REICH,
Wilhelm (1897-1957) – Dizem que era maluco. Se eu o
tivesse conhecido, pagaria para ver. (Só agora que notei que comecei
este verbete com o verbo dizer, o que é perigoso, pois lembra a
minha ficha no SNI: “Dizem que é comunista. Atua num telejornal
onde, através de comentários jocosos, faz críticas à civilização
ocidental.”)
Acontece
que este psiquiatra alemão foi tão sacaneado por todos os tipos de
poderes que, certamente, não poderia ser má pessoa. Talvez tenha
morrido maluco, mas isso acontecerá com todos nós que nos
confrontarmos diariamente com a nossa ignorância.
Já
por volta de 1930 disse para Freud: “Você é muito freudiano”.
Depois
de lutar como soldado na Primeira Guerra Mundial, abriu uma clínica,
onde tentou ajudar trabalhadores que achavam que estavam trabalhando
demais e recebendo muito pouco e por isso eram considerados loucos.
Foi neste período – 1924-1930 – que entrou para o partido
comunista.
Para
provar que não era tão visionário assim, quando Hitler subiu ao
poder se mandou para a Dinamarca, onde publicou Die
Massenpsychologie des Faschismus (A Psicologia de Massa do
Fascismo), denunciando o comunismo como outra forma de fascismo.
Levou
pau de Freud, de Hitler e, finalmente, de Stalin. Tudo antes dos
trinta e três anos. Nem Cristo conseguiu tantos milagres.
Em
1934, deu um jeito de ser expulso da Associação Psicanalítica
Internacional, principalmente por causa do seu livro A Análise
do Caráter.
Depois
de ser posto para fora da Dinamarca e da Suécia, arranjou um emprego
na Universidade de Oslo, mas, em 1937, começou a ser atacado pela
imprensa norueguesa, razão pela qual fez as malas em 1939 e se
mandou para New York, onde abriu uma clínica psiquiátrica e deu
aulas na New York School for Social Research até 1941.
Freud
(como a Xuxa, todo mundo conhece, mas poucos conhecem intimamente)
achava que atrás das neuroses havia a repressão sexual e mais: que
a personalidade de um homem é determinada pelas suas características
sexuais. Reich, porém, ia além.
Ele
achava que a energia sexual reprimida era venenosa e destrutiva. No
seu livro A Função do Orgasmo, de 1942, ele diz: “É
preciso gozar sem inibições; descarregar toda a excitação sexual
através de agradáveis e involuntárias contrações dos músculos
do corpo. Um orgasmo inadequado deixa um surplus de energia no
corpo que pode causar doenças”.
Enfim,
ele acreditava que, na hora do orgasmo, homens e mulheres deveriam se
abandonar totalmente sem inibições com todos os músculos do corpo.
Vai daí que, enquanto isso não fosse resolvido fisicamente, era
besteira insistir em longas e caras sessões de análise.
Era
contra a repressão sexual que os adultos impõem aos mais jovens e
da luta contra a autoridade dentro da família passou à luta contra
qualquer tipo de autoridade. Não é à-toa, portanto, que a garotada
dos anos 60 viu nele o seu guru.
Pensava
mais ou menos assim: se as coisas que têm que acontecer não
acontecem no momento certo e não são liberadas, elas crescem como
um câncer dentro do ser humano.
No
princípio ele achava que esta energia não acumulada existia apenas
em homens e mulheres. Com o tempo, porém, passou a acreditar que
esta energia não liberada era universal e pré-atômica.
Batizou-a
de orgone, uma mistura de orgasmo com organismo. Ela seria a
força prisioneira que existe em qualquer matéria do universo e
seria até mesmo responsável por fenómenos paranormais como os
discos voadores.
Quando
declarou, finalmente, que o orgone era Deus, foi considerado
definitivamente esquizofrênico.
Em
1945, ele deixou New York e se isolou no Estado de Mayne, um pouco
acima. Lá escreveu que a energia do orgone se irradia do corpo
humano – uma espécie de energia psíquica –, mas apenas quando o
corpo é saudável. Quando a energia está bloqueada, provoca câncer
e outras doenças como sagitário, capricórnio e gêmeos.
