Se JFK foi responsável por introduzir a Sabedoria Devassa na América do Norte, na América Central a façanha coube a um dominicano chamado Porfírio Rubirosa.
Nos anos 50, o maître de um clube noturno parisiense exultou diante de uma mesa ocupada por Porfirio Rubirosa, Aly Khan, Baby Pignatari e Juan Capuro: “Aqui estão os mais famosos playboys do mundo”. Ao que Rubirosa respondeu: “A diferença é que os outros cavalheiros pagam por suas mulheres, e todas as minhas mulheres pagam por mim”. Era a mais cristalina verdade.
O livro “A vida louca de Porfírio Rubirosa: o último playboy”, de Shawn Levy, mostra, antes de tudo, que o nome playboy, hoje em dia, virou algo sem força, que cai bem em garotos bem nascidos (e que cometem o pecado de trabalhar).
De acordo com a definição do criador da revista Playboy, Hugh Hefner – reproduzida no livro – este era “um homem de inclinações sensuais, em geral com recursos financeiros, que transita de mulher em mulher, festa em festa, emoção em emoção”.
Um perfil que tinha a ver com disposição, espírito de aventura e vocação para o bem-viver – algo que nem sempre caminha lado a lado com o dinheiro ou com o currículo de conquistador que vários playboys (ou tidos como tais) da atualidade ostentam.
Nascido em 1909, na República Dominicana, Porfírio Rubirosa era filho do governador de uma série de pequenas cidades do país caribenho – marcado por guerras e conflitos tribais desde sua fundação e libertado do poderio haitiano apenas 65 anos antes. No linguagar domincano, seu pai – e Rubi, por herança – era um tíguere, personificação, elevada à enésima potência, do macho latino ideal: destemido, gracioso, calculista e sempre usando determinadas situações ou pessoas a seu favor. Como a maioria dos dominicanos, Rubi também era meio africano. Além de alisar os cabelos, evitava tomar muito sol. Por isso mesmo, não passava a imagem de um negro caribenho, mas a de um latino mediterrâneo.
Uma das lembranças mais vivas da infância de Rubirosa foi o fato de ter tido que fingir que tocava violino, a pedido de uma professora que o recebeu numa escola para a qual havia se transferido na infância – sua turma inteira participava de um ensaio e tinha familiaridade com o instrumento, ao contrário do pequeno Rubi. “Será que no mundo dos adultos as aparências são só o que importa?”, ele lembra de ter pensado. Pavimentou sua carreira de conquistador a partir desta constatação.
O nome de Rubi (apelido que passou a adotar após separar-se de sua primeira mulher, Flor de Oro, filha do ditador dominicano Rafael Trujillo) ganhou os jornais entre os anos 40 e 50 por causa de seus casamentos com mulheres lindas e riquíssimas – as milionárias americanas Barbara Hutton, dona da cadeia de lojas Woolworth’s (com quem ficou casado por menos de dois meses, lucrando ao final um avião B-25 e uma plantação de café avaliada em US$ 3,5 milhões) e Doris Duke, correspondente em Paris da Harper’s Bazaar, além da atriz francesa Danielle Darrieux, considerada a mulher mais bonita do mundo em sua época.
Por outro lado, seu envolvimento com Trujillo e com a política sul-americana sempre foi explorado. Graças ao cargo de tenente da guarda presidencial do ditador, Rubi foi ganhando um prestígio político mundial do qual – e devido também aos múltiplos contatos e ao trânsito no jet-set internacional – nunca se distanciou.
“Era um profissional de elegância e de sedução”, diz a colunista Bety Orsini. “Atraía as mulheres por ele próprio, não por outros privilégios, já que não era rico. Era um gentleman: pagava as contas, era divertido e rápido para acender o cigarro de uma mulher e entrou na lista dos homens mais bem vestidos da Europa com um estilo peculiar: usava jeans com paletó numa época em que poucos ousavam tal combinação. E usava mocassim sem meia (...) seus amigos dizem que, quando falava com alguém, era como se o resto do mundo tivesse perdido o interesse para ele”.
Um dos casamentos mais conhecidos de Rubi foi com a atriz húngara Zsa Zsa Gabor, com quem ainda viveria casos clandestinos e experimentaria situações de invasão de privacidade e exploração pela mídia – que, comparadas às devassas nas vidas das celebridades atuais, podem até soar ingênuas, até por sempre serem enxergadas por Rubi e pela atriz pelo viés do bom humor ou até mesmo da autopromoção.
O livro explora essa fase de Rubi com grande riqueza de detalhes, encerrando a carreira de conquistador do playboy com sua última esposa, Odile Rodin – que, após enviuvar, viveu 20 anos como colunável no Rio e chegou a casar-se com um brasileiro, o empresário Paulo Marinho, que posteriormente se casaria com a atriz Maitê Proença.
“Trabalhar? É impossível. Simplesmente não tenho tempo”, respondeu escandalizado Porfírio Rubirosa durante uma entrevista. E não era piada, o playboy dominicano estava realmente ocupado demais para trabalhar, freqüentando as mais extraordinárias festas do jet set internacional e levando para a cama as mais lindas e ricas mulheres. Farrista prototípico, símbolo de virilidade e ostentação, exemplo perfeito do amante latino, envolveu-se com estrelas como Ava Gardner e Marilyn Monroe e levou o estilo tíguere além das fronteiras das repúblicas das bananas.
Dentre os que o conheceram nesse período estão o brasileiro Jorge Guinle que, numa entrevista à Playboy em junho de 1993, revelou que Rubi, além de ter as mulheres mais maravilhosas do mundo, não dispensava nem as faxineiras dos bordéis que freqüentava.
O livro revela que, para além do charme, o grande segredo do sucesso de Rubi era, digamos, anatômico – fato cultivado em declarações de ex-esposas e amigos. De acordo com Shawn Levi, o playboy dominicano possuía um membro descomunal, que parecia “os últimos 30 cm de um taco de beisebol”.
Quando não estava com mulheres, Rubi dedicava-se a atividades tipicamente masculinas. Exímio jogador de pólo, pilotava também carros de corrida. Se o dinheiro porventura minguava, ele se divertia com missões diplomáticas obscuras, roubo de jóias ou qualquer outra atividade ilícita que se apresentasse.
Se gozava de alguma influência, a devia ao dominicano Rafael Trujillo, um dos ditadores mais sanguinários que o mundo já conheceu, e outrora seu padrinho. Por décadas, uma nação inteira estremecia apenas à menção do nome Trujillo, enquanto Rubi escarnecia despreocupadamente de suas censuras, como se a mão-de-ferro do tirano não fosse capaz de atingi-lo. E ele estava certo.
Em Londres, Paris, Nova York, Monte Carlo e outras grandes cidades do mundo, era amigo das pessoas mais ricas e influentes do planeta. Entre seus amigos mais célebres e companheiros de madrugadas estavam Ted Kennedy, Frank Sinatra, Oleg Cassini, Baby Pignatari, o multimilionário Aly Khan, o bilionário Juan Capuro, do ramo de mineração, e o rei Farouk, do Egito.
Segundo os boatos, levou para a cama centenas de mulheres famosas e infames, entre elas Christina Onassis, Eva Perón e Maria Callas. Mulheres que ele nunca conhecera prometiam deixar os maridos por causa dele.
Quando, em 1965, aos 56 anos, morreu em Paris, num acidente de carro – dirigia uma Ferrari a 130 quilômetros por hora quando se chocou com uma árvore –, toda uma era morreu com ele.
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