quarta-feira, 27 de maio de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 80)


XANTIPA (Fim do Século V a.C.) – Mulher do filósofo Sócrates. Era feia, chata e forte. Vivia cobrindo o Só (para os íntimos) de porradas. Apesar disso, ele conseguiu ter três filhos com ela.
Há quem diga que Xantipa o aporrinhava porque, em vez de ficar em casa, ele vivia batendo papo e coxas com os rapazes nas saunas de Atenas, papos sobre Ética, Estética, Verdade, Virtude, conforme Platão anotou tão bem em seus Diálogos.

De lá para cá, se excetuarmos Leibniz, Kierkegaard, Marx e alguns poucos outros, nada mais se fez em matéria de filosofia.

Se o Sócrates era chegado a uma mandioca entre uma aula e outra? Era.

Aliás, foi condenado por corromper a juventude. Deram-lhe amplas possibilidades de fugir, mas ele preferiu beber veneno (cicuta) a voltar para Xantipa, que jamais imaginou que mais de 2 mil anos depois iria aparecer neste ABC só por sacanear o marido.


XANTORRÉIA – Perdão, leitores, menti. No verbete anterior eu disse que Xantipa só apareceu neste meu livrinho porque sacaneava o bom Sócrates. Em verdade ela só faz parte desta seleção de vocábulos, acontecimentos e personalidades porque seu nome começa com “X”. Se um sacanólogo fosse depender da letra “X” para viver, não daria pra média, pão e margarina.

É que essa letrinha, além de dar nome ao cromossomo feminino XX, só é chegada à química e aos povos incas, astecas e maias, que os espanhóis do século XVI gostavam de chacinar em nome de Deus, porra!

Depois da Xantipa e antes de encontrar a xantorréia, eu só conseguia lembrar de um carteiro chamado Xavierzinho, que gostava de pegar nos pauzinhos da gurizada da avenida Farrapos em Porto Alegre, durante os anos 40.

Nunca me aproximei do Xavierzinho, mas os meninos de oito a dez anos contavam que a coisa era nesta base: “Quer uma balinha? Então deixa eu segurar o pintinho”.

Quase tão sacana quanto o Xavierzinho, que hoje já deve estar morto ou, pelo menos, aposentado de suas funções de correio da manhã viadal, é a xantorréia, também conhecida como xantorreia australis.

Trata-se de um cacto típico das regiões desérticas da Austrália. O tronco é muito grosso e curto e termina num tufo floreáceo. Do meio deste tufo se levanta uma inflorescencia longa, reta e dura.
Dizem os aborigines (aquele pessoal que gosta de furar os lábios com ossos e que come lagartixa crua) que a xantorréia é a sua única atração turística.

Baitolos milionários do mundo inteiro aparecem por lá apenas para enfiar a inflorescência no rabo e morrer com o próprio cheio de espinhos, com um sorriso nos lábios. Deve ser simpatia.


XINGU O rio Xingu, como todo mundo que estudou geografia no primário já devia ter esquecido, passa pelo Mato Grosso e pelo Pará. Juntamente com seus afluentes, acaba desembocando seus 1.980 quilômetros no Amazonas, ao sul da ilha Grande de Gurapá.

O Xingu foi explorado pela primeira vez pelo etnologista alemão Karl Von Steiner, por volta de 1884.

Dá o ar da sua graça neste ABC porque em 1959, fazendo uma reportagem para a revista Manchete (tinha esperanças de acabar na Academia, como o Arnaldo Niskier), deparei com alguns puteiros bem pobrezinhos às suas margens.

A periguete, fui ver as moças, que vinham de longe e cobravam caro para atender à clientela composta quase que exclusivamente de mineradores.

Quando disse à moça que estava na cama comigo que queria algo mais que papai-mamãe, ela me mandou à merda.

Disse: “Eu sou puta, mas tenho noivo e minha boca é só para ele”. Devia tomar lições com algumas senhoras da sociedade carioca.

Ficamos no papai-mamãe e não peguei gonorréia. Fazia-se chamar Tânia Verônica, mas em verdade se chamava Das Dores. Era sarará e tinha um dente de ouro.


XOCHIQUETZAL – Deusa asteca da beleza, do amor sexual, das artes, associada também às flores e às plantas em geral. Na mitologia, ela teria vindo de Tomoancham, o paraíso verde do oeste. Originalmente, mulher de Tlaloc, o deus da chuva, como era boa demais, acabou sendo raptada por Tezcatlipoca, o nefando e sacaníssimo deus da noite.

Tezcatlipoca (bom nome de um jogador do Madureira para ser pronunciado por aquele cara que diz “dá-lhe garotinho!”), depois de trepadas divinas, acabou por coroá-la deusa do amor.

Em algumas regiões ela é confundida com Chalchithlicue, a deusa da água fresca. Já imaginaram esses dois fudendo: “Você é demais, Xochiquetzal!”. “Me chama de Chal-chithlicue!”. “Você é demais Chalchithlicue!”. “Bondade tua, Tezcatlipoca”.


YAB-YUM – A letra Y se amarra em clãs japoneses, arranjos florais e porcelana chinesa. Mas o Yab-Yum é do Tibete e em tibetano quer dizer pai-mãe. Na Índia, no Nepal e no Tibete é representado como a divindade masculina abraçada à sua consorte feminina.

Ela é branca e está sentada sobre as pernas dele enquanto que ele, que é escurinho, vai fundo. 
Representa a união mística da força ativa ou método (upaia) masculino com a sabedoria (praina) feminina.

Trata-se da fusão necessária para sobrepor a falsa dualidade do mundo de aparências na luta por um plano espiritual mais alto.

O uso da união sexual como símbolo da união mística vem do tantra hindu e também está presente no hinduísmo, embora nunca tenha sido aceito pelos budistas da China e do Japão. Ignoro a razão deste caretismo sinonipônico.

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