Cezário Camelo
As rugas são sinais de vida. Ou de morte, dependendo do lado do balcão em que você está. Cedo ou tarde aparecem e tomam conta das nossas expressões faciais. E a gente é obrigado a ter vergonha na cara por uma razão errada. As rugas dividem o rosto em pedacinhos do passado. Dão identidade à existência de cada pessoa – exatamente o documento que as mulheres odeiam. Financiam as bocas livres do Pitangui. São proibidas nas ilhas de Caras.
As rugas marcam o passar dos anos pela epiderme e a velhice é a sua marca registrada. E você sente tudo isso na própria carne. Porque as rugas botam pregas na vaidade de todo mundo. Mesmo os maiores velhacos da política (sei da redundância e vocês podem colocá-la no buraco apropriado) não escapam do julgamento das rugas. Pra comprovar, basta observar o rosto alquebrado do Edison Lobão ou do Capiroto enegrecido sem as mágicas do Photoshop. É de dar pena.
Quem fabrica rugas é o tempo, com norráu para todos os tipos de pele – inclusive a do saco escrotal e do seu vizinho, ali ao lado. Quem tem intimidade com as rugas são os espelhos. E quem diz que as rugas refletem a idade não está totalmente enganado: está totalmente enrugado. Mesmo não sendo metrossexuais, cuidem das suas rugas, porque elas têm uma imagem a zelar. O enrugadinho é mais embaixo.
Existem vários tipos de rugas, todas com muita experiência. As mais comuns, mais assíduas e mais rugosas são estas:
Surpresa – Na testa. Ruga de receber visitas inesperadas, do encontro casual com um deputado salafrário (sei da redundância e vocês podem etc, etc, etc), de ver truque de mágico, de ouvir a conta salgada no restaurante barato. Ruga fingida quando o presente de amigo oculto é gravata outra vez. Ruga imensa quando anunciam que você vai ser pai de três crianças ao mesmo tempo. Ruga surpreendente de ser convidado para participar de uma tramóia do Cadeirudo.
Preocupação – Também na testa. É uma ruga ativa: não sai do lugar por nada. Ou melhor: por tudo. É uma ruga grande, rugona, verdadeiro bitelo. Ruga de quem tem um súbito desarranjo intestinal na hora em que entrou no quarto com aquela lebre que vinha sendo cantada há seis meses. Ruga responsável. Ruga de fim de mês. De meio de mês. E de início de mês. Ruga assalariada, meus caros.
Orgulho – Ruga acima do nariz. Quem tem orgulho de não ter rugas, tá com ela. Ruga de quem venceu na vida ou na fila. Ruga de quem foi nomeado para uma sinecura federal. Ruga que só usa a melhor maquiagem da Victoria’s Secret. Esta ruga se acha mais ruga do que as outras. Ruga de quem acertou sozinho na megasena acumulada. Ruga orgulhosa da gente, claro.
Tristeza – Pelos lados (de fora) da face. Esta ruga tem hora e tem motivos. Seus sulcos vão até a fossa. Ruga treinada em velórios, despedidas, fim de amor, dor-de-cotovelo, demissões sem justa causa, chifres sem motivação aparente, operações bariátricas mal-sucedidas e visitas ao cirurgião-plástico. Ruga abandonada à flor da pele.
Tensão – No pescoço ou no queixo. É a ruga do ponto crítico. Que surge nos piores momentos. Que, no fundo, no fundo, só quer saber de relaxar. A cara das pessoas fica muito feia quando esta ruga explode pelos poros. Ela não se contém nos dias e nos rostos de hoje. Foi por isso que inventaram o carnaval.
Desânimo – Mais uma nos lados da face. Ruga que não se esforça para sair do rosto. Ruga conformada, sim. Ruga que vem para ficar, sem ânimo para aceitar a companhia da ruga do riso ou o disfarce de um pó compacto. Ruga entregue aos traços. Ruga de pensionista em fila de banco.
Obstinação – Ali embaixo do lábio inferior. Ruga de governador ou prefeito quando manda um orçamento para ser aprovado na íntegra pelo legislativo. Ruga teimosa, que sabe o que quer. Ruga burra, que não argumenta. Ruga determinada a ver tudo com antolhos. Ruga pra hora de bater com a colher no prato. Ruga pro vinco que der e vier. De não arredar prega. É a famosa ruga do beiço e está sempre nas bocas.
Falsidade – Ruga disfarçada. Ruga popular. Ruga que nunca conheceu lealdade em nenhuma parte do rosto, apesar de estar em todas. É uma ruga capaz de enganar até a si própria. Ruga disputada a tapa pelos políticos, desembargadores, juízes e advogados de porta de cadeia.
Desgosto – Na parte inferior do rosto. Ruga grossa, ruga dolorida, molhada em lágrimas. Ruga profunda, ruga marcante. Ruga que se aborreceu com a existência em geral e a sua vida em particular. A ruga que vem das rusgas. Ruga de quem já levou tanto nabo na bunda que ganhou hemorróidas. Ruga nossa de cada dia.
