PEIXE
– Tirésias – que não tem nada a ver com o peixe – não
passava de um cidadão tebano dos mais comuns. Um dia, porém,
decidiu matar um casal de serpentes. Pra que que o idiota foi fazer
uma coisa dessas? Imediatamente os deuses o transformaram em mulher.
Algum tempo depois Zeus e Hera, para trocarem de tédio (os imortais
se chateiam pacas) começaram a discutir quem gozava mais na hora de
trepar, o homem ou a mulher.
Como
não chegassem a conclusão alguma, mandaram chamar Tirésias, que na
ocasião era mulher mas já havia sido homem, e lhe perguntaram:
“Como é que é, Tira, você gozava mais quando era homem ou agora
que é mulher?”
E
ela: “Mulher goza muito mais”.
Hera,
que era de opinião contrária, cegou-o na hora. Zeus, talvez por
achar que ceguinha ela não arranjaria nem mesmo pro café, a
transformou novamente em homem e lhe deu o dom da profecia.
Depois
disso ele ficou célebre e fez figuração em várias tragédias,
como em Édipo-Rei de Sófocles e nas Bacantes, de
Eurípedes.
E
o peixe? Pois é: tem um peixinho que leva uma vida muito melhor que
os outros, pois ninguém o aporrinha. Deveria chamar-se Tirésias,
mas chama-se “Limpador”.
É
que o sacana tem o hábito de comer parasitas que se grudam no corpo
dos peixes maiores. Como precisam dele para limpá-los, os peixões
não o comem.
O
limpador anda em bandos: um macho, que é o líder, e várias fêmeas.
Quando
o macho morre, a fêmea principal muda de sexo e toma o seu lugar até
morrer e ser substituída por outra que também vira macho.
Caso
único de hermafroditismo (que funciona) no reino animal. Fim da aula
dedicada às feministas.
PELOTAS
– Cidade do sudeste do Rio Grande do Sul à margem esquerda do rio
São Gonçalo, que liga a Lagoa Mirim à Lagoa dos Patos. Foi fundada
em 1780 com o nome de São Francisco de Paula e rebatizada como
Pelotas em 1830, quando virou cidade. Por que Pelotas, que em
espanhol quer dizer culhões (“No me rompas las pelotas”),
eu não sei.
Hoje
é a terceira cidade do estado em população (maiores só Porto
Alegre e Esteio), o principal porto para transporte de gado, além de
ser o maior produtor de charque do Brasil.
Dizem,
mas não provam, que é a cidade brasileira que tem o maior número
de viados por metro quadrado.
Sacanagem,
pois nos últimos dezoito anos, o município dobrou a população,
que deve andar por volta dos 300 mil.
A
fama do pelotense jogar água fora da bacia é antiga e se deve à
rivalidade entre porto-alegrenses e pelotenses.
Esses,
mais ricos, mandavam seus filhos estudar na Europa. Voltavam
sofisticadíssimos, ocasião em que eram chamados de bundinhas. De
bundinhas a darem as bundinhas foi um passo.
Como
não sou de botar a mão no fogo por ninguém, repasso a história
que me foi contada por um pelotense.
Disse-me
ele que a Câmara de Vereadores da cidade, cansada da fama, resolveu
reagir.
Depois
de muito discutirem, decidiram chamar o Nhonhonho, um pelotense dono
de uma mangueira de mais de 50 centímetros que, por incrível que
pareça, endurecia.
Deram-lhe
um dinheiro e mandaram-no (comecei na ordem indireta e assim irei até
o fim) passear pelo Brasil.
Já
no mijador da rodoviária de Porto Alegre, o armanho do Nhonhonho fez
o maior sucesso.
Os
caras se aproximavam e perguntavam pro dono da vará:
–
De onde és, tchê!
E
ele, abotoando a braguilha, muito orgulhoso:
–
De Pelotas, com muita honra.
Em
São Paulo já havia quase recuperado a reputação da cidade natal.
Ao
chegar no mijador da Central do Brasil, no Rio, e tirar a mangueira
(era tão grande que o sacana tinha que mijar em diagonal) pra fora,
aproximou-se um carioca e disse:
–
Pelo tamanho da peça, já vi que você é pelotense.
–
Como foi que adivinhaste?, perguntou o Nhonhonho.
E
o carioca, implacável:
–
Pra aguentar uma vara dessas, só as bichas de Pelotas.
PÊNIS,
Astrolábio da Silva (1901-1964) – Contínuo da Caixa
Econômica Federal e chefe do clã dos Pênis, família originária
da Bahia. Em verdade, tudo começou no século XVII, quando aportou
por lá um grumete holandês chamado Leopold van der Penits que com o
correr dos tempos teve o “t” cortado e virou Pênis.
Durante
anos os descendentes de Leopold van der Penits, que voltou para a
Holanda onde morreu sem saber a confa que havia armado, tentaram se
livrar do sobrenome.
Finalmente,
o velho Astrolábio da Silva Pênis conseguiu mudá-lo.
Hoje
seus filhos, filhas e netos ostentam orgulhosamente o sobrenome
Trolha.
Se
vocês duvidam, perguntem pro Tenório Prepúcio Rocha, que vende
ouro na Rua da Alfândega, no Rio, que não me deixa mentir.
O
que é que vocês queriam, porra? Que eu explicasse o que é pênis?
Quem tem sabe e quem não tem, mais dia menos dia acabará sabendo.
PENTELHOS
– Trata-se de um ramo da família Pênis, mas, também, intimamente
ligado à família Xota. Durante séculos acreditou-se que a simples
exposição dos pentelhos (também conhecidos entre os membros da
Academia Brasileira de Letras como “pêlos púbicos”) numa
revista qualquer poderia ser o primeiro passo para a Terceira Guerra
Mundial e o Apocalipse. Tanto isso é verdade que durante décadas a
revista Playboy raspava os pentelhos das suas modelos.
Em
abril de 1970, porém, Bob Guccione, editor da revista Penthouse,
resolveu correr o risco e publicou a foto de uma moça com pentelhos.
Como se sabe, o mundo não acabou e árabes e judeus continuaram a se
matar como se nada tivesse acontecido.
Os
pentelhos aparecem em homens e mulheres entre onze e treze anos. Há
casos de mulheres, perfeitamente normais, onde eles só fazem sua
aparição por volta dos dezoito anos.
Walter
Frank (que não verbeteio porque mentiu demais) diz em seu livro, My
Secret Life: “Conheci uma irlandesa que tinha pentelhos ruivos
que chegavam até o umbigo na parte da frente e até o começo da
espinha dorsal na parte de trás”.
Mas
como eu já disse, o cara chutava exageradamente.
Verdade
mesmo é que quando Flores da Cunha foi interventor no Rio Grande do
Sul, em 1930, um grupo de mães foi até o Palácio Piratini se
queixar de que os meninos mais velhos estavam molestando os meninos e
meninas mais moços que tomavam banho pelados todas as tardes na
praia de Belas, atrás do Palácio. Sentenciou o interventor:
–
De hoje em diante só pode tomar banho pelado o guri ou a guria que
não tiver pentelhos.
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