quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Recordando os famosos Reis do Ringue



O “Telecatch Montilla” era a versão brasileira das lutas-livres e foi um dos programas responsáveis por alavancar a audiência da TV Globo na década de 1960.

No programa, aproveitando a distração do juiz, o vilão batia covardemente no mocinho, e o público, com raiva, gritava e jogava sapatos e guarda-chuvas no ringue.

Na luta encenada, valia tudo: mordida, dedos nos olhos, tijoladas na cabeça, limões espremidos nos olhos, supercílios cortados com gilete e até bater no juiz.

Quando tudo parecia perdido, o bonzinho recuperava as forças, aplicava uma série de tesouras voadoras no malvado e vencia a luta.


O programa foi originalmente criado na TV Excelsior e passou a ser exibido pela Globo em 1967. Era transmitido ao vivo do auditório da emissora, aos sábados, inicialmente às 20h. Dois anos depois, o programa passou a ser exibido na TV Tupi. Saiu do ar em 1972.

O principal personagem do programa era Mario Marino, um italiano que desembarcou em Buenos Aires aos 12 anos e veio para o Brasil com 24. De cabelos loiros e porte atlético, consagrou-se como Ted Boy Marino.

O galã loiro tinha muita popularidade entre as crianças e o público feminino. Ele conta que, na época, chegou a receber mais de duas mil cartas por semana e que precisava entrar com seguranças na TV Globo devido ao assédio dos fãs.

Mas os bons tempos foram interrompidos pela censura, que tirou a luta-livre do horário nobre e, depois, da programação. O espetáculo-marmelada fazia muito sucesso e ainda voltou em várias versões nas décadas de 1970 e 1980 em outras emissoras.


Ted Boy conta que para lutar era preciso habilidade e muito treino, para saber cair. Mas, apesar do seu know-how, ele se acidentou diversas vezes: quebrou joelho, tornozelo, braço, ombro e costelas.

Depois que o gênero saiu de moda, o lutador passou a se apresentar em clubes e teatros do interior. Participou também de programas humorísticos, como “Os Trapalhões” e a “Escolinha do Professor Raimundo”.

Os outros personagens conhecidos como os reis do ringue eram o traiçoeiro Mongol, o exótico Leopardo, o extraordinário Tigre Paraguaio, o misterioso Verdugo, o impagável Tony Videla, o irritante Rudy Pamias, o violento Rasputin Barba Vermelha, o campeão Caruso e os irmãos estilistas Beto e Sergio.


Na verdade, os lutadores eram divididos em três grupos. O primeiro era formado pelos galãs Tigre Paraguaio (foto) e Ted Boy Marino.

O segundo grupo era composto pelos lutadores Fantomas, Hércules, Aquiles e Bala de Prata, os mocinhos.

O terceiro grupo era formado pelos vilões Rasputin, Verdugo, Mongol, Barba Negra e Diabo Branco, todos muito gordos e bem feios.

As lutas colocavam frente a frente um “bonzinho” contra um “malvado”. Havia o “cruzamento de espadas”, golpe em que o lutador forçava o oponente no tablado encostando peito a peito. Se o lutador de baixo não se livrasse em três segundos, perdia o combate.


Havia também a “tesoura voadora”, o golpe em que se “voava” com os dois pés no peito do adversário, mandando-o para a lona.

E havia também o “soco-inglês” – uma peça metálica que se encaixa nos quatro dedos da mão, com exceção do polegar, para desferir golpes violentos no adversário.

Só os malvados usavam soco-inglês. Os bonzinhos apenas se defendiam. Os malvados batiam até “tirar sangue” dos bonzinhos.

Mas Ted Boy Marino, o galã, não colocaria a cara para bater até sangrar. É que a telinha não mostrava, mas o vilão pegava no corner saquinhos de plástico com groselha. Ele fechava a mão com o soco-inglês e quando desferia o golpe na cara do bonzinho, espremia a groselha que explodia “em sangue”.

No dia seguinte, o bom rapaz aparecia sem nenhuma cicatriz no rosto.


No ringue, os personagens se digladiavam sob as marcações de uma luta ensaiada. A encenação era marcada pelo tom caricatural e cômico dos golpes e dos estilos de seus protagonistas.

O programa chegou a despertar protestos de lutadores, empresários de boxe, jornalistas esportivos e pugilistas, que acreditavam que as lutas-livres ensaiadas da TV, com golpes combinados e o final previamente decidido, desmoralizavam o boxe brasileiro.

Em Manaus, os radialistas Arnaldo Santos e Luiz Saraiva criaram um programa semelhante, que era exibido na TV Ajuricaba.


O grupo dos mocinhos incluía Silva (foto), Argos, Demolidor, Ulisses, Gato, Aquiles, Viking, Targus, Falcão Dourado, Oder, Spartacus e Bala Ligeira.


Os malvados, capitaneados por Lobo Selvagem (foto), incluíam Cabeleira, Lotar, Tigre, Dom Kimura, El Tcholo, El Touro, Atlas, Múmia, Rasputin, Carrasco Cearense, Ramires Toledo, Killing, Linhares da Amazônia, Corisco e Mini-Maciste.

Na luta australina, uma das mais animadas, dois bonzinhos enfrentavam dois malvados, mas era comum outros malvados se juntarem à dupla inicial para detonar os bonzinhos.


Voadora de Argos no Carrasco Cearense enquanto Silva imobiliza Atlas

A briga entre Silva e Lobo Selvagem era considerada o grande clássico do gênero, o “Rio-Nal” do tele-ringue.

Silva fazia o galã boa praça que lutava limpo porque possuía uma excelente técnica. Era o favorito da mulherada.

Lobo Selvagem, que gostava de fazer caretas para intimidar os adversários, apelava para tudo quanto é golpe baixo. Era o favorito dos homens.

Em média, Silva vencia três de cada cinco lutas, enquanto Lobo Selvagem vencia as outras duas. Nenhuma luta entre eles dois terminava em empate.


Mestre em aikidô e proprietário de uma academia no centro da cidade, Alberto Silva conta que sempre foi amigo do hoje advogado José Carlos Sena Dantas, o famoso Lobo Selvagem, e que as lutas entre os dois eram previamente ensaiadas.

“Eu estava em alguma festa e o Lobo Selvagem aparecia na porta de uma hora pra outra. Tudo previamente combinado. A gente começava a discutir, era aquela confusão. Um jurava o outro de morte e lá mesmo já marcávamos um combate. Quando chegava na hora da luta não tinha mais onde colocar gente”, revelou Silva em entrevista ao jornalista Adan Garantizado, de A Crítica.

A idolatria dos torcedores também rendeu boas histórias.

“Nós estávamos lutando no Lago do Janauacá e eu parti o supercílio do Silva com uma cabeçada involuntária. Na mesma hora, um rapaz apareceu com um facão dizendo que ia me matar. Eu saí correndo, pulei em uma canoa e me mandei. A turma dos lutadores só foi me achar no outro dia”, relembrou Lobo Selvagem, com bom humor.


Segundo Arnaldo Santos, as lutas eram previamente ensaiadas por causa da censura que existia no país.

“Em 1972, o AI-5 ainda estava vigente e tudo tinha que ser examinado previamente pela Polícia Federal. Nós fazíamos um roteiro detalhado e entregávamos a eles, inclusive dizendo quem ia ganhar. Se acontecesse algo que não estivesse no script, o programa seria censurado e sairia do ar”, diz ele.

A primeira luta organizada por Arnaldo Santos e Luiz Saraiva aconteceu em um terreno baldio que ficava ao lado da televisão e foi um desastre.

“O povo se revoltou com o resultado da luta e jogou pedras, garrafas e pedaços de pau no ringue. O jeito foi levar para dentro do estúdio da TV, onde era mais seguro. Mesmo assim, lotava. Vez ou outra as lutas aconteciam em clubes como o Olímpico e até no Parque Amazonense”, recorda o radialista.

A audiência do programa era grande e se transformou em uma verdadeira febre.

Dezenas de academias de luta livre foram abertas na cidade.


Depois da TV Ajuricaba, onde permaneceu por dois anos, o programa “Tele-ringue” foi exibido nas tevês Baré, Educativa e Amazonas e os lutadores chegaram a fazer combate em cidades do interior e nos estados e países vizinhos.

Nessas lutas, eles enfrentavam os lutadores locais (se houvessem academias na cidade em que estavam se apresentando) ou lutavam entre si.


Atualmente proprietário de um restaurante na Feira Coberta do Japiim, o ex-lutador Ulisses recorda de um episódio ocorrido durante uma luta realizada em Porto Velho (RO), quando enfrentou seu compadre Lobo Selvagem.

Faltando cinco minutos para começar o combate, Lobo Selvagem foi subitamente acometido de um tremendo desarranjo intestinal. Ele correu para o sanitário e deixou a natureza seguir seu curso.

Ocorre que no referido sanitário não havia papel higiênico. Lobo Selvagem não deu a mínima e vestiu a sunga assim mesmo, sem ter limpado o brioco.

