quarta-feira, 18 de março de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 75)


VAMPIRO – Tem vampiros bons e maus. Bom vampiro, por exemplo, era o interpretado por Christopher Lee, em The Horror of Dracula, dirigido por Terence Fisher, em 1958. Era um bom vampiro porque na hora em que atacava suas vítimas na tela, a gente podia aproveitar para meter as mãos nas coxas da namoradinha, na plateia.
A maioria dos vampiros, porém, são maus e óbvios. Isso não quer dizer que não existam aqueles que conseguem manter suas verdadeiras identidades em segredo. O Brasil, por exemplo, vem sendo governado por vampiros desde 1964. Milhões de brasileiros morrem de vampirismo todos os anos sem desconfiar disso.
A palavra “vampiro” vem do sérvio (língua ainda falada na Iugoslávia) e quer dizer “demônio bebedor de sangue”. Eles começaram a aparecer na Idade Média na Grécia, Itália, Inglaterra, Rússia, Bulgária, Hungria, Tchecoslováquia e Rumânia.
Embora ultimamente tenham se dedicado ao cinema, volta e meia aparece alguém numa delegacia qualquer para dizer que foi vítima de um vampiro.
Os vampiros, como todo mundo sabe, são mortos-vivos. Durante o dia dormem em seus caixões e à noite saem para sugar sangue, de preferência dos pescoços de jovens senhoritas.
Eu disse de preferência porque, na falta de mulher, atacam o que pintar, velhas e até rapazes. Estes são os favoritos dos vampiros-viados, ou vamviados.
Eles têm que fazer sua refeição sangrenta bem rapidinho, pois se estiverem fora do caixão durante o dia, se transformam em pó.
É claro que as pessoas mordidas por um vampiro viram vampiros também.
Aparentemente, os vampiros são assim como o Super-Homem e os demais super-heróis: não fodem nem saem de cima.
Ninguém sabe o que, realmente, fazem com as mulheres que mordem.
Deve ser algum troço metacoital, pois, uma vez mordida por um vampiro, a mulher fica na dele para sempre.
Outro negócio que sempre me deixou grilado: como é que os vampiros passam despercebidos?
É só olhar para aqueles olhos profundos, aquelas olheiras enormes, a cara magra e pálida, a capa preta, para ver na hora que se trata de um vampiro.
Método infalível para acabar com um vampiro é enfiar uma estaca de madeira no coração do bicho quando ele está dormindo com a boca cheia de sangue em seu caixão. Para não haver dúvidas de que o sacripanta morreu mesmo, melhor botar fogo no corpo.
Alho também é muito bom para afugentar os sacanas. Muitos, porém, não se assustam com pouco alho. Neste caso o melhor a fazer é pintar a casa inteira com extrato de alho e tomar banho de extrato de alho: você nunca mais comerá mulher alguma, mas, em compensação, também não será aporrinhado pelos bebedores de sangue.
Dizem, mas não provam, que uma cruz também os bota pra correr.
Até o meio do século passado os bons cristãos costumavam cravar uma estaca de madeira no coração dos suicidas, pois estes seriam vampiros. Na Inglaterra teve que passar uma lei para acabar com a prática deste esporte.
Também são considerados vampiros o sétimo filho de um sétimo filho, os filhos da puta, os excomungados pela Igreja, os dentuços e, naturalmente, os que foram mordidos por um vampiro.
Mas o que é um vampiro? Como ele nasce? Negócio seguinte: nós, além do corpo, possuímos uma alma. Eventualmente, na hora da nossa morte, esta alma não encontra a saída. Fica presa e dá um jeito de fazer o corpo continuar vivendo através de rações de sangue.
Às vezes, quando encurralados, os vampiros se transformam em morcegões, estes que têm mais de um metro de asa a asa, e saem voando. Tudo estaria muito bem se os primeiros vampiros não houvessem sido detectados na Europa Central e os morcegões não existissem apenas no México, onde preferem beber sangue de boi. E agora?
Sugiro a leitura do romance que Bram Stocker escreveu em 1897, chamado Drácula que, aliás, vem a ser o mais famoso vampiro de todos os tempos. Trata-se de uma peça literária só comparável, no gênero, ao Frankenstein, de Mary Shelley.
Stocker nos faz sentir pena do conde Drácula, condenado à imortalidade. Eis o que diz o seu personagem: “Morrer, morrer realmente... deve ser uma coisa gloriosa. Há coisas bem piores que a morte esperando pelos homens”.
Em verdade, o conde Drácula foi um príncipe chamado Vlad Tepes que viveu na Transilvânia (hoje faz parte da Rumânia, embora já tenha pertencido à Hungria) na Idade Média. O Drácula do irlandês Bram Stocker não passava de uma fadinha se comparado ao nosso Vlad.
Ele era conhecido como Vlad, o Empalador. Em luta permanente com os turcos, sempre que fazia prisioneiros lhes enfiava um pedaço de madeira no rabo e o fazia sair pela boca.
Mas não fazia isso apenas com os inimigos. Os amigos que não se comportassem bem recebiam o mesmo tratamento.
Certa vez, uma comissão de turcos foi negociar a paz com ele. Ele, muito gentilmente, pediu que tirassem os turbantes. Os turcos eram almas sensíveis e se recusaram a obedecê-lo. Não contavam com a sensibilidade do Vlad, que ainda era maior.
Chocadíssirno com a falta de educação, mandou seus homens pregarem os turbantes nas cabeças dos turcos: Vlad, Empalador ou Vlad, o Sensível, recebeu o apelido de Drácula, que em rumeno quer dizer “diabo”.
É claro que ninguém jamais ousou chamar ele pelo apelido. Quem tem cu tem medo.
Tem um corcundinha que é empalhador de cadeiras e trabalha na calçada, ali no bairro de Fátima, no Rio de Janeiro. Não perguntem a ele onde está o conde Drácula, que ele fica putíssimo. Todo mundo sabe que ele é o assistente do Dr. Victor Frankenstein.
Desde que a Rumânia e, consequentemente, a Transilvânia, se tornaram comunistas, nunca mais se ouviu falar em vampiros por lá, o que não impede os comunas de faturar os tubos vendendo ingressos para turistas visitarem o castelo onde Vlad empalava as pessoas insensíveis e mal-educadas.
Tem uma guia turística no castelo restauradinho. Se chama Veronika e, por alguns dólares a mais, te encontra depois do expediente e...

VAN DER VELDE, Theodor Hendrik (1873-1937) – Já não disse a vocês que ninguém é ginecologista de graça? Vejam o caso do Van der Velde. Era casado com uma mulher feíssima quando resolveu se dedicar à especialidade. 
Um dia pinta uma senhora no seu consultório. Ele manda que ela tire as calças e fique naquela posição. Dá uma boa olhada na xota e gosta do que vê. Ergue a cabeça, olha para a cara da dona da xota e gosta ainda mais. 
Para vocês verem como é mentiroso o conhecido ditado: “Quem vê xota não vê carão”. 
O que faz? Diz: “A senhora não tem nada demais, volte pro seu marido?” Nunquinha. Come ela no ato e, não satisfeito, foge com ela (que era uma socialite chamada Martha Bretenstein-Hooglandt) para uma cidadezinha no interior da Holanda, pois que tudo se passou por lá.
Ora, naquele tempo, essas coisas não se faziam, principalmente na alta e respeitável burguesia. Resultado: ele perdeu a sua clínica, o que foi ruim, e a mulher, o que foi bom. Ela perdeu a grana do marido e ganhou o desprezo da família.
Os dois viajaram por toda a Europa e fuderam pacas até o dinheiro acabar. Quando o dinheiro acabou, ela passou a chamá-lo de “Van der Velde de Merda” e ele a berrar: "Você não passa de uma Bretenstein Hooglandt de Bosta”.
Como, porém, esta é uma história feliz, em 1913, a mulher de Van der Velde lhe concedeu o divórcio e ele escreveu um livro chamado O Casamento Feliz, que vendeu milhões de cópias.
Depois se mudaram para a Suíça, onde viveram felizes para sempre. O sempre ocorreu em 1937, quando ele morreu. Desconfio que o Velde era um tremendo voyeur.
Para escrever o seu livro, em verdade um manual de conselhos para recém-casados, observou suas clientes se masturbarem e com um vidro de aumento ia anotando as transformações que ocorriam na decoração interna delas.
O livro de Van der Velde foi colocado no Index Proibitorium do Vaticano porque sugeria o cunnilingus antes da penetração, embora aconselhasse às mulheres que só praticassem o felacio depois de alguns meses de casadas.
Van der Velde também disse algumas bobagens que eram consideradas axiomas até alguns anos atrás:
1) existem dois tipos de orgasmo, o clitorídio (clitoral, clitorâneo, clitorense) e o vaginal;
2) eventualmente, se o homem não tomar cuidado, o pau pode ficar preso na buceta;
3) a vagina pode se romper se o homem investir com muita fúria, ou ir com muita sede ao pote.

