quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O Manifesto Masculinista de Marcelo Mário de Melo


Masculinismo é a palavra nova que aponta o caminho da masculinidade sem machismo. A partir dela, e sob a forma de um manifesto, o autor satiriza os padrões asfixiantes que envolvem a condição humano-masculina nos dias atuais. Com humor ferino, sem vitimismo nem arrogância, são apresentadas reivindicações e propostas para uma convivência mais solidária entre os diversos segmentos sexuais.

Contra: o terror machista; a ditadura clitoriana; o autoritarismo gay.

Sarro inicial/prefácio

O Manifesto Masculinista tornou-se público em setembro de 85, nas páginas do “Rei da Notícia”, jornal de humor editado no Recife até 1988.

Posteriormente reproduzido no Pasquim (ed. 848, Rio 10/10 a 16/10/85), estimulou o manifesto do MMC – Movimento Masculinista Carioca.

Foi comentado em artigo da Playboy (ed. 34, set/86), transcrito com algumas alterações no jornal feminista Mulherio n° 25, SP, março-agosto/86, indicado no “TIL Notícias” n° 3, dezembro/86, das Edições Trote, resenha editada por Leila Miccolis no Rio.

Jean Claude Nahoum o transcreveu no livro “A Construção da Sexualidade Feminina”, da Eleá Ciência Editorial Ltda, Rio 89.

Em cidade sulista de que não me recordo, um vereador petista o imprimiu como instrumento de campanha eleitoral, em 88.

De vez em quando, sei da sua multiplicação em cópias xerográficas ou mimeografadas.

Quatro anos depois de ser lançado, o texto foi republicado no Jornal do Commercio, Recife, edição 4-9-89.

Na ocasião, assinalei em entrevista a inclusão da licença-paternidade na Constituição Federal de 88 e toquei na questão da AIDS, colocada em primeiro lugar nas paradas do sucesso mórbido e atribulando, particularmente, o segmento masculinista dos refratários ao preservativo.

Relendo hoje o manifesto, considero-o válido como documento de instigação e não me proponho a alterá-lo. Nesta edição, apenas, ligeiras novidades, como o esclarecimento de que a “opção fundamental” pelas mulheres é fundamental e exclusiva, a “liberação da lágrima masculina” posta em local mais adequado, a “Nova República do machismo” trocada pelo respectivo “neoliberalismo”, o acréscimo de que, “nas coisas de coração e cotovelo”, todo homem é igual a qualquer mocinha.

Além de se reivindicar: a plena igualdade de acesso homem/mulher, usando-se bermudas e camisetas sem mangas; a condição de “primeiros cavalheiros”, com direito à Legião Assistencial competente, caso companheiros de prefeita, governadora ou presidenta; o fim do serviço militar obrigatório e exclusivo para homens.

No texto se rejeita o modelo de masculinidade que nos é imposto desde criancinhas, propondo-se uma masculinidade sem machismo. O que não tem nada a ver com tiradas tipo: “lado feminino” do homem para qualificar suas expressões de leveza e ternura é tão primário e ridículo quanto se atribuir a um pretenso “lado masculino” da mulher, suas impulsões de combatividade e firmeza.

Masculinistas desumildes e desarrogantes, proclamamos que nossa condição humana é o melhor de nós e rejeitamos todas as fórmulas simplificadoras para interpretar o nosso gênero e equacionar as possibilidades do bem-estar humano-masculino.

Recusamo-nos a substituir a imitação mecânica do pai-herói machão pelo macaqueamento da super-mãe liberada. Negamos que a solução dos problemas dos homens venha a ser um resultado ou uma dádiva da luta das mulheres. Entendemos que só os masculinistas libertarão os masculinistas, em solidariedade suprema com as companheiras mulheres a abertos a todos os segmentos/movimentos libertários. Afinal de contas, trata-se de elevar a taxa de felicidade para todos.

Recife, outubro de 1991

Marcelo Mário de Melo

Cabecinha

Nas questões ligadas á discriminação e aos papéis sexuais, as mulheres já estão na sua, os homossexuais idem, os bissexuais também. E até machões se organizam esse solidarizam, como se viu no caso daquele cara que ferrou a mulher no rosto e teve o apoio da Associação dos Maridos Traídos, fundado no Ceará.

Todos os setores se mobilizam. E como focamos nós, que não somos mulheres, nem homossexuais, nem bissexuais, e rejeitamos o modelo machista que nos é imposto desde criancinhas como a marca da masculinidade?

A resposta está no masculinismo – uma movimentação crítico-autocrítica, reivindicativa, desfrutativa, solidarista e convivencial.

Sabemos que, de cartas de princípios e discursos generosos, a humanidade já está de sacos e ovários repletíssimos, colocamos os dedos nas feridas através de um manifesto e proclamamos, indicativamente, o que rejeitamos e pretendemos transformar para viver melhor.

Começo de Penetração

MMN – Movimentação Masculinista Nordestina.

Símbolo – um cacto ereto ou em repouso.

Observação – um cacto sem espinho.

- Contra o terror machista.

- A ditadura clitoriana

- O autoritarismo gay

- Pela reconciliação do espermatozóide com o óvulo.

Renunciamos a todas as prerrogativas do poder machista.

Que omem seja escrito sem “H”

Ao nos consideramos superiores bem inferiores ás mulheres, aos homossexuais e aos bissexuais: somos diferentes e iguais.

Rejeitamos todos os modelos prefabricados se sexualidade, caretosos ou vanguardeiros, partindo de três princípios: 1) carência não se inventa; 21) receita, somente de bolo; 3) vanguarda também é massa.

Somos solidários com qualquer saída ou entrada sexual que a humanidade venha inventar e curtir, desde que não haja imposição e violência.

Exigimos que se respeite a nossa opção fundamental e exclusiva: gostamos é de mulher.

Aprofundando a entrada

- Abaixo o guarda-chuva preto. Não somos urubus.

- Abaixo as exigências do paletó e da gravata.

- Contra o serviço militar obrigatório e exclusiva para homens.

- Contra o relógio-bolachão.

- Pelo direito de mijar sentado.

- Pelo respeito ao pudor masculino: mictórios privativos.

- Pelo amparo aos pais solteiros, abandonados pelas mulheres amadas desalmadas.

- Creches dos bares

- Queremos pensão por viuvez, auxílio-alimentação e licença-paternidade. Não amamentamos, mas podemos trocar fraldas

- Contra o fechamento do mercado de trabalho aos homens. Queremos ser secretários, telefonistas, babás e tiüos de escolinha.

- Não queremos ser “chefes-de-família”, nem regentes sexuais. Igualdade fora e em cima da cama.

- Queremos transar mais por baixo.

- Queremos ser tirados pra dançar.

- Queremos ser cantados e comidos pelas mulheres.

- Pelo direito de dizer “não” sem grilos nem questionamentos da nossa masculinidade.

- Pelo direito de broxar sem explicação. Mulher também brocha. Aquele ou aquela que nunca brochou, atire primeira pedra.

- Abaixo a máscara da fortaleza masculina!

- Pelo direito de assumir nossas fragilidades.

- Pela liberação da lágrima.

- Proclamamos que nas coisas de coração e cotovelo todo homem é igual a qualquer mocinha.

- Abaixo o complexo de corno. Por que mulher não e corna? Fidelidade ou infidelidade recíproca.

- Cavalheirismo é cansativo e custoso. Delicadeza é unissex. Que seja extinto o cavalheirismo ou se instaure, também, o damismo.

- Queremos receber flores.