Assim que começou o combate, Lobo Selvagem derrubou Ulisses no chão e se sentou na cara do lutador.

– O cheiro de merda foi bater no meu pulmão! – diz Ulisses. “Eu tratei de bater rapidinho, antes que desmaiasse com aquela fedentina. O público desconfiou que era marmelada, tentou invadir o ringue e deu uma confusão dos diabos!”

Um dos lutadores mais marcantes do tele-ringue se chamava Demolidor.


O personagem vivido por Edgar Monteiro de Paula (o quarto da esquerda pra direita, em pé) surgiu a partir de uma ideia dos organizadores para ser a grande estrela do programa de tevê.

Faixa-preta em karatê e um dos melhores jogadores de vôlei da época, Edgar não era praticante de luta livre, mas acabou se transformando no lutador mais admirado pelos telespectadores. 

Lutando sempre mascarado, com uma roupa negra que cobria o corpo da cabeça aos pés, ele tinha o desafio de se manter “anônimo”.

As entrevistas na tevê eram limitadas a gestos e nenhuma palavra. Nem mesmo os outros lutadores sabiam quem era o misterioso lutador, já que Edgar também treinava fantasiado de Demolidor.

Algumas características como a luta em pé e a finalização com um golpe de karatê na cabeça do adversário contribuíram, ainda mais para a criação do mito.

Mas a fama também obrigou Edgar a fazer verdadeiros malabarismos para manter o disfarce.


“Eu tinha que me trocar dentro do carro. Uma vez o comandante geral da PM entrou no vestiário e queria que mostrassem quem era o Demolidor. Ele dizia que o personagem podia ser um foragido da Justiça, mas na verdade ele queria mesmo era descobrir o mistério. Outra vez a torcida do Rio Negro seguiu o carro onde eu ia pra tentar me desmascarar”, revelou. 

Em casa, só os irmãos sabiam que Edgar era o Demolidor (conta-se que Eduardo Monteiro de Paula, atualmente um festejado radialista esportivo da TV Amazonas, que também era faixa-preta de karatê, chegou a substituir o irmão em algumas lutas, mas Dudu nega veementemente).

“Meus pais desconfiavam. Os amigos dele começaram a suspeitar de que eu era o lutador mascarado. Uma vez, eles tentaram tirar a prova: tive que assistir a uma luta do Demolidor em casa, ao lado deles. Só que armei com o Silva, que tinha um porte físico parecido com o meu e ele foi o Demolidor naquela noite. Consegui me livrar”, diz Edgar, que, atualmente, vive com a esposa e filhos em Ciudad Bolivar, na Venezuela.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Apocalipse macho: o fim do homem-alfa cada vez mais perto!


Sean Connery antecipa a inominável sunga-colete de Borat em Zardoz

Ronaldo Bressane

Os boatos sobre a derrocada do homem-alfa têm sido apressados. Mas atenção: há inquietantes sinais de fumaça. É fato: o cromossomo Y, que determina o sexo masculino, está com os dias contados. As más notícias foram trazidas por cientistas australianos. “O cromossomo Y tem uma larga faixa de DNA, mas está cheio de ‘lixo’, e há apenas 45 genes nele. Não dá para comparar com o os 1345 genes do cromossomo X“, despreza a doutora Jenny Graves, da Universidade de Canberra.

Observando a fauna australiana – incluindo cangurus –, o laboratório australiano descobriu que a cada milhão de anos 7.8 genes Y são perdidos. “Há 166 milhões de anos, o cromossomo Y também tinha 1345 genes“, explica. Ou seja – o crepúsculo do macho está em pleno processo. Mas vocês não vão se livrar de nós tão cedo, garotas: “A essa velocidade, o cromossomo Y vai desaparecer em 6 milhões de anos“, sentencia a australiana.

Antes que eu jogasse pedra na doutora Jenny por seu catastrofismo, o bioquímico Franklin Rumjanek, da UFRJ, refletia: uma vez que o cromossomo Y se especializou em determinar o sexo masculino, se esse ajuste foi aprovado pela seleção natural o Y pode permanecer entre nós por muito tempo. “O que sabemos é que o cromossomo Y já não tem mais origem exclusiva das gônadas masculinas e, além disso, corre o risco de desaparecer“, diz Franklin, lembrando de um experimento da Universidade de Newcastle que criou espermatozóides humanos a partir de células-tronco originárias de um embrião feminino. “Essa bifurcação evolutiva pode significar o fim da hegemonia masculina. Mas também pode ser o arauto da extinção da espécie“, afirma o bioquímico.


Os sinais da derrocada macha se demonstram em estudos biológicos e também em narrativas contemporâneas – como a sensacional graphic novel Y: O Último Homem (Vertigo), de Brian Vaughn e Pia Guerra, que enquadra um mundo em que uma catástrofe exterminou todos os homens do planeta à exceção de um, o perseguido Yorick Brown.

Pobre Yorick: enquanto a macharia teima em largar a toalha molhada na cama, berrar palavrões na arquibancada e encerar o capô do carro, a trilha evolutiva desdenha e olha para o outro lado da rua. O deus-nos-acuda agora vem de um estudo comportamental publicado na revista científica Proceedings of the Royal Society: mulheres de sociedades mais civilizadas se interessam por homens que não pareçam tão homens assim.

Usando o site faceresearch.org como base, Ben Jones e Lisa DeBruine, da Universidade Aberdeen, na Escócia, mostraram 20 pares de rostos masculinos a 4.800 mulheres de 20 países. No frigir dos ovos, o par de especialistas constata que “em ambientes onde doença e alta mortalidade infantil são altas, as mulheres preferem tipos mais masculinos. Nos EUA ou na Inglaterra, onde analisar planos de saúde é mais importante do que brigar contra uma infecção, homens efeminados são mais competitivos“.


Ainda suspeito se essa pesquisa funcionaria em países latinos como o Brasil – mas, a julgar pela nova tendência emogótica, as moças estão mais para Robert “alérgico a vaginas” Pattinson que para Clint Eastwood. É a evolução, estúpido!

A queda é tão iminente que, além do decantado metrossexual e do homem-fofoleto do estudo acima, a revista Slate reportou a tendência: o macho ômega. O herói-broxa é o pesadelo de consumo de mulheres que se desinteressaram tanto pelo ultracompetitivo alfa quanto pelo confortável beta e partiram para o fim da fila – a raspa do tacho, onde ainda sobrou alguma rebeldia recendendo a testosterona.


Seu símbolo é o Ben Stiller do filme Greenberg (inédito no Brasil). O quarentão Greenberg xaveca uma gracinha de 25 anos dizendo que, quando criança, sonhava ser astronauta; hoje, mal dirige. Desistiu de ser músico e agora abraça a causa de carpinteiro, mas nada sério: como diz aos amigos, “está fazendo nada por um tempo“. A Slate toma Greenberg como estereótipo do homem que, no começo dos anos 2000, sentiu o baque da recessão econômica e, confuso com as mudanças no comportamento feminino, reinventou-se num tipo charmosamente desajustado, loser. Segundo a ótima matéria da jornalista Jessica Grose, eis os subtipos ômega:

• Brejeiro. Bobo-alegre, quando habita os comerciais de cerveja, no caso de ser boa-pinta ou acreditar em seu ideal de solidariedade masculina selada por um tintim. Ou triste, quando percebe a roubada em que se meteu: gosta dos amigos, é leal à esposa e aos filhos, mas sente que a vida poderia ser muito melhor – caso tivesse a mínima idéia de como;

• Gameboy. Nerd que não toma uma atitude adulta na vida a não ser que, como em um game, seja obrigado. Se trabalha, é com videogames ou em sites pornôs;

• Inútil Paisagem. Veste-se bem, parece gay, mas não é: ao se contentar com a própria beleza, não carrega a menor expectativa em relação às mulheres. Narcisista que habita academias, clubes, bares descolês e espelhos – principalmente na hora do sexo;

• Gênio em Crise. Tipo o Caio Blat no recente filme Histórias de Amor Não Duram 90 Minutos, em que interpreta um escritor que não consegue escrever nem se decidir entre a mulher autosuficiente e uma perigosa peguete (que aliás está pegando a sua mulher);

O homem é a nova mulher


Pobres homens. Sua confusão é tão generalizada que existe até um Movimento Anti-Xoxotização do Homem Ocidental, MAXHO (o manifesto é de rolar de rir). O demônio do movimento é a mulher solteira chefe-de-família. É a principal responsável pela fixação dos homens contemporâneos em raspar os pêlos, cuidar da casa e doar seu esperma para bancos que fertilizam… mulheres solteiras chefes-de-família.