VASECTOMIA – Uma operação que bloqueia os canais espermáticos e, em consequência, torna o homem estéril. Em verdade se trata do meio mais efetivo de controle de natalidade, pois há casos de mulheres que cruzaram as trompas e ainda assim tiveram filhos.
No Brasil, o médico mais conhecido que realiza essas intervenções cirúrgicas é o Dr. Mauricio Nahoum, um andrologista.
Esterilizou o famoso cartunista Jaguar – Sérgio Jaguaribe –, que há anos sorri mais que a freirinha da anedota, pois a operação não afeta nem a vontade ou a capacidade de fuder.

Quem não quiser ter mais filhos converse com o Jaguar, que teve a coragem de ser um dos pioneiros do clube dos vasectomizados.

ABC do Fausto Wolff (Parte 74)


VAGINA – Tem gente que tem medo de palavras, o que é uma besteira, pois os dicionários mais sofisticados, como o Webster, por exemplo, já acabaram com a expressão “palavra chula”. Chulo é o dicionarista que escreve chulo. As palavras não mordem e não matam. Atrás de buceta, caralho, cu, merda, bosta, puta, viado, existem fantasmas que habitam os que têm medo de pronunciá-las. Tabuzões escondidos em cucas doentes que ajudam a criar muitos taradinhos.
As palavras só se tornam feias quando usadas dentro de uma conotação de insulto. Ainda assim tem muito canalha que não pode nem dizer rosa, pois, na sua boca, soa mal.
Há, é claro, palavras simpáticas e antipáticas, que mudam de indivíduo para indivíduo.
Eu acho a palavra hemoptise muito bonita, embora esteja associada a uma doença e tenho ânsias de vómito quando alguém usa expressões como “a nível de” ou “espaço cultural”, etc.
Tem gente que implica com vagina. Nos Estados Unidos é pior: é vajáina.
Mas vamos ao verbete: nunca pensei que um dia tivesse que explicar o que é vagina pra ninguém. Mas como explicar vaginismo sem antes explicar o que é vagina?
Trata-se do órgão sexual feminino que recebe o pênis durante a relação sexual e expele o bebê na hora do nascimento. É um tubo de 10 a 15 centímetros que se estica da frente para trás, da vulva até o útero.
A vagina é um negócio extremamente bem bolado, pois, além de autolubrificar-se durante a excitação sexual que precede o coito, o que facilita muito o nosso trabalho, também se auto-limpa através de um ácido láctico que destrói possíveis e indesejáveis germes invasores. Daí ser muito difícil alguém ser contagiado pelo vírus da AIDS se se limitar a comer a mulher pela frente.
É claro que se a mulher estiver contaminada, tiver uma ferida na vagina e você tiver alguma erupçãozinha no pau que permita a entrada do vírus na corrente sanguínea, então você pode estar fudendo, companheiro, mas certamente acabará fudido.
Volto à vagina: ela é capaz de incrível elasticidade, pois pode agasalhar pênises (outra palavrinha antipática, como urina e sovaco) de qualquer tamanho, bem como permite a passagem de recém-nascidos com cabeções imensos.
Há mulheres que, virgens, temem que sua vagina não será suficientemente grande para relações sexuais sem dor. Bobagem, minhas filhas.
Outras têm medo que a vagina seja larga demais e que não sintam prazer durante a trepada.
Para dizer a verdade, este segundo caso não é bobagem, principalmente se a mulher tiver tido mais de dois filhos e o seu parceiro habitual não for bem servido. Mas há jeito pra tudo.
Se este for o seu caso, minha senhora, faça alguns exercícios.
O mais simples é você imaginar que está segurando um lápis com a vagina durante vários segundos e depois relaxe. Repita este exercício cem, duzentas vezes por dia, e depois escreva para mim contando os resultados.
Vamos ao vaginismo: trata-se de uma frescura feminista que praticamente já não existe nos grandes centros, onde é mais fácil encontrar uma nota de mil cruzados na rua do que uma virgem com mais de dezoito anos.
Chama-se vaginismo o ato da mulher contrair involuntariamente os músculos da vagina, tornando assim a relação, quando não impossível, dolorosa.
Pura ignorância de mães puritanas e mal comidas que transferem este medo para as filhas.
Se sua mulher tiver medo de ter relações sexuais e você for tão convincente quanto um quibe frio, faça o seguinte: leve-a a médico que ele explicará para ela do que se trata.
Em seguida, ele introduzirá tubos de vidro ou plástico na vagina, aumentando gradativamente o tamanho.
Acabará provando que ela poderá agasalhar órgão (não aqueles que Bach e Berthoven tocavam) de qualquer tamanho senza paura e con molto piacere.
Como em muitos casos a mulher pode ter um orgasmo ali mesmo no consultório do médico, é de bom alvitre a presença do marido.
É que tem muito médico sacana que bota a mulher naquela posição de parir, esfrega as mãos e diz: “Vamos ver agora o que é que a baiana tem”.
Ninguém decide ser ginecologista por acaso.

VALDELAMAR, José (1505-1557) – Padrezinho dos mais sacanas. Violentava todas as mulheres que podia e quando não encontrava mulher partia para os garotinhos da paróquia. Beata que não fosse muito velha, para conseguir absolvição, depois de confessar os pecados tinha que dar pra ele. Se negasse, o patife dava um jeito de todo mundo saber o que ela havia confessado. Finalmente, foi denunciado, preso e julgado pelo tribunal de Toledo, que o condenou a passar trinta dias no convento e a pagar dois ducados, uma micharia.
Naquela época, padre só ia para a fogueira se fosse suficientemente louco para dizer que a terra era redonda e girava em torno do sol. Hoje em dia padre só vai preso ou é assassinado se falar a favor da reforma agrária na América Latina.
É interessante que a Igreja que fez do sexo um tabu, nos bastidores sempre praticou as maiores perversões sexuais. Ainda recentemente, em seu programa na TV Manchete, o costureiro Clodovil confessou que sua primeira relação sexual havia sido com um padre.

