sábado, 8 de agosto de 2015

Teoria Geral dos Cornos


(Para os meus amigos músicos e boleiros de Lábrea: Edinho Soutelo, Rafael Osório, Eucimar Do Ar, Filho Marinho, Joedson BB, Professor Duarte, Leo Heck, Moisés, Leandro Camurça, o “Meganha”, Pescador Sonhador, o “Gambé”, Procidone, Stênio, Josimar Uca e Totonho Cabelereiro, o “Barbeiro”, que são os grandes ricardões do rio Purus e adjacências)

Sabemos que, como Cristo, o corno está no meio de nós, mas, afinal de contas, quem é esse bicho escroto que usa capacete de viking mesmo quando não está num baile de carnaval?... A palavra “corno” vem do latim cornu, nome dado àquele apêndice duro e recurvo que guarnece a fronte de alguns animais.


A denominação de cornudo ou chifrudo, atribuída ao homem que é traído pela companheira, teve origem na Idade Média. Em algumas regiões da Europa, quando o marido flagrava a própria esposa com outro, ele tinha obrigação moral de lavar a sua honra com sangue, ou seja, teria de matar os dois. Caso isso não fosse feito, os habitantes da aldeia lhe colocavam na cabeça uma espécie de chapéu com dois enormes chifres e o chifrudo era empurrado pelas ruas, sendo motivo de gozação e escárnio pelas pessoas do lugarejo.

Em 1751, em Portugal, o rei Dom José baixou uma lei destinada a proteger os casados do hábito frequente de se colocar chifres nas portas das casas onde acontecia uma traição. Naquela época, na terra lusitana, quando os amigos ou conhecidos não tinham coragem de contar ao colega que ele, o corno, estava sendo traído, colocavam um par de chifres na porta da residência para alertá-lo do fato. A moda pegou e alguns desordeiros começaram a colocar chifres nas residências de seus desafetos, mesmo que o dono da casa ainda não fosse corno. Dom José baixou a lei proibindo a presepada, determinando que todos os que fossem pegos nessa atividade seriam presos e enforcados.


De acordo com os últimos avanços da ciência genética, sabemos agora que ninguém é corno por acaso. O corno já nasce corno – na verdade, ele apenas assume, depois de adulto, o seu destino manifesto. Em outras palavras, quando se trata de “levar chifre”, não há culpados nem inocentes: há destino. Os próprios tribunais de alçada estão cada vez mais convencidos disso, apesar da Lei Maria da Penha. Isso quer dizer que depois de encher a consorte de chumbo o sujeito não pode alegar em juízo que havia se casado por engano com uma vagabunda de marca maior que depois de casada começou a dar pra todo mundo. Nada disso. O chifre não é consequência do casamento, mas do nascimento.

O problema reside no fato de que determinados homens não produzem espermatozoides, mas espermatocornos. A exemplo de seus primos, eles também são uns bichinhos rabudos e rebolativos que viajam na maionese, porém com algumas diferenças de ordem comportamental. O espermatocorno, por exemplo, não tem por finalidade fecundar o óvulo. O que ele quer mesmo é “dar o flagrante”. Assim, ao ser cuspido do pau, ele dá imediatamente o seu grito de guerra: “Cadê ele? Cadê ele? Hoje eu mato aquele cachorro!”.

Daí, ao invés de seguir o caminho natural dos espermatozoides, ou seja, disputar uma corrida de 100 metros rasos em direção ao óvulo, o espermatocorno fica escondido na trompa de Falópio, só de olho. O negócio dele é dar porrada: “Hoje eu pego aqueles dois! Hoje eu faço uma bobagem...”

Em razão de uma mutação genética ainda não muito bem explicada pela ciência, o espermatocorno possui um discreto chifrinho bem no meio da testa, que ele usa para fustigar o óvulo: “E, então, sua vaca?! Vai contar ou não vai? Ele não veio hoje, não é? Responde, miserável, fala alguma coisa, sua puta safada! Fala logo antes que eu te arrebente de porrada!”.

Ocorre, porém, que numa dessas fustigadas o espermatocorno pode acabar fecundando o óvulo, cedendo parte da sua carga genética para o novo ser a ser gerado, ou seja, o futuro corninho. Felizmente, a natureza protege mãe e filho enquanto o corninho está no útero. Chifres de verdade, este novo ser humano só terá depois de nascer e iniciar sua vida sentimental. Ainda bem, né? Imaginem se o bebê-corno já nascesse com chifres... Adeus xoxota, parente!