Reza o MAXHO: “Há poucos homens de verdade… um homem que pode trabalhar com seu próprio carro; que sabe dirigir e gosta de carros velozes; que sabe atirar, montar, desmontar e limpar sua própria arma; que sabe os princípios básicos da medicina; que sabe selar e montar um cavalo; que sabe ler e escrever em ao menos duas línguas; que conhece defesa pessoal; que se vira na matemática e na gramática; que sabe ler, discutir e escrever ensaios sobre política, filosofia e literatura; que se mantém em boa condição física; que se mantém na linha, é heterossexual, não mente, trapaceaia nem rouba; que sabe tratar uma mulher e cuidar de uma família“. Bom, eu sei controlar o nunchuk do meu Wii, mas isso talvez não baste aos simpatizantes do movimento.

O que faz de um homem um homem?

Segundo as pesquisas do Ibope, o homem brasileiro de 2010 “sente-se mais companheiro e presente na família; quando casado, realiza tarefas domésticas e faz compras; quando solteiro, mesmo financeiramente independente, não deixa a casa dos pais; preocupa-se com a aparência, a alimentação, usa produtos de beleza e já pensa em cirurgia plástica; é grande consumidor de mídia; quer fazer tudo de uma forma diferente“, determina Flavio Ferrari, CEO do Ibope.


O que faz de um homem um homem?

Uma dica do MAXHO, “que sabe como tratar uma mulher“, ou, como cantaria o Robertão, “Todo ama que sabe o que quer/ sabe dar/ e querer da mulher“, pode ser uma trilha para que cavalguem os novos pensadores da macheza contemporânea. A fim de manter uma saudável equidistância entre os escribas, necessária mesmo entre as quatro linhas destas elegantes páginas, escolhemos como normanmailers tupiniquins um carioca, um gaúcho e um cearense. É preciso solidariedade para com esses cabras machos que se debruçam sobre tão tenebroso tema.


Em recente crônica n’O Globo, o argentino-carioca João Paulo Cuenca aventa: “Que o homem é a nova mulher até o cinema norte-americano já descobriu“. O autor de O Único Final Feliz de uma História de Amor é um Acidente (Cia. das Letras) compara o priapismo de Porky’s, clássico cafajeste de 1982, com 500 Dias Com Ela, de 2009, “fita que leva o macho em crise ao paroxismo, com seu protagonista indie-genérico prometendo amor eterno entre choramingos e muxoxos“, e com Crepúsculo (2009), em que o herói “seduzido pela mocinha da fita passará pelo menos dois longa-metragens e meio evitando mordê-la ou levá-la para a cama“.

O “vampiro-fofo” de Cuenca nasce de uma demanda feminina, cristalizada no cinema e materializado no “galã-amélia, cozinheiro de mão cheia, companheiro para todas as horas, conselheiro para tardes de compras no shopping e futuro ex-namorado-melhor-amigo“. O viagra Van Helsing para esse draculette estaria embutido no appetite appeal de estrelas pornôs como Belladonna, em atrizes de cinema como Angelina Jolie ou musas do funk como Deise Tigrona. Para Cuenca, somente essas poderosas mulheres teriam a capacidade de mostrar de volta o caminho de casa aos novos Bogart, Peréio, Sinatra, Valadão – se é que eles existem (e se é que ainda existe o caminho de casa).


Por sua vez, o poeta gaúcho Carpinejar aposta na canalhice. Segundo aprendi na Caras, via Deonísio da Silva, canalha vem do italiano canaglia, da raça dos cães, radicado em cane, cão, mais sufixo depreciativo, designando o que é infame, vil. O aprendizado da macheza, para o poeta, estaria no retorno às origens como vira-latas, cão sem dono sempre disposto a fuçar no lixo, entrar no cio ou uivar para a lua.

Pistoleiro solitário, este espécime contemporâneo de canalha, “quando domesticado, acaba revelando que não era canalha… A canalhice é um excesso de imaginação. A saída é desejá-lo! O canalha procura uma mulher capaz de entendê-lo e que não tente ajustá-lo“, filosofa o poeta. Este novo canalha é um animal nascido na geração do divórcio, “de quem foi criado pela mãe e tem mais intimidade com o mundo feminino. Nunca vai ser um coitado: ri de si mesmo e tem capacidade camaleônica de se adaptar“, fecha o autor de, claro, Canalha (BertrandBrasil). Ele faz questão de distinguir o canalha do cafajeste e do pilantra. “O canalha não coleciona mulheres; realmente as ama. As mulheres se apaixonam porque se descobrem nele, se enxergam nele. Na verdade, a mulher se apaixona por si mesma…“, se safa Carpinejar.


A metáfora canina também é mordida pelo cearense Xico Sá em seu novo CHA-BA-DA-BA-DÁ – Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que Se Acha (Record). Mas aqui, como negativo: “Cuidado, frágeis!, eles estão perdidos, sejam metrossexuais, übersexuais ou brechossexuais (aqueles que só usam roupas com encosto de brechó). Fracos, não agüentam o tranco das mulheres mais destemidas. Arrotam macheza nos botecos, mas logo que põem as patas em casa, uivam para a lua minguante e sonham com uma chuva de coleiras“, escreve Xico.

E aí, como registra este canalha lírico, são as mesmíssimas mulheres que pedem uma esmola do coração dos mesmíssimos homens. Ironicamente, os mesmos que, afirma o Movimento Anti-Xoxotização do Homem Ocidental, teriam sido corrompidos pelos desejos das mulheres modernas demais. Para ilustrar, o seguinte diálogo pescado por Xico entre duas moças espertas num bar de São Paulo:

“– Antes um bom canalha de ressaca do que um saudável bom moço perfumado com a boca sempre cheirando a antisséptico! – Guta vai mais longe ainda.

– Nesses tempos de homens frouxos, quando não se pede mais ninguém em namoro, a canalhice é o nosso parque de diversões! – Lu ataca novamente.”


O que faz de um homem um homem? Prefiro lembrar de uma imagem simples, criada por Cormac McCarthy em sua obra-prima A estrada (Alfaguara). Não que ele esteja exatamente respondendo à minha pergunta; McCarthy é um contador de histórias, e esta é sua narrativa mais seca, precisa e emocionante, portanto sua fábula mais poderosa no oco deixado pela sugestão de inquietações. No romance, que se passa um cenário pós-apocalíptico, um pai e um filho atravessam seu devastado país do norte gélido ao esperançoso sul. Um diálogo entre os dois (que remete também ao final de outro livro de McCarthy, Onde os Fracos Não Têm Vez):

“Nós vamos ficar bem, né, pai?

Sim. Vamos.

E nada de mau vai nos acontecer.

Isso mesmo.

Porque estamos carregando o fogo.

Sim, porque estamos carregando o fogo.”

O que faz de um homem um homem? Quando o bicho pegar, sempre vai ser necessário um homem que carregue o fogo. Para acender o cigarro da dama, para aquecer o rango de todos – ou simplesmente para tocar fogo no circo.


Era uma vez um homem

Bela – e necessária – tese sobre o espécime em extinção, escrita por Millôr Fernandes e publicada n’O Pif-Paf/O Cruzeiro em 1953, com a colaboração de Luís Lopes Coelho e Antonio Maria

Decálogo do Machão

1. Machão vai à caça, passa seis meses na floresta, quando volta a mulher telefona, ele diz: “Não”.

2. Machão não come mel, come abelha.

3. Machão, na hora da morte, não confessa: vai pro inferno logo.

4. Entre um sorvete de creme e um uísque, o machão não hesita: mistura.

5. Machão não tem automóvel: faz ligação direta no primeiro que encontra.

6. Machão não se deixa levar pelo destino: segue enredo próprio.

7. Machão jamais é encurralado no apartamento pelo marido inesperado: anda sempre de pára-quedas.

8. Machão não fuma, não bebe, não joga: usa maconha.

9. Machão não casa: cumpre pena.

10. Machão, ao ir pra cama, não se descalça. Trepa de chuteira e tudo.

O livro de cabeceira do verdadeiro macho


Para a molecas de hoje, fascinadas pela celebridade instantânea daquelas vagabundas siliconadas e imbecilizadas do Big Brother Brasil, o nome Maria Augusta Thurman Nielsen deve soar tão vazio quanto saber o nome do volante de contenção do fabuloso Peñarol, de Itacoatiara.

Tudo bem.

E se eu falar em Socila?

Sim, as molecas de hoje vão continuar boiando no assunto.

Pra quem ainda não associou a criadora à criatura, Socila eram as iniciais da Sociedade Civil pela Integração Literária e Artística, uma escola de modelos localizada no Rio de Janeiro, que tinha como sócias Maria Augusta Nielsen e Ligia Carrato.


A escola foi fundada em 1954, sendo que elegância e etiquetas eram os principais assuntos ali ensinados.

Quem quisesse ser chique e elegante bastava somente dizer “eu estudei na Socila” e o mundo inteiro desabava aos seus pés.

É claro que essas celebridades instantâneas do BBB não passariam no exame de admissão da Socila (e tenho sérias dúvidas se elas fariam sucesso numa sexta-feira à noite na boate Remulo’s...)

A Socila fechou as portas em meados dos anos 70.

