Alex Castro
Dentre as muitas e vastas diferenças culturais entre o
Brasil e os Estados Unidos, uma sempre me chama atenção: o boquete.
Existe uma diferença enorme, constitutiva, fundamental entre
o modo como as norte-americanas e brasileiras definem, entendem, praticam, usam
o boquete.
O que é o boquete?
Para as norte-americanas, o boquete é o gran finale ideal de qualquer boa ficada. A progressão normal da
ficada é o boquete.
Pagam boquete com enorme facilidade, adoram, lambem os
beiços – e depois batem no peito pra se dizer virgens, que estão se guardando
pro homem dos seus sonhos.
Para as brasileiras, o boquete é sexo.
É algo que só se faz com o homem com quem já se está
transando, depois de estarem mais íntimos e confortáveis com seus corpos.
Podem até transar com alguém que mal conhecem (lavou, tá
novo), mas não colocariam na boca um pau cuja procedência desconhecessem.
E acham graça das gringas que, depois de chupar metade dos
paus da cidade, ainda tinham a cara-de-pau de se dizer virgens!
Para que serve o
boquete?
Para as norte-americanas, a função social do boquete é
justamente poder transar e experimentar, exercitar o sexo e conhecer o corpo,
de maneira mais leve, sem precisar dialogar com o tabu da virgindade, sem
precisar confrontar valores arraigados, mantendo intacta (tanto na cabeça delas
quanto para seus futuros parceiros) a aura mágica da virgindade preservada.
Para as brasileiras, a função social do boquete é justamente
sedimentar e confirmar uma relação de confiança e intimidade que já tinham com
seu parceiro sexual fixo – tornando-se assim um rito de passagem importante
dentro dos relacionamentos.
Boquete é sexo?
Poucos anos depois de eu me formar da escola, em 1999, Bill
Clinton afirmou categoricamente, em juízo, sob juramento, não ter tido relações
sexuais com Monica Lewinsky.
Quando se soube, mais tarde, que ela havia de fato chupado o
primeiro pau, a questão tornou-se uma das mais importantes da história da
república:
Afinal, se boquete é sexo, o presidente mentiu e deveria
sofrer impeachment.
Mas… boquete é sexo? Boquete não é sexo?
Nos EUA, eu diria que não – e, hoje em dia, menos ainda.
Segundo essa pesquisa, chamada Did Bill Clinton have anything to do with our definition of sex?,
por causa da influência da lendária cara-de-pau de Clinton, o número de pessoas
definindo “sexo oral” como sexo caiu pra mais da metade.
A verdade verdadeira é que tentar definir sexo é uma grande
besteira.
Se chupei sua buceta, beijei seus pés e lambi seus mamilos,
mas não penetrei, é sexo?
Se lambi entre seus dedos dos pés enquanto ela se masturbava,
mas nunca nos beijamos, é uma ficada?
Se houve penetração, mas foi dela em mim, seja com um
consolo ou fazendo fio-terra, é sexo?
Um boquete, pura e simples, é uma ficada, uma transada, ou
nenhuma das opções acima?
Passei a noite inteira dedando a moça por debaixo da mesa:
uma ficada, ou nem isso?
Os dois se masturbarem juntos é sexo?
Um masturbar o outro, com dedo, língua ou consolo, é sexo?
Não vale a pena. Definir é castrar.
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