quarta-feira, 27 de maio de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 79)


WEST, Mae (1892 ou 1893-1980) – Mulher incrível, totalmente sem preconceitos, foi perseguida por mais de quarenta anos pela liga da moral americana, por insistir em mostrar no palco e na tela o que as moralistas mostravam entre quatro paredes.
Entra neste meu ABC porque – segundo as suas palavras – foi a mulher mais fudida do mundo. Explico: em sua autobiografia ela declarou que um homem chamado Ted fez amor com ela durante quinze horas sem parar nem para tomar um cafezinho.
Como só publicou o livro aos setenta anos, a esta altura o Ted, que tinha quinze mais do que ela quando a sessão fodal ocorreu, já não dava nem mais para o cafezinho.
Se Mae foi comida por mais tempo, sua coleguinha Clara Bow foi comida por mais gente ao mesmo tempo: teria dado num dia para todo o time de futebol da Universidade da Califórnia, reservas incluídos. Ao todo, quarenta armanhos em doze horas.


WHITMAN, Walt (1819-1892) – O maior poeta americano do século XIX, se considerarmos Pound um poeta do século XX. Era enrustidão, mas o seu livro mais conhecido, Leaves of Grass (que começou com uma edição de noventa páginas e acabou com mais de quatrocentas nas edições subsequentes), não deixa dúvidas sobre suas preferências.
Observem este pedaço de poema: “E quando eu pensei que meu querido amigo, meu amante, estava a caminho (o texto original é o seguinte: “And when I thought, how my dear friend, my lover was on his way comming...”, que alguns mais sacanas podem interpretar como “E quando eu senti que meu querido amigo, meu amante, estava para gozar...), Ó, então eu fui feliz! Pois aquele que eu mais amo dormia ao meu lado sob a mesma coberta na noite fria. No silêncio do outono, a sua face se inclinava em minha direção e o seu braço descansava suavemente sobre o meu peito – e naquela noite eu fui feliz”.
Era muita viadagem dele querer esconder a viadagem. Mas ele não era exatamente uma bichona louca, dessas que não podem ver uma fita no meio da calçada sem botar no cabelo. Ao contrário, quando John Symmons, poeta menor e baitolo maior, tentou fazê-lo confessar o coleguismo, Whitman, que era forte pacas, lhe deu um cacete pouco poético e ainda berrou: “Como é que este sacana tem coragem de me chamar de bicha? Logo eu que fiz mais de seis filhos ilegítimos?”
Grande poeta ou não, forte ou não, pai ou não, a verdade é que Whitman, se não enfornou muitos robalos, pelo menos um ele meteu no forno. O robalo de Peter Doyle, um cocheiro de bonde a cavalo.
Uma noite, em 1867, Doyle estava conduzindo o seu bonde quando notou um único e silencioso passageiro. Como Doyle também estava se sentindo entediado, decidiu levar um papinho com o passageiro solitário que – vocês já devem ter percebido – era o poeta. Foi amor à primeira vista.
Doyle botou a mão nos joelhos de Whitman, que decidiu não desembarcar no fim da linha. Desembarcaram juntos muito felizes horas depois e felizes viveram juntos durante vinte e quatro anos (é isto mesmo!) até a morte de Whitman.
Aliás, depois da sua morte, vieram à tona as suas cartas, nas quais o poeta chama o cocheiro de “meu menino querido” e se despede sempre com muitos beijos. Quando perguntaram a Doyle sobre as mulheres na vida de Whitman, ele não gostou e limitou a comentar: “Walt não era chegado”.


WIG CLUB – Rico, quando não está sacaneando pobres, tem muito pouco para fazer e morre de tédio. Uns aristocratas vagabundos de Londres, por falta de coisa melhor, decidiram fundar em 1767 o Wig Club, ou seja, Clube da Peruca.
O nome do clube onde os sacanas comiam suas amantes se deve ao fato de seu símbolo ser uma cabeleira feita dos pentelhos das amantes de Charles II, rei da Inglaterra e tremendo garanhão. Aos pentelhos das amantes do rei, os nobres juntaram os pentelhos das suas amantes.
Aliás, nego só podia entrar para o clube se junto com os pentelhos da amante trouxesse também uma declaração dela mais ou menos do seguinte teor: “Venho através desta confirmar que os pentelhos trazidos para o Wig Club pelo lorde Moray foram raspados da minha vagina”. Seguia-se a data e a assinatura.
O clube acabou quando este mesmo lorde Moray pediu demissão e levou consigo a longuíssima peruca.