Foi vencida pelo tsunami dos chamados novos-ricos, uma barbárie yuppie que se locupletou nas tetas da ditadura militar e transformou os bons modos, a cultura e a civilidade em artigos de quinta categoria.


A diva Maria Augusta Nielsen (aí na foto, ladeada por Vera Fischer, Miss Santa Catarina e Miss Brasil 1969, e Eliane Fialho Thompson, Miss Guanabara e Miss Brasil 1970.) bateu as botas em 2009, no Dia dos Finados, no Rio de Janeiro, vítima de parada cardíaca.

Sinônimo de glamour e elegância no seu tempo, Maria Augusta morreu cega e numa cadeira de rodas, abandonada pela família aos 86 anos de idade, num quartinho de Copacabana.

Ela foi casada durante cinco anos com o ator Jardel Filho, mas nunca teve filhos.

O certo é que desde que a Socila foi criada, manuais de etiqueta e elegância começaram a brotar por aí, como cogumelos em bosta de vaca depois de uma chuva torrencial.

Nenhum deles, no entanto, teve o impacto do best-seller “Na sala com Danuza”, lançado originalmente em 1992.


O livro passou meses na lista dos mais vendidos e a explicação era simples: ali não se encontravam regras dogmáticas, exageros, modismos.

O que Danuza apresentava era quase uma crônica da vida em sociedade: os pequenos gestos que melhoram nosso dia-a-dia, o detalhe que faltava para um jantar perfeito entre amigos, a gafe que podemos evitar.

Comentando o livro com o publicitário Sérgio Bastos, com quem eu fazia dupla de criação na G&F Comunicações, apontei os pontos fracos da obra: apesar de ter feito o cronista Antônio Maria se apaixonar perdidamente até morrer do coração, Danuza não falava porra nenhuma sobre sexo.

Ela não ensinava, por exemplo, o protocolo a ser seguido no caso de o macho querer experimentar o outro lado do disco da patroa.

Tampouco mostrava como o macho deve pedir para uma mulher cair de boca no bráulio sem que aquilo significasse o fim do mundo.

Não explicava claramente se, após o boquete, a mulher deveria cuspir, engolir ou gargarejar.

Muito menos dava dicas sobre como carcar uma mulher de bode sem emporcalhar o lençol da cama.


Paulo Higino, Luiz Alberto, Alberto Castelo Branco, Sergio Bastos e esse vosso escriba, durante um coquetel na Saga Publicidade. Essa careca, salvo engano, é do redator Bagaço.

Sergio Bastos sugeriu que eu escrevesse um livro sobre o assunto

Em outras palavras, o Manual do Canalha era um passo a frente na etiqueta sexual moderna e servia como complemento à importante obra da Danusa Leão.

O próprio Sergio Bastos diagramou o livro, bolou a capa, com ilustração em branco sobre um fundo vermelho, e fez a arte do convite, que era uma variação em P&B da própria capa.

O Manual do Canalha foi lançado na noite de uma sexta-feira, 3 de dezembro de 1993, no Bar do Armando, numa festa do arromba (sem duplo sentido).



Na realidade, o vivente comprava o livro na Livraria Brasileira, do saudoso Wagner Cristiano, e depois, se quisesse o meu autógrafo, levava no boteco do português, localizado ao lado da livraria.

O hoje consagrado publicitário e poeta Ricardo Cruz, que na época era assistente de direção de arte do Sergio Bastos, bolou a arte de uma camiseta exclusivamente para a ocasião, mandou fazer a aplicação em uma Hering branca e me deu de presente.

Escrita em letras garrafais, a frase “Eu sou foda!” era quase uma provocação machista.

O chapéu de palha da velha malandragem e os óculos estilo Waldick Soriano serviam para compor um cafajeste em potencial.


Os repórteres de televisão que foram cobrir o evento tiveram que cortar um dobrado pra presepada não aparecer na telinha durante os telejornais do horário nobre.


Colhendo as impressões da jornalista Rosângela Alanis

Usando um pau de miratinga como se fosse um microfone, comecei a entrevistar o mulherio sobre suas preferências sexuais na cama, fingindo que era pesquisa de campo para meu futuro livro, “Manual do Espada”, que seria lançado em 1998.


Colhendo as impressões da jornalista Lucia Cordeiro

A ala feminina do boteco criou um monte de cartazes de protestos bem-humorados e a fuzarca, animada pelo DJ Marcos Tubarão, ficou simplesmente fora de controle.


Uma zona federal, que estremeceu o centro da cidade!

Não lembro em que gráfica o Manual do Canalha foi rodado, mas a edição de mil exemplares esgotou-se em menos de três meses.

O título do livro me foi sugerido pelo livreiro e escritor anarquista Plinio Augusto, dono da editora Imaginário, depois que conversamos por telefone sobre o assunto.


O escritor Antônio Paulo Graça emprestou seu exemplar para o livreiro e ensaísta José Mário Pereira, dono da editora Topbooks, ele resolveu lançar uma nova edição, em 1996, e os 3 mil exemplares também se esgotaram em pouco tempo.

Com a morte do Paulinho, em 1998, eu praticamente parei de manter contato com o José Mário Pereira e continuei lançando meus livros apenas aqui na taba.


Aí, há dois anos, o Millor Fernandes voltou a elogiar o livro publicamente (na revista Veja, porra, na revista Veja, e não no jornal mimeografado do DCE da Faculdade de Enfermagem de Miracema do Norte...) e o José Mário Pereira fez uma segunda edição pela Topbooks, mais grossa, vibrante e encorpada.

O resto é história.


Ocorre que muita gente boa não conseguiu comprar o livro – principalmente meus amigos de Manacapuru, Parintins, Itacoatiara, Borba, Maués, Manicoré, Coari, Benjamin Constant e Tabatinga.

Para conter o avanço das milícias talibãs do povo GLBTS, que estão cada vez mais organizadas, eu resolvi disponibilizar o livro no formato PDF para que os últimos dinossauros masculinos que ainda gostam de mulheres possam reagir.

É isso aí, cachorrada!


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Nosso amor de ontem: George Burns


George Burns, nome artístico de Nathan Birnbaum (20 de janeiro de 1896 – 9 de março de 1996), foi um respeitado ator e comediante yankee.

Com sua esposa Gracie Allen formou uma dupla que fez muito sucesso no cinema e na televisão durante 19 anos.


Após a morte dela, ele continuou atuando no cinema, na televisão e no teatro.

Em 1975, ele ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante por sua atuação na comédia Uma Dupla Desajustada (The Sunshine Boy). Era famoso por seu constante bom humor e pelo amor intransigente por cigarros e charutos.

Em julho de 1994, Burns caiu em sua banheira e teve de se submeter a uma cirurgia na cabeça. Sua saúde começou a degringolar. Todos os preparativos para comemorar o seu centésimo aniversário foram cancelados.

Em dezembro de 1995, Burns ainda estava bom o suficiente para assistir a uma festa de Natal organizada por Frank Sinatra. Acabou pegando uma gripe, que lhe deixou ainda mais fraco.

Em 20 de janeiro de 1996, ele comemorou seu centésimo aniversário, mas já não não tinha forças suficientes nem para se levantar da cama.

Em 9 de março de 1996, apenas quarenta e nove dias depois de seu aniversário, Burns morreu em sua casa em Beverly Hills de uma parada cardíaca.

Seu funeral foi realizado três dias depois, no Wee Kirk Heather em Forest Lawn Memorial Park Cemetery, Glendale.

George Burns foi enterrado com seu melhor terno azul escuro, camisa azul claro e gravata vermelha, juntamente com três charutos no bolso, a sua peruca, seu relógio presenteado por Gracie, o seu famoso anel, e no bolso, as chaves da casa e sua carteira com 10 notas de cem dólares.


Algumas frases desse figuraço:

Eu preferiria ser um fracasso em algo que amo, do que um sucesso em algo que odeio.

Eu fumo porque, na minha idade, se não tenho algo em que segurar, eu caio.

Você não pode evitar de envelhecer mas você não tem que ser velho.

Quando você chegar aos 80 já terá aprendido tudo. Você só precisará se lembrar disso.

O segredo de um bom sermão é ter um bom começo, um bom fim e ter ambos o mais perto possível.

Não importa o que as outras pessoas falem de você, o importante é que você continue sendo a pessoa que sempre foi, e se mudar mude para melhor. Não fique na cama... a menos que você possa fazer dinheiro deitado.

Já fui casado por um juiz. Eu deveria ter pedido um júri.

Felicidade é ter uma família grande, carinhosa e amorosa... morando em outra cidade.

Na realidade, basta um drinque para me deixar mal. Mas nunca sei se é o 13.º ou o 14.º.

É muito ruim que todas as pessoas que sabem como dirigir o país estão ocupadas dirigindo táxis e cortando cabelo.

Você nunca será o homem que sua mãe era.

O sexo é uma das 9 razões pelas quais gostaria de reencarnar. As outras 8 são irrelevantes.

