, para não falar de Parsifal, sua última produção, que foi produzida por três judeus.
Dava-se ao luxo de escrever seus próprios libretos, cujo valor musical não excedia o valor poético.
No seu tempo nenhum homem conseguiu cantar, representar e reger suas óperas como ele.
Aprendeu a tocar piano sozinho e aos quinze anos já havia escrito uma tragédia em versos. Antes disso, porém, já havia comido todas as empregadas que passavam pela casa de seus pais (que mexiam com música e teatro) e um sem-número de primas.
Tinha essa capacidade incomum de botar os olhos numa mulher e ter a certeza – sempre confirmada – de que ela iria para a cama com ele.
Em 1833, deixou a Universidade de Leipzig para ser maestro de pequenas companhias de ópera que viajavam pelo interior da Alemanha e da Áustria. Comeu quem quis.
Aliás, houve uma que não deu para ele: Christianne Wilhelmine Planer, atriz de uma companhia da qual ele era maestro. Perseguiu-a durante dois anos até que ela disse: “Dou, mas só casando”.
Casaram, ele com vinte e três e ela com vinte e sete anos. Amavam-se muito, mas cedo ela descobriu duas manias do marido: uma tesão que ia além dos limites da sua cama e uma capacidade fora do comum de viver atolado em dívidas.
Richard Wagner achava que dava muita beleza ao mundo e que merecia ser recompensado, pagando ou não as suas contas.
De 1839 a 1842, os dois passaram um tempo tumultuado em Paris. Lá conheceram Jessie e George Laussot. Ela inglesa, boérrima, de vinte e um anos, e ele francês, riquíssimo, amante da boa música, com quarenta anos.
George manteve Wagner financeiramente durante dois anos até descobrir que há dois anos ele comia a sua mulher. Com um revólver na mão, o francês disse ao compositor alemão: “Você é um filho da puta mal-agradecido. Tira o time antes que eu te dê um tiro”.
Antes de tirar o time, Wagner tentou convencer Jessie a fugir para a Grécia com ele. Ela, porém, havia se afeiçoado ao dinheiro do francês.
Wagner ficou putíssimo, mas continuou compondo, comendo o mulherio sempre fascinado por seu talento músico-sexual, gastando acima de suas posses e se desculpando com a mulher: “Minna, eu te amo muito. Não podes dizer que sou um mau amante. Mas tenho uma tesão gigantesca. Essas mulheres todas, porém, são paixões passageiras. Não valem nada comparadas ao nosso amor”.
“E se eu resolver sair dando por aí?”, perguntou ela.
E ele: “Por que, se faço amor contigo sempre que sentes vontade?”
Assim foram levando a vida até o dia em que Wagner conheceu Karl Wasendonck, um homem riquíssimo que, penalizado com as dívidas do compositor, sempre perseguido por credores e pela polícia, resolveu pagá-las.
Karl o apresentou a sua belíssima mulher, Mathilde. Assim que se viu sozinha com ela, ele não perdoou: “Você sabe que nós nos amamos, não é mesmo?”
Mathilde devia ter uma personalidade extraordinária, pois respondeu: “Eu te amo e você me ama, mas antes de irmos para a cama quero contar tudo ao meu marido”.
Não só contou como convenceu o marido: 1) a aceitar a situação; 2) a desistir de fuder com ela; 3) a sustentar Wagner e a sua mulher Minna e a instalá-los numa casa vizinha à deles.
Mathilde e Wagner eram extremamente discretos, mas um dia Minna descobriu uma carta dele para ela em termos francamente fodais. Ficou irritadíssima e foi tomar satisfações com Mathilde, que também ficou putérrima. Respondeu: “Em primeiro lugar, eu pensei que você soubesse, e em segundo lugar, acho uma sacanagem ele não ter te contado”. Ipso facto mandou Wagner à merda e voltou para a cama do marido, cujo moto era “quem espera sempre alcança”.
Aliás, Minna também mandou o marido à merda e foi viver a sua vida. Ocasionalmente, ele a visitava para uma fodinha, mas nunca mais voltaram a viver juntos.
Pouco antes disso tudo acontecer, porém, Wagner recebeu a visita de seu aluno predileto, o pianista Hans von Bülloweda e a mulher dele, Cósima von Büllow, filha do grande concertista e grande comedor Franz Liszt, apenas dois anos mais velho que Wagner que, na época, tinha quarenta e cinco anos.
O grande erro da vida de Büllow foi ter dito a Cósima, logo após o casamento: “Vamos passar a Iua-de-mel na casa do meu mestre, Richard Wagner”.
Lá eles foram apresentados à amante Mathilde e à mulher Minna. Cósima não sabia que seria a terceira.
Ela tinha vinte e cinco e ele quarenta e cinco anos. Wagner já havia comido a irmã mais velha de Cósima, mas levou três anos para convencê-la a trepar com ele.
Durante muito tempo ela ficou dividida entre von Büllow e Wagner, mas este era um profissional.
Cósima acabou abandonando o marido e indo viver com o amante, levando com ela as duas filhas.
Foi nesta época que alguém se apaixonou loucamente por Wagner, já considerado gênio e irresponsável. Nada menos que Luís II, da Baviera. Tinha dezoito anos, gostava de música e de tomar no rabo.
Wagner estava longe de qualquer tendência homossexual, mas o seu ego ficou inchadíssimo: “Porra, estou com quase cinquenta anos e tem um rei apaixonado por mim. Será que vou conseguir renunciar às mulheres?”
O rei idolatrava Wagner, a quem chamava de “Meu amado mestre”, e Wagner idolatrava a grana do rei, que durante um ano gastou à vontade, até que os conselheiros do Viadarca lhe informaram: “Majestade, ousamos informar que a influência do compositor Richard Wagner não é saudável nem para o senhor e nem para a Baviera”.
Ninguém sabe se Wagner introduziu a sua batuta na tuba real, mas o fato de acabar com o rei parece não tê-lo afetado.
Aproveitou o fato de Minna ter morrido e de von Büllow ter pedido o divórcio alegando infidelidade conjugal para se casar com Cósima, que acabou se revelando a mulher da sua vida. “Ele é um gênio e eu tenho que conviver com isso.” Tiveram dois filhos e viveram felizes para sempre.
Treze anos depois do casamento, Wagner já rico e famosíssimo, estava num castelo em Veneza compondo à luz de vela. Como era também um atleta, disse a uma das suas filhas: “Quer ver como seu velho pai ainda dá umas cambalhotas?” A menina disse que sim e ele deu dois saltos mortais e caiu de pé. Voltou para o piano e continuou compondo.
De madrugada, Cósima o encontrou agonizante. Dizem que ela teria ficado vinte e quatro horas abraçada ao seu cadáver e em seguida teria cortado seus longos cabelos e os colocado dentro do caixão sobre o peito do marido.
Lizst, seu sogro e outro grande fudedor, embora bem mais discreto e menos agitado, teria comentado: “Desconfio que este sacana comeu mais mulheres do que eu”.