VALENTINA D’ANTONGUOLA, Rodolfo Alfonzo Rafaello Pierre Filibert Guglielmi (1895-1926) – A Enciclopédia Britânica afirma que este é o verdadeiro nome de Rodolfo Valentino. Veio de Castellaneta, Itália, para os Estados Unidos em 1913 e antes de se tornar a Marylin Monroe dos anos 20, foi jardineiro, lavador de pratos, dançarino de vaudeville e gigolô.
Embora fosse o protótipo do latin lover e desempenhasse na tela papéis de supermacho, foi manipulado por empresários e agentes durante toda a sua carreira.
Pintou em Hollywood ern 1918 e fez pequenos papéis em filmes sem importância até que foi indicado para interpretar Júlio, em Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, em 1921.
Mitologia e realidade se confundiram em apenas cinco filmes e nunca antes ou depois alguém suscitou tanto fanatismo por parte do público.
Quando morreu num hospital de New York aos trinta e um anos, os jornais especularam: a) teria sido envenenado por conhecida dama da sociedade, cujas atenções ele rejeitara; b) teria sido abatido a tiros por um marido enciumado; c) sempre fora sifilítico e a doença atingira o cérebro.
Mais de 100 mil pessoas compareceram ao seu enterro e até poucos anos atrás uma misteriosa mulher de preto pintava pontualmente no seu túmulo no aniversário da morte: 23 de agosto.
Logo depois da notícia, duas jovens tentaram se matar em frente ao hospital, uma terceira se suicidou em Londres e em Paris, um jovem ascensorista do hotel Ritz foi encontrado morto em sua cama, rodeado de fotos do ator.
Aparentemente, porém, sua vida real era bem diversa da dos heróis que vivia no cinema.
Verdade é que sempre tentou defender a sua fama de machão romântico e chegou a desafiar para um duelo um repórter do Chicago Tribune que pôs em dúvida a sua virilidade, dizendo que ele usava ruge, rímel e batom.
Talvez trepasse em segredo – coisa muito difícil para um cara que tinha a cara mais conhecida do mundo na época e era reconhecido onde quer que aparecesse –, mas eu duvido.
Casou duas vezes: a primeira com Jean Acker, em 1922, e a segunda com Natacha Rambova, em 1925.
As duas eram lésbicas notórias e foram apresentadas a ele por Aila Nazimova, rainha da sapataria hollywoodiana, de quem haviam sido amantes.
Como todo novo-rico sem nada no interior do cérebro, Valentino abusava de anéis, correntes e pulseirinhas de ouro, perfumes fortíssimos, gomalina no cabelo e casacos de vison.
Não dispensava uma desmunhecada aqui e ali e exigiu ser enterrado com a pulseira de escravo, presente da sua segunda mulher, a quem chamava de chefe, a mesma que, ao se divorciar dele, jurou que o casamento jamais se consumara.
Embora vivesse rodeado de lésbicas e homossexuais, é preciso fazer justiça: não apareceu ninguém para dizer que havia comido o rabo do maior amante do mundo.
Pensando bem, uma vidinha de merda. Poderia estar vivo hoje, caso houvesse permanecido na Itália.

ABC do Fausto Wolff (Parte 73)


UGANDA, Mártires de – Em 1885, o kabaka (ditador) de Uganda era um negão parrudo chamado Mwanga, que substituiu o velho Mtesa. Mtesa era tolerante e deixou que missões católicas e protestantes se estabelecessem em seu território. Mwanga, porém, desconfiou daquelas histórias estranhas de uma mulher dando à luz a um bebé, embora fosse virgem; de uma pomba Espírito Santo e de um Deus que ninguém podia ver. Além disso, achava que os pastores e padres fediam.
Primeiro ele massacrou o bispo anglicano James Hannington e os seus colegas. Como era um cara imparcial, deve ter pensado com o seu umbigo, pois gostava de andar nu: “Porra, se eu massacrei os protestantes, não é justo deixar os católicos vivos”. Foi então que ele massacrou vinte e dois jovens católicos africanos.
Quem não gostou da história foi Joseph Mukasa, membro da casa real que depois virou santo. Chegou pro Mwanga e disse: “Olha, Mwanga, você só matou os vinte e dois porque és um tremendo boca de fogo e eles não quiseram dar pra ti”.
Foram as últimas palavras do bom José, pois Mwanga mandou que lhe cortassem a cabeça e ainda não se conhece caso de cabeça que consiga falar separada do corpo.
Os vinte e dois jovens foram canonizados por Benedito XV em 1920 e pelo papa Paulo VI em 1964. O dia dos mártires de Uganda é 3 de junho.
Mwanga teria sido protagonista de uma piada que chegou a ser publicada nas Anedotas do Pasquim.
Branco pintava em Uganda, ele mandava prender e depois perguntava: “Burunga ou Burundunga?”
Todo mundo sabia que Burunga queria dizer “Dás pra mim?” e “Burundunga” queria dizer “morte”.
Um dia ele aprisionou um americano, um russo, um francês, um inglês e um alemão e perguntou: “Burunga ou Burundunga?”
Os quatro primeiros preferiram burunga e tiveram a vida poupada. O alemão, metido a macho, berrou: “Burundunga, seu filho da puta!”
Mwanga, que não sabia o que era filho da puta, mas entendia muito bem o que era Burundunga, coçou a barriga, sorriu e disse.
– Muito bem, mas primeiro Burunga!
Mwanga foi o mentor intelectual de Idi Amim.

UGARTE, Augusto Pinochet (Confesso que não estou interessado no ano em que nasceu.) – Ditador do Chile, dono de um bigodinho bem mais modesto que o do Sr. José Sarney. Talvez isso se deva ao fato de que pretende sodomizar apenas 11.262.000 chilenos. Aliás, minto: aparentemente não pretende sodomizar os ricos. Deve dar, portanto, somente uns 11 milhões de chilenos.
Manda desde 1973, quando, com auxílio da CIA, assassinou o presidente eleito, Salvador Allende.
Mandou importar técnicas modernas de tortura do Brasil e reuniu todos os opositores do regime num estádio de futebol para fuzilá-los posteriormente.
Os rapazes da escola de Chicago (a mesma de Delfim e Roberto Campos), com o auxílio de Milton Friedman, fizeram com que a economia chilena crescesse enormemente.
A economia cresceu graças às multinacionais que se instalaram no país, mas o operariado nunca esteve tão pobre.
Em 1981, Reagan acabou com as sanções comerciais que o governo Cárter havia ordenado.
A democracia de Sarney-Ulysses mantém relações comerciais e diplomáticas com o açougueiro dos Andes.
Augusto Pinochet Ugarte é necrófilo.

URETRA – Todo mundo tem, embora muitas mulheres não saibam disso. Trata-se do canal por onde sai o mijo. No homem ele sai da bexiga, passa pela uretra e bate na árvore ou no chão. Falo de árvores e chão porque mais da metade da humanidade nunca viu um vaso sanitário.
Na mulher o buraquinho da uretra está localizado entre o clitóris e a abertura da vagina. Mulher quando mija na terra seca faz buraco e muita fumaça. Quando mija de pé e de pernas abertas, não faz tanto sucesso, pois se mija toda.
O esperma também sai pela uretra. Se sair outra coisa, além do mijo e porra, você está fudido, irmão!

UROLAGNIA – Pronuncia-se “urolanhia”,seus íncrevos!Troço assaz enjoado. Amigos meus, hoje na faixa dos cinquenta, juram que, trinta e cinco anos atrás, o mictório do cinema Roxy, em Copacabana, era frequentado por uma figura tétrica, de cabeleira ruiva, olhos chupados e cor amarela, cujo apelido era Vampiro.
O hobby do vampiro, que deveria ter uns quarenta e muitos anos, era fazer uns barquinhos de papel e deixar ali onde a garotada fazia pipi no banheiro.
Quando todo mundo já tinha entrado na sala para ver o filme, o vampiro, solerte, entrava na moita no banheiro, recolhia os barquinhos e bebia o seu coquetel ainda morno.
A cuquinha do vampiro devia ter mais teias de aranha que o porão do castelo do vampiro original de Bram Stocker.
O vampiro sofria de urolagnia, excitação sexual associada ao ato de mijar.
Ao contrário do que muita gente supõe, os urolagnianos não são homossexuais, em sua maioria. Apenas se amarram em ver outras pessoas fazerem pipi.
Quando o pipi se dirige contra eles, aí a urolagnia associa-se ao masoquismo, à excitação através da humilhação e do desprezo.
O urolagniano é passivo quando é mijado e ativo quando mija nos outros.
Havelock Ellis conta o caso de um cara que vestia a mulher com roupas caríssimas, a cobria de jóias e depois mijava em cima. Vai ver era o seu modo de contestar a sociedade capitalista.