As pessoas me perguntaram que presente gostaria de ganhar nos meus 87 anos. Respondi: “Um teste de paternidade”.

Me encanta cantar e me encanta tomar whisky. A maioria das pessoas prefere me escutar tomar whisky.

Primeiro você esquece os nomes. Logo você esquece das caras. Depois se esquece de subir a braguilha. Finalmente se esquece de baixá-la.

Sabem o que significa chegar em casa de noite e encontrar uma mulher que lhe dê um pouco de amor, um pouco de afeto e um pouco de ternura? Significa que você errou de casa!

Na minha idade, as flores e as velas me assustam.

Sou tão velho que quando eu era uma criança, o Mar Morto só estava doente.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Tudo que você queria saber sobre punheta, mas tinha medo de perguntar!


Muito bem, caro neófito da AMOAL. Antes de avançarmos nos conhecimentos ultra-secretos de nossa organização, vamos falar um pouco sobre o nosso melhor amiguinho (ou “anjo da guarda”, se preferir).

Se você não sabe de quem se trata, estamos falando daquele sujeito roliço, cabeçudo e educado, que sempre se levanta para uma mulher sentar.

De acordo com alguns estudiosos, até o período Neolítico os homens não sabiam qual era sua função na geração de uma nova vida.

A partir do momento em que o homem descobriu que tinha papel importante na concepção, a estrutura da sociedade passou de matriarcal a patriarcal.

Foi quando o homem descobriu que o pênis não servia apenas para mijar.


Associado à determinação e à força, o pênis é o símbolo máximo da masculinidade e, por esta razão, fonte imensa de prazer, mas também de ansiedade e de dor.

Os romanos davam a ele o nome de “fascinum” – de “fascinar” e “fascinação”.

Para o psiquiatra Carl Jung, “o falo é fonte de vida, da libido, o criador e fazedor de milagres e, como tal, é adorado por toda parte”.

O xivaísmo é um culto dentro do hinduísmo e seu símbolo é o linga ou falo.

Xiva disse: “Eu não sou diferente do falo, o falo é idêntico a mim. Portanto, ambos, eu e meu falo, que sou eu mesmo, devem ser adorados. Onde quer que haja um órgão masculino ereto, eu e eu mesmo estamos presentes”.

Em outras palavras, a gente fala pelo falo e ponto final.

O culto fálico possuía um caráter mágico na Antigüidade.


Filho de Baco e Vênus, Príapo nasceu com um pênis desproporcionalmente imenso e sempre duro.

Envergonhado, fugiu para o campo e se tornou protetor de hortas, jardins e gado.

Seu nome deu origem ao priapismo, uma ereção prolongada de mais de seis horas e muito dolorida, causada por traumas e algumas doenças.

Em algumas civilizações do passado, o falo era considerado um símbolo religioso.


O “digitus infamis” – gesto feito com o dedo médio estendido e o anelar e o indicador retraídos, que para nós significa outra coisa – representava um pênis e era utilizado como amuleto contra doenças, maldições, inveja, mau-olhado e paqueras de mocréias na menopausa ou tribufus em estado terminal.

Na Grécia antiga, as figuras masculinas sempre ostentavam órgãos sexuais pequenos.

Os gregos consideravam o membro avantajado “feio e ordinário”.

Aristóteles acreditava que um pênis pequeno era mais fértil do que os maiores, porque o esperma tinha menos espaço para percorrer.

Um dos deuses preferidos do antigo Egito era Osíris, geralmente representado na figura de um touro enfurecido com três pênis.

Para seus sacerdotes, os genitais masculinos eram considerados troféus de guerra.

Uma vitória dos egípcios contra os líbios lhes rendeu 13.230 pênis.


Os habitantes de Komaki, a 250 quilômetros de Tóquio, celebram há 3 mil anos o festival da fertilidade chamado Hounen Matsuri.

A procissão pelas ruas da cidade até o altar de Tagat Jinja é acompanhado por cânticos e homens carregando um pênis enorme ereto.

O falo gigantesco, feito de cipreste, pesa mais de 400 quilos e é ofertado a Hounen para que todos tenham dias frutíferos, colheita abundante e um ano de prosperidade.

A arte japonesa de tatuar cada centímetro do corpo é chamada Irezumi.

Nem mesmo o pênis escapa.

É a última parte do corpo a ser tatuada por ser a mais dolorida.


Na tribo Walibri da Austrália, o cumprimento entre amigos não é dar as mãos, mas apertar o pênis um do outro.

O ditador fascista Benito Mussolini repelia o mau-olhado tocando seus testículos.

O símbolo de Pompéia era um pênis alado.

Grigory Rasputin, o monge, que supostamente possuía poderes sobrenaturais, foi um mestre da sedução.

Num livro sobre seu pai, Maria Rasputin afirma que os rituais religiosos de seu progenitor invariavelmente se transformavam em orgias nas quais seu pênis era cultuado.

Em tribos da África, maridos traídos se vingam envenenando os próprios pênis.

Preparam o veneno e o antídoto. Tomam o antídoto e depois lambuzam o pau com o veneno.

Transam com suas mulheres (os mais bonzinhos dão antídotos para as esposas também), e quando o Ricardão chega para se divertir, é acometido por uma dor alucinante, parecida com queimaduras, que o deixa gravemente doente.

As tribos Ngoni e Zulu usam uma poção que não causa a morte, mas a impotência.


O general e conquistador francês Napoleão Bonaparte não tinha um pinto muito grande.

Ocorre que, no fim da vida, seu pênis encolheu drasticamente – um dos sintomas de envenenamento por arsênico.

O pau do general francês continua causando polêmica.

John Lattimer, ex-catedrático de Urologia do Hospital Columbia, em Nova York, afirma ter em sua coleção o pênis de Napoleão.

O mito nunca foi confirmado.

No cemitério Pére Lachaise, em Paris, acredita-se que a escultura Victor Noir – jornalista francês assassinado por Pierre Bonaparte, primo de Napoleão III – tem poderes mágicos.

Uma esfregada nos órgãos genitais de Noir seria suficiente para estimular a fertilidade feminina.

Pelo aspecto gasto dos países baixos de Victor, o remédio é muito procurado.

Uma das receitas do Kama Sutra para causar a ilusão de um pênis mais, digamos, vibrante é esfregar o membro com água morna, antes do sexo, e depois lambuzá-lo com uma mistura de mel e gengibre.


O vick vaporub, o iodex, o benguê e a nossa velha e conhecida pomada Tigre também produzem o mesmo efeito.

Para prolongar o prazer, o Kama Sutra sugere: frite muitos ovos de codorna na manteiga e depois mergulhe-os no mel de abelha.

Rebata tudo com um litro de catuaba.

Essa iguaria irá lhe proporcionar uma ereção que durará a noite toda.

A mistura de leite de camelo com mel também foi documentado como um potente afrodisíaco.

No século 5 a.C a circuncisão era prática tradicional no Egito.

Tanto que para estudar num templo local, o matemático grego Pitágoras fez a cirurgia.

Era uma questão cultural: os egípcios antigos consideravam bárbaros os não-circuncidados.

Os gregos consideravam os circuncidados bárbaros.

Os romanos cagavam e andavam para a questão: o que eles queriam mesmo era foder as mulheres egípcias e os guerreiros gregos, não necessariamente nesta ordem.


Defensores da circuncisão citam inúmeros benefícios à saúde: menor probabilidade de problemas urinários, diminuição da incidência de câncer e eliminação da balanopostite (inflamação da glande e do prepúcio em decorrência da falta de higiene).

Circuncidados também têm duas vezes menos probabilidade de pegar herpes, sífilis e HIV.

Os defensores de que pau não foi feito para ser cortado consideram a cirurgia uma mutilação.

Alegam que uma boa higiene diária tem feito as doenças diminuírem.

Outro fator para manter a gola rulê: as terminações nervosas contribuem para aumentar o prazer dos homens e são insubstituíveis durante a prática da punheta.

Segundo os judeus, para quem a circuncisão é obrigatória, não há diferença de sensibilidade.

O que pode acontecer é uma mudança temporária na sensibilidade dos homens adultos que se submetem ao procedimento, mas logo tudo volta ao normal.

Há controvérsias a respeito.

No Senegal, a etnia Ehing realiza a cada 25 anos um ritual de circuncisão chamado Kombutsu.

Os homens têm seus prepúcios cortados com uma faca.

Significa um renascimento masculino.


A tribo Dogon, da África, acredita que o prepúcio contém a alma feminina do homem e que o clitóris tem a maldade da mulher.

Nos dois casos, a circuncisão foi a solução encontrada para acabar com os problemas de identidade.

Entre os muçulmanos, a circuncisão tornou-se comum – não obrigatória –, pois o profeta Maomé era circuncidado.

Durante o reinado de Elizabeth, um cientista inglês recomendou a circuncisão como prevenção contra a masturbação, que, segundo ele, poderia levar a uma morte horrível.

