quarta-feira, 7 de março de 2012
Agora é que são elas!
No nosso mundo tudo é oco (“oco do mundo”) e colorido, não tem lugar pra essa gente indecente, gente que já era: morcegos velhos, bang-bang de mentiras – vocês já eram, o nosso papo é alegria.
Pois é. Depois de dez anos de batalha, eis que colocamos nas bancas o primeiro jornal de humor da cidade.
Candiru, aquele que vai fundo, é penetrante e não provoca aids.
Se vai ser um jornal de oposição, não sabemos.
Sabemos que ele está meio surrealista, na linha Planeta Diário, Papa-Figão, Casseta Popular ou troncha que o valha.
O rei está nu, a corte está pelada e nós temos que levar a sério? Mas nem moooorta!
Viemos para bagunçar o coreto e as coincidências são meras semelhanças propositais.
Não se assustem com o tom ligeiramente depravado deste editorial: não pedi aos outros editores para participar desta inglória tarefa.
Ora, os últimos acontecimentos na cidade dão conta de que rir ainda é o melhor remédio: está de volta o mais puro caudilhismo, se tornando paradigma deste renascimento pombalino onde todos são déspotas, ninguém esclarecido.
Estamos assistindo a um gigantesco processo de emasculação e castração.
Poderosas brocas e esmeris estão lapidando todas as saliências de rebeldia, todas as calosidades individuais.
Valha a pena o arbítrio do mais forte.
A disciplina foi convertida num fóssil.
O modelo colarinho verde foi implantado como um padrão moral para os vivaldinos de esquina e os espertalhões de quina de guichê.
O Candiru veio para combater essas mazelas.
Nós ainda não somos um povo feliz, mas também não perdemos ainda a capacidade de rir.
Inclusive da nossa miséria, da megalomania dos governantes, da desfaçatez de alguns políticos.
E sabemos de antemão que os autoritários só ficarão mudos quando o povo cantar, sambar e rir pelas avenidas.
Impossível, pois, continuar falando destes cemitérios de arlequins.
No mausoléu de palhaços em que se converteu este Estado, o mais triste é vê-los sem poesia exibindo seus números com fúria e terror.
Que o Candiru consiga assustar esses zumbis, através da ironia, do sarcasmo e do humor.
Já será um bom começo.
(publicado na 2ª página do Candiru nº 1, em junho de 1986)
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