ÚTERO – Órgão reprodutor da mulher. Todas nascem com ele, podem ter certeza. Tem algumas que até nascem com dois, fenêmeno que pode ser reparado cirurgicamente. Tem a forma e o tamanho de uma pêra. Tem grossas membranas musculares e uma membrana mucosa que envolve a sua superfície. O útero está situado acima da vagina, com sua parte inferior, o cérvix, ao fundo.
Na maioria das mulheres o útero se desloca para a frente, em direção ao estômago, mas em muitos casos, principalmente após a maternidade, ele se desloca para trás, ocasião em que provoca dores nas costas e dificuldades na concepção. Se é este o seu caso, leitorinha, consulte um médico. Um médico bom, não um aborteiro qualquer.
Agora vou explicar para o que serve o útero: serve para acomodar e alimentar o feto durante a gravidez. Aumenta dois quilos no processo.
Mulheres que já tiveram filhos costumam dizer que sentem uma sensação agradável no útero quando estão fazendo amor, principalmente quando o pênis vai fundo mesmo, o que não é pra qualquer pênis.
Isso se deve ao fato do útero escorregar durante as perfumarias preliminares à phoda propriamente dita, o que resulta numa contração repetida dos músculos durante o pré-orgasmo e o próprio.
As leitoras que por uma razão ou outra tiveram que remover o útero não devem se preocupar, pois as sensações sexuais continuam inalteradas.
Há ainda o caso do coronel da guarda nacional, Útero Epaminondas Barreto.
Quando ele nasceu no interior da Bahia, a parteira pernóstica disse para sua mãe: “A senhora tem um útero forte”.
O pai, broncão, ouviu e batizou.

O coronel Útero Barreto morreu pensando que tinha o nome de um deus grego. Coisa de baiano.

ABC do Fausto Wolff (Parte 72)


TRANSEXUALISMO – O transexual, em sendo homem, não é um homossexual e, em sendo mulher, não é uma lésbica. Em verdade, é vítima de um erro da natureza. O transsexual pode ser uma mulher que se sente um homem ou um homem que se sente mulher. São mulheres com corpos de homem e homens com corpos de mulher.
A coisa é séria, pois enquanto que o homossexual é um homem normal, exceto pelo fato de preferir ir para a cama com outros homens, e a lésbica é uma mulher normal, exceto pelo fato de preferir ir para a cama com outras mulheres, o transsexual pensa, age e sente como o seu oposto.
A situação é patética: imagine você, leitora que me honra, olhar para outra mulher e sentir vontade de penetrá-la, casar e ter filhos com ela. É exatamente assim que se sente uma transsexual com corpo de mulher.
João Nery, carioca, já foi Joana Nery (pseudônimos), professora de psicologia que, porém, jamais se sentiu uma mulher. Quando ia para a cama com outras mulheres, detestava se tratada por elas como lésbica. Queria ser tratada como homem.
A propósito de sua operação, que a transformou em João fisicamente, ela escreveu um belo livro João ou Joana?, que infelizmente não recebeu da nossa crítica e nem do poder judiciário a menor atenção. Joana, que hoje é João, mora clandestinamente e com documentos falsos no Rio de Janeiro.
Muitos transsexuais – homens e mulheres – vivem esta condição por toda a vida por pressões sociais ou econômicas.
Outros, principalmente depois da segunda metade deste século, sofrem uma alteração completa através de cirurgia e tratamento hormonal.
Os homens amputam o pênis e os testículos, que são substituídos pelos médicos por uma vagina artificial e uma vulva.
Graças ao hormônio feminino, os pêlos do rosto, das pernas e do peito desaparecem e os seios e ancas aumentam de tamanho.
Uma pequena intervenção na laringe, finalmente, faz com que a voz se torne mais aguda.
As mulheres têm seu clitóris alongado. Com ajuda de uma matéria plástica ele se torna um pênis artificial.
Os seios, ovários, tubos de falópio e o útero são removidos e a vagina fechada.
A barba e os pêlos nas pernas e no peito surgem com injeções de hormônio masculino e, finalmente, uma operação da laringe torna a voz mais grave. Coisa para macho mesmo!
Depois da operação, os transsexuais apelam na justiça para o reconhecimento do novo sexo e muitos chegam a casar. Menos no Brasil, é claro, onde o transsexualismo não é legalmente reconhecido.

TRAVESTI – Trata-se do homem que tem prazer sexual principalmente quando se veste de mulher. Existem mulheres que eventualmente gostam de usar trajes masculinos, mas são poucas e, de qualquer modo, se forem bonitinhas, ficam ainda mais femininas.
Tive um caso com uma tenente das forças da ONU, no Líbano, que não podia ser mais feminina, principalmente sem as botinhas e a farda. Seios grandes que se mantinham eretos, desafiando a lei da gravidade. Mas tergiverso.
Mais de 98% dos travestis são homossexuais. Há aqueles que se vestem permanentemente de mulher e outros – bancários, políticos, funcionários de multinacionais, publicitários – que o fazem ocasionalmente, durante o carnaval, ocasião em que não perdem a oportunidade de palmear qualquer coisa que lembre remotamente uma banana.
O Brasil é conhecido no mundo inteiro pelo número de travestis, sendo que os dois mais famosos são Astolfo (Rogéria) e Roberto (Roberta Close). Esta última, embora seja um homem, é considerada por muitos a mulher mais bonita do país.
Ao contrário dos transsexuais, os travestis não se consideram mulheres. Apenas gostam de se sentir mulheres, vestindo seus trajes.
Há casos de travestis que não são absolutamente homossexuais, como, por exemplo, Knud Hansen, um dos melhores professores de matemática da Dinamarca. Foi o filósofo Jurij Moskvitin que me levou à sua casa.
Ele nos recebeu vestido de mulher ao lado da esposa e dos filhos. Como o cara não desmunhecasse, depois de algum tempo, acabei esquecendo que ele estava de minissaia e comecei a discutir lógica binária a sério.
Um sinónimo para travestismo é eonismo, em homenagem a Charles D’Éon, que está devidamente verbetado na letra E.
Em literatura, principalmente a teatral, o travesti é a paródia de uma obra séria. Por exemplo: o tratamento humorístico que Shakespeare deu a Píramo e Tisbe em Sonho de Uma Noite de Verão.
Outro exemplo, este político: o congresso que votou contra as eleições diretas no Brasil em 1984 era um travesti.
Homens se vestem de mulheres desde os tempos babilônicos. A prática foi condenada pela primeira vez no século VI, pelo bispo Isisdoro, de Sevilha: “Todo ano novo é a mesma coisa: essas criaturas miseráveis se transformam em verdadeiros monstros efeminando suas caras másculas e fazendo gestos femininos, intoxicados pelo vinho”.
Por outro lado, quem usa saia todo o dia, como os cardeais, não pode reclamar das bichas enrustidas que se largam uma vez por ano.

UBERABA – Cidade no Oeste de Minas Gerais, nas Alterosas, a 785 metros acima do nível do mar e banhada pelo rio Uberaba. Suspeito, não? Ganhou status de cidade em 1856 por razões misteriosíssimas e hoje é o centro comercial de importantíssima região bovina. Aliás, as vacas e os bois de Uberaba são a sua principal fonte de renda. Fonte de renda parece título de livro de poesia de Cruz e Souza, não é mesmo? Mas não é só isso. Lá em Uberaba eles cultivam ainda arroz, feijão, laranja, café, cana-de-açúcar e, não contentes, plantam bananeiras.
Todos os anos os uberabenses fazem uma feira de gado na qual vacas, bois e touros andam nus de um lado para o outro e vai gente do Brasil inteiro para ver. Sempre no mês de maio, mês das noivas, como se sabe!!!
A cidade tem ainda grandes fábricas de cimento, de sapatos, sapatinhos e sapatões. Trens e caminhões transportam mercadorias para Belo Horizonte, a capital do estado a 422 quilômetros para o Leste, e para as cidades vizinhas do Estado de São Paulo.
Uberaba, além de ser uma arquidiocese, é ainda sede da região conhecida como Triângulo Mineiro.
O Triângulo Mineiro, como os meus leitores devem saber, já causou muitas mortes, embora os mineiros costumem esconder os seus triângulos do grande público.
Finalmente, os habitantes de Uberaba, sem exceção, e são mais de 300 mil, não escondem o fato de que a cidade é sede do Centro Regional de Pesquisas Sócio-Econômicas para a América Latina.