Para
corrigir isto, ele construiu umas caixas de metal e madeira. O
paciente era colocado dentro delas e recebia a superabundância de
energia de orgone existente no cosmo. Vendeu muitas dessas caixas,
garantindo que elas curavam o câncer. E na época surgiram centenas
de pessoas declarando-se curadas.
Em
1956, já tendo abandonado a psiquiatria há algum tempo, foi
condenado a dois anos de prisão pela venda dos acumuladores de
orgone. Morreu de um ataque de coração um dia antes de ser posto em
liberdade.
Durante
todo o tempo em que esteve nos Estados Unidos foi perseguido pela
polícia, pelo FBI, pela Food and Drug Administration e,
principalmente, pelos seus colegas, que insistiam que ele era louco.
Queimaram os seus livros e destruíram os seus orgones, o último
deles em 1957.
Dele
disse o Dr. Nic Waal, um dos poucos que não o perseguiram: “Ele
estava em pedaços. Em parte por sua culpa, mas principalmente por
causa dos outros. Ninguém pode suportar tanta crueldade e solidão
sem se quebrar interiormente”.
Pessoalmente,
creio que aconteceu com Reich o que aconteceu com os psicanalistas
que tentaram usar o LSD como um acelerador do processo terapêutico.
Foram desacreditados e impedidos de trabalhar.
Reich
era um espírito anárquico que provavelmente descobriu antes do
tempo a vacina contra o câncer. Ia tirar dinheiro do bolso de muitos
laboratórios e acabar com a fraude dos psicanalistas, que se resume
em anestesiar a consciência da burguesia.
Einstein
acreditava nele, mas, mesmo assim, ninguém ousou prosseguir suas
pesquisas.
REINO
Animal – O protozoário paramectum amelia pode
ser unicelular mas em compensação tem oito sexos. Não me perguntem
como funcionam.
Algumas
espécies de cobras na Índia lutam – macho e fêmea – durante
horas até que ela dê o sinal de submissão, deitando a cabeça no
solo. É o momento do macho introduzir seus dois pênis. A trepada
pode durar de dois minutos a dois dias.
Kinsey
garante que observou casos de homossexualismo entre macacos,
cachorros, búfalos, bois, ratos, porcos-espinhos, antílopes,
cavalos, burros, elefantes, hienas, camundongos e morcegos.
A
bactéria unicelular trinchonynpha, que vive dentro dos
intestinos do cupim, é completamente bissexual. O que determina quem
desempenhará o papel do macho ou da fêmea é o número de manchas
no corpo. Quem tiver mais manchas será a fêmea. Como as manchas
aumentam e diminuem de número constantemente, o mesmo acontece com o
sexo.
A
fêmea do cavalo-marinho (égua-marinha?) tem uma espécie de pau que
costuma introduzir numa abertura do saco abdominal do macho. Lá ela
deposita os ovos fertilizados, que se desenvolvem dentro do abdômem
do marido até a hora dele dar à luz.
O
pulgo faz, com a piroquinha, um buraco nas costas da fêmea, onde
ejacula. O esperma entra na corrente sanguínea até atingir os
ovários, onde os embriões se desenvolvem até o nascimento, ocasião
em que começam a morder o nosso saco.
O
maior pau da terra e o do elefante, que tem cerca de metro e meio, um
birrinho, comparado com o maior pau do mar, que é o do baleio, com
mais de 3 metros.
Quando
vocês virem dois escorpiões dançando, não se enganem. Não se
trata de dança, mas de foda. Na hora de procriar o escorpião macho
agarra a fêmea com suas pinças e em seguida ejacula no chão. A
dança é para ter certeza de que os órgãos reprodutivos da fêmea
entrarão em contato com o esperma.
Os
paus de muitos insetos têm protuberâncias para evitar que saiam de
dentro da fêmea, uma vez introduzidos. Se você separar dois insetos
que estão trepando, poderá capar o macho e causar graves ferimentos
à fêmea.
Ninguém
sabe por que, mas a verdade é que a peça do touro, depois da
trepada, ganha a forma de um saca-rolhas, o que impede que ele dê a
segunda.
