terça-feira, 3 de março de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 59)


POMPADOUR, Jeanne-Antoinette Poisson, Marquesa de (1721 – 1764) Carinha bonitinha, peitos durinhos, olhos inocentes, cabelos penteados para o alto (o penteado depois recebeu o seu nome), era, entretanto, da pá virada. Entenderam? Ela virava a pá pra frente, pra trás, pros lados, etc.
Filha de burgueses ricos, foi educada para casar com um ricaço, evidentemente. Casou e logo começou a brilhar entre o society parisiense da época.
Aliás, foi numa festinha em Versalhes que Luís XV, que até há pouco tempo era marca de cigaros da Souza Cruz com e sem filtro, virou-se para um dos seus inúmeros aspones e declarou: “Quero comer aquela moreninha hoje à noite”. E comeu.
Levou de cara uma chave de buceta que nunca mais largou a senhora que se fosse viva hoje estaria decorando nossas colunas sociais ao lado dos vagabundos do Hipopotamus e outros antros de perdição.
Luís, que não era de perder tempo, chamou o marido e disse: “Rapaz, esta mulher não é pro teu bico burguês. Toma esta grana, te divorcia e te arranca”.
Ele se arrancou e reclamou tão pouco que até hoje ninguém sabe o seu nome. Já Jeanne foi promovida a marquesa.
Em 1645, com o consentimento da rainha, ela se instalou no palácio. Quando ficou mais velha, Luís conseguiu se desvencilhar da chave, mas não dela.
De amante passou a provedora. Com a grana do rei andava de carruagem por toda a França procurando moças proprietárias de belas chávenas onde sua majestade pudesse molhar seu brioche.
O rei se encontrava com suas ocasionais amantes num castelo perto de Paris e fingia ser um nobre polonês. Apenas uma jovem descobriu que o brioche aristocrata polonês era, em verdade, real e francês. Foi imediatamente internada num hospício.
Mas façamos justiça a Jeanne-Antoinette: como algumas senhoras da nossa melhor sociedade, não era só de putaria que ela manjava.
Foi matrona das artes e incentivou a construção de muitos projetos, entre eles o Trianon e a Place de La Concorde. Sem ela talvez a Enciclopédia nem tivesse sido publicada.
Nada a ver, naturalmente, com a mulher do falecido presidente Pompidou, hoje Centro Cultural.

PLATÔNICO, Amor – Que se trata de uma tara, todo muno sabe. Mas qual tara? A única jovem que sabia (Maria Joaquina Patonho Lornhão, natural do Minho) se suicidou após matar o marido (Manoel Benevides Lornhão) sem revelar o segredo.
Segundo sua mãe, naquela noite de 1920, após a cerimônia religiosa, sua filha aproximou-se e confidenciou:
– Estou nervosa, mamãe. O Manoel acaba de me dizer que é adepto do amor platônico.
Ao que a respeitável matrona respondeu:
– Este eu não conheço, minha filha. De qualquer modo, faz uns gargarejos com água mineral, lava bem teus tesouros da frente e de trás e seja lá o que Deus quiser.
Por outro lado (este aí mesmo, minha senhora), alguns adivinhões insistem que se trata de amor e afeição profundos entre duas pessoas sem envolvimento sexual. Vocês acreditam?
Platão (428-347 a.C), popular escrivão oficial das aulas que Sócrates dava nas saunas gregas, seria chegado a este tipo de amor.
Não acredito que um homem sério como Platão, que costumava dizer que não havia lugar para um homem de caráter entre políticos, pudesse defender uma bobagem dessas.
Por outro lado (não, não este aí, aquele ali entre o Arnaldo Nisquier e o Guilherme Merchior), o homem foi o fundador da Academia.

PORNOGRAFIA – Como acontece com a estética, o conceito de pornografia é extremamente subjetivo. No mundo ocidental concordou-se nas últimas décadas que pornografia seria a representação do comportamento erótico em livros, fotografias, filmes, peças de teatro, publicados e exibidos com o propósito de causar excitação sexual.
Situação altamente discutível na qual não há quem não tenha se encontrado uma ou outra vez na vida.
Lembram do moço que só conseguia gozar tendo entre ele e a mulher um pinheirinho de Natal todo decorado? O pinheiro de Natal seria pornográfico?
Ora, se o sexo é a mola que move a humanidade, como pretendia Freud corretamente, então a excitação é a mola que move o sexo.
Já a obscenidade, convencionou-se que é tudo que ofende outra convenção, ou seja, a moral pública.
É aquela velha história: a foto de um homem e uma mulher ou de um homem e duas mulheres ou de uma verdadeira ba canal, cujo propósito único é causar excitação sexual, é pornográfica?
E a propaganda televisiva de uma jovem seminua com uma enorme mangueira encostada no rostinho, cantando as vantagens de determinada marca de gasolina, não é mais pornográfica?
Mais pornográfica ainda não é a foto de uma senhora da nossa sociedade publicada na primeira página de O Globo, dizendo que o melhor drinque para o verão é vinho do porto, ao lado de uma manchete informando que quem ganhar mais de dois salários-mínimos (menos de 60 dólares) pagará imposto de renda? Isso num país onde vivem mais de 70 milhões de pessoas em estado de miséria absoluta!
Depois que acabaram com as leis calhordas contra a pornografia (a honesta, a que é só pornográfica), ela diminuiu.
Outro dia fui a um cinema em Botafogo, no Rio, ver um filme de sacanagem e ele estava às moscas. Moscas, aliás, pouco exigentes, pois o filme era uma bosta.
No cinema ao lado exibiam um filme de terror com baldes de sangue e ele estava lotado.

Infelizmente, o que é realmente obsceno parece não chocar os nossos moralistas. Caso contrário, não teríamos milhões de crianças abandonadas dormindo sob as marquises de todas as cidades do país. Oitava economia do mundo no bolso de umas oito famílias!

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