Vocês sabem que eu sou contra a censura, mas, francamente, tudo tem limites!

ABC do Fausto Wolff (Parte 71)


TOLSTOI, Leon (1828-1910) – Um dos maiores escritores de ficção de todos os tempos – Guerra e Paz, Ana Karenina, Sonata a Kreutzer, etc. –, este russo aristocrata e moralista foi também um dos maiores fudedores da sua época, embora fosse feio, desdentado, fedorento, enfim, parecia um daqueles monstros que fazem figuração nos quadros de Bosch. Se Tchaikovsky, seu contemporâneo, odiava ser homossexual, Tolstoi odiava ser heterossexual.
Peraí, não é isso que vocês estão pensando. Ele começou comendo uma prostituta aos dezesseis anos e chorou muito depois da trepada. Apesar disso, só parou de comer mulheres aos oitenta e dois anos de idade, quando a iguaba passou a não dar mais sinais de vida.
Rico e famoso, se casou aos trinta e quatro anos com Sonya Behrs, com quem teve treze filhos. Considerava-se um canalha por ter um apetite sexual insaciável e chegou a pensar em se suicidar em 1870, quando se tornou cristão e “descobri que a fé em Deus pode dar um sentido à existência do homem e unir as pessoas numa irmandade de justiça e amor universal”.
Seu credo pessoal era o Sermão da Montanha e vivia citando ele para seus camponeses: “Parem de fuder, seus pecadores”.
Passou a usar roupas de camponês, a fazer trabalhos braçais, e chegou a pensar em abrir mão de suas propriedades, que eram muitas, e a passar os direitos de suas obras para o domínio público.
Quando Sonya, sua mulher, que era uma santa e chegou a copiar Guerra e Paz treze vezes, soube das suas intenções, acusou-o de ser homossexual aos oitenta e um anos de idade.
Isso não era verdade. A verdade é que Tolstoi, que era considerado um santo pelos seus inúmeros seguidores, nunca praticou o que advogava: uma vida casta.
Além de comer a mulher, comeu todas as parentas, as admiradoras, as criadas e as camponesas que apareceram na sua frente e teve dezenas de filhos ilegítimos.
Sentia uma culpa terrível e costumava dizer: “Olho a companhia das mulheres como um mal social necessário, mas procuro evitá-las o mais possível”.
Não procurava tanto, pois quando não estava escrevendo, estava fudendo o que quer que usasse saias: fudia e sofria, fudia e chorava, fudia e se penitenciava, fudia e se arrependia, mas não parava de fuder, o sacana.

TOPLESS – À la galega quer dizer “nada em cima”. Bottomless quer dizer “nada em baixo”, mas vocês já viram que quem tirou as calcinhas não vai fazer muito doce para tirar o sutiã. Desde os tempos pré-históricos que, em havendo oportunidade e motivo, a mulher mostra os peitos: Babilônia, Egito, Grécia, Roma, etc.
Só os escondem quando sentem que as chamadas glândulas mamárias, de tão vistas, perdem o interesse.
É, aliás, o que as mocinhas de Ipanema, Leblon e adjacências já deveriam estar pensando.
Às vezes passo pela praia e vejo mulheres boérrimas com os peitos de fora batendo papo com uma porrada de rapazes que parecem não estar absolutamente interessados no topless.
Mulher que vier conversar comigo de topless está me insultando: tiro as calças na hora e então sim podemos conversar.
Aliás, garotinhas ricas da Zona Sul adoram passear de topless na frente dos porteiros. Os paraíbas, que não comem mulheres há anos – só na luta dos cinco contra um –, endoidam!
Em Veneza, na época de Giordano Bruno, um dos maiores humanistas de todos os tempos que não dispensava uma mulherinha, o governo decidiu que as prostitutas deviam andar com os peitos de fora para serem diferenciadas das moças de família.
Em verdade, achavam que com o mulherio meio pelado os rapazes de boa família parariam de dar o rabo. Não pararam.
Quando Nixon decidiu invadir o Camboja, esperou para fazê-lo no dia em que dois babaconautas do Apolo (não sei se 11, 12 ou 13) se perderam no espaço. Enquanto o mundo rezava para que eles encontrassem o caminho de casa, as tropas americanas desembarcavam no Camboja sem que ninguém desse importância.
No Brasil, sempre que há uma crise caracu, onde o governo entra com a crise e o povão com o cu, aparecem umas maluquinhas de topless na praia, o que faz com que as senhoras marchadeiras se escandalizem e os jornalões coniventes com o governo editorializem pedindo o fim da falta de vergonha.
Hoje em dia o topless no Brasil é lugar-comum. Logo, logo, porém, pintará o bottomless e já estou imaginando as grã-finas em frente ao Country, grandes lábios ao sol: – Você está divina, amor! Quem foi o gênio que tingiu os teus pentelhos de azul-turquesa?

TRÁFICO de Escravas Brancas – Não sei se com a presença da AIDS fantasiada de morte, que fez a sua aparição nada sutil no baile da vida há alguns anos, a coisa recrudesceu. De qualquer forma, o tráfico de mulheres existe desde tempos imemoriais.
Nos últimos trezentos anos os patrocinadores deste esporte foram os milhares de sheiks espalhados pela África do Norte e parte da Ásia. Mandavam seus correios para a Europa, onde eram escolhidas as “esposas”. Claro que se tratava de putaria, mas muito bem paga.
As moças escolhidas assinavam um contrato, geralmente de seis meses, para fazerem parte do harém do sheik. Se o potentado árabe gostasse da moça, o contrato era renovado. Caso contrário, ela voltava para casa cheia de dólares e se casava em Paris, Londres, Copenhague, onde quer que morasse, enfim.
O verdadeiro tráfico, a cafiolagem, exploração do lenocínio, porém, nunca tem um final tão feliz.
De um modo geral, os cafiolas se instalam num bom hotel em qualquer lugar do mundo, sob as mais diversas capas. As mais comuns são: empresários de dançarinas e cantoras ou agentes matrimoniais.
As moças, de um modo geral, ingênuas e pobres, acreditam que há um marido esperando por elas na Suíça, na Alemanha, na Inglaterra, ou que será bailarina de algum grupo de danças sempre num país remoto.
Ao chegarem ao país remoto, sem falar a língua e sem dinheiro, se tornam rapidamente dependentes de drogas e são postas na rua rodando a bolsinha. Dificilmente conseguem escapar da difícil vida fácil.
Há, entretanto, casos de sujeitos burgueses europeus de classe média que realmente querem casar com moças bolivianas, colombianas, cariocas.
Gordinhos, feios, carecas, encheram o saco com as exigências das mulheres europeias economicamente independentes, politizadas e feministas.
Mandam buscar, portanto, através de um agente, depois de troca de correspondência e fotos, alguma moça pobre de um país subdesenvolvido.
Casam com ela que, em verdade, fica sendo uma espécie de escrava do filho da puta, uma vez que não conhece a língua do país, não tem dinheiro para comprar a passagem de volta. O cara a mantém simplesmente como uma prostituta particular.
Conheci um dinamarquês que, cansado de ser corneado por suas inúmeras amantes, se casou com uma semiprostituta do Piauí e a levou para Copenhague. Lá ela não aprendeu o dinamarquês e rapidamente esqueceu o mau português.
Fala com o marido uma língua mista que só eles entendem. Depende dele para tudo, mas vive confortavelmente e come três vezes por dia.
Na França, até 1975, mais de 30% dos estúdios de dança eram antros de cafiolagem.
Em dezembro de 1949, a assembleia das Nações Unidas adotou a Convenção para a supressão do tráfico de pessoas e da exploração de prostitutas, que penaliza qualquer um que lucre com paixões alheias. Eis os dois artigos da lei:
1) É passível de pena de prisão todo aquele que incentivar ou organizar, com o propósito de prostituição, viagens de outras pessoas, mesmo com o consentimento delas;
2) E passível de pena de prisão todo aquele que explorar a prostituição, mesmo com o consentimento da prostituta.