- Pela igualdade de acesso homem/mulher, quando usa bermudas ou camisetas sem mangas.

- Queremos ser “primeiros cavalheiros”, com direito à Legião Assistencial competente, caso companheiros de prefeitas, governadoras e presidenta.


Empurradinha Final

- Exigimos a modificação do Pai Nosso: a) Pai e Mãe nosso que estais no céu...; b) Bendito o fruto do vosso ventre, do nosso sêmem.

- Pela capacitação dos homens, desde a infância,para as tarefas tidas como “essencialmente femininas”. Reciclagem geral. Queremos aprender corte e costura, culinária, cuidado de crianças, etc. em contrapartida, ensinaremos ás mulheres: trocar pneu de carro, bujão de gás, lâmpada e fusível; dar porrada, atirar e espantar ladrão; matar barata e rato.

- Pela paternidade de responsável e contra a gravidez e os filhos serem utilizados como elementos de chantagem sentimental sobre nós.

- Pelo respeito à intuição masculina.

- Denunciamos a utilização depreciativa das expressões “cacete”, “caralho”, “pra cacete”, “pra caralho”. Exigimos que cada um ou cada uma se posicione: cacete/caralho é bom ou não é? Se é bom, respeitem como ao seu pai ou à sua mãe.

- Protestamos contra o fato do nosso órgão do amor ser representado por espadas, canhões, porretes e outros instrumentos de agressão e guerra. Só aceitamos a simbolização a partir de coisas gostosas e sadias: chocolates, biscoitos, bananas, picolés, pirulitos, etc.

- Denunciamos como principais vias condutoras do machismo: as vovozinhas cândidas, as mulherzinhas dondocas, as mãezinhas possessivas e as professoronas assexuadas.

Orgasmo Total

Consideramos que muitos masculinistas trabalham dois expedientes, estudam e freqüentam um milhão de reuniões e eventos, sem falar das poligamias possíveis, não iríamos incorrer na atitude fascistóide de inventar mais uma reunião pra a comunidade masculinista. Portanto o nosso princípio de organização é o seguinte: grupos de um e cada grupo obedece a seu chefe. Assembléias gerais com ego, id e superego. Voto de minerva para ego.

Convencidos de que a perfeição não é uma meta e é um mito, procuramos fazer um esforço no sentido de romper com 70% do nosso machismo atual e acrescentar sempre novos itens neste Manifesto, aceitando a contribuição crítica e propositiva de todos os masculinistas e outros segmentos sexuais, preservada a nossa opção fundamental e exclusiva pelas mulheres.

Denunciamos os machões enrustidos que, utilizando o discurso masculinista, pretendem, apenas, dar os anéis para não perderem os dedos. Recuam em 30% de machismo para manterem os 70%. É o neoliberalismo do machismo.

Somos todos oprimidos. E sendo os homens, estaticamente, minoritários diante das mulheres. Nós, homens masculinistas, sofremos a pressão dos machões, das feministas sectárias e dos homossexuais autoritários mais oprimida. Requeremos, portanto, o apoio extremo e a solidariedade máxima por parte da sociedade inservil.


Tirando de Dentro

Com o objetivo de recolher elementos críticos, este Manifesto foi enviado ao Movimento dos Machões-ões-ões, à Federação das Feministas-Istas, Istas, e a Irmandade dos Homossexuais-Ais-Ais, infelizmente, somos obrigados a publicá-lo sem os pronunciamentos destas entidades, devidos aos contratempos que as atingiram.

No Movimento dos Machõed-ões-ões, o presidente tinha ido a um motel com moça e brochado pela primeira vez. Entrou em profunda crise psíquica e foi internado na clínica psiquiátrica mais próxima, depois renunciar o mandato. Na diretoria do MMOO irradiaram-se a insegurança as brochações e internações generalizadas, não havendo clima para a discussão do nosso Manifesto.

Na Irmandade dos Homossexuais-Ais-Ais, a maioria dos diretores conjugava o verbo na voz passiva e, nas transas de sexta para sábado, só topou com parcerias que tinham ejaculações precoce, instalando-se, também aí, um clima impropício aos eventos analíticos.

Na Federação das Feministas-Istas-Istas chegou a ser convocada e iniciada a reunião, mas, quando o Manifesto ia ser lido e debatido, irrompeu de surpresa na sala um tremendo guabiru, que subiu pelas pernas da presidente e galopou sobre a mesa. Predominando o subconsciente tradicional, houve correria e pânico generalizado – e a Movimentação Masculinista Nordestina deixou de contar com mais essa contribuição.

(Edição do Autor, outubro de 1991, 3 mil exemplares. Capa, programação visual e editoração eletrônica, Paulo Santos. Revisão, Lamartine Morais. Impressão, Gráfica Pernambucana LTDA)

Comentários

“Julguei enriquecer nossa discussão sobre o feminismo um discurso masculino e não-machista, que se intitula “Masculinismo” e foi estampado no Jornal Mulherio, n° 25”. (Jean Claude Nahoum in “A Construção da Sexualidade Feminina”)

“Li um manifesto maculinista que, em meio à galhofa, diz coisas lúcidas e curiosas, dando boas pistas para as mulheres que querem chegar mais perto do homem.” (Edith Elek Machado – Playboy 154/86)

“Foi o último Rei da Notícia que transcrevemos um dos mais inteligentes textos publicados sobre a chamada Guerra dos Sexos. Eu diria – uma vez que ridiculariza o absurdo das colocações machistas – que é um dos melhores textos feministas escritos por um homem” ( Mara Teresa Jaguaribe – Pasquim 848/85)

“Está é sem dúvida um momento histórico: os homens deixaram de se considerar a humanidade e descobriram-se outra metade, com gostos, preferências, carências. Como todo início de movimento, a MNN (Movimento Masculinista Nordestina) é um tanto radical, queixosa e a acusatória. Temos certeza que, com o passar do tempo, algumas de suas afirmações serão revistas...” (Jornal Mulherio 25/86)

“O Manifesto Masculinista é um texto de leitura ‘obrigatória’ por parte de todos os que lutam em prol de uma sociedade mais justa e libertária” (Leila Miccollis)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Os Quadrinhos Sacanas da Editora Peixe Grande


Sob a tutela de Toninho Mendes, responsável pela cultuada Editora Circo, que publicou, entre outros sucessos, a revista Chiclete com Banana, com Angeli, Laerte e Glauco, na década de 1980, a Editora Peixe Grande acaba de fazer o seu début no mercado editorial.

“Quadrinhos Sacanas – Os Herdeiros de Carlos Zéfiro”, o primeiro lançamento da Peixe Grande, compreende uma caixa com quatro livrinhos trazendo 12 histórias pornográficas desenhadas entre os anos 1950 e 1980 por autores anônimos, publicadas originalmente nos famosos “catecismos”, as revistinhas de sacanagem de outrora.

A intenção é mostrar que a produção das HQs desse gênero foi além do trabalho de Zéfiro. Cada livrinho traz um tema, que envolve viajantes espaciais, noites de núpcias, casais fora dos padrões normais e outros personagens e situações não muito usuais. O preço da caixa é de R$ 69,00.

Na sequência, a editora deve lançar “Maria Erótica e o Clamor do Sexo”, livro do jornalista Gonçalo Júnior que dá continuidade ao ótimo “A Guerra dos Gibis”, cobrindo agora o período de 1964 a 1985, ou seja, os 21 anos da ditadura militar.

