quarta-feira, 27 de maio de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 82)


ZALTYS – A letra Z é muito popular nos países balcânicos e está no sobrenome de uma porrada de poetas do século XIX que ninguém conhece. Tem pouco a ver com o esporte que, mal ou bem, explica a nossa existência. Cheguei a pensar em apelar e botar o Zorro. Acontece que o Zorro, que dava pro índio Tonto, em verdade só era Zorro aqui no Brasil. No resto do mundo o nome do marmanjo que usava uma máscara negra era Lone Ranger. O Zorro que agia na Califórnia tinha um irmão gêmeo viado, segundo recente versão hollywoodiana, mas... Ah, deixa pra lá que o verbete é Zaltys.

Zaltys é uma cobra verde inofensiva, mas altamente respeitada nas antigas religiões bálticas. Para assegurar saúde e fertilidade na família, cada casa, principalmente na Lituânia, tinha uma cobra verde dessas num canto da cozinha. Volta e meia a família se reunia e adorava a cobra.

Se Freud fosse vivo, imaginem quantas ilações sacanas tiraria deste ingênuo culto primitivo! 

Às vezes a cobra era convidada a jantar  com a família. Se ela se recusasse, a desgraça era iminente: as plantas se recusavam a crescer, o leite talhava, o chefe da casa brochava e, naturalmente, não nasciam mais filhos.

Os russos botaram na poupança dos lituanos porque pegaram eles desprevenidos: as cobras verdes estavam em falta.


ZAPATA, Emiliano (1879-1919) – Vocês achavam que eu ia deixar  ele escapar? Líder revolucionário mexicano que começou como camponês guerrilheiro em Morelos, onde nasceu. Ajudou Francisco Madero (“Poco trabajo, mucho dinero, pulque barato, viva Madero!” e vocês já viram que, com uma canção dessas, a revolução só podia dar no que deu) a derrubar o tirano Porfírio Dias em 1911. 

Zapata foi perguntar a Madero, acabada a revolução, quando ele pretendia distribuir a terra aos camponeses. Madero respondeu como Sarney: “Tu estás levando esta tal de reforma agrária muito a sério”. 

Foi o bastante para Zapata recomeçar a revolução com o lema “Terra e Liberdade”.
Madero caiu em 1913 e foi substituído por outro ditador, Vicente Huera, que Zapata também botou pra correr com a ajuda de Pancho Villa.

Como todo cara pobre que luta contra o poder, foi traído e assassinado, em 1919.

Aliás, não só em 1919.

Segundo Elia Kazan em seu filme Viva Zapata!, na noite de sua lua-de-mel, em vez de mel teria pedido a sua noiva que o ensinasse a ler. Não fez o que as pessoas normais fazem com as noivas.

Por outro lado, o Elia Kazan também não é de confiança, haja visto que dedurou atores e diretores esquerdistas para o senador MacCarthy, mas isso é outra história.


ZEUS – Filho mais novo de Cronos (Tempo, daí cronômetro), que tinha mania de comer literalmente os seus filhos, como, aliás, o tempo faz com todo o mundo. O tempo é um grande mestre, mas mata seus alunos antes que eles aprendam a lição.

Cronos, que havia castrado o próprio pai (Urano), foi vencido por Zeus, já crescidinho, que tomou conta do Olimpo. Deu o inferno para seu irmão Hades e o mar para seu irmão Poseidon e aproveitou para casar com a irmã, Hera.

Ao contrário de religiões anteriores e posteriores, os gregos humanizaram ao máximo o seu deus supremo.

Zeus era um pai de família justo, mas passível de cometer erros motivados por paixão; era tremendamente galinha, mas acabava sempre perdoado pela irmã-mulher que, porém, era extremamente vingativa com as amantes eventuais do marido; tinha pavio curto mas sua ira podia ser apaziguada e, principalmente, tinha muito senso de humor.

Seu nome deriva provavelmente de uma raiz que significa “brilhante”, pois é o deus do céu e dos fenômenos atmosféricos.

Em algumas lendas ele aparece como marido de uma porrada de deusas, mas como os gregos eram monogâmicos, acabaram por amarrá-lo a Hera, o que não o impediu de comer quem quisesse.

Para conquistar mulheres e deusas, às vezes se disfarçava de cavalo, touro, chuvinha de prata.

Trepou com Metis, a deusa da sabedoria, com a qual, segundo Hesíodo, teve Atena. Outras lendas dizem que Atena já nasceu adulta e armada do cérebro de Zeus.

Com Demetér teve Perséfone; com Leto teve Apolo e Ártemis; com Hera teve Hebe, Ares e Eileitiia; com Maia, filha do gigante Atlas, teve Hermes.

Mulheres mortais comeu as que quis, na conversa, na marra ou no disfarce. Com Semeie teve Dionisos, com Alcmene teve Héracles, com Leda (disfarçado de cisne, daí a expressão “afogar o ganso”, para os comuns mortais, pois Zeus afogava o cisne) teve Helena, Clitemnestra, Castor e Polideuces, com Io teve Êpafos, com Europa teve Minos e Radamantis, com Antíope teve Anfion e Zetos. Chega? É que tem muito mais.

Como era (é?) imortal podia ter um filho com uma mulher e, posteriormente, cem anos depois, ter outro filho com a tetraneta desta mesma mulher, que assim seria irmã de sua própria trisavô.

Verdade é que suas  uniões com mulheres mortais correspondia ao desejo de certos reizinhos de serem descendentes dele.