Vocês acham que a lei pegou? Claro que não. Pegou só na Dinamarca, mas, para tanto, o próprio Estado se tornou gigolô. As prostitutas são classificadas como assistentes sociais, têm assistência médica gratuita e obrigatória de quinze em quinze dias e pagam imposto de renda.

terça-feira, 17 de março de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 70)


TESTÍCULOS – Eu bem que preferiria passar com meus testículos por cima deste verbete. Seria, porém, muita sacanagem omitir os responsáveis por todas as sacanagens do mundo. É isso mesmo, pois nem as moças que pisam duro poderiam praticar a chamada luta aranhal se um dia não houvessem habitado os testículos de alguém.
Gláuber Rocha, meu amigo e vizinho da rua Francisco Otaviano, costumava dizer que testículos era aquilo que o Leão de Veneza não tinha. Por isso mesmo o talentoso e sofrido cineasta berrou um dia, depois de um festival de cinema, na Piazza San Marco: “Leone senza coglioni”.
Mas vamos a eles, e espero que os baitolas não se excitem e que as donzelas mantenham as saias abaixo dos joelhos.
Os testículos (ou tésticulos, como prefere o deputado Albérico Pinheiro, do Maranhão) são partes do órgão sexual masculino. Duas bolas em forma de ovo, com 4 centímetros de comprimento por 4 de circunferência.
Enquanto o nego ainda está no bem-bom do útero da mamãe, os testículos descansam em paz dentro do abdômen.
Um pouco antes ou um pouco depois do bebê ser despejado pro lado de fora, os testículos descem para o saco ou para o escroto, nome pelo qual também são conhecidos muitos jornalistas entregadores de rapadura.
Quer dizer: nem todos descem. Dizem que o escritor Phillip Roth, autor de O Complexo de Portnoy, está procurando um ovo até hoje, pois, meio cegão, ele teria subido em vez de descer.
Alguns homens nascem com um testículo só, como, há quem diga, aconteceu com Hitler. Se com um só ele fudeu tanta gente, imaginem com dois! Se você for um deles, ou seja, se só tiver um bago, não comece a Terceira Guerra Mundial.
Até hoje ninguém deixou de jantar grandes mulheres e ter os filhos que quisesse por falta de uma bola. Já, se você tiver três, procure um médico, que o negócio é sério.
Mais do que servirem para levar muito chute em briga de rua, os testículos também servem para produzir o hormônio masculino chamado testoterona. E para produzir esperma, porra!
Até os doze, treze, quatorze anos, eles só servem mesmo para levar porrada, pois não produzem nada. A partir daí, porém, trabalham mais que todas as outras partes do corpo reunidas.
Cada testículo produz diariamente uma média de 25 milhões de espermatozóides. Lembre-se disso antes de dar um tiro no seu marido, minha senhora!
Se você ainda não produzir esperma e alguém quiser cortar os seus testículos, esperneie, meu filho, pois você corre o risco de nunca mais ter uma ereção. Se você já for adolescente, ou seja, tiver entrado na puberdade, esperneie também, embora o caso não seja tão grave.
Os alemães, “muito bonzinhos”, durante a Segunda Guerra Mundial, e os americanos, durante a guerra do Vietnam, desenvolveram uma bomba imoral de efeito moral: uma bomba capadora. Nego pisava nela e ela explodia no meio das pernas levando o escroto, os testículos e, às vezes, até um pedaço do cheio de varizes.
Negócio seguinte: metade dos mutilados eunucou e a outra metade, sem que os médicos possam dar uma explicação, continuou a funcionar normalmente, sem poder ter filhos, é óbvio.
Para os meus leitores capados não ficarem tristes, uma boa notícia: pesquisas levadas a efeito nos Estados Unidos asseguram que um homem sem os testículos vive mais que os testiculados porque está mais imune a qualquer tipo de infecção.
O que os médicos não explicam é por que um sujeito sem testículos quer continuar vivendo.
Uma exceção foi o personagem de Hemingway em O Sol Também se Levanta, vivido por Tyrone Power, que não tinha brincos, mas brincava com os brincos alheios.

TEODORA (500-547) – Trepava muito. Mas muito mesmo. E de todos os jeitos. Além disso, foi imperatriz de Bizâncio e há historiadores que juram ter sido ela a personalidade política mais importante do que hoje é a Turquia.
Pouco se sabia de sua vida antes dela começar a imperar, mas Procópio de Cesaréia a dedou em sua História Secreta. Segundo ele, Teodora era a mais jovem das três filhas de um domador de ursos que se apresentavam em circos mambembes. Ele domava os ursos e as filhas os espectadores.
Com quinze anos, Teodora já era conhecida por sua tesão. Procópio fala de um jantar durante o qual ela teria satisfeito os dez convidados homens, para espanto das respectivas mulheres. Depois dos dez pedirem arrego, ela partiu para cima dos trinta criados e não deixou um de pé.
Imprimia um espírito de missão ao esporte de dar o molho de sua chávena para brioches dos mais variados tipos e tamanhos.
Uma das suas especialidades era deitar no chão e pedir que espalhassem grãos de cevada em volta do seu clitóris. Em seguida, gansos treinados tiravam um por um dos grãos com seus bicos. Os orgasmos vinham em ondas como a vida. Ou como o mar?
Esta nem as minhas leitorinhas mais safadas conheciam, hein? Mas treinem os gansos antes de espalharem os grãos senão eles se afogam. Parágrafo.
Excursionou por Leste e Oeste por mais de dois anos sempre dando generosamente. Voltou para Bizâncio e ficou rica em pouco tempo. Claro, pô! Foi lá que ela conheceu o jovem Constantino, então herdeiro do trono, e deu-lhe o popular noxó (também conhecido como nó de xota), que já causou mortes, guerras, revoluções, suicídios e muito prazer.
Noxó dado, ele primeiro deu exclusividade a ela e um ano depois se casaram, apesar da lei que proibia o casamento entre nobres e putas. Imediatamente ela deixou de ser puta para se transformar numa puta imperatriz. Era uma espécie de primeiro-ministro do marido.
Seu primeiro ato foi juntar o mulherio que trabalhava no ramo da entrega e colocá-las num convento. Lá estas realizaram o primeiro torneio oficial de luta aranhal.
Constantino a consultava sobre legislação imperial e seu nome é mencionado em quase todas as leis do período.
Em 532, o povo se revoltou contra o governo e os ministros aconselharam Constantino a tirar o time. Teodora, porém, mandou-o ficar e resistir. Resultado: Belisário, o general, enfrentou os amotinados à frente dos seus soldados e fez picadinho deles.
Por outro lado (e aí o outro lado cabe mesmo), ela é lembrada por quem lê a Enciclopédia Britânica (de onde é que vocês acham que eu apanho essas informações sinuosas, solertes, melífluas e fugidias?) como uma das primeiras regentes a defender o direito das mulheres, a proibir o tráfico de escravas brancas ou pretas e a criar leis de divórcio que protegessem o sexo frágil.
Quando passei por Ravena, vindo de Bolonha, em direção a Verona, em companhia da minha mulher, na época uma grega morena de imensos olhos castanhos, chamei a atenção dela para o belo retrato em mosaico da imperatriz na igreja de San Vitale. Ela levou um susto: Teodora era a cara dela.
Depois que Teodora morreu, Constantino não fez mais nada que merecesse registro.