O livro, um calhamaço de 500 páginas, conta a história da censura aos quadrinhos e às revistas de sexo, a partir das publicações das editoras Edrel e Grafipar e da trajetória de seus editores, Minami Keizi e Claudio Seto.

“Maria Erótica e o Clamor do Sexo” seria publicado originalmente em dois volumes, o que chegou a ser informado por Gonçalo Júnior no Twitter, porém, para evitar que o valor final ficasse muito elevado para o leitor, foi decidido que sairia num livro apenas.

A Editora Peixe Grande também tem intenção de publicar a antologia “Quadrinhos Sujos #2”, com HQs de sacanagem estrangeiras, dando continuidade ao primeiro volume, que foi publicado pela extinta Opera Graphica e encontra-se esgotado.

De acordo com o editor Toninho Mendes, a expectativa é trabalhar muito com recuperação histórica. “A Peixe Grande não é uma editora de quadrinhos, ela também edita quadrinhos. O intuito é o resgate sistemático do que aconteceu na imprensa brasileira, de uma maneira geral, com foco grande na pornografia, no erotismo e na sacanagem”, informou o editor.

Resumo dos “Quadrinhos Sacanas”:


Volume 1 – Sexo Espacial – Seleciona histórias com temas muito em voga no Brasil no inicio dos anos 60, a corrida espacial, os discos voadores, Brigite Bardot e Super-Homem. São três historietas (“Ivo, o Marciano”, “Super Homem x Brigite Bardot” e “Valdir, o Astronauta”) constituídas de um anedotário muito particular. Imperdível para quem gosta destes temas. Absolutamente hilárias e safadas. Formato: 10 x 13,5cm / 112 páginas


Volume 2 – Defloramento – Reúne obras que primam pela malícia da sedução de típicos amantes latinos no momento da perda da virgindade. São três histórias (“Índio Quer Apito”, “A Primeira Noite” e “Denise uma Garota Especial”) criadas com diferenças de décadas uma da outra, mas que possuem em comum todo um linguajar próprio do ritual da sacanagem, onde o termo catecismo revela-se o mais apropriado para rotular estas peças pois é totalmente doutrinador. Também aqui temos uma unidade no grafismo. Todas as obras foram realizas a pincel e encontramos “cenas clonadas” das tiras Nick Holmes, Jim das Selvas e Flash Gordon. Formato: 10 x 13,5cm / 112 páginas.


Volume 3 – Sexo com Animais – Coleciona três histórias (“O Marinheiro”, “Morgon, o Pirata” e as “As 3 Cabras de Lampião”), que tratam de um tema real para o homem, desde tempos bíblicos. Parodiando clichês de clássicos da aventura, como náufragos, piratas e cangaceiros, são três pérolas gráficas repletas de detalhes legitimamente satíricos (do grego sathê, “pênis”), todas criadas por artistas gráficos profissionais que se mantiveram anônimos. Este volume contém a impagável “As 3 Cabras e Lampião”, uma das melhores histórias em quadrinhos cômicas de sexo do Brasil de todos os tempos e incrivelmente desenhada imitando os desenhos do conceituado pintor Aldemir Martins. Formato: 10 x 13,5cm / 112 páginas.


Volume 4 – Terceiro Sexo – É do escritor Millor Fernandes a frase: “Bons tempos quando só existia três sexos”. Também contendo três histórias (“Confissões de uma Moça Livre”, “Marlene Arranja um Homem” e “A Gang”), este é o mais politicamente incorreto tomo da coleção, mas é uma delícia de brega. Se bem que, para sua época, os anos 60, estas histórias eram vanguardistas na medida em que discutiam temas como liberdade feminina, opção sexual, críticas aos bons costumes familiares, corrupção, hipocrisia da alta sociedade, etc. E tudo embalado pela mais doce das putarias. Este volume revela ainda uma mudança no foco das referências gráficas dos seus artistas. Obras européias como Barbarella e revistas de fotonovelas pornográficas suecas são as novas influências. Formato: 10 x 13,5cm / 112 páginas.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Nosso amor de ontem: Carlos Zéfiro


Há 23 anos, em 1992, morria o homem responsável por iluminar o imaginário libidinoso do contido e conservador Brasil das décadas de 50 a 70. Um artista de desenhos toscos e sem muita técnica que durante anos a fio foi tachado de pornográfico, e manteve-se na clandestinidade até os setenta anos, quando sua identidade foi finalmente revelada.

Ironicamente, estava destinado a jamais colher os frutos de seu trabalho: menos de um ano depois, desgarrava-se deste mundo, provavelmente para continuar suas historinhas sacanas em outras bandas.

Diante dos olhos da sociedade, ele era apenas um pacato funcionário do Departamento Nacional de Imigração, de nome Alcides Caminha.

O que ninguém sabia era que, nas horas vagas, o autodidata que só completou o curso ginasial aos 58 anos de idade também rabiscava – o termo é esse mesmo – histórias em quadrinhos em que apresentava homens e mulheres (e também alguns animais) nas mais diversas situações, onde tudo convergia para o mesmo ponto: o sexo.

A idéia de criar as revistinhas de sacanagem, também conhecidas por “catecismos” (por serem escondidas dentro de publicações religiosas), surgiu quando um colega lhe apareceu com duas revistinhas italianas e, sabendo do talento do amigo para o desenho, lhe pediu que ampliasse os desenhos.


Alcides tomou gosto pela coisa, e a partir daí, passou a criar as próprias histórias, utilizando-se diversas vezes do artifício de copiar desenhos e posições de outras revistas e fotonovelas eróticas.

Temendo perder o emprego – e, depois de aposentado, sua humilde pensão – caso se envolvesse em escândalos (em função da antiga Lei n.º 7.967, que regia o funcionalismo público), Alcides adotou o nome fictício de Carlos Zéfiro, e passou a produzir inúmeras historinhas na clandestinidade.

Os catecismos eram vendidos clandestinamente em locais como barbearias e bancas de jornal e dali contrabandeados para os colégios.

O formato fino das revistinhas facilitava a ocultação, sendo escondido em livros, cadernos e principalmente em outras revistas que eram compradas exclusivamente com este propósito, para a felicidade dos jornaleiros que sempre lucravam em dobro.

As histórias de Carlos Zéfiro, na maioria das vezes, apresentavam mulheres e homens gostosos, fogosos e viris. De vez em quando aparecia um jumento aqui, um corcunda ali, mas estes eram exceção à regra.

Curiosamente, sua historinha mais vendida, a hilária aventura de João Cavalo, trazia como protagonista um nordestino atarracado e feioso que, digamos, possuía um dote peculiar que compensava sua falta de beleza e justificava tal denominação.


As revistinhas de Carlos Zéfiro eram um sucesso entre os adolescentes cheio de espinhas e tesão, encontrando público também entre os homens de outras faixas etárias.

E coitado de quem desse mole de ser flagrado portando uma dessas obscenidades por aí: consideradas como uma total imoralidade pelas tradicionais famílias católicas da época, os catecismos também sofriam a fúria impiedosa das feministas, que se consideravam reduzidas à condição de reles putas em suas histórias.

Com todo esse arsenal moral apontado para sua cabeça, Alcides achou melhor manter sua identidade em segredo, mesmo depois de ter interrompido seus trabalhos em 1968, temendo a perseguição do regime militar, além de enfrentar a dura concorrência das famosas revistinhas dinamarquesas e suecas, que traziam fotonovelas de sacanagem em cores, com closes de genitálias que eram páreo duro para sua humilde “sacanarte” nativa.


