terça-feira, 17 de março de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 69)


TCHAIKOVSKY, Piotr Ilyich (1840-1893) – Compositor gênio, forte, bonito, simpático e viado. Sofreu muito porque não gostava de gostar de homens. Lutou contra o que ele chamava de “Z” em sua correspondência com o irmão Modest, também viado, durante toda a sua vida. 
Tinha horror que alguém descobrisse o seu homossexualismo e, realmente, apenas dois dos seus casos se tornaram conhecidos: o que teve como seu aluno chamado Vladimir, e outro com um seu sobrinho, também chamado Vladimir, a quem dedicou a sua Sexta Sinfonia, que Havelock Ellis, o que gostava de ser mijado, classificou de uma tragédia homossexual. 
Porra, ninguém compõe o Lago dos Cisnes impunemente.
Mas o Piotr sofria principalmente porque, sendo ele um cara elegante, refinado, bonito, que insistia em esconder sua condição homossexual, vivia sendo perseguido pelo mulherio.
Aos vinte e oito anos disse a Désirée Artot, famosa cantora francesa de ópera, que estava perdidamente apaixonado por ela.
Namorou-a durante mais de dois anos, ocasião em que ela, cansada de esperar pela vara do compositor russo, se casou com um barítono espanhol, anônimo porém eficaz.
Durante alguns anos foi perseguido por Antonina Ivanova Miliykova, ninfomaníaca e burrinha. Por mais que Tchaikovsky lhe dissesse: “Não dá, minha filha, eu tenho «Z»”, ela não desistia.
Um dia perguntou-lhe: “Mas, afinal, o que é este «Z» que impede o nosso casamento?” E ele: “Não conta para ninguém, mas meu negócio é homem”. E ela: “Não faz mal, ninguém é perfeito. Se você não se casar comigo, eu me mato”.
Ele acreditou, casou com ela, que passava as noites pelada dentro de casa para ver se ele tomava alguma decisão. Não tomou. Ao contrário, se meteu dentro do rio Moscou na esperança de pegar uma pneumonia. Pegou, mas não morreu.
Depois de algum tempo, Antonina percebeu que daquela braguilha não saía birro e se conformou. Deu pacas para compensar o tempo perdido, teve vários filhos e morreu num hospício em 1917.
Sua maior fã, porém, foi Nadezhda Filaretovna von Meck, uma milionária excêntrica que gostava tanto de música que empregava compositores como serviçais altamente pagos. Debussy foi um deles.
Durante quatorze anos Nadezhda se correspondeu com Tchaikovsky, mandando-lhe sempre vultosas somas em dinheiro. Nunca se viram e olhem que, na Itália, chegaram a morar a menos de um quilômetro um do outro. Ela provavelmente sabia do fator “Z”.
Em 1893, cansado de lutar contra o “Z”, Tchaikovsky bebeu um litro de água não fervida durante uma epidemia de cólera e morreu. Era um grande compositor e um grande ingênuo, pois, aparentemente, morreu pensando que ninguém sabia...

TEATRO – Na peça de Millôr Fernandes, O Homem do Princípio ao Fim, em determinado momento um ator pergunta: “Você não acha que as nossas atrizes estão cada vez mais masculinas?”. Ao que a atriz responde: “Alguém tinha que ser”.
Quando eu escrevia crítica teatral, muitas vezes me perguntaram: “Por que tem tanto viado no teatro?”
Confesso que não sei. Talvez não sejam tantos. Talvez apenas se façam notar mais.
Há alguns anos, porém, fui ver uma produção shakesperiana com mais de vinte atores e apenas três atrizes. No palco só três não eram homossexuais: uma ator e duas atrizes.
Quem sabe isso se deve ao fato de que, desde a Grécia de Sócrates – que também gostava de um monjolo – até praticamente o princípio do século XVIII, o palco era território exclusivamente masculino e os papéis femininos eram desempenhados por homens?
A primeira produção inglesa da qual participou uma mulher foi Otelo, de Shakespeare, em outubro de 1660, em Londres. Foi um escândalo!
Durante séculos a bicharia manteve as mulheres afastadas dos palcos e ainda hoje, sempre que podem e a peça permita, não hesitam dois minutos para vestir uma blusa e uma sainha.

TENTAÇÕES – Eu, por exemplo, estou tentado a parar de escrever este livro, mas como o meu senhorio está ainda mais tentado a me dar um pé na bunda caso eu atrase o aluguel da minha casa, o jeito é resistir.
Sexualmente, todo mundo é tentado vez por outra, desde os tempos trogloditais. Os mais tentados, entretanto, sempre foram os santos que, coitadinhos, mortificavam a carne, abriam lanhaços nela, rolavam sobre espinhos, só para não comerem uma mulherinha.
É claro, e a história registra milhares de casos, que a grande maioria não resistiu às tentações, mas conseguiu ser santificada assim mesmo.
A tentação mais conhecida é a de Santo Antônio, cantada em prosa, verso, pincel e tinta.
Antônio, que viveu no século III, era tentado por mulheres dia e noite.
À noite, principalmente, recebia a visita de um diabo vestido de mulher que se metia na sua cama e trepava com ele, imaginem, contra a sua vontade.
Uma noite, ao descobrir o diabo na cama, olhou para o outro lado do quarto e viu o seu discípulo, Santo Hilário, dormindo calmamente, rodeado por cinco diabos em forma de mulher, completamente nus.

O diabo mesmo é que até hoje tem gente que acredita nessas histórias.

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