TIBÉRIUS Cláudio Nero César Augusto (42 a.C.-34 d.C.) – Imperador romano, tremendo estadista, guerreiro forte e corajoso, consolidou a instituição do principado e, segundo os cronistas da época, foi um dos maiores filhos da puta que o mundo já conheceu.
Era enteado de Augusto, aquele que botou no popô de Marco Antônio, quando ele decidiu se engraçar por Cleópatra. Os historiadores o consideravam um filho da puta metaforicamente, embora ele o fosse literalmente.
Era filho de Tibério Nero e de Lívia, mulher inteligente e grande putona que, ao ver que o bom mesmo era Augusto, se divorciou do marido para casar com ele.
Embora vivesse agarrado na saia da mãe, Tiberinho não dispensava uma boa briga e seu padrasto vivia mandando-o para lugares longínquos a fim de ver se ele morria, pois seus sucessores naturais seriam os filhos de Agripa.
Morrer, porém, não estava nos planos de Tibério, que não só recolocou Tigranes, fiel a Roma, no trono da Armênia, como governou a Galícia e venceu a guerra dos Alpes na Germânia, Dalmácia e Panônia.
Augusto deve ter pensado: “Este filho da puta é bom mesmo”. Tanto pensou que, graças às tramóias de Lívia, o convenceu a se divorciar da sua mulher e a casar com sua filha Júlia, outra grande putona.
Apesar disso, não devia confiar muito no genro, pois o mandou para a ilha de Rodes, onde passou alguns anos.
Augusto, depois da morte conveniente dos filhos de Agripa, fez de Tibério o herdeiro dos seus bens pessoais.
Quando Augusto morreu, o gigantesco Tibério era tão poderoso que o Senado rogou para que ele aceitasse ser imperador.
Foi um bom imperador – segundo suas palavras, tosquiava mas não esfolava suas ovelhas – e acumulou um tesouro de milhões de sestércios que seus sucessores, os viadinhos sanguinários Calígula e Nero, acabariam dissipando.
No ano 27 d.C, o homem que nunca tomou conhecimento de Cristo, embora ele tenha sido crucificado enquanto ele estava no poder, declarou: “Ganhei todas as guerras para Roma, consolidei o império que nunca esteve tão rico e agora vou me retirar para Capri para fazer o que realmente gosto”.
O machão gostava de tomar na bunda. Em Capri, mandou construir uma enorme piscina onde nadavam meninos entre cinco e quinze anos, treinados para lhes lamber os velhos testículos.

Apesar de afastado de Roma e da mania de introduzir estranhos objetos no anel de couro, Tibério governou o império com mão de ferro até o dia da sua morte.

ABC do Fausto Wolff (Parte 69)


TCHAIKOVSKY, Piotr Ilyich (1840-1893) – Compositor gênio, forte, bonito, simpático e viado. Sofreu muito porque não gostava de gostar de homens. Lutou contra o que ele chamava de “Z” em sua correspondência com o irmão Modest, também viado, durante toda a sua vida. 
Tinha horror que alguém descobrisse o seu homossexualismo e, realmente, apenas dois dos seus casos se tornaram conhecidos: o que teve como seu aluno chamado Vladimir, e outro com um seu sobrinho, também chamado Vladimir, a quem dedicou a sua Sexta Sinfonia, que Havelock Ellis, o que gostava de ser mijado, classificou de uma tragédia homossexual. 
Porra, ninguém compõe o Lago dos Cisnes impunemente.
Mas o Piotr sofria principalmente porque, sendo ele um cara elegante, refinado, bonito, que insistia em esconder sua condição homossexual, vivia sendo perseguido pelo mulherio.
Aos vinte e oito anos disse a Désirée Artot, famosa cantora francesa de ópera, que estava perdidamente apaixonado por ela.
Namorou-a durante mais de dois anos, ocasião em que ela, cansada de esperar pela vara do compositor russo, se casou com um barítono espanhol, anônimo porém eficaz.
Durante alguns anos foi perseguido por Antonina Ivanova Miliykova, ninfomaníaca e burrinha. Por mais que Tchaikovsky lhe dissesse: “Não dá, minha filha, eu tenho «Z»”, ela não desistia.
Um dia perguntou-lhe: “Mas, afinal, o que é este «Z» que impede o nosso casamento?” E ele: “Não conta para ninguém, mas meu negócio é homem”. E ela: “Não faz mal, ninguém é perfeito. Se você não se casar comigo, eu me mato”.
Ele acreditou, casou com ela, que passava as noites pelada dentro de casa para ver se ele tomava alguma decisão. Não tomou. Ao contrário, se meteu dentro do rio Moscou na esperança de pegar uma pneumonia. Pegou, mas não morreu.
Depois de algum tempo, Antonina percebeu que daquela braguilha não saía birro e se conformou. Deu pacas para compensar o tempo perdido, teve vários filhos e morreu num hospício em 1917.
Sua maior fã, porém, foi Nadezhda Filaretovna von Meck, uma milionária excêntrica que gostava tanto de música que empregava compositores como serviçais altamente pagos. Debussy foi um deles.
Durante quatorze anos Nadezhda se correspondeu com Tchaikovsky, mandando-lhe sempre vultosas somas em dinheiro. Nunca se viram e olhem que, na Itália, chegaram a morar a menos de um quilômetro um do outro. Ela provavelmente sabia do fator “Z”.
Em 1893, cansado de lutar contra o “Z”, Tchaikovsky bebeu um litro de água não fervida durante uma epidemia de cólera e morreu. Era um grande compositor e um grande ingênuo, pois, aparentemente, morreu pensando que ninguém sabia...

TEATRO – Na peça de Millôr Fernandes, O Homem do Princípio ao Fim, em determinado momento um ator pergunta: “Você não acha que as nossas atrizes estão cada vez mais masculinas?”. Ao que a atriz responde: “Alguém tinha que ser”.
Quando eu escrevia crítica teatral, muitas vezes me perguntaram: “Por que tem tanto viado no teatro?”
Confesso que não sei. Talvez não sejam tantos. Talvez apenas se façam notar mais.
Há alguns anos, porém, fui ver uma produção shakesperiana com mais de vinte atores e apenas três atrizes. No palco só três não eram homossexuais: uma ator e duas atrizes.
Quem sabe isso se deve ao fato de que, desde a Grécia de Sócrates – que também gostava de um monjolo – até praticamente o princípio do século XVIII, o palco era território exclusivamente masculino e os papéis femininos eram desempenhados por homens?
A primeira produção inglesa da qual participou uma mulher foi Otelo, de Shakespeare, em outubro de 1660, em Londres. Foi um escândalo!
Durante séculos a bicharia manteve as mulheres afastadas dos palcos e ainda hoje, sempre que podem e a peça permita, não hesitam dois minutos para vestir uma blusa e uma sainha.

TENTAÇÕES – Eu, por exemplo, estou tentado a parar de escrever este livro, mas como o meu senhorio está ainda mais tentado a me dar um pé na bunda caso eu atrase o aluguel da minha casa, o jeito é resistir.
Sexualmente, todo mundo é tentado vez por outra, desde os tempos trogloditais. Os mais tentados, entretanto, sempre foram os santos que, coitadinhos, mortificavam a carne, abriam lanhaços nela, rolavam sobre espinhos, só para não comerem uma mulherinha.
É claro, e a história registra milhares de casos, que a grande maioria não resistiu às tentações, mas conseguiu ser santificada assim mesmo.
A tentação mais conhecida é a de Santo Antônio, cantada em prosa, verso, pincel e tinta.
Antônio, que viveu no século III, era tentado por mulheres dia e noite.
À noite, principalmente, recebia a visita de um diabo vestido de mulher que se metia na sua cama e trepava com ele, imaginem, contra a sua vontade.
Uma noite, ao descobrir o diabo na cama, olhou para o outro lado do quarto e viu o seu discípulo, Santo Hilário, dormindo calmamente, rodeado por cinco diabos em forma de mulher, completamente nus.

O diabo mesmo é que até hoje tem gente que acredita nessas histórias.

