Rodolfo Borges
Entre os vários problemas e crises que assolam a República,
urge resolver um em particular: é preciso encaminhar o processo de impeachment
de Dilma Bolada. A ausência de graça já seria motivo o bastante para depor a
suposta caricatura, mas, para os supostos puristas, aqui vai uma suposta razão
técnica: desvio de função.
Daqui a décadas, quando a única certeza é que Renan
Calheiros ainda estará presidindo o Senado, os historiadores olharão para o
caso Dilma Bolada como o ápice da lógica de cooptação que caracteriza a
política brasileira desde o Império. O legado mais sem-graça dos anos Dilma
Rousseff definitivamente é o estabelecimento, com firma reconhecida em
cartório, do humor a favor.
Na tentativa de dotar a presidenta de algum carisma, seu
partido foi capaz de cooptar uma caricatura que não debocha do caricaturado e,
assim, nos furtou umas boas gargalhadas durante anos de marasmo político e
econômico — Jeferson Monteiro, o autor da personagem, provou ter capacidade de
nos fazer rir antes de aderir —, e, agora, não vai ter operação da Polícia
Federal que resolva isso.
O que vai ter é CPI, informa a Folha de S. Paulo. A CPI dos
Crimes Cibernéticos, ironicamente proposta pelo PT, mas devidamente envenenada
pelo novo oposicionista Eduardo Cunha, pretende quebrar o sigilo bancário do
autor da Dilma Bolada, como parte das investigações sobre o que o jornal chama
de “guerrilha petista na internet”. Não se sabe no que isso pode dar, mas, em
tempos de Operação Lava Jato, já podemos pensar em negociar algumas piadas
engraçadas com o humorista no acordo de colaboração premiada.
Afora os trâmites legais, contudo, a população brasileira de
bem e de mal tem o dever cívico de se unir em torno da bandeira do impeachment
bolado. Não dá mais para topar vez ou outra nas timelines da vida com “lacradas”
menos engraçadas que o humor involuntário dos blogueiros que se esforçam para
defender o Governo.
Tudo tem limite, até porque Dilma Bolada já deu filhos
igualmente sem-graça, como Haddad Tranquilão (apesar de heróicas exceções, como
Aécio de Papelão, entre outras sátiras de fato), e tem até cartunista
consagrado se contaminando pela má influência. Neste momento de esculhambação
geral da República, preservemos pelo menos o riso.
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