Zeus era o dispensador do bem e do mal no destino das criaturas humanas, mas principalmente do bem.

Era o regulador do curso dos acontecimentos, conhecia o futuro que, eventualmente, revelava através de oráculos.

Era ele quem aplicava a justiça e punia a calúnia, além de ser o defensor da casa e da liberdade.

Seu poder só não é ilimitado porque é obrigado a obedecer aos caprichos do destino.

Pessoalmente, não me considero ateu, pois acredito em Zeus, que nunca botou cobra alguma em paraíso algum.


ZOLA, Emile (1840-1902) – Bem mais sacana que o falecido Zola, foi o vivíssimo Carlos Zéfiro. Autor de histórias em quadrinhos de sacanagem, seus desenhos não são grande coisa e seu texto não é melhor. Em compensação, quebrou o galho de adolescentes desde 1950, quando seus livrinhos começaram a aparecer. 

Homem que nasceu entre 1940 e 1950 e não bateu uma punheta vendo as histórias do Zéfiro ou era cego ou doente do pau. 

Ninguém sabe a verdadeira identidade do Carlos Zéfiro que, por sinal, é mais misterioso que o B. Traven, o maior escritor norte-americano da primeira metade do século XX, autor de O Tesouro de Sierra Madre.

Mas voltando ao Zola, ele não era sacana e está aqui porque impediu uma grande sacanagem que queriam fazer com um tenente judeu chamado Alfred Dreyfus.

Há quem diga que Dreyfus quer dizer tripé. Mas ninguém sabe nada sobre o tamanho da rola do tenente, pois tripé era o seu nome mesmo.

Tripé no duro era o jogador de futebol que, apesar de se chamar Germano, era crioulo. Um dia a contessina Agusta foi ver um treino de futebol do Fiorentina (se não me engano) e teve a impressão de que o Germano tinha três pernas.

Se apaixonou pela perna do meio e se casou com ele, apesar da grita da família, uma das mais ricas da Itália. Quando encheu o saco do Germano, a contessina pediu o divórcio e o burro do Germano, que até teve uma filha com ela e podia ter pedido aos tubos do velho conde que, afinal, era ladrão, aceitou os termos impostos pela justiça italiana e voltou para o interior de Minas onde vive sem um tusta. Na Itália era conhecido como Germano Tre Gambe.

Mas voltando ao Dreyfus. Ele fora acusado de traição injustamente pelo governo francês. Zola escreveu o seu célebre J'Accuse (em alguns países a imprensa já servia para alguma coisa mesmo no século XIX) e o militar acabou sendo libertado da ilha do Diabo.

Zola era gordo, tinha mais de 110 quilos e menos de 1,60 m, além de ser desdentado. Não trepou muito e com este physique de rôle que só perde para o Adolph Bloch, não podia querer grande coisa.
Em compensação, suas descrições do ato sexual em Nana e Pat-Bouille foram tão realistas que influenciaram o curso da literatura ocidental.

Morreu aos sessenta e dois anos com uma mulher e uma amante com quem teve duas filhas.

Aos doze anos foi comido por um empregado turco chamado Mustapha, mas ao contrário de Lawrence, que também entregou o anel de couro para um turco, Zola não gostou.

Considerou a vida inteira uma sacanagem o que o Mustapha fez com ele.


ZOOFILIA – Como os mais inteligentezinhos sabem, não quer dizer amizade aos animais, mas “uma certa inclinação” para os animais. Os zoófilos mais moderados limitam-se a ver os animais fuque-fuque, segundo o nobre estilo de O Dia. É que, anos atrás, o redator-chefe, furioso, rasgou o título de uma matéria: “Tarado enrabou o porco”. Substituiu-o por “Tarado enrabou o suíno”.

Aliás, este cinéma-cochon ou cinéma-cheval é tão comum em todas as regiões rurais do mundo que só um cretino o classificaria de perversão.

Há ainda os zoófilos que não se limitam a olhar. A perigo, traçam suas vaquinhas, porcas, éguas, etc. Mas só a perigo.

Segundo o velho Kinsey, mais de 40% dos rapazes habitantes do campo tiveram algum contato sexual com animais na fase pré-adolescente e adolescente. É o chamado quebra-galho.

Perversão mesmo, no caso, é o bestialismo. Bestialismo, como vocês sabem, é o cara que só encara uma mulher quando não tem uma cabrinha à mão.

Embora na Idade Média o sujeito que fosse apanhado botando na olhata de um bicho qualquer corria o risco de acabar na fogueira, hoje em dia ninguém dá grande importância ao bestialismo, desde que praticado com discrição.

Pessoalmente, desaconselho os leitores a induzirem animais à prática do felacio. Uma mordida e AAAAIIII!

As lagostas e as polvas são mais ternas e compreensivas.

Eu poderia ainda falar dos zéfiros, uns ventos brincalhões que adoravam levantar as tules das ninfas dos bosques gregos ou dos zannis, personagens cômicos da Commedia dell'Arte; de Maria Zayas, escritora espanhola de novelas eróticas do século XVI ou das Ziegfield Girls, que mostravam as coxas nos palcos de New York nos anos 10 e 20.

Mas a luz apagou, meus fósforos acabaram e enchi o saco de procurar safadezas para satisfazer a curiosidade mórbida de um bando de relambórios safardanas. Acabou, chega, vão pra casa! Vocês são muito doidos!

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