De fato, vendido de modo clandestino, produzido de forma artesanal, desenhado com técnicas bisonhas e relatando histórias que tinham (e ainda têm) um enorme apelo erótico, os livrinhos de Zéfiro faziam a ponte perfeita entre as conversas na roda de amigos e aquilo que se suspeitava que ocorria nas alcovas.

Quer dizer: os livros de sacanagem apresentavam um pouco essa possibilidade de ter o sexo e a sexualidade como algo destacado e individualizado, alguma coisa que poderia ser vista quando se desejava e que era guardada numa gaveta e não na igreja, prostíbulo ou quarto de dormir como era o caso do sexo da vida real.

Neste sentido, é também claro que parte do sucesso desta literatura estava precisamente no seu desenho igualmente ambíguo que, aliado a uma reprodução gráfica deficiente, criava uma impressão estranha, exótica.

Uma impressão, enfim, de desfamiliarização que era precisamente o máximo que esse gênero de narrativa poderia esperar.

A rigor, a única diferença entre uma história de Zéfiro e uma fotonovela é que na dele os personagens consumam aquilo que apenas passa pela cabeça dos protagonistas das fotonovelas. Zéfiro, no mínimo, é menos hipócrita.

As feministas, não sem-razão, poderão objetar que quase todas as suas histórias são narradas do ponto de vista masculino e nelas a mulher não passa de um objeto de prazer.


Vamos por parte. Para início de conversa, Zéfiro é um homem. Seria pior se tivesse optado por uma falsa identidade feminina – como, digamos, Pauline Réage – para perturbar senhoras e senhoritas, algumas até bem sabidinhas, como Susan Sontag, condescendente com as reminiscências sadomasoquistas de Mademoiselle O.

Como vocês já sabem, o famoso livro Histoire d’O narra a estória de uma fotógrafa de moda que tem, como amante, René, e que sente uma profunda satisfação em ser seqüestrada, humilhada e torturada por seu amante.

Apesar de seu editor, Jean Paulhan, atribuir sua autoria a Pauline Réage, o crítico literário Alexandrian, que com ele conviveu, à época, acredita ter sido Paulhan o responsável pela concepção da obra, não o seu redator, escrevendo-a, por assim dizer, por procuração.

Quanto à reificação sexual, nos quadrinho de Zéfiro homens e mulheres são iguais perante Eros. Mesmo quando o ponto de partida é uma chantagem e a mulher desponta como vítima, a chantageada acaba extraindo os seus dividendos.

Afinal, gozar tem mão dupla e, por convenção do gênero, nenhuma das partes envolvidas é de se jogar fora.


Ao contrário: se nas fotonovelas o mocinho costuma ser um Adônis e a mocinha uma ninfa, nas love stories sem-vergonha de Zéfiro, o herói, além de bonitão, é sexualmente bem-dotado, e a heroína, além de bela, possui um corpo escultural, com destaque especial para a fixação nacional número um: bundas.

Corolário: vilão não é quem mata ou agride, mas quem não tem competência sexual. Tanatos sifu.

Os vilões de Zéfiro não apelam para a violência, apenas brocham. Os que fornicam, experimentam de tudo: barba, cabelo, bigode, sobrancelha e costeleta.

Essa ausência de estilo pode causar, à primeira vista, a impressão de que Zéfiro não seria o alter ego de apenas um artista anônimo, mas sim um pseudônimo coletivo adotado por uma equipe heterogênea.

Muitos quadrinhófilos insistiram nessa teoria, alegando que seria impossível que os desenhos contidos em duas revistas distintas atribuídas a Zéfiro fossem obra da mesma mão.

Na verdade, essa discrepância se fazia presente mesmo em desenhos de uma mesma revista. A explicação é muito simples.

Zéfiro era realmente o mesmo autor em todos os trabalhos que levaram sua marca ou o seu estilo narrativo. Apenas as fontes de onde os desenhos haviam sido copiados é que eram bem distintas.


Praticamente todos os desenhos de Zéfiro foram chupados de algum lugar, seja de fotonovelas, das próprias fotos pornográficas que teria mandado fazer, de revistas em quadrinhos da linha erótico-mexicana da Ediex, ou até mesmo de outras revistas de sacanagem.

A utilização do papel vegetal era feita não só para economizar os fotolitos, como também para facilitar as cópias dos desenhos.

Nesse ambiente onde a repressão era tão bem-feita e articulada que conseguia até fazer de conta que o objeto reprimido não existia, não havia o menor espaço para a crueza de Carlos Zéfiro.

Os ardores e os desmaios das heroínas de M. Delly eram apenas isso: ardores e desmaios. Nas fotonovelas água-com-açúcar, o que havia por trás dos beijos inocentes era simplesmente inimaginável. Mesmo para imaginar é preciso saber o que imaginar.

E a ignorância das menininhas católicas apostólicas romanas dos anos 50 era abismal: por trás da água-com-açúcar, é claro que a imaginação voava... mas era atrás de mais água e mais açúcar.

Nesse mundo suave, tão cheio de desmaios e ardores inexplicáveis, Carlos Zéfiro não existiu.

A não ser para as meninas garimpeiras que descobriam insuspeitados tesouros debaixo dos colchões dos irmãos.

E que tiveram assim a sorte de descobrir também que: a) o sexo existe! b) além de existir, é grande! c) além de existir e ser grande, é bom demais! E uma coisa é certa, em qualquer arte, ciência, ou na vida, depois de algumas descobertas, não há mais quem possa segurar o vôo.


Da perplexidade causada, na meninice, pelas revelações de Carlos Zéfiro, até a chegada de 68, com o seu clássico slogan “é proibido proibir”, algumas menininhas foram em frente.

Terá tido Carlos Zéfiro algum papel nisso ou não? Possivelmente sim. E positivo.

Pois o fato é que hoje, depois desses anos 60, onde a prática mais livre da sexualidade foi redescoberta como parte fundamental de qualquer vida humana, é curioso rever essas revistinhas e perceber como, na prática, Carlos Zéfiro foi um autêntico precursor do feminismo, no que o feminismo tem de bom.

Pois não é que, já nos anos 50, o desenhista não se acanhava de mostrar que as mulheres têm prazer, sabem tomar iniciativa, salvo raras exceções, o moralismo passa longe dessas histórias, e, de um jeito ou de outro, a mulher sempre reveste de paixão o ato sexual.

O certo é que depois dele, o quadrinho erótico nacional nunca mais seria o mesmo. Zéfiro trouxe o conteúdo que faltava aos catecismos.

Seu texto era interessante, rico em detalhes e, sobretudo, realmente excitante.

Se, com os outros autores você descabelava o palhaço alegremente, com Zéfiro o circo armado pegava fogo. Era orgasmo garantido ou seu dinheiro de volta.

O maior trunfo de Zéfiro era saber criar um enredo com a cara do Brasil.


Nas suas histórias não faltavam as fantasias e situações típicas do brasileiro, como o sujeito que transa com a mãe e a filha ao mesmo tempo, o que casa e depois traça a cunhada, o caminhoneiro que transa na boléia, o patrão que carca a empregada, farras homéricas em puteiros, o caipira ingênuo que traça a universitária classuda, homem com homem, mulher com mulher, surubas e, principalmente, muitos cornos alegres e saudáveis pra todo mundo se divertir.

Tudo descaradamente brega, mas muito gostoso e desencanado.

O mais interessante era ver essas diatribes eróticas distribuídas num festival de posições sexuais capaz de aposentar o Kama Sutra. E naturalmente em suas HQs nunca faltava aquele que, na época, já era a preferência nacional: o sexo anal.