ABC do Fausto Wolff (Parte 68)


SUTIÃ – Nome de origem francesa para o porta-seios. Entra e sai de moda desde os últimos 3 mil anos. Teria sido inventado na China por Yang Kwei Fei, concubina do imperador Hsuan Tsung, no século VIII, para esconder as marcas das mordidas deixadas por amantes extra-oficiais. Antes disso, em épocas diversas, as mulheres usavam um pedaço de pano para cobrir os seios.
Em verdade, o sutiã, como o conhecemos hoje, apareceu para aliviar um pouco as mulheres que tinham que carregar peitos muito pesados.
Com a sofisticação da publicidade, foram transformados em peça erótica, o que sempre me chateou muito, uma vez que havia certos modelos difíceis de serem tirados em lugares públicos, como no cinema, por exemplo.
Durante os anos 50, quando a publicidade era muito censurada nos Estados Unidos, os fabricantes de sutiãs encontraram uma forma de burlá-la.
Em jornais, revistas e na televisão, aparecia uma jovem de saia e sutiã, andando pelas ruas com o olhar vago de uma sonâmbula. O título que se tornou extremamente popular era: “Eu sonhei que parei o tráfego usando o meu sutiã”.
Durante os anos 60, com o advento da pílula, o sutiã caiu de moda e as feministas chegaram a queimá-lo em praça pública.
No fim dos anos 80, porém, ele voltou com força total.
No Brasil, uma agência de publicidade anunciou os sutiãs Valisère para as mocinhas recém-adolescentes que, afinal de contas, são as que menos precisam deles. Os sutiãs venderam mais do que nunca, pois a propaganda associava o seu uso com a transformação da menina em mocinha.

SUPERSTIÇÕES – Todo mundo tem. É a crença irracional de que alguma coisa (número, pessoa, objeto, cor, dia, gesto) pode dar sorte ou azar. Eu, por exemplo, acho que dá azar sair de uma mesa e deixar o copo pela metade.
As superstições viajam dentro da tradição nascida em tempos pré-científicos e podem ser de origem pessoal, religiosa e cultural.
Tem gente que acha que será absolvida de seus pecados caso beba o sangue e coma a carne de Cristo, através do vinho e da hóstia.
Outros acreditam que levarão vantagem em tudo se encherem os pulmões de fumaça aspirada através de tubinhos brancos de papel recheados de fumo, alcatrão e nicotina.
Judeus e árabes crêem que dá azar comer carne de porco e os porcos não comem carne de judeu ou árabe, pelo mesmo motivo.
A superstição de banqueiros, políticos e empresários brasileiros se resume em evitar a honestidade para manter o poder e o dinheiro.
Algumas superstições sexuais: Aristóteles achava que se o homem amarrasse o testículo esquerdo durante o ato sexual teria somente filhas mulheres e vice-versa.
Outra superstição considerada infalível: se você tiver 1 milhão de dólares comerá as mulheres que quiser.
Um pontapé bem dado nos culhões é simpatia certa para evitar filhos durante algum tempo.
Dá azar se encontrar com um batalhão da Polícia Militar em dia de greve: quem encontra está fudido.
Dormir numa cela cheia de prisioneiros com o rosto voltado contra a parede faz mal para o rabo.
Manter relações sexuais com lagostas e alimentar-se exclusivamente do clitóris das próprias faz emagrecer.

SURUBA, Karlheinz von (1927- ) – Mulato sarará, vendedor de laranjas em Macaé, Estado do Rio de Janeiro. Corcunda, cego dum olho, perneta e babão, jamais foi convidado para uma suruba, embora tenha lido o Ulysses, de Joyce, traduzido por Antonio Houaiss.

TABU – Algo que é proibido e considerado tão perturbador a ponto de não se falar sobre ele. Os tabus diferem de sociedade para sociedade, de tempos em tempos. Algumas sacanagens, como cunnilingus e felacio já não são mais tabus em quase todas as partes do mundo. O incesto continua tabu, embora nas favelas miseráveis e entre a elite ele continue sendo praticado, principalmente depois da pílula anticoncepcional, com mais ou menos discrição.
Quando Édipo, personagem de Sófocles, descobriu que a mulher com quem casara e tivera filhos era sua mãe, compreendeu que havia violado um tabu e arrancou os olhos. Quero dizer: compreendeu que havia cometido um ato indigno aos olhos dos deuses e dos homens, pois nunca ouvira falar em tabu, que é uma palavra de origem polinésia.
Violar um tabu, enfim, deveria ser cometer um ato tão infame que tornaria impossível a vida de quem o cometeu.
Eu disse deveria, porque no Brasil de 1964, até poucos anos atrás, a palavra democracia era considerada tabu e quem a defendesse poderia ser preso, morto e torturado.
Para a classe dominante brasileira, um bando de vagabundos sustentados por 120 milhões de mortos de fome, tabu, quando não é nome de perfume, é nome de sub-herói de filme de selva passado em Hollywood nos anos 40.
Dizem, entretanto, que no Méier, alguns anos atrás, havia um viadinho cujo apelido era Tabu, que vivia sendo violado sem que ninguém se incomodasse. Muito menos ele.

TAO – Em chinês quer dizer “caminho” ou “estrada”. Conceito fundamental da filosofia chinesa que se perde no tempo e que significa o caminho correto ou a estrada para o céu. Segundo Confúcio se trata de uma filosofia ética, subordinada portanto ao comportamento humano, cuja meta é a perfeição moral.
Como todo conceito traz dentro de si o seu contrário, existe há milênios outra escola taoística que toma rumos metafísicos que transcendem o humano.
O clássico taoísta, que data do século III a.C, começa com a seguinte frase: “O Tao absoluto é indefinível, mas, eventualmente, a linguagem pode fazer sugestões que conduzam a uma compreensão mística e intuitiva da realidade invisível”.
Um aspecto do Tao que pode ser percebido pelo homem é o processo visível da permanente mudança da natureza.
Através da observação das manifestações visíveis do Tao absoluto, é possível intuir a existência do substrato que é a essência de todas as coisas. Perceber este processo pode, então, levar à compreensão do Tao absoluto. Uma viagem alucinatória sem auxílio de drogas, se entendi bem.
O mais provável, porém, é que ninguém entenda porra nenhuma de Tao algum. Os taoístas que limitam a filosofia ao comportamento humano acreditam que uma boa saúde está ligada ao ato sexual.
Basicamente, a coisa se resume na conservação do esperma e na completa satisfação da mulher, que produzem a harmonia do Yin (essência feminina) e do Yang (essência masculina).
Eis alguns conselhos taoístas para trepar a vida inteira, manter a saúde e não ter filhos indesejados:
1) Aos vinte, o homem deve ejacular de quatro em quatro dias, aos cinquenta, de vinte em vinte dias, aos setenta, uma vez por mês. Trepar, entretanto, sempre que tiver vontade. Para evitar a ejaculação:
a) não ficar excitado demais; quando isso ocorrer, manter apenas um centímetro de pau dentro da mulher e ficar quietinho até que a calma retorne;
b) começar introduzindo o pau três vezes devagar e uma com força, depois seis vezes devagar e uma com força, nove vezes devagar e uma com força e assim por diante;
c) passar com a mulher o maior tempo possível, tratando-a sempre como um ser humano;
d) evitar o felacio, que pode levar à ejaculação mas abusar do cunnilinguns, para obter a preciosa essência Yin da mulher;
e) fazer amor poeticamente, usando todos os sentidos.
2) Para prevenir a ejaculação o homem deve espirrar. Para espirrar deve beliscar-se na região entre o cu e o saco.
3) Num ritmo calmo, é possível introduzir o pau mais de mil vezes sem gozar.
Jolan Chang, que hoje (1988) está com setenta e dois anos e mora em Estocolmo, é um chinês taoísta. Trepa três vezes pela manhã, depois anda 60 quilômetros de bicicleta para trepar mais duas ou três vezes à noite. No momento, ele está na fase de ejacular uma vez por mês.
Seu conselho: “Se depois da ejaculação, não importa a idade que tiver, você se sentir bem, é porque está no bom caminho e viverá muitos anos. Se se sentir mal, pare e veja se está seguindo o Tao à risca”.
Aos interessados, sugiro a leitura de Os Segredos da Alcova de Jade, que data do ano 206 a. C.

Lembre-se, porém, do número de mulheres que estará perdendo enquanto procura este raríssimo livro.