terça-feira, 3 de março de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 60)


PORTO, Sérgio (1924-1968) – Um dos sujeitos mais decentes que conheci. Secretamente, sempre desejei ser um jornalista, um escritor, um cronista, um humorista,um ser humano tão bom quanto ele. Talento, porém, não é para quem quer.
Não, não estou sendo modesto. Acho que poucas pessoas escrevem tão bem quanto eu neste país, mas estou longe do estilo do Bolão. Morreu antes de ser apanhado pelo AI-5 em 1968.
Começou no Diário Carioca, gozando os cronistas sociais, muito em moda na época.
Sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, criou dezenas de personagens (Primo Altamirando, Rosamundo, Tia Zulmira, etc.) e centenas de neologismos e expressões, como “cocoroca”, “febeapá” (festival de besteira que assola o país), para denunciar as cocorocagens da ditadura militar, “mulher para cem talhares”, etc.
Não havia pulha, cheio de pompa e empáfia, que escapasse impune das suas gozações.
Misturou sexo e humor como ninguém e todos os anos, no jornal Última Hora, apresentava a sua lista das mais certinhas: as garotas do teatro rebolado e dos shows noturnos que mais haviam se destacado.
Um ano saiu da Última Hora e foi para o Diário da Noite – em 1961, se não me engano –, mas seu arquivo de mulheres ficou no jornal antigo.
Com um fotógrafo, eu, que na época não tinha mais de vinte e um anos, saí para visitar as certinhas do Lalau.
De cara descobri que a maioria não o conhecia pessoalmente.
Levei pouco tempo para assumir a sua identidade e as vantagens da sua identidade.
É claro que nem todas davam, mas muitas davam, pois ele era adorado pelo mulherio que disputava um lugar na sua fototeca.
Uma noite, me encontrou na boate Secha's e foi logo dizendo:
– Alemão, se eu souber que brochei, você vai se ver comigo!
Sérgio era de se apaixonar e tinha um coração enorme, mas bom demais para aguentar o que os vampiros verde-oliva-burocratas fizeram com este país.
Já imaginaram o que seria de Sir Ney se, além de Millôr, ainda tivesse que ler toda as manhãs o Sérgio Porto?

POSIÇÕES – Este “posições” aí do lado está para “posições de fuder”. Tem uns malucos que anotam posições. As mais comuns, naturalmente, são o homem por cima, o homem por baixo, o homem ao lado da mulher.
Segundo Havelock Ellis, o mais antigo manual de posições de foda é um papiro egípcio que data de 1.300 anos a.C.
Quem duvidar que o procure na livraria municipal de Turim. Posteriormente, descobriram manuais chineses ainda mais antigos.
Os chineses pré-Mao eram chegados a grandes firulas poéticas e falavam das posições da “lagosta preguiçosa”, do “dragão nadador”, do “colibri enforcado”, do “unicórnio na chuva” e assim por diante.
O sexologista F. K. Forberg garante que não existem mais de noventa posições. Me parece frescura. Homem de pé, mulher enganchada fazendo figa é uma posição? Sei lá!
De qualquer modo, a posição que sempre me intrigou é a do sacerdote. Onde entra o sacerdote? O que é que ele tem a fazer na cama com um casal? Que sacerdote sacana! Ou será que a posição é a popular papai-mamãe recomendada pelo sacerdote, ou seja, pela Igreja?
Enfim, segundo a dupla Master & Johnson, casais casados tendem a ter mais imaginação. Mais tesão? Mais tédio?
Pessoalmente, a posição mais complicada me foi ensinada por uma aeromoça dentro daquele W.C. de avião. Quando a aeronave entrava em zona de turbulência, então, era de lascar.
Dizem, mas não provam, que num daqueles bares gays que o Al Pacino andou visitando durante as filmagens de Parceiros da Noite, dois viados executavam uma posição sui-generis.
O que ia ser enrabado levantava a bunda e o que ia enrabar dizia: “Vou botar só a cabecinha”. E botava. Mas era a cabecinha de cima. Ambos morriam no fim da performance. Chama-se Headfuck Act. Haja cu!

PRECOCE, Ejaculação – É quando o cara goza antes do tempo. Um amigo meu, que chamarei de Daniel J. porque ainda está vivo, se considera campeão mundial da ejaculação precoce. Costuma telefonar para as moças – amadoras ou profissionais – e as convida para dar um pulo no seu apê. Quando elas ainda estão tirando as calcinhas, ele diz, muito deprimido: “Pode botar as calcinhas de novo que eu já gozei”. Dizem que isso se deve a muita ansiedade ou a pouca foda.
Outro dia encontrei o Daniel e perguntei:
– Como é que é? Continuas campeão?
E ele:
– Agora, antes de telefonar, bato duas punhetas.
– E daí?
– Daí que quando a mulher chega, eu já estou broxão.
Com os leitores deixo a questão: “É melhor ser um ejaculador precoce ou broxa?”
PROMISCUIDADE – Promíscuo é o (a) heterossexual ou homossexual que trepa com qualquer um. Antes da AIDS fazer sua entrada em cena ao som da Marcha Fúnebre, era moda. Não é mais.
PSICANÁLISE – Deixo de comentar o assunto em especial deferência à minha concunhada, a psicanalista Maria da Conceição Fernandes Breier.
PUBERDADE – Período na vida de uma pessoa na qual os órgãos genitais se tornam capazes de reproduzir. Outras mudanças: pentelhos e seios. Depois da puberdade – pelo menos no meu tempo – é que vinha o período mais chato da história do homem: a adolescência e suas espinhas assanhadas. Sobra tesão mas falta mulher e dinheiro.

PUNHETA Masturbação praticada por manetas.

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