WOLSEY Thomas (1475-1530) – Cardeal e estadista que dominou o reinado de Henrique VIII. Era um bom filho da puta e subiu à custa de intrigas. Além de ladrão, ainda se dava ao luxo de ter filhos ilegítimos. Os nobres não gostavam dele porque era filho de um açougueiro. Tinha grande influência sobre o rei, que preferia fuder e deixar os negócios da corte a cargo do cardeal, entre 1515 e 1529.
Oficialmente, ele foi julgado e condenado, por não ter conseguido fazer com que o papa permitisse que Henrique VIII se divorciasse de Catarina de Aragão para se casar com Ana Bolena (que devia ter uma chave na xota, pois além de feia, tinha seis dedos numa mão).
Extra-oficialmente, o rei teria ficado puto dentro das calças ao descobrir que a sífilis que tinha lhe fora transmitida pelo cardeal. É que a fim de botar no popô dos seus inimigos, o cardeal passou quase quatorze anos cochichando no ouvido do monarca. Sua saliva teria transmitido a sífilis.
Sifilítico ou não, a verdade é que o rei casou com Ana Bolena, mãe da futura rainha Elizabeth, e depois mandou decapitá-la. Reinou ainda dezoito anos depois da morte do cardeal que ele ia mandar matar de qualquer maneira, caso ele não houvesse morrido de cagaço ao ser chamado pelo rei para ouvir a sentença de morte.


WOOLF, Virgínia (1882-1941) – Maluquete, mas trabalhava bem as pretinhas (as teclas da máquina de escrever) e foi, juntamente com Proust, Kafka e Joyce, uma das pioneiras da literatura moderna. Fora de brincadeira, quem não leu a obra dos quatro não pode nem começar a pensar em discutir literatura do Século XX.
Proust entregava o anel e escrevia muito, Kafka provavelmente morreu virgem e Joyce era taradão: andava com as calcinhas usadas da mulher pelas ruas de Dublin. Virginia aparentemente não gostava do esporte, mas se tivesse que ir para a cama com alguém preferia que fosse uma mulher.
Seu desinteresse pelo sexo oposto devia-se a seus dois meio-irmãos, também meio-babacas, Gerald e George Duckworth. O primeiro tinha mais de vinte anos quando começou a boliná-la e olhem que ela só tinha seis aninhos.
Até os vinte e dois anos ela aguentou as visitas de George à sua cama. Discretíssima, não dizia nada, mas no íntimo a raiva contra mastruços e mastrucinhos crescia como urtiga.
Juntamente com os irmãos fez parte de um clube de intelectuais de Cambridge, o Bloomsberry, cujo hobby era sacanear as pessoas sérias.
Uma vez, disfarçados de árabes, fizeram uma visita “oficial” a um vaso de guerra britânico e receberam as honrarias estabelecidas pelo cerimonial. Comeram, beberam, se divertiram e depois deram no pé.
Não posso, realmente, lhes assegurar se ela era bonita, mas classuda ela era. Embora meio nariguda, tinha o olhar misterioso da nossa poeta maior, Cecília Meirelles.
Aos vinte anos se apaixonou por Violet Dickenson, que tinha trinta e sete. Escrevia-lhe cartas na base de “meu amor”, “minha mulher”, “beijo-te as mãos, os lábios e...”
Embora este “e” pareça muito loquaz, quem conheceu a dupla garante que elas não foram para a cama.
Fazia parte do Bloomsberry Club um viado chamado Lytton Stachey, conhecido como arquisodomita. Ele propôs casamento a Virginia em 1909 e ela chegou a ficar assanhada com a ideia, pois a bicha tinha fama de ser uma intelectual brilhante.
No dia seguinte, porém, o “ele-ela” disse para o “ela-ele”: “Não vai dar, meu bem. Não suporto mulher me beijando”.
Entretanto, foi Lytton que sugeriu ao escritor e ativista político Leonard Woolf que namorasse Virginia. Ele namorou, noivou, casou (foi assim que ela virou Virginia Woolf, pois antes era Virginia Stephen) e até trepou com ela. Ela gostou do namoro, do noivado, do casamento, mas detestou a trepada.
Apesar disso – ao modo deles –, eles se amavam. Infelizmente, ao fim de cada romance – escrevia, pelo menos, um por ano –, ela tinha acessos de loucura, sofria de melancolia e era internada em sanatórios.
Sua grande paixão em termos sexuais (foram para a cama umas vinte vezes, realizando lutas aranhais extremamente bem-comportadas) foi uma lésbica, igualmente casada, chamada Vita Sackville-West, que outro dia estive lendo e que escrevia direitinho.
Vita, além de despertar tesão em Virginia também despertava inspiração. Ela foi a musa do seu romance mais conhecido, Orlando, uma biografia de Vita, vista como um adolescente, em forma de ficção.
O marido de Vita, Harold Nicolson, disse que Orlando foi a carta de amor mais longa e charmosa da história da literatura ocidental.
O marido de Virginia também não se importou, pois afinal de contas “Vita é bonita, inteligente e no meio das pernas tem um clitóris”.
Embora deixasse escrito para o marido que “nunca houve no mundo duas pessoas mais felizes do que nós”, um dia, depois de uma crise de angústia, Virginia encheu os bolsos de pedras, entrou no rio Ouse e morreu discreta e elegantemente.

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