Como todo mundo sabe, a confraria dos cornos é grande e solidária, e continua em fase de crescimento. Afinal de contas, todo verdadeiro corno adora chegar para o seu colega de infortúnio e revelar que também é chifrudo. Isso dá uma ótima desculpa pra encher a cara e cair de bêbado sem que ninguém venha lhe importunar.

Existe alguma energia mística ligando a irmandade dos cornos. Os homens que usam peruca de touro tendem a se reunir em rodinhas de bar e conversar muito sobre o assunto. Normalmente, eles ficam horas e horas se vangloriando de terem comido as mulheres A, B e C. Além de ser tudo cascata, a mulher D, de “deles”, aproveita essas horas de ausência do marido para mandar brasa em casa, na cama do casal, com o primeiro Ricardão que aparecer.


É relativamente fácil reconhecer um corno na multidão, principalmente quando ele está acompanhado “dela”, ou seja, da patroa – e ainda mais se ela for comível. Observe atentamente os casais que passam por você, ou que conversam com você em uma festa ou num boteco, ou ainda que frequentam a sua casa. Diante de qualquer uma dessas circunstâncias, pode conferir, o sujeito é devoto de São Cornélio:

Ela é toda gostosa, ele é todo bundão.
Ela anda de minissaia acima do joelho, ele anda de bermudão abaixo do joelho.
Ela é toda jeitosinha, ele é todo sem jeito.
Ela usa roupa decotada até o umbigo, ele usa moleton com capuz até no calor.
Ela parece séria, ele parece babaca.
Ela chama ele de “paizinho”, ele chama ela de “morzão”.
Ela masca chicletes, ele chupa jujuba.
Ela ri de piadas sujas, ele fica todo emburrado.
Ela usa calcinha de renda enfiadinha, ele usa cueca de copinho.
Ela é toda “cheguei”, ele é todo “já fui”.
Ela usa lente de contato, ele usa óculos fundo-de-garrafa.
Ela usa desodorante íntimo, ele usa pó Granado.
Ela gosta de forró-pé-de-serra, ele gosta de sertanejo-universitário.
Ela gosta de cinema, ele gosta de novena.
Ela curte o Djavan, ele se amarra no Adoniram.
Ela gosta de caldo na cama, ele adora caldo-de-cana.
Ela suspira fundo quando ele chega, ele fica babando quando ela vai embora.
Ela pede cerveja com conhaque, ele pede caipirinha com adoçante.
Ela concorda com tudo, ele se amarra em discutir.
Ela gosta de ir à praia, ele gosta de acampar no mato.
Ela quer ficar até mais tarde, ele quer logo ir embora.
Ela adora liberar o bacalhau, ele se amarra mesmo é num urubu.
Ela nega que esteja dando mais do que chuchu na serra, ele sempre acredita.

Você também pode ter certeza de que o sujeito é corno de carteirinha se ele for useiro e vezeiro em usar expressões como estas:

Mô-ô, cheguei!!!
Hoje não, bê-nhê... eu tô exausto!
Sexo não é tudo na vida!
Lá em casa quem decide se vai “ter” ou não sou eu!
Eu li numa revista que trepar demais faz mal pra próstata.
Amô-ô, que horas você vai voltar?
Tô a fim mesmo é de tomar umas biritas e depois cair na cama!
O mais importante na vida de um casal é o diálogo!
Ninguém precisa ter vergonha de ser corno! Isso faz parte da vida! Chifre foi feito pra homem, o touro usa de enxerido.
Eu nunca fui corno! Tenho certeza, né não, amô-ô?...


A grande dúvida existencial da humanidade é saber como se comporta o corno brasileiro quando encontra sua mulher com outro macho na cama, principalmente se ela estiver liberando a porta dos fundos. Há algumas pistas:

O paulista – Ele não diz nada e depois resolve fazer terapia de grupo, pois, afinal de contas, a culpa deve ser dele.

O carioca – Como é chegado a uma boa sacanagem, junta-se ao casal e fazem um ménage-a-trois até o sol raiar.

O mineiro – Valente e machista, ele mata o sujeito e continua casado com a mulher.

O gaúcho – Como é chegado a um espeto, mata a mulher e se amasia com o sujeito.