Hoje em dia, muitos hospitais vendem prepúcios de bebês para a indústria farmacêutica.

Um pedaço de prepúcio possui material genético para o desenvolvimento de duzentas mil unidades de pele artificial.


Em média, o volume de uma ejaculação cabe numa colher de café e possui de 200 a 600 milhões de espermatozóides.

Cada um deles pode viver até 48 horas no corpo feminino.

São necessários 10 dias aproximadamente para fabricar um espermatozóide.

A frutose é o componente principal do esperma.

É ela que dá aquele gosto agridoce e travoso de que as mulheres se queixam tanto.

Uma colher de sêmen possui 5 calorias e 6 milímetros de proteínas.

O número médio de jatos durante a ejaculação varia entre 3 e 10.

A velocidade da ejaculação pode atingir 40 km/h.

O tempo estimado do orgasmo masculino oscila em torno de 4 segundos.

Homens com menos de 40 anos – e turbinados com viagra – são capazes de ter uma ereção em menos de 10 segundos.


O Livro dos Mortos dos egípcios, escrito por volta do ano 2000 a.C, traz a primeira condenação à masturbação de que se tem registro.

No início do comunismo na China, a masturbação também era condenada porque poderia “minar a vontade revolucionária”.

Deve ser por isso que o regime comunista foi pro beleléu.


E aqui cabe um registro histórico.

Como alguém pode ter coragem de condenar a prática universal da bronha?

Ora, não me venha com falso moralismo.

Somos todos adultos, de maior, vacinados e aptos a discutir nossas próprias punhetas.

Ou vai me dizer que nunca descascou uma neneta embaixo do chuveiro, pensando no traseiro bem fornido da empregada? Ou da vizinha casada? Ou da cunhadinha? Ou da nova estagiária da firma?

Se não descascou, alguma coisa está errada.

Todo mundo, dos grandes mestres da AMOAL aos estudantes do ensino fundamental, pratica uma masturbaçãozinha de vez em quando, ou de vez em sempre, como preferem os adolescentes.

E essa bronha sagrada é sempre em homenagem a alguma coisa que nos desperte a libido.


Por exemplo, padres se masturbam pensando nos novos seminaristas, políticos, pensando na tomada do poder, ricos, pensando nos paraísos fiscais, mulheres, pensando em dinheiro, homens, pensando em mulheres, viados pensando em viados que praticam musculação, e a molecada, pensando em qualquer coisa que mije de cócoras e não seja sapo.

Não há como negar. É gostoso, prático, eficiente e faz bem pro organismo.

É bobagem o Vaticano condenar e os defensores da moral e dos bons costumes gritarem que isso provoca doença mental.

Se fosse assim, o mundo seria um tremendo hospício.

Leia um jornal diário, qualquer jornal.

Leia uma revista semanal, qualquer revista.

Ou assista um telejornal, qualquer um, até mesmo o da RBN.

O quê que você vai ficar sabendo?

Que 20 milhões de mulheres são estupradas anualmente no planeta.

Que a cada 2 minutos uma mulher é violentada no Brasil.

Que a prostituição infantil não pára de crescer.

Que a aids está correndo solta entre os países africanos.

Que o tráfico de escravas sexuais já rende mais dinheiro do que o narcotráfico.


Portanto, nada mais justo que recorrermos a um sexozinho solitário no aconchego de nossos lares para diminuir a violência sexual do mundo moderno.

Temos notícias de casais separados por incompatibilidade de gênios, porém jamais soubemos de algum onanista que se divorciou de sua piroca.

Ah! Isto não! Punheteiro é fiel pra caralho. Pro seu caralho, bem entendido.

Afinal de contas, como diz Woody Allen, tocar punheta é fazer amor com a pessoa de quem mais a gente gosta.

Talvez nesse exato momento você esteja isolado do mundo exterior, num raro momento de sossego.

Talvez esteja acomodado, confortável, relaxado.

Talvez volte a olhar como um lobo faminto para o burrão da empregadinha de short, que começou a espanar a estante ali na sua frente e agora está meio vergada, tentando tirar a poeira de trás do seu computador.

E nesse momento, relaxado, você talvez exercite o direito básico e inato a todos os seres vivos, o direito sagrado e inalienável de alisar o próprio corpo.

Talvez alise o apêndice que mais preserva e protege. O que lhe provoca as mais profundas e selvagens sensações de prazer.

Pois, como dizia Woody Allen, o cérebro está em segundo lugar na lista dos nossos órgãos favoritos.

Aquele amontoado de cartilagens, veias e artérias, tecidos cavernosos à espera de sangue, agora cresce na sua mão.

E está passando o momento de desistir.


Em um dado momento, você atinge o ponto sem retorno.

Já não mais se controla e passa a ser comandado por hormônios em fogo, o sangue pulsando visivelmente sob a pele esticada.

Ainda bem que a empregadinha já foi embora para limpar outra parte da casa, senão seria bem capaz de você voar em cima dela.

Um pouco de saliva na mão, movimentos de pressão e alívio, o sobe-e-desce em ritmos variados.

Conexão perfeita e coordenada entre as pontas dos dedos, a palma úmida e os benditos terminais de sexo em seu córtex cerebral.


No turbilhão de seu imaginário erótico, a empregadinha faz exatamente o que você quer que ela faça, e não pede nada em troca.

Ela sussurra seu nome, oferece o burrão, pede mais.

Você geme, sua respiração pesa.

Ela chama outras empregadinhas da vizinhança.

A farra está completa.

Num último grito engasgado, sua consciência transita no terreno do prazer absoluto.

O orgasmo dura alguns poucos segundos.

Você se entrega e se lambuza.

Seu cérebro exausto sai do ar pedindo um tempo.

Um sorriso abobado nos lábios, a mão coberta, a mente se apaga no mais completo e profundo dos estados de relaxamento.

Deus devia estar de bom humor quando inventou essa terapia cardiovascular.

Salvou 100 bilhões de almas!


O simples, banal e cotidiano ato da masturbação representa um dos maiores tabus de toda a história da civilização humana.

A masturbação feminina já está liberada há tempos.

Saiu das catacumbas para as capas da revista Cosmopolitan.

As feministas aplaudem.

A mulher que se masturba está exercendo sua própria sexualidade, num ato de independência com relação aos homens.

Mulheres se tocam nos filmes pornôs de um jeito sexy, sublime, delicado, sutil.

Já um homem que se masturba é ridículo. Grotesco. Patético.

Com toda a sinceridade: nós, homens, sabemos disso. Não é um espetáculo bonito.

Gera cenas cômicas irresistíveis em filmes como “Quem Vai Ficar com Mary?”

Mas a questão não é só estética. Por convenção cultural, o punheteiro é considerado antes de tudo um perdedor.


Segundo o lugar-comum, homem só se masturba quando não consegue mulher.

É um incompetente, e teve que se dar uma espécie de prêmio de consolação.

Por ironia, o patrono da masturbação foi vítima de um grotesco equívoco histórico.

Um sinônimo mais discreto para a masturbação masculina é “onanismo”. Refere-se a Onan, personagem bíblico citado em Gênesis 38 (8:10).

E Onan virou uma espécie de ícone dos tocadores de bronha em geral.

Punheteiros compulsivos são citados até hoje como “adoradores de Onan”.

A rápida passagem de Onan pela Bíblia ocorre nos tempos de Iavé, vingativo e irado Senhor do Velho Testamento.


Iavé, ou Jeová, nesses livros, parece sempre envolvido numa campanha permanente de geopolítica, demografia e legislação ordinária.

No Gênesis, Onan é o segundo filho do patriarca Judá.

Ele, Judá, obriga seu filho mais velho, Er, a se casar com Tamar.

O primogênito de Judá, porém, era “perverso para o Senhor”, que por causa disso “o fez morrer”.

Seguindo os preceitos demográficos de Jeová, Judá ordena então que o segundo filho, Onan, “possua” a viúva Tamar para que ela tenha filhos. Onan obedece ao pai – mas até certo ponto.

O irmão de Er transa com a cunhada, mas pratica o “coitus interruptus”.

Segundo o Velho Testamento, Onan sabia que a fecundação da criança seria creditada ao irmão morto.

Resolveu não correr o risco. Assim, todas as vezes que possuía a mulher de seu irmão, Onan “deixava o sêmen cair na terra”.

Jeová não gostou. E o segundo filho de Judá também foi rapidamente eliminado.

Dessa forma, Onan poderia ser considerado hoje o santo patrono do controle populacional, mas nunca um ídolo dos punheteiros.

Acabou sendo esta imagem distorcida que ficou e marcou profundamente a chamada civilização judaico-cristã: a de Onan, um pecador que cometeu um terrível crime e foi punido com a morte.

Isso em duas linhazinhas perdidas no mar de sangue, suor e lágrimas do Gênesis.


Dos tempos de Onan para cá, nada foi capaz de melhorar a imagem da masturbação masculina.