Olhando hoje, depois da liberdade sexual vivenciada nas últimas décadas, Zéfiro pode parecer água-com-açúcar, mas não é.

Nos anos 60, em plena ditadura militar, Zéfiro desafiava a repressão espalhando clandestinamente pelo território brasileiro suas revistinhas deliciosamente explícitas tais quais minas eróticas, prontas para explodir o moralismo verde-oliva da ditadura militar.

Era um verdadeiro guerrilheiro erótico invisível, chutando o balde do conservadorismo e fazendo o brasileiro gozar de norte a sul do país. Zéfiro retratava um sexo livre e sem culpa e era quase um herói nacional da rapaziada.

E ao mesmo tempo completamente desconhecido.

Ninguém sabia quem ele era, onde morava, de onde vinha. Um mistério total. Uma lenda viva semelhante ao Fantasma-que-anda dos pigmeus Bandar.


Como desenhista, Zéfiro não era exatamente o que poderíamos chamar de refinado. Suas figuras humanas eram todas decalcadas na cara dura de fotografias eróticas ou de personagens de quadrinhos “normais” que Zéfiro despia, modificava os rostos e adaptava para seus gibis.

Seu completo anonimato o permitia fazer qualquer trambicagem para montar sua história. Zéfiro seria um perfeito picareta se não tivesse um texto brilhante e conseguisse transformar aqueles “trechos” de outras obras em uma nova e original obra.

Antes mesmo de inventarem o “sampler”, Zéfiro já sampleava a torto e a direito. Muitas vezes ele usava a mesma cena em vários catecismos diferentes.

Bastava mudar a cor do cabelo da mulher ou pôr um bigode no homem e pronto, já era outro casal numa outra história!


Apesar das gambiarras e da anatomia capenga, no entanto, seus desenhos possuíam um charme particular.

De tanto não ter estilo, acabou adquirindo um “anti-estilo” próprio e marcante. Tão marcante que virou escola, fazendo surgir inúmeros clones que passaram a copiá-lo. Sua genialidade o fez passar rapidamente de copiador para copiado. Era o sampler do sampler, vejam só!

Houve até quem tentasse se fazer passar por ele, mas isso só servia para aumentar ainda mais as dúvidas sobre sua verdadeira identidade.

Zéfiro era tão mítico que chegou a virar sinônimo de seu produto. O leitor ia na banca e não pedia um catecismo, pedia um “Zéfiro”.


Zéfiro produziu mais de 800 catecismos entre o final dos anos 1950 e início dos 1970. Na década de 1980, já com o fim da censura, seus trabalhos antigos continuaram a ser reimpressos por diversas editoras. Livros, artigos e até teses de mestrado foram escritos a seu respeito, porém nunca mais aparecerem novos trabalhos dele.

Teria Zéfiro morrido? A resposta só chegaria em novembro de 1991.

Em uma antológica matéria para a revista Playboy, o professor e especialista em HQ Moacy Cirne, depois de muitas investigações, revelava finalmente ao Brasil a identidade secreta do mitológico desenhista: seu nome era Alcides Caminha.

Um ilustre desconhecido? Nem tanto. Como se não bastasse ser o homem que registrou de forma brilhante e criativa a sexualidade do povo brasileiro por três décadas, Caminha também era um compositor de mão cheia.

Foi parceiro de Nélson Cavaquinho em canções como “Notícia” (1954), gravada pelo sambista Roberto Silva, “Capital do Samba” (1956) e “A Flor e o Espinho” (1956), gravada por Elizeth Cardoso, que tem o mais belo apelo poético da MPB: “Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor”.

Boêmio convicto, este carioca dividiu parte de sua vida com os amigos músicos e com muitas mulheres. Amava tanto o sexo que se tornou um dos seus mais originais e inventivos cronistas.

Funcionário público, produziu sua obra erótica sem o conhecimento dos colegas do trabalho até se aposentar, e por mais de trinta anos escondeu-se da mídia, temendo ser demitido ou perder a minguada aposentadoria caso fosse “descoberto”.


Caminha chegou a receber um troféu HQ Mix pela importância de sua obra, entregue pelo cartunista Ota, editor da revista MAD, mas por uma ironia do destino faleceu exatamente no dia seguinte à entrega do prêmio, em julho de 1992, aos 70 anos de idade.

A importância de Zéfiro é tão grande para a cultura brasileira, que ele já virou capa do CD “Barulhinho Bom”, da cantora Marisa Monte, já foi enredo de escola de samba e virou point cultural no Rio de Janeiro.

Agora você pode matar as saudades ou travar contato inicial com sua obra por meio das reimpressões de seus catecismos que o sebo carioca A Cena Muda está colocando à venda pelo seu site.

Também vale muito a pena procurar por três livros que registraram e analisaram a obra zefiriana com muita competência: O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro, de Otacílio D’Assunção Barros, editora Record, e A Arte Sacana de Carlos Zéfiro e Os Alunos Sacanas de Carlos Zéfiro, ambos de Joaquim Marinho, pela editora Marco Zero.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A História dos Quadrinhos (Parte 1)


Em 1895, Richard Felton Outcault desenhava uma página no suplemento dominical colorido do jornal New York World, chamada Down Hogan’s AlIey. A página introduziu Yellow Kid, o primeiro personagem famoso das Histórias em Quadrinhos, que celebrizaria seu roupão amarelo até nos palcos da Broadway.

Em 1904, as histórias de Yellow Kid foram compiladas e deram origem à revista em quadrinhos.

Antes do Kid, os quadrinhos eram rudimentares. Little Bears and Tigers (1892) de Jimmy Swinnerton, considerado por muitos o verdadeiro pai do gênero, não usava seqüência de quadros nem diálogos com balões.

O fato é que Yellow Kid mostrou que quadrinhos vendiam jornais. E os artistas passaram a ter seus passes disputados pelos grandes rivais da imprensa.

William Randolph Hearst, proprietário do New York Journal, não só contratou os melhores desenhistas da época, inclusive Outcault, como providenciou o segundo sucesso histórico dos quadrinhos.

Hearst sugeriu a Rudolph Dirks, então com 20 anos, que adaptasse as aventuras de Max und Moritz para o seu jornal. Surgiam os Katzenjammer Kids, mais conhecidos como Os Sobrinhos do Capitão, dois endiabrados pirralhos que adoravam atormentar a família.

As primeiras tiras (strips) eram cheias de personagens infantis. Além dos citados, havia entre os mais famosos, Little Nemo, que vivia no mundo dos sonhos e A Aninha (Little Orphan Annie), a órfã boazinha de Harold Gray.

Mas também havia muitos bichinhos humanizados como Maud de Frederick Burr Opper, o brilhante Krazy Kat de Herriman e seu sucessor, o gato Felix de Pat Sullivan, que lidavam com o humor em sua forma mais pura, ao contrário dos personagens tirados dos cartoons cinematográficos, que encenavam sempre o mesmo sketch: pequenos Davis do reino animal invariavelmente levando a vantagem sobre seus maiores e mais fortes antagonistas.

Os Três Porquinhos e o Lobo Mau, de Disney, começaram a tradição, continuada por Tom e Jerry, Pernalonga, Pica-Pau e inúmeros outros.


O bichinho mais famoso, Mickey, chegou aos jornais em 1930. Seu maior concorrente, o Pato Donald, em 1938. Em muitas partes do globo (incluindo o Brasil) é o genioso pato que lidera em popularidade.

