terça-feira, 29 de setembro de 2015

O livro de cabeceira do verdadeiro macho


Para a molecas de hoje, fascinadas pela celebridade instantânea daquelas vagabundas siliconadas e imbecilizadas do Big Brother Brasil, o nome Maria Augusta Thurman Nielsen deve soar tão vazio quanto saber o nome do volante de contenção do fabuloso Peñarol, de Itacoatiara.

Tudo bem.

E se eu falar em Socila?

Sim, as molecas de hoje vão continuar boiando no assunto.

Pra quem ainda não associou a criadora à criatura, Socila eram as iniciais da Sociedade Civil pela Integração Literária e Artística, uma escola de modelos localizada no Rio de Janeiro, que tinha como sócias Maria Augusta Nielsen e Ligia Carrato.


A escola foi fundada em 1954, sendo que elegância e etiquetas eram os principais assuntos ali ensinados.

Quem quisesse ser chique e elegante bastava somente dizer “eu estudei na Socila” e o mundo inteiro desabava aos seus pés.

É claro que essas celebridades instantâneas do BBB não passariam no exame de admissão da Socila (e tenho sérias dúvidas se elas fariam sucesso numa sexta-feira à noite na boate Remulo’s...)

A Socila fechou as portas em meados dos anos 70.

Foi vencida pelo tsunami dos chamados novos-ricos, uma barbárie yuppie que se locupletou nas tetas da ditadura militar e transformou os bons modos, a cultura e a civilidade em artigos de quinta categoria.


A diva Maria Augusta Nielsen (aí na foto, ladeada por Vera Fischer, Miss Santa Catarina e Miss Brasil 1969, e Eliane Fialho Thompson, Miss Guanabara e Miss Brasil 1970.) bateu as botas em 2009, no Dia dos Finados, no Rio de Janeiro, vítima de parada cardíaca.

Sinônimo de glamour e elegância no seu tempo, Maria Augusta morreu cega e numa cadeira de rodas, abandonada pela família aos 86 anos de idade, num quartinho de Copacabana.

Ela foi casada durante cinco anos com o ator Jardel Filho, mas nunca teve filhos.

O certo é que desde que a Socila foi criada, manuais de etiqueta e elegância começaram a brotar por aí, como cogumelos em bosta de vaca depois de uma chuva torrencial.

Nenhum deles, no entanto, teve o impacto do best-seller “Na sala com Danuza”, lançado originalmente em 1992.


O livro passou meses na lista dos mais vendidos e a explicação era simples: ali não se encontravam regras dogmáticas, exageros, modismos.

O que Danuza apresentava era quase uma crônica da vida em sociedade: os pequenos gestos que melhoram nosso dia-a-dia, o detalhe que faltava para um jantar perfeito entre amigos, a gafe que podemos evitar.

Comentando o livro com o publicitário Sérgio Bastos, com quem eu fazia dupla de criação na G&F Comunicações, apontei os pontos fracos da obra: apesar de ter feito o cronista Antônio Maria se apaixonar perdidamente até morrer do coração, Danuza não falava porra nenhuma sobre sexo.

Ela não ensinava, por exemplo, o protocolo a ser seguido no caso de o macho querer experimentar o outro lado do disco da patroa.

Tampouco mostrava como o macho deve pedir para uma mulher cair de boca no bráulio sem que aquilo significasse o fim do mundo.

Não explicava claramente se, após o boquete, a mulher deveria cuspir, engolir ou gargarejar.

Muito menos dava dicas sobre como carcar uma mulher de bode sem emporcalhar o lençol da cama.


Paulo Higino, Luiz Alberto, Alberto Castelo Branco, Sergio Bastos e esse vosso escriba, durante um coquetel na Saga Publicidade. Essa careca, salvo engano, é do redator Bagaço.

Sergio Bastos sugeriu que eu escrevesse um livro sobre o assunto

Em outras palavras, o Manual do Canalha era um passo a frente na etiqueta sexual moderna e servia como complemento à importante obra da Danusa Leão.

O próprio Sergio Bastos diagramou o livro, bolou a capa, com ilustração em branco sobre um fundo vermelho, e fez a arte do convite, que era uma variação em P&B da própria capa.

O Manual do Canalha foi lançado na noite de uma sexta-feira, 3 de dezembro de 1993, no Bar do Armando, numa festa do arromba (sem duplo sentido).



Na realidade, o vivente comprava o livro na Livraria Brasileira, do saudoso Wagner Cristiano, e depois, se quisesse o meu autógrafo, levava no boteco do português, localizado ao lado da livraria.

O hoje consagrado publicitário e poeta Ricardo Cruz, que na época era assistente de direção de arte do Sergio Bastos, bolou a arte de uma camiseta exclusivamente para a ocasião, mandou fazer a aplicação em uma Hering branca e me deu de presente.

Escrita em letras garrafais, a frase “Eu sou foda!” era quase uma provocação machista.

O chapéu de palha da velha malandragem e os óculos estilo Waldick Soriano serviam para compor um cafajeste em potencial.


Os repórteres de televisão que foram cobrir o evento tiveram que cortar um dobrado pra presepada não aparecer na telinha durante os telejornais do horário nobre.


Colhendo as impressões da jornalista Rosângela Alanis

Usando um pau de miratinga como se fosse um microfone, comecei a entrevistar o mulherio sobre suas preferências sexuais na cama, fingindo que era pesquisa de campo para meu futuro livro, “Manual do Espada”, que seria lançado em 1998.


Colhendo as impressões da jornalista Lucia Cordeiro

A ala feminina do boteco criou um monte de cartazes de protestos bem-humorados e a fuzarca, animada pelo DJ Marcos Tubarão, ficou simplesmente fora de controle.


Uma zona federal, que estremeceu o centro da cidade!

Não lembro em que gráfica o Manual do Canalha foi rodado, mas a edição de mil exemplares esgotou-se em menos de três meses.

O título do livro me foi sugerido pelo livreiro e escritor anarquista Plinio Augusto, dono da editora Imaginário, depois que conversamos por telefone sobre o assunto.


O escritor Antônio Paulo Graça emprestou seu exemplar para o livreiro e ensaísta José Mário Pereira, dono da editora Topbooks, ele resolveu lançar uma nova edição, em 1996, e os 3 mil exemplares também se esgotaram em pouco tempo.

Com a morte do Paulinho, em 1998, eu praticamente parei de manter contato com o José Mário Pereira e continuei lançando meus livros apenas aqui na taba.


Aí, há dois anos, o Millor Fernandes voltou a elogiar o livro publicamente (na revista Veja, porra, na revista Veja, e não no jornal mimeografado do DCE da Faculdade de Enfermagem de Miracema do Norte...) e o José Mário Pereira fez uma segunda edição pela Topbooks, mais grossa, vibrante e encorpada.

O resto é história.


Ocorre que muita gente boa não conseguiu comprar o livro – principalmente meus amigos de Manacapuru, Parintins, Itacoatiara, Borba, Maués, Manicoré, Coari, Benjamin Constant e Tabatinga.

Para conter o avanço das milícias talibãs do povo GLBTS, que estão cada vez mais organizadas, eu resolvi disponibilizar o livro no formato PDF para que os últimos dinossauros masculinos que ainda gostam de mulheres possam reagir.

É isso aí, cachorrada!


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