Um
verme chamado platielmíntio tem o pau localizado na boca. Serve para
reproduzir e para caçar vermezinhos menores, dos quais se alimenta.
O
clitóris da fêmea do macaco-aranha é maior que o pênis do macho:
4 centímetros.
Agora,
quem gosta de trepar mesmo é a chimpanzé. Quando está no cio, pode
ser comida vinte vezes por dia. Aliás, de todos os primatas, o
chimpanzé é o que mais curte. Além do ato em si, pratica
masturbação e cunnilingus.
Os
culhões de um elefante adulto pesam cerca de 2 quilos.
Amor
entre rinocerontes é engraçadíssimo. Eles brigam durante cerca de
duas horas. E não é briguinha boba. Imaginem que se chocam a uma
velocidade de 30 quilômetros por hora. Tanto a fêmea quanto o macho
às vezes pesam mais de 2 toneladas cada um. Se o macho perde a
briga, nada feito. Se ganha, a fêmea se submete, ocasião em que é
comida por trás durante cerca de duas horas. O macho, segundo
voyeurs zoologistas, ejacula de dez em dez minutos.
A
lampreia só tem um culhão.
Desinteressadíssima
por sexo é a girafa fêmea. Enquanto machos rivais brigam por sua
posse, ela se limita a olhar entediada. Quando pinta o vencedor, ela
dá uma mijada que ele, imediatamente, cheira, para ver se ela está
no cio. Mesmo estando no cio, às vezes ela se chateia, interrompe a
trepada no meio e vai passear.
Sem
problemas freudianos, a grande maioria dos mamíferos, apenas
colocados em contato com a fêmea, tem eração imediata. Menos de
cinco segundos entre a total flacidez e uma ereção vítrea.
Entre
castores, é a fêmea quem provoca. Depois de encontrar o cara que
lhe agrada, ela expele uma substância amarelada chamada castoreum,
de uma glândula localizada entre o ânus e a vagina. Sentindo o
cheiro, o castor entende que ela está a fim e se aproxima. Trepam
nadando lado a lado e a união geralmente é para toda a vida.
Cetáceos,
de um modo geral, são chegados a uma suruba. É muito comum baleias
dançarem um baião de três: dois machos e uma fêmea. Há quem diga
que o segundo macho serve apenas para ajudar o parceiro a colocar sua
piroca colossal na não menos colossal xota da fêmea.
E
os leões-marinhos que são voyeurs? Se excitam vendo os mais
velhos treparem. Desconfio, porém, que esta afirmação não tenha
base científica. O que ocorre, provavelmente, é que os mais moços
vêem os mais velhos trepando, se excitam e partem para as fêmeas,
ocasião em que levam uma surra dos veteranos. É que os
leões-marinhos têm haréns e só quando são derrotados pela nova
geração é que passam o mulherio adiante.
Os
polvos fodem de frente, pelo menos esta é a impressão. Em verdade o
que acontece é que o macho ejacula sobre um dos seus tentáculos e
em seguida introduz, com a ajuda dele, o esperma dentro da vagina da
fêmea. Em verdade os órgãos reprodutores não chegam a se tocar.
Imaginem
um homem e uma mulher frente a frente fazendo sinais afirmativos e
negativos com a cabeça, silenciosa e lentamente, durante algumas
horas. De repente, sem ninguém compreender por que, o homem passa a
chupar os pés da mulher bem devagar. Depois de algumas horas deste
exercício, ele come a mulher por trás e a morde na nuca para não
cair. Pois é assim que as tartarugas trepam.
A
jacaré fêmea passa três semanas sem comer antes de ser comida
metaforicamente pelo jacaré macho. Tudo isso para uma fodinha muito
barulhenta que não dura mais de três minutos. Só perdem para os
pinguins, que fodem uma vez por ano por não mais de dois minutos.
E
os zangões, que depois de fertilizarem as rainhas são expulsos para
morrerem de fome fora da colmeia?
