PAU
FRIO – Pé-frio, todo mundo sabe o
que é: é o infeliz que alguns idiotas decidem que dá azar. E acaba
dando. Pau, é óbvio, é qualquer pedaço de madeira. O pau é frio
quando ainda em estado de árvore e quente, a ponto de pegar fogo,
quando jogado numa lareira acesa. Existem ainda os caras de pau,
facilmente reconhecíveis. Um exemplo: o presidente Sarney ao dizer
“Não há corrupção no meu governo” quando deveria dizer “não
há governo na minha corrupção”.
Já
pau é também o mais popular dos nomes do pênis. Este verbete,
porém, pretende esclarecer o leitor sobre o pau frio, e não estou
falando do pau dos animais de sangue frio que, naturalmente, o têm
frio.
Algumas
mulheres que já foram para a cama com demônios garantem que eles
têm pau frio. Jacquema Paget, do condado de France-Comté, conhecida
feiticeira do século XVII na França, garantiu: “Já peguei no pau
do diabo muitas vezes e era muito frio”.
Silvine
de la Plaine, que foi condenada a morrer na fogueira em 1616,
declarou antes de virar churrasco: “Trepei com o diabo muitas
vezes. Tinha o pau do tamanho do de um cavalo e frio como gelo.
Aliás, a porra também era geladíssima”.
Se
o amigo conhece alguma maluquete adoradora do diabo, basta deixar o
pau no freezer durante algumas horas e depois mandar ver.
PAULO
IV (1476-1559) – Seu nome
paisano era Gian Pietro Carafa (que quer dizer moringa). Não enchia
a moringa e, aliás, era caretão pacas. Vida sexual desconhecida,
estabeleceu através da inquisição um papado de terror. Entra na
enciclopédia sacanal porque em 1555 ordenou que as pinturas de
Miguel Ângelo fossem removidas da Capela Sixtina, por considerá-las
obscenas.
A
galera vaticana protestou e ele se limitou a mandar cobrir as partes
pudendas das figuras que apareciam peladas, inclusive a Virgem Maria.
Encarregou
um discípulo de Miguel Ângelo, Giovanni da Volteira, de executar o
serviço.
Volteira
passou para a posteridade com o apelido de “O Braguilheiro”. Como
vocês sabem, de braguilhas o Miguel Ângelo entendia.
Interessante:
dos três maiores pintores da Renascença (Miguel Ângelo, Leonardo
da Vinci e Rafael), os dois mais feios e atléticos gostavam de
mandioca e o querubim, o mais jovem, diferente e bonitinho (Rafael)
comeu todas as mulheres – com excessão
da mãe e avó – que apareceram na sua
frente.
Mas,
voltando ao Paulo IV: não contente com esta sacanagem em relação
ao Miguelzão, em 1559, ano da sua morte, ele começou a compilar o
Index Librorum Prohibitorum, uma lista de livros que os
católicos não deviam ler sob risco de parar no inferno.
Desde
então esta bobagem prosperou e mais de 4 mil obras entraram na lista
negra, entre elas as de Balzac, Stendhal, Dumas, Sartre, Miller
(Henry)e Moravia.
Em
1962, João XXIII, um sábio, declarou que os novos autores teriam
uma chance de justificar seus livros e desde 1966 o Vaticano se
mancou e parou de publicar a lista.
PAZZI,
Maria Madalena de (1550-1591) –
Personagem principal de um dos primeiros casos documentados de
masoquismo pra valer. A tara da moça era se jogar sobre cacto e
encher o corpinho de espinhos brabíssimos. Não contente com isso
apanhava um chicote e se dava surras até sangrar. Isto apenas no
café da manhã.
Após
o almoço frugal, implorava às outras freiras do seu convento que a
amarrassem a um poste e jogassem bolinhas de cera fervente em seu
corpo nu. Apesar disso ou – quem sabe? –
por isso mesmo foi promovida a superiora das noviças e um dia foi
surpreendida pedindo a uma delas que a arrastasse pelos cabelos.
Foi
canonizada em 1671 e hoje é santa.
O
mal que a Igreja fez à humanidade, de Adriano (século III) até a
Renascença, não encontra paralelo.
E
pensar que Demócrito, quinhentos anos antes de Cristo, já discutia
o átomo (que quer dizer indivisível).