O mérito é de Carl Barks, o artista que desenhou os primeiros quadrinhos das revistas Uncle Scrrooge (Tio Patinhas) e Walt Disney’s Comics and Stories. Ainda hoje, suas sempre reprisadas histórias de caça a tesouros perdidos inspiram novas aventuras, como Duck Tales.

O charme do “tipo azarado” foi outro fator de sucesso de Donald. O azarado era uma categoria de personagem popular no início dos quadrinhos,descendente de Happy Hooligan (1899, de Opper), Mutt (que fazia dupla com Jeff) e Dagwood (o marido de Blondie).

A criação de uma rede de distribuição nacional (Syndication) causou o primeiro grande impacto nos quadrinhos.

Os personagens de maior identificação pertenciam à classe média baixa e ignoravam a era do jazz – à exceção de Polly, da tira Positive Polly (mais tarde, Polly and Her Palls) de Cliff Sterrett, que despertava temores em seus pais devido a seus vestidos escandalosos e estilo coquete.

Pafúncio (Bringing Up Father) de George McManus, foi a tira mais bem sucedida do período, centrando seu argumento na guerra doméstica entre um casal novo-rico.


Foi McManus, aliás, quem criou a primeira tira familiar, The Newlyweds, responsável pela temática predominante nas primeiras décadas: a crise entre a bela esposa atarefada e o bom marido vagabundo – tema levado à perfeição por Chic Young nas tiras de Blondie.

As primeiras tiras de quadrinhos eram cômicas e caricatas e por isso foram chamadas de comics, nome que persistiu mesmo quando seu conteúdo se abriu para o campo da aventura e dos problemas sociais. Os quadrinhos de humor (funnies) reinaram até os anos 30.

Contudo, a partir do crack da economia americana, até mesmo personagens de traço caricato como Ferdinando (L’il Abner), de Al Capp, passaram a temperar o humor tradicional com um estilo satírico grotesco.

Mas a principal guinada dos comics, que passaram a refletir a necessidade de fuga da crise do período entre-guerras, foi o surgimento das tiras de aventura e dos super-heróis.

Foi um marinheiro introduzido por Elzie Segar na série ThimbleTheatre (1924) quem fez a transição. Popeye foi o primeiro super-herói dos quadrinhos, adquirindo super-força ao ingerir espinafre.


A era das tiras de aventura começou, de fato, com Tarzan e Buck Rogers, publicados, por coincidência, no mesmo dia (7 de Janeiro de 1929).

As primeiras tiras de Tarzan foram adaptadas do livro Tarzan dos Macacos de Edgar Rice Burroughs, de 1914.

Harold Foster, o autor da adaptação, desenvolveu uma técnica romanceada em suas ilustrações, substituindo os balões convencionais por legendas.

A idéia foi especialmente feliz por resolver um problema peculiar: Tarzan, de acordo com o conceito original de Burroughs, não falava nenhuma linguagem específica.


Após Foster, o melhor artista de Tarzan foi Burne Hogarth, responsável pela transformação do Homem-Macaco em um super-herói selvagem.

Buck Rogers foi o primeiro herói espacial. Boa parte dos conceitos de suas tiras, de autoria de Phil Nowlan e Dick Calkins, eram baseados em escritores como Jules Verne e H. G. Wells.


O próprio tema das histórias, um astronauta do século XX que despertava cinco séculos no futuro, possuía relação direta com A Máquina do Tempo de Wells.

Suas aventuras ainda mostraram o primeiro pouso na Lua, mísseis, lasers, televisores, robôs e, numa seqüência de 1939, seis anos antes de Hiroshima, uma descrição da bomba atômica.

Buck Rogers também foi a primeira novela radiofônica adaptada dos comics (1932) e o personagem da primeira revista em quadrinhos mensal dos EUA, Famous Funnies (1933).

O filão aberto por Buck Rogers foi seguido por Brick Bradford, outro viajante do tempo, criado por William Riu e Clarence Gray em 1933.

Graças a seu “Balão do Tempo”, o herói vivia aventuras que se desenrolavam tanto na pré-história como no futuro distante.

A idéia colou até mesmo no funnie Brucutu (Ailey Oop) de V. T. Hamlin, também de 33. Em 1939, Brucutu e sua namorada Ula (Dola) foram desmaterializados em sua época pré-histórica, graças a uma engenhoca do tempo, e transportados para o século XX.


Mas nenhum personagem de ficção foi tão famoso quanto Flash Gordon.

O herói, criado por Alex Raymond em 1934, foi a outro planeta, salvou a terra da destruição e ainda lutou ao lado dos americanos na Segunda Guerra Mundial. Flash Gordon foi também a primeira aventura dos quadrinhos adaptada para o cinema (em 1936).

Alex Raymond era o artista mais criativo de seu tempo. No mesmo dia em que Flash Gordon foi publicado, ele lançou Jim das Selvas (Jungle Jim), em aventuras transcorridas no Sudoeste Asiático. Ao lado da bela Lil e de seu companheiro hindu, Kolu, Jim Bradley disputava o público de Tarzan com o único rival a altura da arte de seu autor: Hal Foster.


As selvas também foram exploradas pela editora Fiction House, especialmente nas páginas da revista Jumbo Comics, lançada em 1939 e adaptada do maior sucesso da editora, as Jungle Stories dos anos 20.

Jumbo Comics apresentava aventuras de vários personagens, entre eles Hawk, criado por Will Eisner, e Sheena, uma garota perdida na selva. A loira de maiô tigrado, inventada por W. Morgan Thomas, foi a primeira heroína das revistas em quadrinhos. Em 1942, essa versão feminina de Tarzan ganhou revista própria.


A King Features, a editora mais poderosa da época, também tinha a sua Jungle strip. Na verdade, o Fantasma (The Phantom), uma criação de Lee Falk e Ray Moore em 1936, era mais que uma simples história de selva.


O Fantasma era um justiceiro mascarado, um dos primeiros heróis uniformizados, que cumpria o juramento de um ancestral do século XVI, combatendo o mal nas selvas.

Seus auxiliares eram os terríveis pigmeus Bandar, os únicos além de sua namorada, (e posteriormente esposa) Diana Palmer, que conheciam a localização da caverna da Caveira, seu lar, e os segredos de sua origem.

Para os malfeitores, o Fantasma era uma lenda, “o espírito que anda”, um imortal com mais de quatrocentos anos de idade, que deixava em suas vítimas a marca da caveira.

As histórias de Tim e Tom (Tim Tyler’s Luck), de Lyman Young (irmão de Chic Young, autor de Blondie) também chegaram às selvas da África.

Entretanto, a tira começou como uma aventura de aviação, vertente inspirada no vôo de Charles Lindenbergh através do Atlântico, em 1927.

O herói mais popular entre inúmeras tiras de aviação dos anos 30 era Ace Drummond, de Eddie Rickenbacker e Clayton Knight.

O western também habitava as tiras. Os principais “mocinhos” dos quadrinhos eram o Rei da Polícia Montada (1935) de Zane Gray, Red Ryder (1938) de Fred Harman e Zorro (The Lone Ranger, 1939), adaptação da mais popular série radiofônica de todos os tempos.

Havia aventuras realmente exóticas, como as vividas na China por Terry e os Piratas, de Milton Caniff, as inúmeras voltas ao mundo de Tintin, o personagem de quadrinhos mais popular da Europa, criado por Hergé, aliás George Remis, num jornal de Bruxelas, Bélgica, em 1929.

Mas o grande filão das tiras dos anos 30 foi mesmo a realidade das ruas, transformada em manchetes graças à onda de violência que varreu os EUA durante a Lei Seca.