Temo
que dentro de alguns séculos ninguém acreditará no que escrevi
sobre a vida sexual dos animais, pois, com a capacidade de destruir
do homo sapiens (rar! rir! riri!), até lá existirão apenas
vacas, galinhas e cães. E pensar que uma ameba — como criatura —
é muito mais perfeita que o homem, pois vive inteiramente o seu
potencial, enquanto que nós, provavelmente, nos destruiremos em
plena pré-história do que poderíamos vir a ser.
RESTIF
De La Bretonne, Nicolás Edmé (1734-1806) – Escritor de
histórias de sacanagens, conhecido por seu apetite singular.
Desconfio um pouco desse seu apetite, porque escreveu um livro
autobiográfico chamado Monsieur Nicolás. Se o seu apetite
fosse mesmo fora do comum, ele não teria tempo de escrever uma obra
de dezesseis volumes e comer as mulheres do tempo de Luís XVI,
Robespierre, Danton, Marat e as mais jovens dos primeiros anos do
império de Napoleão.
Diz
Havelock Ellis – que como se sabe, se casou com uma representante
da Sapataria Polar e gostava de ser mijado –, que Monsieur
Nicolás é um precioso documento de psicologia erótica e usou
muitos elementos do livro em seu A Psicologia do Sexo.
Como
vocês vêem, nesta vida nada se cria, tudo se plagia, inclusive este
meu ABC. Mais ou menos como o pecado original, que, no dizer de
Millôr Fernandes, de original só tem o estilo de cada um.
É
claro que para não ser processado por nenhum idiota que passou a
vida inteira medindo o clitóris das pulgas, eu uso o meu famoso
molho Wolfenbuttel, o preferido das donas-de-casa da Tijuca e
adjacências.
Mas,
voltando ao Nicolás Edmé. Ao contrário do Frank Harris ou do
Casanova, que foi seu contemporâneo (o Casa, não o Francisco), ele
era um detalhista. Sua descrição de uma mulher se masturbando:
“Depois de passar o dedo médio no clitóris durante uns quinze
minutos, abrindo e fechando as pernas o tempo todo, ela parou
subitamente. Ficou imóvel como se sentisse dor por uns dois minutos
e depois começou a sorrir.”
Diz
Nicolás que começou a vida sexual aos quatro anos brincando com
suas amiguinhas e amiguinhos. Aos onze teve sua primeira relação
sexual completa e desde então não teria parado mais. Por sua cama
teriam passado empregadas domésticas, camponesas, prostitutas e
damas da aristocracia.
Precisava
ter muito apetite mesmo, pois na época não haviam inventado ainda o
desodorante, o mulherio tomava banho uma vez por mês e usava peruca
para esconder os piolhos. Pela rainha Maria Antonieta, que só tinha
três dentes, vocês podem bem imaginar o resto.
Vocês
já viram que as moças que o rapaz apanhava não deviam ser lá
essas coisas e acabou acontecendo com ele o que costuma acontecer
nesses casos (principalmente quase cem anos antes do nascimento de
Alexander Flemming e da penicilina): apanhou uma gonorréia de gancho
e pelo resto de sua vida não conseguiu mijar direito.
O
negócio de Nicolás era trepar e trepar com mulheres. Não fora por
dois pequenos detalhes confessados em seu livro, era um cara
razoavelmente normal se é que alguém consegue definir o que é
normalidade a esta altura do terceiro tempo – num lugar chamado
Brasil.
Em
primeiro lugar, tinha fantasias incestuosas e gostava de imaginar que
a moça que estava jantando, eventuamente era sua filha. Explicava
essa mania dizendo que, afinal de contas, tivera tantas filhas
ilegítimas que era natural que, cedo ou tarde, uma delas aparecesse
na sua cama.
Em
segundo lugar, era meio fetichista e na sua novela Le Pied de
Franchette (não pensem que fanchette quer dizer fanchona
anã) expicou a coisa: “Eu gosto de limpeza e os sapatos e os pés
são difíceis de se manterem limpos. Por isso, quando encontro uma
mulher de pés limpos, calçando um par de sapatos limpos, tenho que
trepar com ela”.
De
qualquer modo, nunca substituiu a mulher por sapatos, como um
conhecido meu que se diz fetichista só porque tem a mania de levar
sapatões para a cama.
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