Me
ocorreu agora, mas não tenho saco para pesquisar: se átomo quer
dizer indivisível, então uma obra publicada em tomos deve
significar uma obra dividida, não é mesmo? Verifiquem.
Mas
voltando à Santa Maria Madalena dei Pazzi: pazzo em italiano
quer dizer maluco.
No
Brasil tivemos um ministro, por sinal dos menos loucos, durante a
corrupção de Sarney, que se chamava Pazzianotto. Não quer dizer
nada.
Se
fosse Pazzianota, seria loucura conhecida. Se fosse Pazzonoto seria
louco notório.
PEARL,
Cora (1836-1886) – Alienadinha
quase até o fim da vida. Em compensação, imprimiu um espírito de
missão ao seu trabalho. Cora dava. Dava e não fazia mistério numa
época em que as transas de corpo eram praticadas entre quatro
paredes. Seu moto era: “Raramente a sacanagem é vista vestindo
farrapos”.
Pele
muito branquinha, cabelos e pentelhos muito vermelhos, ela nasceu com
o nome de Emma Crouch, que teve o bom gosto de mudar em tempo.
Quando
decidiu dar aos quatorze anos foi logo dando para um cara que
negociava com diamantes.
Diamonds
are the girl's best friends, or not?
Depois
de ganhar todos os diamantes que queria e depois de aprender tudo o
que necessitava, ela deu um pé no rabo do ricaço e se mandou de
Londres para Paris.
Lá
ela se especializou em dar festas para a aristocracia e a burguesia
endinheiradas. Nesses banquetes a comida era ela.
Os
taradões pagavam uma grana altíssima para vê- la tomar banho sobre
uma mesa dentro de uma banheira de prata cheia de champanhe, brut,
evidentemente. Depois os calhordas bebiam o champanhe com um pouco de
mijo da nossa Cora.
As
cortesãs francesas, irritadas com o êxito da inglesinha na terra
delas, fizeram de tudo para suplantá-la. Martha de Vere, por
exemplo, foi servida no Plaza toda embebida em molho de camarão, mas
não obteve o mesmo sucesso.
Com
o advento da can-can, Cora começou a dar exibições dessa
dança em seus salões para uma plateia exclusivamente masculina.
Tudo igualzinho às cancaneuses profissionais, só que não
usava calcinhas.
Cansada
de ser chamada de puta pelas mulheres dos maridos apaixonados por
ela, decidiu se dedicar ao teatro e estreou em 1867 no papel de
Cupido na peça de Offenbach, Orfeu no Inferno.
Quando
a plateia vaiava a sua voz, que era péssima, ela simplesmente tirava
as calcinhas (ou knikerbockers, ver verbete) e mostrava a
bunda para os espectadores. Era boa de bunda.
Num
desses espetáculos, quem viu o derrière da nossa Corinha foi
Napoleão III. Viu e gostou. Aliás, gostou tanto que pediu
exclusividade.
A
exclusividade lhe foi concedida de 1867 até 1874, quando ela
descobriu que já havia gasto quase todo o dinheiro dele.
Trocou-o
por um milionário chamado Alexandre Duval, cujo capim (cerca de 1
milhão de libras) dava pra comprar dois modestos apartamentos na
Vieira Souto. Ela conseguiu explodir esta grana em menos de dois
anos.
Vendo
que ele estava fudidão, ela o demitiu sem aviso prévio.
Desesperado, ele tentou se matar na sala de estar da ex-amante que,
putíssima e sem calças, comentou com os amigos:
–
Porcalhão, sujou de sangue o meu tapete branco!
Moça
sensível, como vocês vêem.
No
auge da sua fama, os playboys (praga antiga, minha gente!) de
Paris organizavam rifas. Quem ganhasse entregava o dinheiro da rifa
para Cora na casa dela.
Mas
eu disse no princípio do verbete que ela tinha sido alienadinha até
quase o fim da vida.
É
que durante o estado de sítio de Paris, em 1871, gastou boa parte da
grana acumulada ajudando doentes e feridos.
Com
a queda do II Império, a sorte de Cora mudou graças à bancarrota,
o exílio ou a morte da maioria dos seus admiradores.
Retirou-se
para uma casinha de campo, onde viveu modestamente graças a
donativos ocasionais de velhos sócios do Jockey Club de Paris.
Morreu
com cinquentinha dando esporádica e diletantemente. Foi uma
revolucionária!