quarta-feira, 7 de março de 2012

Aedes Aegypti já está em Manaus!


Vindo de uma temporada bem sucedida pelo sul do País, onde deixou de quatro, literalmente, todos aqueles que foram contaminados por sua alegre presença, encontra-se em Manaus para um turnê pela periferia o consagrado saxofonista africano Aedes Aegypti, conhecido como “o ferrão de ouro da Tanzânia”.

Ele não chega a ser tão revolucionário quanto seu confrade de métier, o clarinetista Anopheles, conhecido como “o agulhão de diamante da Namíbia”, responsável por introduzir o ritmo bebop (“batida de queixo”) na febre terçã que dizimou os trabalhadores da ferrovia Madeira Mamoré no início do século passado (e milhares de corpos estão lá enterrados em homenagem aos seus shows performáticos em plena selva amazônica),

De qualquer forma, o Aedes Aegypti traz na sua bagagem um feito nada desprezível: desmoralizou publicamente tanto o Ministro da Saúde (que afirmou várias vezes que ele já havia sido erradicado do páis) quanto a Sucam (que vendia o detefon comprado para a campanha contra a dengue para fazendeiros matarem saúvas).

O fabuloso Aedes Aegypti é acompanhado de perto por um batalhão de epidemiologistas ávidos de lhe destruir, mas seu modo sincopado e tenso de se reproduzir (águas paradas, poças de lama, pneus velhos, etc) faz a delícia da geração punk da periferia, da qual é um dos ídolos mais cultuados: seus fã costumam vomitar e permanecer em estado febril até uma semana após a performance do mesmo.

As primeiras apresentações do Aedes Aegypti estão sendo confirmadas nos mocambos da Compensa, Alvorada e Redenção, mas todos torcem pra que ele também dê uma esticadinha no gabinete do Secretário Estadual de Saúde pra ele saber o que é bom pra tosse. E pra diarreia, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores musculares, dores nas juntas, prostração e vermelhidão no corpo.


(publicado na 2ª página do Candiru nº 1, em junho de 1986)

Nenhum comentário:

Postar um comentário