O baiano – Acha porreta e volta pro ensaio da Timbalada, de ondes saíra mais cedo do que de costume.

O cearense – Vai na bodega, toma uma garrafa de cachaça de cabeça, volta pra casa e passa os dois na ponta do punhal. No dia seguinte, arruma outra mulher.

O pernambucano – Abre uma sombrinha colorida e começa a fazer passos de frevo dentro do quarto pra ver se o sujeito fica assustado e vai embora.

O paraense – Vai na cozinha, pega uma panela cheia de maniçoba e obriga o sujeito a comer aquela porcaria, para mata-lo de indigestão.

O mato-grossense – Laça o sujeito pelo pescoço e leva o vagabundo para ser trabalhador-escravo nas gigantescas plantações de soja.

O paranaense – Vai na casa do escritor Dalton Trevisan, conta o ocorrido e vira personagem de um novo conto do vampiro de Curitiba.

O catarinense – Diz com desprezo “ah, um relho nas costas!”, aí pega a prancha de surfe e vai pegar ondas em Camboriú.

O acreano – Enche a cara de santo-daime e jura que tudo não passa de uma peia da “borracheira”.

O roraimense – Não faz absolutamente nada. Se os gafanhotos comiam 20% do orçamento do Estado e ninguém tentava impedir, como evitar que um deles comesse a sua mulher?

O amazonense – Pega o Tururi no armário e vai brincar de CarnaBoi com outros cornos iguais a ele.

O maranhense – Vai sentar na sala e esperar até que os dois terminem o que estão fazendo, para poder entrar no quarto e pegar sua fita de reggae.

O brasiliense – Fica puto da vida, vai pro Congresso e inventa mais um imposto para foder o povo brasileiro.

O paraibano – Enche a mulher de porrada até a morte, chicoteia o cabra da peste até a morte, depois salga e dependura os dois corpos no varal para fazer carne de sol.

O goiano – Pega sua viola e cai na estrada à procura de outro corno para montar uma dupla sertaneja.

Os outros cornos estaduais ainda não foram aprovados pelo Inmetro.


É evidente que apesar de fazerem parte da Irmandade de São Cornélio, existem cornos e cornos. Vamos listar apenas os tipos mais conhecidos.

Corno esclarecido – O que diz que é melhor comer pudim acompanhado do que comer merda sozinho.

Corno vingativo – Depois que descobre que é corno, começa a dar a bunda para se vingar da esposa.

Corno coveiro – Sabe da traição, mas sempre enterra o assunto.

Corno ganso – Sabe que é corno, mas só faz barulho.

Corno advogado – Tem conhecimento de causa da traição, mas defende a patroa.

Corno fofoqueiro – Aquele que corre pro boteco pra avisar aos amigos que foi traído.

Corno astronauta – Quando descobre o adultério, só falta entrar em órbita.

Corno cego-aderaldo – O que acha que esse papo de traição não tem nada a ver.

Corno cortiça – Os amigos dão um toque, mas ele continua boiando.

Corno azulejo – Leva chifre porque é baixinho, quadrado e liso.

Corno 120 – Que flagra a consorte fazendo um 69 e vai ao bar encher a cara de caninha 51.

Corno camaleão – Quando descobre que é corno muda de cor.

Corto economista – Ele faz até cortes no orçamento pra mulher poder dar um agrado ao Ricardão.

Corno besta-fera – Enquanto não descobre é uma besta, depois que descobre vira uma fera.

Corno panela-de-pressão – Quando descobre que é corno chia barbaridade.

Corno raposa – Quanto mais a mulher galinha, mais ele corre atrás.

Corno penico – Ele vê tudo, mas não faz nada.

Corno cigano – Cada vez que leva um chifre, ele se muda do bairro.

Corno curioso – Contrata até detetive pra descobrir a identidade secreta do Ricardão.

Corno xuxa – Ele fica em casa tomando conta dos baixinhos enquanto a mulher vai galinhar.

Corno churrasqueiro – Coloca a mão no fogo pela mulher enquanto ela usa o espeto do vizinho.

Corno galeto – Não pode levar ninguém em casa que a mulher começa logo a arrastar a asinha.

Corno celular – Vive levando chifre porque quando não está ocupado, está fora de área.

Corno geladeira Brastemp – Leva chifre à vontade, mas não esquenta com nada.

Corno cachorro doido – Fica babando de raiva, mas não faz porra nenhuma.