A primeira tira policial séria foi desenhada por Chester Gold em 1931: Dick Tracy atuava em Chicago, o principal reduto dos gangsterismo, na época dominada por Al Capone.


Seus inimigos eram grotescos, deformados como o crime. Por isso, Dick Tracy entrava em ação derrubando portas a tiros de metralhadoras e esparramando sangue em quantidade industrial.

O maior noir dos detetives dos quadrinhos foi Red Barry, criado por Will Gould em 1934 para disputar o concurso que daria um desenhista ao agente secreto X-9, de Dashiell Hammett.

O ruivo Barry era um irlandês durão, convicto de que a lei deveria se opor ao crime com métodos tão violentos quanto fossem necessários. Sua vida foi curta, infelizmente.

Seis anos após sua estréia, a censura interna da King Features exigiu uma reformulação do personagem, que deveria renunciar à violência e ter o conteúdo moral de suas histórias alterado. Gould encerrou a carreira.

Alex Raymond, o primeiro desenhista do detetive do FBI conhecido como agente secreto X-9, por ironia, acabou redefinindo o perfil áspero dos detetives dos quadrinhos.

Ao contrário dos tipos dos anos 30, Rip Kirby (no Brasil, Nick Holmes), que Raymond trouxe ao mundo em 1946, era um intelectual sofisticado, burguês, que amava música clássica, bebia moderadamente, jogava xadrez e golfe... até usava óculos!


O tema “herói detetive” ainda se prestaria a variações como a de Charlie Chan, o detetive chinês, Mandrake, o detetive mágico, os mascarados Spirit e Sombra e o super-detetive Batman, entre os mais famosos.

A grande contribuição das tiras de aventura, na verdade, foi uma nova concepção de desenho, que exigia conhecimento da anatomia, perspectiva, luz, sombra e uma acurada busca de autenticidade em todos os detalhes – O Príncipe Valente de Hal Foster foi o ápice.

Os enredos das tiras, porém, não eram novidade. Já existiam em pulp, revistas baratas com histórias curtas estreladas por um mesmo personagem. Doc Savage, criado por Lesse Dent, foi o primeiro herói a se denominar “super-homem”.

O Sombra de Maxwel Grant, por sua vez, foi a grande influência de Batman. Quando os dois se encontraram, em 1972, Batman admitiu: “Nunca disse a ninguém, mas você foi minha maior inspiração! Será uma honra apertar sua mão”.


Doc Savage e o Sombra, personagens dos pulps, viraram quadrinhos quando sua editora, Street e Smith, decidiu entrar no boom dos comics nos anos 40.

Galeria de Personagens


Ferdinando (L’il Abner) é um caipirão que foi caçado até ao altar por Violeta (Daisy Mãe), uma loirinha ingênua e deliciosa nas medidas de Marilyn Monroe. O escritor John Steinbeck chegou a considerar suas desventuras o melhor exemplo de seu tempo. Seu maior clássico foi a saga dos Schmoos (os tipos bizarros inventados por Al Capp eram inúmeros), criaturinhas amáveis que, infelizmente, reproduziam tão rápido que ameaçavam arruinar a economia.


Krazy Kat foi precursor dos quadrinhos underground. Sua ultrajante farsa de amor e ódio envolvia um gato andrógino, um rato sádico e um policial. Ignatz era o rato com uma missão: acertar Kat com um tijolo. O gato, porém, amava loucamente o rato e via em cada tijolo um míssil de amor. George Herriman criou esse comic clássico em 1941 e morreu com ele em 1944. A tira não teve seqüência – seu apelo não era popular. Entre os ávidos admiradores de Krazy Kat encontravam-se o poeta e.e.cummings e o presidente Wilson.


As aventuras de Little Nemo, iniciadas em 1905, duravam uma página, tempo suficiente para o menino sonhar e cair da cama. O traço de Winsor Mccay possuía uma perspectiva única, que transformava as duas dimensões dos quadrinhos num plano infinito. Sua fantasia onírica antecipou o surrealismo, bombardeando o papel com rococós, sets bizantinos e detalhamento obsessivo.


Os Sobrinhos do Capitão são inspirados em Max und Moritz, onde Wilhelm Busch já misturava poemas infantis com desenhos ilustrativos. Rudolph Dirks adaptou as histórias de dois garotos levados da breca e desenvolveu a técnica de contar uma história a partir de seqüências narrativas (os quadrinhos) e do uso dos balões.


Yellow Kid, o risonho garotinho oriental de camisola amarela de Richard Felton Outcault, foi o primeiro que reuniu as características que passaram a definir a história em quadrinhos: um elenco regular de personagens em histórias com continuação, um tema comum e texto integrado à imagem, que mais tarde se desenvolveu em balões com legendas.

A História dos Quadrinhos (Parte 2)

Na virada para a década de 40, o conceito de justiceiro mascarado estava em voga. Os dramas radiofônicos haviam introduzido Lone Ranger. O Fantasma fazia sucesso nos jornais e Hollywood acabara de realizar “A Máscara do Zorro”.

Dá-se na Detective Comics 27 (maio de 1939) a primeira aparição de Batman. Imaginado por Bob Kane e Bill Finger, Batman foi o primeiro herói a usar uniforme como parte integrante de sua personalidade.

Logo vieram outros super-heróis, que como Superman e Batman seriam totalmente reformulados com o passar dos anos. Na verdade, apenas Batman não partia de uma concepção ingênua e juvenil. Muito pelo contrário.

Flash, cujo uniforme lembrava Hermes, o mensageiro dos deuses, foi o primeiro super-herói com um poder específico: super-velocidade, adquirida num acidente com substâncias químicas.

Flash Comics 1 também apresentou o Gavião Negro (Hawkman) de Gardner Fox, que era a reencarnação de um príncipe egípcio traído pelo deus-ave Anubis. Seu uniforme possuía um par de asas artificiais que lhe permitiam voar. Em Flash Comics 24, sua namorada, Shiera, adotou traje similar e se tornou a Mulher-Gavião.

Mulher-Maravilha, a primeira heroína a ter revista própria, era a Amazona vencedora do torneio de Afrodite, escolhida para lutar contra Ares. Claro que Hitler estava do lado do deus da guerra. O background mitológico era apenas um pano de fundo para Charles Moulton, que pretendia ensinar através das aventuras de Mulher-Maravilha que o amor é mais forte do que a violência. Mas o autor morreu antes de completar sua saga e a história ganhou outros rumos.

O Espectro, criado em 1940 por Bernard Bailey, a partir de uma idéia de Joe Shuster, era o fantasma de um policial assassinado por gângsteres, que usava poderes sobrenaturais no combate ao crime.

Foram os super-heróis que iniciaram a era de ouro dos quadrinhos. Sua popularidade detonou um boom criativo, a partir dos anos 40, que acabou fixando os quadrinhos como uma forma própria de Literatura.

O primeiro super-herói dos Comics Books surgiu num fanzine de ficção científica, cinco anos antes de sua aparição na capa de estréia da revista Action Comics. Tratava-se de um fantástico ser do espaço com super-poderes, recusado por inúmeras editoras sob a acusação de ser uma idéia infantil.


Seus autores, Jerry Siegel e Joe Shuster, tinham apenas 17 anos quando convenceram a National Periodical a publicá-lo.

Sua concepção original era bastante juvenil e combinavam características de diversos personagens dos pulps, que costumavam ter centenas de seres espaciais, duplas identidades, repórteres e heróis invencíveis no combate ao crime.

