quarta-feira, 18 de março de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 72)


TRANSEXUALISMO – O transexual, em sendo homem, não é um homossexual e, em sendo mulher, não é uma lésbica. Em verdade, é vítima de um erro da natureza. O transsexual pode ser uma mulher que se sente um homem ou um homem que se sente mulher. São mulheres com corpos de homem e homens com corpos de mulher.
A coisa é séria, pois enquanto que o homossexual é um homem normal, exceto pelo fato de preferir ir para a cama com outros homens, e a lésbica é uma mulher normal, exceto pelo fato de preferir ir para a cama com outras mulheres, o transsexual pensa, age e sente como o seu oposto.
A situação é patética: imagine você, leitora que me honra, olhar para outra mulher e sentir vontade de penetrá-la, casar e ter filhos com ela. É exatamente assim que se sente uma transsexual com corpo de mulher.
João Nery, carioca, já foi Joana Nery (pseudônimos), professora de psicologia que, porém, jamais se sentiu uma mulher. Quando ia para a cama com outras mulheres, detestava se tratada por elas como lésbica. Queria ser tratada como homem.
A propósito de sua operação, que a transformou em João fisicamente, ela escreveu um belo livro João ou Joana?, que infelizmente não recebeu da nossa crítica e nem do poder judiciário a menor atenção. Joana, que hoje é João, mora clandestinamente e com documentos falsos no Rio de Janeiro.
Muitos transsexuais – homens e mulheres – vivem esta condição por toda a vida por pressões sociais ou econômicas.
Outros, principalmente depois da segunda metade deste século, sofrem uma alteração completa através de cirurgia e tratamento hormonal.
Os homens amputam o pênis e os testículos, que são substituídos pelos médicos por uma vagina artificial e uma vulva.
Graças ao hormônio feminino, os pêlos do rosto, das pernas e do peito desaparecem e os seios e ancas aumentam de tamanho.
Uma pequena intervenção na laringe, finalmente, faz com que a voz se torne mais aguda.
As mulheres têm seu clitóris alongado. Com ajuda de uma matéria plástica ele se torna um pênis artificial.
Os seios, ovários, tubos de falópio e o útero são removidos e a vagina fechada.
A barba e os pêlos nas pernas e no peito surgem com injeções de hormônio masculino e, finalmente, uma operação da laringe torna a voz mais grave. Coisa para macho mesmo!
Depois da operação, os transsexuais apelam na justiça para o reconhecimento do novo sexo e muitos chegam a casar. Menos no Brasil, é claro, onde o transsexualismo não é legalmente reconhecido.

TRAVESTI – Trata-se do homem que tem prazer sexual principalmente quando se veste de mulher. Existem mulheres que eventualmente gostam de usar trajes masculinos, mas são poucas e, de qualquer modo, se forem bonitinhas, ficam ainda mais femininas.
Tive um caso com uma tenente das forças da ONU, no Líbano, que não podia ser mais feminina, principalmente sem as botinhas e a farda. Seios grandes que se mantinham eretos, desafiando a lei da gravidade. Mas tergiverso.
Mais de 98% dos travestis são homossexuais. Há aqueles que se vestem permanentemente de mulher e outros – bancários, políticos, funcionários de multinacionais, publicitários – que o fazem ocasionalmente, durante o carnaval, ocasião em que não perdem a oportunidade de palmear qualquer coisa que lembre remotamente uma banana.
O Brasil é conhecido no mundo inteiro pelo número de travestis, sendo que os dois mais famosos são Astolfo (Rogéria) e Roberto (Roberta Close). Esta última, embora seja um homem, é considerada por muitos a mulher mais bonita do país.
Ao contrário dos transsexuais, os travestis não se consideram mulheres. Apenas gostam de se sentir mulheres, vestindo seus trajes.
Há casos de travestis que não são absolutamente homossexuais, como, por exemplo, Knud Hansen, um dos melhores professores de matemática da Dinamarca. Foi o filósofo Jurij Moskvitin que me levou à sua casa.
Ele nos recebeu vestido de mulher ao lado da esposa e dos filhos. Como o cara não desmunhecasse, depois de algum tempo, acabei esquecendo que ele estava de minissaia e comecei a discutir lógica binária a sério.
Um sinónimo para travestismo é eonismo, em homenagem a Charles D’Éon, que está devidamente verbetado na letra E.
Em literatura, principalmente a teatral, o travesti é a paródia de uma obra séria. Por exemplo: o tratamento humorístico que Shakespeare deu a Píramo e Tisbe em Sonho de Uma Noite de Verão.
Outro exemplo, este político: o congresso que votou contra as eleições diretas no Brasil em 1984 era um travesti.
Homens se vestem de mulheres desde os tempos babilônicos. A prática foi condenada pela primeira vez no século VI, pelo bispo Isisdoro, de Sevilha: “Todo ano novo é a mesma coisa: essas criaturas miseráveis se transformam em verdadeiros monstros efeminando suas caras másculas e fazendo gestos femininos, intoxicados pelo vinho”.
Por outro lado, quem usa saia todo o dia, como os cardeais, não pode reclamar das bichas enrustidas que se largam uma vez por ano.

UBERABA – Cidade no Oeste de Minas Gerais, nas Alterosas, a 785 metros acima do nível do mar e banhada pelo rio Uberaba. Suspeito, não? Ganhou status de cidade em 1856 por razões misteriosíssimas e hoje é o centro comercial de importantíssima região bovina. Aliás, as vacas e os bois de Uberaba são a sua principal fonte de renda. Fonte de renda parece título de livro de poesia de Cruz e Souza, não é mesmo? Mas não é só isso. Lá em Uberaba eles cultivam ainda arroz, feijão, laranja, café, cana-de-açúcar e, não contentes, plantam bananeiras.
Todos os anos os uberabenses fazem uma feira de gado na qual vacas, bois e touros andam nus de um lado para o outro e vai gente do Brasil inteiro para ver. Sempre no mês de maio, mês das noivas, como se sabe!!!
A cidade tem ainda grandes fábricas de cimento, de sapatos, sapatinhos e sapatões. Trens e caminhões transportam mercadorias para Belo Horizonte, a capital do estado a 422 quilômetros para o Leste, e para as cidades vizinhas do Estado de São Paulo.
Uberaba, além de ser uma arquidiocese, é ainda sede da região conhecida como Triângulo Mineiro.
O Triângulo Mineiro, como os meus leitores devem saber, já causou muitas mortes, embora os mineiros costumem esconder os seus triângulos do grande público.
Finalmente, os habitantes de Uberaba, sem exceção, e são mais de 300 mil, não escondem o fato de que a cidade é sede do Centro Regional de Pesquisas Sócio-Econômicas para a América Latina.

Vocês sabem que eu sou contra a censura, mas, francamente, tudo tem limites!

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