Tratada como doença, condenada como perversão, logo as lendas começaram a se espalhar.

O escritor (evangélico) Lambert Dolphin cita que em 1758 um médico suíço conhecido como “doutor Tissot” escreveu um tratado arrasador sobre a masturbação, segundo ele capaz de “provocar loucura”.

A obra do doutor Tissot permaneceu sendo uma “verdade científica” até o ínicio do século 20.

Segundo Lambert Dolphin, “entre 1856 e 1919 o Escritório de Patentes dos Estados Unidos registrou 49 aparelhos antimasturbação”.

Um deles dava choques em quem se excitasse fora de hora.

Outro espetava agulhas no bilau dos garotos com ereção noturna.

O doutor Sigmund Freud deu uma chance à auto-suficiência.

De acordo com a Larousse Cultural, o pai da psicanálise pediu moderação aos adultos quando vissem seus filhos tocando os próprios órgãos genitais.

Um castigo fora de hora poderia causar um medo irracional e permanente castração.


Mas foi sua contemporânea Melanie Klein que percebeu algo mais importante: o de que a masturbação em si não importa, o que importa são as fantasias que a acompanham.

Durante o ato, nossos fantasmas estão à solta.

Em alguns casos pode ser uma ótima válvula de escape para pessoas perturbadas por fantasias violentas.

A masturbação, entretanto, só veio a ser clinicamente aceitável a partir da segunda metade do século 20.

Se o amor era livre e sem limites, por que não liberar também o auto-erotismo (junto com o LSD)?

O problema está enunciado desde os tempos do velho Sigmund: a masturbação em si não é problema nenhum.

O problema é não aproveitar o que o quente, apertado, úmido e inigualável Planeta Mulher tem a oferecer.

E acabar apaixonado por toda a vida pela própria mão.

Mas isso não justifica tanto preconceito.


Existem ainda dois pontos muito importantes para os punheteiros de responsa.

O primeiro é que ela pode se tornar uma terapia muito eficiente no controle da ejaculação precoce.

Se você aprende a se controlar sozinho, vai aprender a se controlar com a parceira.

O segundo ponto mais importante é outro.

A palavra “masturbação” significa basicamente sexo com as mãos. Não quer dizer necessariamente auto-satisfação.

As mãos suaves e macias de uma mulher podem representar seu maior prazer.

Se você ensinar a ela os segredos que aprendeu sobre seu próprio pênis desde a mais tenra idade, aí poderá chegar a um paraíso que nem imaginava existir.

Ainda mais se ela for do tipo que ao perceber que você está quase chegando lá, coloca o bilau para ejacular na sua (dela) boca.


Como você já sabe, a prática do onanismo não é nova.

Ela vem sendo difundida há séculos e séculos, ora como método de contracepção natural, ora como ginástica localizada para tonificar o cheio-de-varizes.

Desde os primórdios da raça humana existem estudos sobre o assunto.

O renomado cientista português Thomaz Turbando Pinto, que ao longo de sua carreira tem defendido teses que revolucionaram a história do onanismo mundial, afirmou, no seu último livro (Do Silex ao Silício: 40 mil Anos de Punheta, 1975), que o crescimento de cabelos na palma da mão dos adeptos do onanismo prova que os homens da pré-história eram peludos porque se masturbavam dia e noite.

Afinal de contas, fazer o quê naquele tédio do começo do mundo?


Correr atrás daquelas mocréias suarentas, cheirando a pitiú de ovos de ptereodáctilo?

Encarar aquelas hordas de turus e jaburus, todas com a cara do Don King e o corpinho da Wilza Carla? Nem pelo caralho.

Ser um bom onanista, entretanto, não é tão fácil quanto parece.

A arte do sexo solitário para ser bem-feita, deve ser calçada em estudos profundos e técnicas que, com o tempo, vão se desenvolvendo e se adequando ao gosto de cada praticante.

Para se praticar o onanismo numa boa é preciso ter um membro, no caso dos homens, e não ter, no das mulheres.

Para os de sexo masculino é fundamental que o membro, em comparação com a mão participante, esteja em vantagem.

Tem de sobrar órgão, caso contrário só com uma pinça você conseguirá friccionar esse pinguelinho de merda.

Obviamente, o mastruço deve estar em posição de combate, ereto, duro, pronto para o que der e vier.


Para reduzir a fricção da pele sobre o corpo cavernoso durante o vaivém, é necessário usar um pouco de cuspe ou creme hidratante.

O cuspe (ou o creme) deve ser colocado sempre na parte superior do colar do prepúcio, exatamente na divisão entre a chapeleta e o resto do pau.

E o vaivém não pode ser tão desordenado e desconexo que provoque hematomas no bendito.

Hay que endurecer sim, mas sem jamais perder a ternura.

Também é sempre bom alertar que masturbação não é sujeira.

O praticante não precisa borrar as paredes, manchar o lençol, o teto ou o lustre.

Tenha sempre à mão uma toalhinha de papel, um lenço, uma flanela ou qualquer coisa que limpe essa melequeira que você acabou de fazer no chão do banheiro, seu porco imundo! Se dê tenência, patife!

Tocar punheta com maestria é mais ou menos como fazer omelete sem sujar os dedos na clara dos ovos.

A pressão exercida pela mão é fundamental para a qualidade do orgasmo.

Muita pressão pode fazer doer o saco escrotal, pouca pressão deixa o bicho amolecer.

Sendo destro, a mão direita serve para acelerar o carro e a esquerda para reduzir a velocidade, retardando o gozo.


A primeira vez, claro, ninguém esquece. Somos adolescentes com as calças pegando fogo, e não é preciso prática nem habilidade.

Com o tempo e a prática, aprendemos como fazer do jeito certo.

Descobrimos os pontos mais sensíveis, as técnicas de manipulação, o ritmo, a pressão.

Vislumbramos as maravilhas da lubrificação. Haja cuspe.

E aí vem a parte mais importante: a imaginação.

Em algumas ocasiões, não há a menor dificuldade. Depois de um “amasso”, por exemplo.

Ou quando há uma mulher na vizinhança pela qual você está obcecado, mas ainda não conseguiu chegar lá.

Com o tempo, essa única mulher costuma não ser suficiente.

Aí elas costumam se alternar em nossa imaginação, uma ciranda de mulheres desesperadas pelo nosso pequerrucho.

Nessa fase, damos mais um passo, e essas mulheres – muitas das quais nem conhecem uma às outras – unem-se todas ao mesmo tempo para se entregar entre sussurros e gemidos aos nossos desejos mais secretos.

O estímulo a punheteiros é uma indústria de bilhões de dólares.

Temos revistas aos montes, prateleiras de vídeos nas locadoras, fotos e filminhos na Internet, canais eróticos na tevê a cabo.

Mas chega um momento na nossa vida em que toda essa parafernália já não é suficiente.

Aí é a hora da especialização.

E cada um de nós vai fundo em sua obsessão particular.


Fora a imaginação, o resto é uma questão de know-how.

A maioria fica no equivalente ao “papai-e-mamãe”: a mão direita deslizando pelo corpo do pênis, tocando de passagem a base da glande.

Outros vão em frente e criam técnicas bem complexas para atingir o orgasmo sem ajuda externa.

Vale tudo. A imaginação é o limite.

Se quiser incrementar a punheta, por exemplo, deixe por alguns minutos um peso sobre a mão direita, até ela ficar parcialmente adormecida, e só então comece a atividade.

Como você não vai sentir a mão no seu pau, pode até imaginar que está comendo alguém de verdade.

Se quiser incrementar ainda mais, pinte suas unhas com o esmalte da sua prima e imagine que é a mão dela que está fazendo o trabalho sujo.

Eis aí alguns truques dos tarimbados mestres da AMOAL, que você pode utilizar ao bel-prazer:

Com uma das mãos, estique a pele do seu pau ao máximo.

Com a outra (bem lubrificada), finja que você vai abrir uma garrafa girando a tampa.

Não entendeu? Tente de novo, gafanhoto.

Outro truque: sabe aquele gesto típico de esfregar as mãos para aquecê-las?

Coloque seu objeto de prazer no meio delas.

Mais outro: deitado de lado, simule com suas mãos entrelaçadas o órgão sexual feminino.

Uma coisa é você mover as mãos, outra – bem mais realista – é mover os quadris.

É evidente que o prazer vai ser proporcional ao que você estiver usando como lubrificante.

Alguns recomendados por quem já experimentou e aprovou: vaselina líquida, xilocaína gel, óleo de coco, óleo de amêndoa, óleo de soja, óleo para bebês, cremes e loções para pele, manteiga sem sal, banana amassada, requeijão, azeite português, K-Y gel, brilhantina e vick vaporub.

Mas se utilizar este último, evite o contato com água.

Se um dia experimentar, você vai descobrir o porquê.


A solidão numa banheira quentinha é um estímulo natural à masturbação.

Os antigos chineses usavam um truque: enchiam a banheira de forma que apenas a ponta do pênis ficasse acima do nível da água.

