quarta-feira, 14 de março de 2012
Ecologistas decidem soltar a franga
Reunidos na 24ª Conferência Mundial sobre o Meio-Esquisitão, os militantes politicamente corretos e sensíveis do PV (Partido do Velhojererê, segundo Gabeira) decidiram aprofundar até o cabo as divergências ideológicas sobre o tipo de droga que dá mais barato: chá do daime em jejum ou fanta laranja com kikão e ketchup da Arisco depois de uma lauta feijoada.
Os qualiras, quer dizer, os militantes verdes estavam divididos em várias facções:
Ecochatos – Aqueles que não admitem o uso de Neocid ou qualquer outro defensivo agrícola nas matas pubianas.
Ecoxiitas – Aqueles que defendem a biodiversidade sexual entre legumes do mesmo sexo desde que a relação seja consentida.
Ecosunitas – Aqueles que acreditam na reencarnação das espécies vegetais e minerais na quinta lua de Jupiter ou em um dos anéis de Saturno.
Ecobundistas – Aqueles que defendem o sexo anal como único contraceptivo verdadeiramente natural e de eficiência comprovada.
Ecopuristas – Aqueles que culpam o consumo exagerado de repolho, sopa de missô e ovo cozido como a verdadeira causa dos gases tóxicos que poluem o planeta.
Ecovigaristas – Aqueles que conseguiram se safar do escândalo do “colarinho verde” na Suframa pagando seus advogados com “verdinhas” do Tio Sam.
Ecovaselinas – Qualquer um que não se alinhasse com as facções anteriores.
Depois de muito arranca-rabo e puxões de cabelos para aprovarem suas propostas, os boiolas, quer dizer, os militantes verdes ficaram bastante divididos na plenária: a parte de cima achando que leite de magnésia com lacto-purga é muito bom pra quem quer se soltar um pouco, e a parte de baixo achando que tanga de crochê ainda dá pra encarar, mas que canga de pelúcia, sinceramente, é o fim da picada.
Após novas discussões e muitas trocas de sapatadas de salto agulha, os baitolas, quer dizer, os militantes verdes soltaram um manifesto parecido com um peido para a população, com o seguinte teor:
Chega de mata queimada. Viva o mato queimado.
Chega de dar tapa escondido. E já que tocamos no assunto, a gente vai apertar, mas não vai acender agora.
Chega dessa vida de cachorro que quer ganhar um osso.
Se continuarem a nos perseguir e discriminar, a vaca vai pro brejo.
Pelo direito de apertar um baseado cheio de camarão sem excitar as forças da repressão!
Pelo direito de soltar a franga em praça pública ou de afogar o ganso em igarapés sem olhares de desaprovação!
Chega de preconceito no pré-coito: nossos corpos nus pertencem!
Que a população civil organizada coloque no pau de arara todo reacionário que ousar nos impedir de esconder a cobra ou botar as aranhas pra brigar.
Chegou a hora de a gente soltar os bichos!
Pelo direito de ir e vir, ir e vir, ir e vir, ah, meu deus, como é bom esse troço, credo...
Pelo que a repórter Malu Mala conseguiu apurar, o militante do PV é um animal solitário, doce e meigo, de hábitos sociais e sexuais meio difusos e, a exemplo dos conselheiros do Tribunal de Contas do Município, também está ameaçado de extinção.
Só vocês podem salvar essas criaturazinhas indefesas.
Nós não, que ninguém aqui é chegado.
(matéria publicada na página 15 do Candiru nº 2, em abril de 1995)
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