Resumindo: as rugas todas são como a nossa cara. Ou coroa.
As rugas marcam o passar dos anos pela epiderme e a velhice é a sua marca registrada. E você sente tudo isso na própria carne. Porque as rugas botam pregas na vaidade de todo mundo. Mesmo os maiores velhacos da política (sei da redundância e vocês podem colocá-la no buraco apropriado) não escapam do julgamento das rugas. Pra comprovar, basta observar o rosto alquebrado do Edison Lobão ou do Capiroto enegrecido sem as mágicas do Photoshop. É de dar pena.
Quem fabrica rugas é o tempo, com norráu para todos os tipos de pele – inclusive a do saco escrotal e do seu vizinho, ali ao lado. Quem tem intimidade com as rugas são os espelhos. E quem diz que as rugas refletem a idade não está totalmente enganado: está totalmente enrugado. Mesmo não sendo metrossexuais, cuidem das suas rugas, porque elas têm uma imagem a zelar. O enrugadinho é mais embaixo.
Existem vários tipos de rugas, todas com muita experiência. As mais comuns, mais assíduas e mais rugosas são estas:
Surpresa – Na testa. Ruga de receber visitas inesperadas, do encontro casual com um deputado salafrário (sei da redundância e vocês podem etc, etc, etc), de ver truque de mágico, de ouvir a conta salgada no restaurante barato. Ruga fingida quando o presente de amigo oculto é gravata outra vez. Ruga imensa quando anunciam que você vai ser pai de três crianças ao mesmo tempo. Ruga surpreendente de ser convidado para participar de uma tramóia do Cadeirudo.
Preocupação – Também na testa. É uma ruga ativa: não sai do lugar por nada. Ou melhor: por tudo. É uma ruga grande, rugona, verdadeiro bitelo. Ruga de quem tem um súbito desarranjo intestinal na hora em que entrou no quarto com aquela lebre que vinha sendo cantada há seis meses. Ruga responsável. Ruga de fim de mês. De meio de mês. E de início de mês. Ruga assalariada, meus caros.
Orgulho – Ruga acima do nariz. Quem tem orgulho de não ter rugas, tá com ela. Ruga de quem venceu na vida ou na fila. Ruga de quem foi nomeado para uma sinecura federal. Ruga que só usa a melhor maquiagem da Victoria’s Secret. Esta ruga se acha mais ruga do que as outras. Ruga de quem acertou sozinho na megasena acumulada. Ruga orgulhosa da gente, claro.
Tristeza – Pelos lados (de fora) da face. Esta ruga tem hora e tem motivos. Seus sulcos vão até a fossa. Ruga treinada em velórios, despedidas, fim de amor, dor-de-cotovelo, demissões sem justa causa, chifres sem motivação aparente, operações bariátricas mal-sucedidas e visitas ao cirurgião-plástico. Ruga abandonada à flor da pele.
Tensão – No pescoço ou no queixo. É a ruga do ponto crítico. Que surge nos piores momentos. Que, no fundo, no fundo, só quer saber de relaxar. A cara das pessoas fica muito feia quando esta ruga explode pelos poros. Ela não se contém nos dias e nos rostos de hoje. Foi por isso que inventaram o carnaval.
Desânimo – Mais uma nos lados da face. Ruga que não se esforça para sair do rosto. Ruga conformada, sim. Ruga que vem para ficar, sem ânimo para aceitar a companhia da ruga do riso ou o disfarce de um pó compacto. Ruga entregue aos traços. Ruga de pensionista em fila de banco.
Obstinação – Ali embaixo do lábio inferior. Ruga de governador ou prefeito quando manda um orçamento para ser aprovado na íntegra pelo legislativo. Ruga teimosa, que sabe o que quer. Ruga burra, que não argumenta. Ruga determinada a ver tudo com antolhos. Ruga pra hora de bater com a colher no prato. Ruga pro vinco que der e vier. De não arredar prega. É a famosa ruga do beiço e está sempre nas bocas.
Falsidade – Ruga disfarçada. Ruga popular. Ruga que nunca conheceu lealdade em nenhuma parte do rosto, apesar de estar em todas. É uma ruga capaz de enganar até a si própria. Ruga disputada a tapa pelos políticos, desembargadores, juízes e advogados de porta de cadeia.
Desgosto – Na parte inferior do rosto. Ruga grossa, ruga dolorida, molhada em lágrimas. Ruga profunda, ruga marcante. Ruga que se aborreceu com a existência em geral e a sua vida em particular. A ruga que vem das rusgas. Ruga de quem já levou tanto nabo na bunda que ganhou hemorróidas. Ruga nossa de cada dia.
Resumindo: as rugas todas são como a nossa cara. Ou coroa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário