RUBIROSA,
Porfírio (1909-1965) – Este foi o Nataniel Jebão que
deu certo. Não que fosse um mau-caráter. Simplesmente, nunca soube
o que significava a palavra. Tinha as pernas tortas, era baixo,
moreno e possuía um nariz levemente achatado. Nasceu no cu do mundo,
na República Dominicana, filho de um funcionário do Ministério do
Exterior. Apesar disso, foi, provavelmente, o maior gigolô deste
século, comeu as mulheres que quis, nunca trabalhou e morreu
milionário. Contra ele, tinha tudo, e, a seu favor, duas coisas:
sabia explorar a burrice das mulheres e era dono de um pau que
obedecia ao comando e, duro, chegava a 28 centímetros.
Como
não fazia porra nenhuma na sua casa, seu pai decidiu levá-lo a
Paris, onde adquiriu algumas firulas de sofisticação entre os
vagabundos ricos do society local.
Todos
os convites para festas, coquetéis e jantares que pintavam na
embaixada passavam por sua mão.
Escolhia
as melhores bocas-livres, punha o seu único smoking e ia para a
festa.
Voltou
para a República Dominicana falando inglês com sotaque francês e
jogando pólo.
Numa
festinha onde conseguiu se introduzir, namorou a filha do ditador,
Flor de Oro Trujillo.
Claro,
em quem mais ele pousaria as asas numa terra de mortos de fome como a
República Dominicana, senão nela? Ele sabia que qualquer mulher –
a mais feia do mundo – acreditará em qualquer galanteio.
Dois
dias depois havia comido a maluquete de dezessete anos que informou
ao pai sua intenção de casar com Porfírio.
O
velho Rafael, mariscal benefactor, em princípio pensou em
mandar castrar o sacana, mas, graças às súplicas da filha, acabou
concordando com o casamento. Decretou feriado nacional e para não se
aporrinhar com o genro, o despachou para a embaixada em Berlim.
Na
Alemanha comeu quem quis e se tornou amigo de cronistas sociais e
todo o pessoal do jet set. Cansada de ser corneada, Flor de
Oro começou a botar cornos em Porfírio que, porém, elegantemente,
não reclamou. Era um sujeito fino.
Os
dois se separaram, mas o velho ditador, em vez de castrar o ex-genro,
o manteve na carreira: “É um filho da puta, um mentiroso e o
sujeito mais preguiçoso do mundo, mas graças a ele a República
Dominicana aparece na imprensa internacional”.
É
claro que Porfírio, durante os cinco anos que viveu com Flor de Oro,
se encarregou de passar muito do dinheiro dela para os seus bolsos.
Sua explicação: “Afinal, era grana que o ve-lho havia roubado dos
camponeses do meu país”.
A
esta altura, já havia feito a fama e deitado na cama, ou feito a
cama e deitado na fama. A verdade é que o mulherio vinha aos lotes
da América e das principais cidades europeias para provar o tremoço
do moço. E não saíam arrependidas, pois o biltre estava sempre de
prontidão.
Um
dia, a famosa atriz francesa Danielle Darrieux, que era linda mas não
devia ser exatamente um cérebro, pintou na sua cama e se apaixonou
por ele.
Quando
os alemães entraram em Paris, uma das primeiras providências que
tomaram foi enjaular o gigolô latino-americano. Pois ele não havia
comido algumas das melhores mulheres da Alemanha?
Como
amor de pica é amor que fica, Danielle deu para todo o comando
militar alemão em Paris até conseguir que soltassem o nosso
Porfírio, que acabou casando com ela.
Quando,
porém, em 45, a atriz levou sua mãe para morar com eles, ele pediu
divórcio: “Morar com velha não dá pé”. Deve ter pensado:
“Perdi muito tempo com a Danielle; é hora de tratar de negócios”.
Conseguiu
se aproximar de nada menos que a herdeira do rei do tabaco, Dóris
Duke, a mulher mais rica do mundo. Não era bonita e tinha tanta
inteligência quanto uma lata de sardinha vazia, mas o marmotão
sempre duro do Rubi não se impressionava com detalhes.
O
casamento durou treze meses, ao fim dos quais ele saiu com um milhão
de dólares. Achou pouco e partiu para cima de outra herdeira,
Barbara Hutton, que já havia se divorciadode quatro maridos, entre
eles Cary Grant, que, boboca, saiu sem levar um tusta.
Este
casamento de Rubi durou menos de meio ano e custou à milionária, no
barato, um milhão de dólares por mês.
Entre
uma comida e outra se meteu com uma grande galinha de Hollywood, a
atriz Zsa-Zsa Gabor, cuja especialidade era casar com homens burros e
ricos.
Cansada
de homens burros e ricos (mas já bastante rica), ela decidiu casar
com George Sanders, um ator requintado, inteligente e sofisticado.
Era demais para a Zsa-Zsa, que quase não entendia nada do que
Sanders dizia.
Partiu
para Porfírio, cuja linguagem entendia perfeitamente. Afinal, eram
colegas.
Sanders
encheu o saco e uma noite parou em frente à casa onde Zsa-Zsa e
Porfírio fornicavam e atirou um tijolo embrulhado em papel-presente
que atravessou a vidraça. Depois subiu ao quarto acompanhado de dois
detetives e disse para a mulher: “Feliz Natal, meu bem!”
Sanders
se suicidaria muitos anos depois, deixando um bilhete: “Esta vida é
muito chata”.
Rubirosa
casou pela última vez em 57 com uma atrizinha francesa chamada
Odille Rodin.
Em
65, deixou Odille no apartamento e saiu para dar uma volta de carro:
álcool mais automóvel a 120 por hora igual árvore. Foi como o Rubi
morreu.
Odille,
com todos os seus milhões, desistiu da carreira cinematográfica e
se transferiu para o Rio de Janeiro onde desempenha intensa atividade
sexual até hoje.
RUFIÃO
– Alguns anos atrás fui visitar o haras do meu velho amigo Raul
Bailly, em Teresópolis. Mostrou-me vários cavalos e éguas
puros-sangues, ganhadores de muitas corridas na Gávea e em Cidade
Jardim. Havia um cavalo isolado num canto e perguntei que bicho era
aquele. E o Raul: “Este é o rufião”. “E corre bem?”,
perguntei. “Rufião não corre”, respondeu o Raul. “Ele é o
cavalo que excita as éguas. Quando elas estão no ponto, expulsamos
o rufião e o garanhão de raça monta nelas. Facilita o processo de
reprodução e não cansa o garanhão”.
Destino
triste, não é mesmo? Mas poderia ser pior. Sério, vida pior que a
do rufião (que, depois de fazer perfumarias com dezenas de éguas
que vão ser comidas pelo garanhão, sai feito louco de pau duro) é
a do pobre do cavalariço que bate uma punheta nele, no fim de um dia
de trabalho.
SADE,
Donatien Alphonse François, Marquês de (1740-1814) –
Muito pouco se sabe sobre a vida deste conde que insistia em ser
chamado de marquês. Promovia orgias nas quais sodomizava mulheres
(aparentemente não entregava o anel) que gostava de chicotear. Vai
daí que algum idiota qualquer decidiu criar a palavra sadismo para
classificar aqueles que obtêm prazer sexual através da dor dos
parceiros.
Pessoalmente,
porém, creio que o sádico é invenção do masoquista. Por exemplo:
você leva uma jovem para a sua cama. Na hora de fuder, ela, que foi
para a cama voluntariamente, fecha as pernas, dificulta a penetração,
faz cu doce. Você lhe dá um leve tapinha na bunda ou no rosto e
verifica que ela começa a suspirar e a gemer mais alto. Você bate
um pouco mais forte, ela começa a gemer mais alto ainda e a pedir
mais. Resultado: a masoquista inventou o sádico que, em verdade, se
contentaria em trepar sem porradas.
Há
masoquistas exagerados, entretanto, que levam sua culpa subconsciente
a alturas tamanhas que só se contentam com a morte.
O
verdadeiro sádico é o estuprador, o torturador que tem prazer em
fazer mal e que de um modo geral é impotente.
Não
é o que acontecia com Donatien. Era baixinho e boa-pinta. Nasceu de
família aristocrata, numa época de total decadência.
A
roupa preferida da classe dominante era o deboche e a hipocrisia. Os
pobres cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais alienados,
procurando ignorar o tarugo que a revolução estava preparando para
eles.
Sade
teve uma educação exemplar: Voltaire, Rousseau, Diderot. Aos
quatorze anos entrou para o Exército, onde se distinguiu pela
bravura e pelo criticismo.
Embora
não fosse viado, saiu da vida castrense com a mesma filosofia que
Camus pregou em Calígula: “Se a vida é um absurdo porque
acaba na morte, então vou viver o absurdo até as últimas
consequências”.
Para
vocês imaginarem como era obtusa a burguesia da época, Sade, que
era um aristocrata decadente, recebeu de George Pelagie de Montreill,
um burguês riquíssimo, nada menos que o equivalente a meio milhão
de dólares para se casar com a filha dele, René, e assim introduzir
a família na nobreza.
Rico,
inteligente, entediado, o modo que Sade encontrou para demonstrar seu
desprezo pela sociedade foi fudendo.
Sua
mulher jamais reclamou dos inúmeros casos que começou a ter logo
após o casamento.
Implicava
com a religião ou com o mau uso que se fazia da religião, uma vez
que todos iam à igreja e se diziam cristãos, embora praticassem,
como no Brasil de hoje, todas as patifarias de ordem social,
política, econômica e sexual.
Logo
chegou à conclusão de que um deus que permitia tais coisas não
merecia respeito.
Sua
primeira prisão ocorreu aos vinte e três anos, quando tentou
convencer uma prostituta – Jeanne Testard – a quebrar um
cruxifixo, a chicoteá-lo (oIhem o lado masoquista, muito antes do
próprio Masoch ter nascido!) e a ser chicoteada por ele.
Passou
apenas quinze dias na cadeia, pois a família do sogro era muito
influente.
Os
puteiros de Paris, por ordem da polícia, não permitiram mais a sua
entrada, mas ele se arranjava com amadoras.
Um
dia conquistou uma viúva – Rose Keller – que levou para a cama e
a chicoteou o quanto quis. Ela teria conseguido escapar e aproveitado
para denunciá-lo.
Foi
preso novamente e só foi libertado porque engravidou a mulher, o que
lhe permitiu o livramento condicional. Mas não se emendou.
Mudou-se
para um castelo de sua propriedade onde, com a ajuda da mulher, da
cunhada e da própria sogra, encenou rituais sexuais de sexo oral,
carnal e chicotadas com as criadas e as camponesas locais.
Viajou
para Marselha com um criado, que saiu em campo e encontrou quatro
prostitutas que entregaram os respectivos anéis e quase
enlouqueceram, pois ele lhes teria dado um afrodisíaco (ver verbete)
chamado mosca espanhola.
O
escândalo conseguiu irritar sua sogra e Sade, que havia fugido e
vivia clandestino, foi condenado à morte.
Reapareceu
em 1774, com a subida ao poder de Luís XVI, que o anistiou.
Instalou-se
com a mulher em outro castelo de sua propriedade e juntos faziam
surubas incríveis com meninas entre quinze e dezoito anos.
Tentaram
prendê-lo, mas a sogra já havia feito as pazes com ele e subornou
um monge para dizer que a disciplina que se aplicava às jovens
criadas no castelo de Sade era a mesma que se aplicava nos mais
respeitáveis conventos.
Em
1777, brigou novamente com a sogra e foi preso. Na cadeia descobriu a
masturbação e a literatura. Quando não estava escrevendo (Julieta,
Filosofia de Alcova, 120 Dias de Sodoma, etc.) estava
batendo punheta. É bom dizer que sua literatura filosófica, cheia
de eufemismos, é de péssima qualidade.
Colocado
no hospício de Charenton, não dava conta das mulheres que vinham
dar para ele.
Finalmente,
foi libertado pela Revolução Francesa e transformou-se no cidadão
Sade, que combatia a promiscuidade da aristocracia.
Chegou
a juiz, mas negou-se a condenar a sogra à morte, o que fez com que
fosse considerado moderado e – quase, quase – levado à
guilhotina.
Com
o fim da revolução resolveu ser autor teatral, mas acabou no
hospício de novo porque sua peça Justine satirizava Napoleão
e sua mulher Josephine.
Morreu
em Charenton, onde durante anos dirigiu os loucos, que interpretavam
peças de sua autoria.
Sade
foi um debochado, gostava de fuder, mas o fato de nunca ter matado
ninguém e das mulheres o amarem apesar dos supostos maus-tratos me
faz pensar que foi, principalmente, um opositor do poder que teve a
coragem de fazer às claras o que todo mundo fazia às escondidas.
Certamente
não era um sádico. Depois de um reestudo, acabará reemergindo para
a História como herói.
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