Ombreado lado a lado com Giacomo Casanova, Don Juan Tenório, Georges Simenon, John Fitzgerald Kennedy e Porfírio Rubirosa, o brasileiro Jorginho Guinle é considerado oficialmente um dos seis qutubs da AMOAL.
Nascido em 1916, em uma chácara no bairro carioca de Botafogo, o personagem responsável por introduzir os ensinamentos da Sabedoria Devassa na América do Sul foi criado entre carambolas e pitangueiras, e cresceu com uma única finalidade na vida: transar com todas as mulheres do mundo.
Para realizar sua missão, Jorginho Guinle torrou toda sua fortuna pessoal – uns 20 milhões de dólares, por baixo – em champanhe, caviar e passeios de Rolls-Royce. Virou um neopobre, mas ganhou o título de maior playboy brasileiro de todos os tempos. Se não conseguiu transar com todas as mulheres do mundo, conquistou boa parcela delas.
Jorginho era um conquistador de “grifes”. A lista de estrelas que passaram pela sua cama inclui Marilyn Monroe, Rita Hayworth, Ava Gardner, Jayne Mansfield, Rommy Schneider, Hedy Lamarr, Kim Novak, Veronica Lake, Zsa Zsa Gabor, Maria Montez, Susan Hayward e Anita Ekberg. Além de milionário, ele tinha algo essencial: tempo.
Nosso venerável grão-mestre nunca trabalhou na vida. Na realidade, o primeiro emprego veio depois que ele completou 80 anos. Estava quebrado e precisava comer. Elegante, refinado, charmoso, arrumou uma atividade apropriada: virou guia turístico. Passou a mostrar as virtudes de Paris a neomilionários.
Jorginho viveu boa parte de sua vida no exterior. A primeira viagem ocorreu aos 5 anos. Aos 15, ganhou um porta-retratos de ouro de um marajá indiano. Em Versalhes, convidou uma bela mulher para passar o Carnaval no Rio de Janeiro e ouviu uma resposta estarrecedora: “Não posso. Na semana que vem, vou assumir o trono da Dinamarca”.
A maioria de suas namoradas e amantes era pouco inteligente. “Se eu quisesse inteligência, sairia com o Einstein”, ele gostava de dizer. Tinha sua ética particular: “Um playboy jamais dá em cima das mulheres dos amigos”. O básico da conquista, ele ensinava, é ser discreto e saber o momento certo de atacar: “A mulher sempre vai ceder em algum momento. O segredo é perceber quando isso acontece”.
Jorginho era o rei do Rio. Seu castelo, o Copacabana Palace. O hotel, erguido nas areias de Copacabana em 1923, esteve nas mãos da família Guinle até 1989, quando foi vendido a James Sherwood, dono da cadeia Oriental-Express, por 23 milhões de dólares.
Se os quartos do Copa falassem, contariam 1.001 noites de histórias sobre o maior playboy brasileiro e suas namoradas. Como aquela da exuberante Jayne Mansfield, que, incomodada com o barulho de uma construção vizinha ao Copa, abriu a janela e mostrou os poderosos seios para os operários. “O barulho parou na hora”, conta ele no seu livro de memórias Um Século de Boa Vida.
Segundo Jorginho, Jayne Mansfield foi sua namorada mais desinibida. Um dia, ele foi buscá-la no aeroporto, a bordo de um Rolls-Royce, e a atriz não quis esperar: atacou-o dentro do carro. Eles transaram no trajeto entre o Santos Dumont e o Copa. “Ninguém nos viu. O carro era alto”, ele contou, em uma entrevista. “Toda mulher americana é boa de cama”, frisou. Rita Hayworth e ele namoraram em um barco, ancorado no Iate Clube do Rio, durante o Carnaval.
Outro amor de Carnaval foi Rommy Schneider, “um romance vapt-vupt”. Na Quarta-feira de Cinzas, a atriz se mandou, abandonando-o por um alemão. Já ao se apaixonar por Veronica Lake, Jorginho bateu de frente com um adversário peso pesado – o milionário (bem mais do que ele, aliás) Howard Hughes. A disputa foi resolvida com cavalheirismo: Hughes ofereceu três modelos gostosas (muito gostosas mesmo) ao brasileiro, em troca de Veronica. Ele topou.
Jorginho aprendeu a dançar com Ginger Rogers. Depois de umas lições de twist, ele conduzi-a pelo salão, ouvindo-a sussurrar em seu ouvido: “Você dança melhor que Fred Astaire”. A primeira estrela conquistada por Jorginho foi Maria Montez. Ele tinha 23 anos e ela, 20. O romance durou só alguns dias, mas foi o suficiente para ele perceber as vantagens de namorar uma atriz famosa: ganhava sempre a melhor mesa nos restaurantes e virava o centro das atenções.
Logo em seguida, ele teve um caso com Jane Leight, que, na seqüência, se separou de Tony Curtis. As más línguas disseram que Jorginho foi a causa do divórcio. Ele diz que eram apenas “fofocas”. Apaixonado por Marilyn Monroe, Jorginho comprou um colar de topázios brasileiros para presentear a atriz. Não deu tempo. Marilyn morreu dias antes, de overdose.
As situações extravagantes vividas pelo playboy foram tantas que não caberiam em um longa-metragem. Ele teve, por exemplo, o privilégio de assistir à filmagem da principal cena de Casablanca, o mais clássico de todos os filmes – estava lá, no estúdio, quando Humphrey Bogart pede ao pianista para tocar de novo “As Time Goes By”, a canção de amor que o fazia lembrar-se de Ingrid Bergman.
Ele assessorou pessoalmente Walt Disney na criação do personagem Zé Carioca. Certa vez estava no teatro, na França, junto com o pai e o tio, quando percebeu que a platéia apontava para os três. “Por que eles estão olhando tanto para nós, pai?”, perguntou. “Não é para nós, filho. É para o seu tio Santos”. O tio Santos era ninguém mais, ninguém menos que Santos Dumont, “o pai da aviação”, um parente carinhoso que costumava mimoseá-lo com selos raros.
O eterno playboy morreu com 88 anos na madrugada de sexta-feira, 5 de março de 2004, no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, vítima de um aneurisma na aorta abdominal. Jorginho Guinle havia sido internado na segunda-feira num hospital de Ipanema mas, na quinta, dia 4, assinou um termo de responsabilidade para deixar o hospital, após se recusar a retirar o aneurisma. Guinle deixou o hospital e morreu em uma suíte do hotel, por volta das 4h30.
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