Aí, largavam um pequeno inseto na água.

Para não se afogar, o inseto tinha de caminhar pela “ilha vermelha”.

Afundando o pau um pouco mais, o inseto ia começar a se agitar desesperado, com a perspectiva de entrar na água novamente e se afogar.

Os chineses garantem que, nessas condições, o ciscado do inseto sobre sua pomba só pode ser comparado a um boquete da Divine Brown. O ator Hugh Grant que o diga.

Existem também as modalidades de punhetas sem o concurso da mão. A mais conhecida é a do pepino.

Corte uma das extremidades de um pepino médio. Esvazie parcialmente seu interior.

Coloque-o no microondas por 30 a 45 minutos. Resfrie.

Recubra a casca do pepino com fita crepe ou isolante.

Recheie o interior com K-Y gel e faça bom proveito.

Bananas, laranjas e mamões pequenos (de preferência verdes) podem ser usados de maneira basicamente semelhante à do pepino, mas sem o uso do microondas.

Mas não vá comer essas porcarias depois que acabar de gozar, seu nojento!


Outra técnica avançada de auto-satisfação é a da bananeira.

Você faz um pequeno talho com canivete no tronco da árvore e enfia seu pinto naquele buraco úmido.

A seiva que corre no tronco da bananeira e a suavidade gelada daquele tronco liso vão lhe dar a sensação de estar comendo uma mulher de verdade, talvez uma cantora inglesa. Ou o Boy George.

Se preferir uma coisa um pouco mais quentinha, com movimentos súbitos e imprevisíveis, as cloacas de galinhas, patas, peruas e marrecas se prestam admiravelmente bem para a prática.

O estágio seguinte (cadelas, cabras, mulas, éguas e viados) não é mais uma punheta, mas também não pode ser considerado ainda uma trepada.

Aliás, nunca esqueça, trepada só com mulher.

Bom, mas, conforme já foi explicado, não adianta sair por aí esfolando o pinto a torto e a direito, inventando mil e umas presepadas para turbinar o orgasmo. Não vai ser legal.

Toda bronha de responsa tem que ter um motivo, um porque, um catalisador que desencadeie o processo.

Sem ter claramente este detalhe na mente a coisa fica xoxa (não confundir com Xuxa, apesar da rainha dos baixinhos, evidentemente, ainda merecer uma neneta).


E quais são esses detalhes? Pode ser uma nesga da calcinha roxa da sua tia moderninha ao cruzar as pernas.

Os peitinhos da colega pudica da sala de aula, quando se abaixou para pegar uma moedinha no chão.

Aquela delicada mancha de pano branco nas coxas da sua prima.

O físico sarado da professora de Física ao arrebitar a bunda no microscópio e assim por diante.

Você decide.

Chamam de sexo solitário, mas também pode ser feito no coletivo.

Sabe como é, uma mão lava a outra e as duas enxugam o banheiro.

Quando criança, fazia-se concurso para ver quem cuspia mais longe, quem era o gatilho mais rápido do oeste, quem enchia primeiro um copinho de café.

Depois, com o sujeito já adulto, o lance é suruba no iate Cisne Branco, com o balé do Murilinho, Renatinho e Otavinho, ou coquetel de lançamento de livro da Editora Valer, uma punheta inenarrável já que não rola birita.

Na adolescência é bom tomar cuidado.

Tranque a porta do banheiro a sete chaves e abra a água do chuveiro no volume máximo.

Se puder, utilize um rádio de pilha sintonizado na Jovem Pan, também no volume máximo, sintonizando no programa “Hora do Pânico”.

Os pais sempre se acham no direito de saber o que o filho está fazendo no banheiro.

Batendo punheta, ora porra!


Adulto é escroto mesmo.

Ataca a empregada, transa com a mulher do cara do açougue, passa a mão na bunda da secretária, vai pro motel com a vizinha, come a frentista do posto de gasolina que aceita cheque pré-datado e esbofeteia o filho adolescente quando descobre uma manchinha comprometedora no lençolzinho com estampas do Piu Piu.

Também, quem mandou eles comprarem aqueles lençóis de estampas fuleiras?

É isso aí!

Agora você já sabe as mumunhas para se bater uma punheta, numa boa.

Mas é bom ficar ciente de que o onanista de respeito tem de ser dotado de uma coragem e perspicácia extrordinárias, pois surgem situações que requerem rapidez e ousadia por parte do praticante.

Tem gente que se masturba em elevadores, repartições públicas, em janela de prédio, banco de praça e em tudo quanto é lugar.

Até no Congresso Nacional, onde, aliás, tudo não passa de uma tremenda punheta.


Como identificar um onanista profissional?

É fácil. O sacana tem sempre a mão direita sensivelmente maior que a esquerda.

Afinal, são anos de exercício no metiê (não confundir com “meter”), exercitando a palma da mão e os dedos.

Seus olhos são mortiços e cansados, com um leve toque anêmico, calçados em duas enormes olheiras esverdeadas, estilo Boris Karloff.

Ele possui algodão no ouvido, para não ouvir todo mundo batendo na porta do banheiro reclamando de sua demora, e restos de saliva seca no canto da boca.

O punheteiro por excelência é, antes de tudo, um sujeito babão.

Seu hobby é colecionar calcinhas roubadas, que ele cheira como um verdadeiro somelier.

Entre os seus troféus, tem uma de oncinha da prima, outra estilo asa delta da vizinha, uma outra meio furada, mas de rendinha branca, da cunhada, e por aí afora.

Mexer nesses trecos equivale a cutucar com vara de marmelo uma casa de maribondos.


O sacana também se amarra em fitas de videocassete com filmes da Nastassja Kinsky, Beatrice Dalle e Valéria Kapriski, revistas de mulher nua, de todos os tipos de vagabundas, das bregas às chiques.

Qualquer coisa serve, porque o verdadeiro punheteiro não tem nenhum critério.

O que ele quer ver é o bicho escarrar.


A seguir, algumas verdades e mentiras sobre o onanismo:

Cabelos na palma da mão – Consta que, com o tempo, os onanistas se tornam vítimas de terríveis crescimentos de pêlos na palma das mãos. Se for verdade, aconselhamos o uso parcimonioso de cremes rinse e xampus neutros, além de idas regulares ao cabeleireiro, para evitar caspas e seborréias.

Alongamento do nariz – A realidade é dolorosa, mas temos de saber enfrentá-la. Um dos efeitos colaterais do onanismo é o repentino alongamento da área nasal. Assim você não terá só fama de punheteiro, como também de narigudo. Para se transformar em um aspirador de pó de cocaína, vai ser conta de multiplicar.

Espinhas no rosto – Afirmam os estudiosos que muita bronha causa espinhas no rosto. Não podemos dizer que sim nem que não. O melhor é prevenir do que remediar. Portanto, recomendamos a todos os onanistas ativos que carreguem sempre um potezinho de creme antiespinhas ou pomada Minâncora, cada vez que forem praticar o sexo solitário.

Perda de memória – Pode acontecer, pode acontecer. Para testar se sua memória ainda não foi pro beleléu, tente se lembrar quando foi a última vez que você se masturbou e, obviamente, quem foi a homenageada. Ou o homenageado, se você não for chegado a uma lebre.

Vista ofuscada – O problema é grave. O onanista corre um sério risco de sofrer gradativamente, de bronha em bronha, a perda parcial da visão. Consulte seu oculista. Míope se masturbando é como bêbado tentando enfiar chave em fechadura, simplesmente deprimente.

Seios inflamados – No caso de mulheres com seios pequenos, tudo bem, é uma puta vantagem! Já as de peitos volumosos, basta trocarem o número do sutiã. Agora, para os homens é uma tortura. Imagine que chateação não vai ser quando todo mundo na rua começar a te chamar de “punheteiro peitudinho”. A não ser que você resolva sair do armário e assumir de vez seu lado mulher, sem precisar do uso de silicone.

Clitóris avantajado – As mulheres chegadas numa fricçãozinha de velcro podem tirar o clitorizinho da chuva (ou colocar, claro), pois está confirmadíssimo que onanismo causa um assustador alongamento do dito-cujo. Algumas vão adorar. Outras, fatalmente, terão problemas ao fazer massagens nas costas de seus maridos.


Pecado carnal – Mentira da grossa. Se masturbação fosse pecado, coitado dos padres que não podem casar! Neste caso, o Santíssimo Papa já estaria excomungado, pois, convenhamos, com aquela cara de papa-anjo ele não engana ninguém. Portanto, mãos à obra e fé na santa.

Crescimento do pau – Ainda não está confirmado, até porque ninguém sabe qual a medida normal de um pênis em ereção (os números variam de 18 a 28 cm). Como este é um assunto filosófico que interessa a todos os garanhões do planeta, vamos esmiuçar o assunto de uma vez por todas no post Síndrome do Big One, que pode entrar no ar a qualquer momento. Fiquem ligados.