Primeiro, uma pessoa tem que saber se ela é de gato ou de
cachorro. Exatamente. Assim mesmo, como se fosse um signo do zodíaco. Em geral,
as pessoas mais calmas, mais serenas, são – por assim dizer – de gato. As mais
agitadas, brincalhonas, são de cachorro.
Pode, também, dar-se o reverso: uma pessoa procurar
exatamente o contrário de sua personalidade. Ou seja: o cavalheiro sorumbático
adquire e passa a amar furiosamente um basset, o mais tolo e amoroso dos
cachorros. Eu sei porque tive um. Ou a senhorita muito serelepe, conforme se
dizia, sossega os nervos com um gato siamês.
Não esquecer também que idade é muito importante. Cachorro é
para os jovens, gato é para os velhos. Claro, a regra não é infalível. Mas não
deixa de ser uma indicação no longo e complicado relacionamento entre Homem e
Animal Doméstico. Nem me perguntem porque certas pessoas preferem as cobras
como ofídio de estimação.
A escolha do animal, ou bicho, de estimação também pode ser
uma arte. Ou, melhor dizendo, uma indicação de tendências artísticas. Os gatos
são, serenamente, mais artísticos que os cachorros. Também possuem uma tradição
artística maior do que os cachorros, apesar daquele soneto do Augusto dos
Anjos. Baudelaire, por exemplo, escreveu pelo menos uns três poemas sobre
gatos. Na pintura, boa e ruim, os gatos também ganham fácil.
Há dez anos, em Londres, ficou provado que, em matéria de
arte conceitual, os gatos também dão uma sova nos cachorros. A controvertida
artista plástica conceitual Tracey Emin, responsável entre outras coisas por
expor seu leito cercado de cinzeiro, copo e garrafa de vodca, além de uma
porcalhada enorme, perdera o gatinho de estimação.
Um gato chamado Docket, que havia fugido da casa, ou ateliê,
de Tracey. Ela fez o que todo mundo faz na Inglaterra: botou um cartaz nas
árvores em torno do quarteirão de sua residência com um pedido para que quem
localizasse o bichano entrasse em contato com ela.
O que aconteceu? Ora, com a fama que Tracey Emin tem, não
deu outra: todos vizinhos arrancaram o cartaz e levaram para casa, muito
satisfeitos, crentes de que tinham obtido, de graça, um bom pedaço de arte
conceitual. Tracey Emin ficou inconsolável e nunca mais encontrou seu bichano.
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