Sua própria identidade secreta é uma pista. Não seria Clark Kent a junção dos nomes de Clark Savage Jr. (Doc Savage) e Kent Alard (Sombra)?

As páginas de Action Comics também serviram de berço para O Vigilante, o cowboy do Oeste que montava uma moto ao invés de um cavalo, assim como Mr. América, o primeiro super-herói patriótico, além de aventuras da selva (Congo Bill), box (Pep Morgan), mágicos (Zatara), policiais (Scoop Scanlon), quadrinhos históricos (Marco Polo) e até mesmo funnies (Estica e Espicha).

Mas nada superava o entusiasmo despertado por Super-Homem, a primeira revista a publicar aventuras totalmente inéditas (desde 1937).

Suas histórias eram publicadas na revista More Fun Comics, que também lançou Aqua-man, Arqueiro Verde, Superboy e Senhor Destino (Dr. Fate), outro super-herói com poderes sobrenaturais, adquiridos graças à intervenção de um alienígena que viveu entre os faraós.

O Lanterna Verde, de Martin Modell, também possuía poderes incríveis, adquiridos de uma fonte alienígena: um anel de energia verde que poderia transformar todos os desejos em realidade...

A lista de heróis da National dos anos 40 é interminável. A National foi também a primeira editora a reunir vários heróis numa mesma história.

O primeiro grupo de super-heróis, a Sociedade de Justiça da América foi fundada em 1940 com oito integrantes: Flash, Gavião Negro, Lanterna Verde, Senhor Destino, Espectro, Átomo, Homem-Hora e Sandman.


Com o passar dos anos, a equipe sofreu reformulações, até cair no limbo em 1949.

Mas os super-heróis não eram uma exclusividade da National. Na primeira edição de Police Comics (agosto 1941), debutava o Homem-Borracha (Plastic Man), de Jack Cole, que podia se esticar como um elástico e assumir mil e uma formas.

O curioso é que o personagem era originalmente um criminoso, que adquiriu seus super-poderes num assalto frustrado a um indústria química, derrubando pingos de um misterioso ácido sobre seu corpo.

A Fawcett, por sua vez, explodiu nos Comics com seis letras: SHAZAM!, invenção do artista C. C. Beck, que deu origem ao Capitão Marvel em 1940.


O pequeno Billy Batson se tornava o mortal mais poderoso do mundo pronunciando a palavra mágica, que era acróstico de Salomão, Hércules, Atlas, Zeus, Aquiles e Mercúrio, entidades que lhe forneciam super-poderes idênticos aos de super-homem.

Logo surgiram o Capitão Marvel Jr. e Mary Marvel. Seu sucesso chegou a ameaçar o vôo solitário de seu concorrente de Krypton, tornando-se o primeiro super-herói adaptado por um seriado de aventura de cinema.

Os super-poderes da National, porém se mostraram implacáveis. Acionada por plágio e vencida na Corte, a Fawcett teve de desistir de seu herói, entregando os direitos de publicação para a editora do primeiro Super-Homem.

A Fox Features Syndicate possuía um cast invejável de super-heróis, como o exótico Flame (1940) de Basil Bertold e Lou Fine, iniciado por monges tibetanos na arte da auto-defesa e dos segredos dos lamas, que incluíam o poder místico sobre o fogo, ou o Besouro Azul (Blue Beetle) de Charles Nicholas, que possuía um traje a prova de balas e aprofundava suas habilidades tomando uma dose periódica de um componente farmacêutico secreto.

Junto a Sansão, a dupla chegou a formar um grupo chamado Big 3 (1940), que entrou para a história por debochar de Roosevelt, Churchill e Stalin. Os congressistas americanos, porém, não gostaram muito da piada e votaram pela suspensão da revista, bem como dos títulos individuais dos personagens.

Nos anos, 60, o Besouro Azul voltou a ação através da Charlton Comics, editora que, por sua vez, teve seus personagens adquiridos pela DC. Atualmente, o Besouro Azul integra a reformulada Liga da Justiça, grupo sucessor da Sociedade de Justiça da América.

A maior curiosidade da Fox, porém se chamava Thor, um super-herói baseado na mitologia nórdica.

Thor surgiu em 1940, quando um jovem cientista chamado Dr. Grant foi quase eletrocutado em uma experiência com novo condutor elétrico. O acidente revelou que ele era herdeiro do poder sobrenatural antigo Deus do Trovão.

A partir de então, sempre que a vida de Grant era exposta ao perigo, o espírito de Thor se apossava de seu corpo e lhe conferia super-poderes. Duas décadas depois, o personagem e o conceito de Thor seriam revividos pela Marvel Comics Group. Mas isto é tema para outra bat-hora e outro bat-canal, a ser contada pelo gênio Stan Lee.

Galeria de Personagens


A luta de Flash Gordon contra o tirano do planeta Mongo é o maior épico dos quadrinhos. Seu estilo kitsch mistura cenários medievais com naves futuristas, pinceladas seguras e traços turbilhonados. Na Itália, Flash Gordon chegou a ser desenhado por Fellini. Após a Segunda Guerra, Alex Raymond foi o primeiro autor de quadrinhos a expor suas telas na National Gallery (Washington).


Mandrake, o mágico criado por Lee Falk e Phil Davis em 1934, era um gentleman aventureiro e detetive que usava poderes sobre naturais(posteriormente, hipnotismo). Mandrake era acompanhado por seu servo (depois, parceiro) Lothar, um príncipe africano, que foi o primeiro personagem negro importante dos quadrinhos.


Príncipe Valente de Hal Foster é mais do que um comic, é quase um romance. A trama começa com Val criança e continua através de seu filho mais velho, Arn, décadas após os eventos que tornaram o príncipe Cavaleiro da Távola Redonda. A mais impressionante inovação de seus desenhos hiper-realistas – que não usava balões mas legendas – eram os quadrinhos panorâmicos, que chegavam a ocupar dois terços de uma página.


Milton Caniff pesquisou exaustivamente antes de lançar Terry e os Piratas. Nessas pesquisas, encontrou o recorte de jornal sobre a mulher pirata que aterrorizou a China nos anos 30 e que inspirou a criação de Dragon Lady, a mais misteriosa mulher fatal de todos os quadrinhos. Caniff também foi um dos primeiros a explorar as possibilidades do sombreamento. Seu mérito, contudo, foi no trabalho de enquadramento, que antecipou princípios da linguagem cinematográfica.


Superman inaugurou a era dos super-heróis saltando sobre edifícios, levantando pesos “incríveis” e correndo mais rápido do que uma locomotiva. Além disso, Superman podia colocar todos os fortões em cima de edifícios e atrair as meninas mais bonitas da cidade (especialmente sua colega de trabalho, Lois Lane). Graças a esta idéia juvenil dos garotos de 17 anos Jerry Siegel e Joe Shuster, os quadrinhos nunca mais foram os mesmos.


Batman era mais barra pesada: sua origem estava ligada à vingança de um menino, que presenciara o assassinato dos pais por um assaltante num beco escuro. Pra piorar, ele ainda vestia um uniforme sinistro... A pressão acabou levando seu autor, Bob Kane, a conceber o primeiro parceiro juvenil dos super-heróis, Robin, um adolescente de 13 anos com quem o público podia se identificar.


The Spirit, criado por Will Eisner em 1944, possui muito mais violência, humor e maturidade que qualquer outro comic do seu tempo. Eisner foi um visionário. Em diversas ocasiões, desenhou Spirit apenas como um personagem secundário, como contraponto de crônicas urbanas.