WENDY Carlos (1939- ) – Já imaginaram, vocês estarem vendo televisão cm casa à noite e de repente aparecer uma cantora de seus quarenta e poucos anos chamada Caetana Velez? Até aí nada demais. Mas se ela for autora da música, a música for excepcional e ela possuir uma voz bela e afinadíssima? Vocês, certamente, se perguntarão: “Mas quem é esta mulher maravilhosa? Onde esteve escondida este tempo todo?” 
E se, em seguida, Caetana Velez se tornar uma sensação com milhões de fãs no Brasil inteiro, faturando os tubos com discos onde só aparecem composições interpretadas por ela? 
Vocês compreenderiam tudo se depois de alguns anos, Caetana Velez desse uma entrevista à revista Playboy e confessasse: “Em verdade, eu já fui Caetano Veloso. Hoje, depois da operação, sou Caetana Velez”.
É claro que isso não aconteceu com Caetano Veloso, que continua aí mais caetaníssimo que nunca, amado por centenas de milhares de fãs.
Mas aconteceu com Walter Carlos, cantor, compositor e músico, cujo álbum Switched on Bach vendeu milhões de cópias no fim dos anos 60 nos Estados Unidos e na Europa.
Rico, famoso, boa-pinta, Walter não era feliz pois se sentia uma mulher, presa num corpo de homem.
Um dia, encheu o saco e começou a andar vestido de mulher.
Não deixou de fazer sucesso por isso.
Ao contrário: foi co-responsável pela trilha sonora do filme Laranja Mecânica, escrito por Anthony Burgess e dirigido por Stanley Kubrick.
Depois disso, Walter Carlos desapareceu durante alguns anos e em seu lugar surgiu Wendy Carlos, que em 1979, confessou numa entrevista à revista Playboy: “Eu já fui Walter Carlos. Hoje sou Wendy Carlos”.
O que restava de Walter ficou na mesa de operações do médico que extirpou o pênis e os testículos do famoso músico. '

P.S.: Em verdade, este verbete deveria estar na letra “C”, pois o sobrenome é Carlos, mas quando vi já era tarde. Há quem garanta que Wendy Carlos disse a amigos depois da operação: “Quando acordei da anestesia, me arrependi. Mas quando vi já era tarde”.

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