Corno submarino – Depois que leva um chifre, passa o resto da vida na maior água.

Corno pai-de-santo – Toda vez que chega em casa tem que tirar um caboco de cima da mulher.

Corno Fórmula Um – Quando alguém insinua que ele é corno, o corno sai vazado a mil por hora.

Corno japonês – Quando resolve abrir o olho, a mulher já deu pra rua inteira.

Corno Mike Tyson – Cada vez que leva um chifre transforma a mulher em saco de pancadas.

Corno papel higiênico – Quando descobre a traição, fica branco de susto e depois entra na merda.

Corno tamanduá – Passa a vida ameaçando a mulher de que ela vai amanhecer com a boca cheia de formiga, mas não se separa da sacana.

Corno Aqua Velva – Toda vez que alguém fala em chifre, ele coloca a barba de molho.

Corno São Thomé – Aquele que só acredita vendo.

Corno Django – Ninguém precisa contar a traição, porque ele saca primeiro.

Corno disco velho – Depois que descobre que é corno não para mais de chiar.

Corno Doril – Sempre que leva um chifre desaparece por algum tempo.

Corno mentiroso – Vive se vangloriando de que nunca levou chifre.

Corno eu-sou-negão – Sabe das escapulidas da mulher, mas morre negando.

Corno bateria Moura – Tem sempre uma solução pra infidelidade da patroa e nunca pede água.

Corno abelha – O que vai para rua fazer cera e volta pra casa cheio de mé.

Corno ateu – Aquele que leva chifre até do entregador de pizza e não acredita.

Corno São Silvestre – Toda vez que alguém fala em chifre ele sai correndo.

Corno intrometido – Vive se metendo na conversa da mulher com o Ricardão pelo whatsapp.

Corno banana - A mulher vai embora e deixa uma penca de filhos.

Corno Brahma – Todo mundo sabe que ele é corno, mas ele acha que é o número 1.

Corno brabo – Quando é chamado de corno quer brigar.

Corno burro: Aquele que segue a mulher o tempo todo e quando flagra a mulher saindo do motel com o Ricardão, exclama: “Eu não estou entendeeeindo!”

Corno Corote – Depois que descobre que é corno, só chega em casa morto de bêbado.

 Corno cebola – Aquele que quando vê a mulher com outro só chora.

Corno prevenido – Assim que chega em casa, ele grita bem alto: “Querida, cheguei!”

Corno crente – Aquele que, mesmo contra todas as evidências, sempre crê que sua mulher não pula a cerca.

Corno cururu – Quando vê a mulher com outro fica todo inchado.

Corno Denorex – Aquele que não parece, mas é.

Corno desconfiado: Sempre que chega em casa, ele procura o Ricardão até atrás dos quadros.

Corno Sherlock Holmes – Aquele que segue a mulher dos cornos e esquece de tomar conta da dele.

Corno elétrico – Quando os outros falam que ele é corno, ele diz “Tô ligado!”

Corno família – Aquele que leva chifre de tudo quanto é parente.

Corno celebridade – Por onde ele passa todo mundo comenta que é o maior corno do mundo.

Corno carijó – Aquele que tem chifres até no meio da canela.

Corno granja – Ele dá casa e comida e depois os outros comem.

Corno iô-iô – Aquele que fica no vai e volta com a traíra.

Corno masoquista – Ele leva chifre de todo jeito, mas não larga a mulher.

Corno medroso – Aquele que fica escondido embaixo da cama esperando o Ricardão ir embora.

Corno Papai Noel – Aquele que leva chifre, vai embora de casa e depois volta por causa das criancinhas.

Corno político – Aquele que só faz promessa: “Um dia, eu vou largar essa safada...”

Corno porco – Aquele que só come a sobra do babujo deixada pelo Ricardão.

Corno preguiça – Aquele que vive dizendo “Uma hora eu ainda te pego, uma hora eu ainda te pego...”

Corno office-boy – Aquele que leva recados da mulher para o Ricardão.

Corno teimoso – Aquele que leva chifre da mulher e da amante.

Corno do mato – Aquele que quando descobre que é corno sai gritando “Eu mato! Eu mato! Eu mato!”.

Corno Vila Sésamo – Aquele que não larga a mulher por causa dos baixinhos.

Os últimos levantamentos da ciência comportamental dão conta de que corno é igual a mingau de Neston: cada dia o Ricardão inventa um tipo diferente.

Um comentário: