terça-feira, 17 de março de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 70)


TESTÍCULOS – Eu bem que preferiria passar com meus testículos por cima deste verbete. Seria, porém, muita sacanagem omitir os responsáveis por todas as sacanagens do mundo. É isso mesmo, pois nem as moças que pisam duro poderiam praticar a chamada luta aranhal se um dia não houvessem habitado os testículos de alguém.
Gláuber Rocha, meu amigo e vizinho da rua Francisco Otaviano, costumava dizer que testículos era aquilo que o Leão de Veneza não tinha. Por isso mesmo o talentoso e sofrido cineasta berrou um dia, depois de um festival de cinema, na Piazza San Marco: “Leone senza coglioni”.
Mas vamos a eles, e espero que os baitolas não se excitem e que as donzelas mantenham as saias abaixo dos joelhos.
Os testículos (ou tésticulos, como prefere o deputado Albérico Pinheiro, do Maranhão) são partes do órgão sexual masculino. Duas bolas em forma de ovo, com 4 centímetros de comprimento por 4 de circunferência.
Enquanto o nego ainda está no bem-bom do útero da mamãe, os testículos descansam em paz dentro do abdômen.
Um pouco antes ou um pouco depois do bebê ser despejado pro lado de fora, os testículos descem para o saco ou para o escroto, nome pelo qual também são conhecidos muitos jornalistas entregadores de rapadura.
Quer dizer: nem todos descem. Dizem que o escritor Phillip Roth, autor de O Complexo de Portnoy, está procurando um ovo até hoje, pois, meio cegão, ele teria subido em vez de descer.
Alguns homens nascem com um testículo só, como, há quem diga, aconteceu com Hitler. Se com um só ele fudeu tanta gente, imaginem com dois! Se você for um deles, ou seja, se só tiver um bago, não comece a Terceira Guerra Mundial.
Até hoje ninguém deixou de jantar grandes mulheres e ter os filhos que quisesse por falta de uma bola. Já, se você tiver três, procure um médico, que o negócio é sério.
Mais do que servirem para levar muito chute em briga de rua, os testículos também servem para produzir o hormônio masculino chamado testoterona. E para produzir esperma, porra!
Até os doze, treze, quatorze anos, eles só servem mesmo para levar porrada, pois não produzem nada. A partir daí, porém, trabalham mais que todas as outras partes do corpo reunidas.
Cada testículo produz diariamente uma média de 25 milhões de espermatozóides. Lembre-se disso antes de dar um tiro no seu marido, minha senhora!
Se você ainda não produzir esperma e alguém quiser cortar os seus testículos, esperneie, meu filho, pois você corre o risco de nunca mais ter uma ereção. Se você já for adolescente, ou seja, tiver entrado na puberdade, esperneie também, embora o caso não seja tão grave.
Os alemães, “muito bonzinhos”, durante a Segunda Guerra Mundial, e os americanos, durante a guerra do Vietnam, desenvolveram uma bomba imoral de efeito moral: uma bomba capadora. Nego pisava nela e ela explodia no meio das pernas levando o escroto, os testículos e, às vezes, até um pedaço do cheio de varizes.
Negócio seguinte: metade dos mutilados eunucou e a outra metade, sem que os médicos possam dar uma explicação, continuou a funcionar normalmente, sem poder ter filhos, é óbvio.
Para os meus leitores capados não ficarem tristes, uma boa notícia: pesquisas levadas a efeito nos Estados Unidos asseguram que um homem sem os testículos vive mais que os testiculados porque está mais imune a qualquer tipo de infecção.
O que os médicos não explicam é por que um sujeito sem testículos quer continuar vivendo.
Uma exceção foi o personagem de Hemingway em O Sol Também se Levanta, vivido por Tyrone Power, que não tinha brincos, mas brincava com os brincos alheios.

TEODORA (500-547) – Trepava muito. Mas muito mesmo. E de todos os jeitos. Além disso, foi imperatriz de Bizâncio e há historiadores que juram ter sido ela a personalidade política mais importante do que hoje é a Turquia.
Pouco se sabia de sua vida antes dela começar a imperar, mas Procópio de Cesaréia a dedou em sua História Secreta. Segundo ele, Teodora era a mais jovem das três filhas de um domador de ursos que se apresentavam em circos mambembes. Ele domava os ursos e as filhas os espectadores.
Com quinze anos, Teodora já era conhecida por sua tesão. Procópio fala de um jantar durante o qual ela teria satisfeito os dez convidados homens, para espanto das respectivas mulheres. Depois dos dez pedirem arrego, ela partiu para cima dos trinta criados e não deixou um de pé.
Imprimia um espírito de missão ao esporte de dar o molho de sua chávena para brioches dos mais variados tipos e tamanhos.
Uma das suas especialidades era deitar no chão e pedir que espalhassem grãos de cevada em volta do seu clitóris. Em seguida, gansos treinados tiravam um por um dos grãos com seus bicos. Os orgasmos vinham em ondas como a vida. Ou como o mar?
Esta nem as minhas leitorinhas mais safadas conheciam, hein? Mas treinem os gansos antes de espalharem os grãos senão eles se afogam. Parágrafo.
Excursionou por Leste e Oeste por mais de dois anos sempre dando generosamente. Voltou para Bizâncio e ficou rica em pouco tempo. Claro, pô! Foi lá que ela conheceu o jovem Constantino, então herdeiro do trono, e deu-lhe o popular noxó (também conhecido como nó de xota), que já causou mortes, guerras, revoluções, suicídios e muito prazer.
Noxó dado, ele primeiro deu exclusividade a ela e um ano depois se casaram, apesar da lei que proibia o casamento entre nobres e putas. Imediatamente ela deixou de ser puta para se transformar numa puta imperatriz. Era uma espécie de primeiro-ministro do marido.
Seu primeiro ato foi juntar o mulherio que trabalhava no ramo da entrega e colocá-las num convento. Lá estas realizaram o primeiro torneio oficial de luta aranhal.
Constantino a consultava sobre legislação imperial e seu nome é mencionado em quase todas as leis do período.
Em 532, o povo se revoltou contra o governo e os ministros aconselharam Constantino a tirar o time. Teodora, porém, mandou-o ficar e resistir. Resultado: Belisário, o general, enfrentou os amotinados à frente dos seus soldados e fez picadinho deles.
Por outro lado (e aí o outro lado cabe mesmo), ela é lembrada por quem lê a Enciclopédia Britânica (de onde é que vocês acham que eu apanho essas informações sinuosas, solertes, melífluas e fugidias?) como uma das primeiras regentes a defender o direito das mulheres, a proibir o tráfico de escravas brancas ou pretas e a criar leis de divórcio que protegessem o sexo frágil.
Quando passei por Ravena, vindo de Bolonha, em direção a Verona, em companhia da minha mulher, na época uma grega morena de imensos olhos castanhos, chamei a atenção dela para o belo retrato em mosaico da imperatriz na igreja de San Vitale. Ela levou um susto: Teodora era a cara dela.
Depois que Teodora morreu, Constantino não fez mais nada que merecesse registro.

TIBÉRIUS Cláudio Nero César Augusto (42 a.C.-34 d.C.) – Imperador romano, tremendo estadista, guerreiro forte e corajoso, consolidou a instituição do principado e, segundo os cronistas da época, foi um dos maiores filhos da puta que o mundo já conheceu.
Era enteado de Augusto, aquele que botou no popô de Marco Antônio, quando ele decidiu se engraçar por Cleópatra. Os historiadores o consideravam um filho da puta metaforicamente, embora ele o fosse literalmente.
Era filho de Tibério Nero e de Lívia, mulher inteligente e grande putona que, ao ver que o bom mesmo era Augusto, se divorciou do marido para casar com ele.
Embora vivesse agarrado na saia da mãe, Tiberinho não dispensava uma boa briga e seu padrasto vivia mandando-o para lugares longínquos a fim de ver se ele morria, pois seus sucessores naturais seriam os filhos de Agripa.
Morrer, porém, não estava nos planos de Tibério, que não só recolocou Tigranes, fiel a Roma, no trono da Armênia, como governou a Galícia e venceu a guerra dos Alpes na Germânia, Dalmácia e Panônia.
Augusto deve ter pensado: “Este filho da puta é bom mesmo”. Tanto pensou que, graças às tramóias de Lívia, o convenceu a se divorciar da sua mulher e a casar com sua filha Júlia, outra grande putona.
Apesar disso, não devia confiar muito no genro, pois o mandou para a ilha de Rodes, onde passou alguns anos.
Augusto, depois da morte conveniente dos filhos de Agripa, fez de Tibério o herdeiro dos seus bens pessoais.
Quando Augusto morreu, o gigantesco Tibério era tão poderoso que o Senado rogou para que ele aceitasse ser imperador.
Foi um bom imperador – segundo suas palavras, tosquiava mas não esfolava suas ovelhas – e acumulou um tesouro de milhões de sestércios que seus sucessores, os viadinhos sanguinários Calígula e Nero, acabariam dissipando.
No ano 27 d.C, o homem que nunca tomou conhecimento de Cristo, embora ele tenha sido crucificado enquanto ele estava no poder, declarou: “Ganhei todas as guerras para Roma, consolidei o império que nunca esteve tão rico e agora vou me retirar para Capri para fazer o que realmente gosto”.
O machão gostava de tomar na bunda. Em Capri, mandou construir uma enorme piscina onde nadavam meninos entre cinco e quinze anos, treinados para lhes lamber os velhos testículos.

Apesar de afastado de Roma e da mania de introduzir estranhos objetos no anel de couro, Tibério governou o império com mão de ferro até o dia da sua morte.

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