KNICKERBOCKERS
– O pseudônimo de Igor Cassini (ou teria sido o do irmão dele, o
Oleg?) quando escrevia para o New York Times, na época em que
este negócio de coluna social estava na moda em outros países, além
do Brasil, era Cholly Knickerbocker. Parece coisa de viado e vai ver
o nosso Cholly era chegado a uma big chiba!
Mas
não era sobre este Knickerbocker que eu queria falar.
E
lembrando isso dirijo a minha untuosa pena diretamente para você,
leitora amiga que me lê – olhos súplices e grandes lábios de mel
úmidos – neste momento.
Já
houve uma época, querida, em que as mulheres não usavam calcinhas
como estas que você está usando agora. Ou não está?
Até
1850, por baixo dos vestidos e das anáguas (moças e coroas e
velhas), era tudo índio.
Não
cobriam a parte mais nobre do todo delas, como acontece hoje em dia.
Quero dizer: hoje em dia cobrem quase nada, tanto que usam nos países
baixos aqueles bigodinhos que o Chaplin e o Hitler usavam debaixo do
nariz.
Dizem
que, em 1852, o Dr. Tilt, ginecologista da moda em Londres, estava
sem assunto e decidiu que deveria ter sua memória execrada por este
cronista mais de 130 anos depois.
Adivinhem
o que fez: aconselhou suas clientes a usarem calças, por baixo dos
vestidões para não apanharem, adivinhem o quê? Pneumonia, porra!
Fez uma ligação direta entre a xota e os pulmões, o apedeuta!
As
primeiras calcinhas em verdade eram calções, pois eram estritamente
utilitárias.
Logo
algumas “cabecinhas a serviço do bem” começaram a funcionar e
surgiram as knickers, como foram batizadas, em todos os matizes e
vinhetas diversas.
A
primeira providência, por comodidade talvez, foi deixar o que fica
entre as pernas – e garanto que não estou falando dos joelhos —
completamente livre.
As
calças protegiam, em verdade, só as coxas, a barriga e a bunda –
por causa do resfriado, percebem? –, mas era possível manter
relações sexuais sem tirá-las.
Apesar
dessas facilidades, pessoas inteligentes e de bom gosto continuaram a
lutar contra a nova moda.
Em
1855, o rei Vitório Emanuel, da Sardenha, viu uma dama de companhia
cair no chão durante uma recepção em Paris e comentou com a mulher
de Napoleão III que estava ao seu lado: “Estou contente em
comprovar, madame, que as damas francesas não usam essas malditas
calças como as inglesas e mantêm abertas constantemente as portas
do paraíso”.
A
História não registra a resposta da imperatriz.
KRAFFT-EBING,
Richard von (1840-1902) – Se interessava muito por todo
e qualquer tipo de sacanagem, mas não era um verdadeiro sacana, no
que o termo possui de intrinsecamente positivo. Aliás, era um
sacana, sacana mesmo! O estilo deste alemão rico e aristocrata
nascido em Mannheim é muito bom, mas o conteúdo, se entendido
ipsisliteris, pode formar muitos maluquinhos cun Iode.
Como
Krafft-Ebing não tinha nada de mais interessante para fazer,
resolveu ser neurologista e psiquiatra. Aos vinte e nove anos já era
professor na Universidade de Estrasburgo.
Especializou-se
nos aspectos legais da insanidade e, graças a isso, sempre que
alguém cometia um crime com conotações sexuais, era chamado ao
tribunal para dar a sua opinião.
Colaborou
muito para fazer da sexologia uma ciência, mas parecia acreditar
que, como a aritmética, ela era uma ciência exata.
Daí
classificar a teoria da sexualidade infantil de Freud (não era Freud
que tinha a sexualidade infantil, mas sim havia escrito uma teoria
sobre a sexualidade infantil. Entenderam ou devo ser mais explícito?)
de conto de fadas.
Em
seu livro Psychopathia Sexualis, ele demonstrou ser um
excelente colecionador de casos bizarros, que catalogava com o
cuidado digno de um maníaco sexual sob os rótulos de
homossexualismo, fetichismo, sadismo,
masoquismo, et genitalia.
Ao
contrário de Havelock Ellis, que gostava que as moças fizessem pipi
em cima dele e via as vítimas de anomalias sexuais com simpatia,
Krafft-Ebing não dava colher de chá para os que iam além da
posição sacerdotal (ver verbete de Kichizo, Ishira).
Em
seu livro ele conta o caso de um rapaz que, muito poeticamente na
opinião do locutor que vos fala, tinha uma ereção sempre que
beijava uma rosa.
Pois
bem: o nosso psiquiatra alemão informou ao moço que se ele não
parasse de beijar flores iria acabar como um cara que havia
assassinado seis prostitutas em Londres para ver como eram os
intestinos delas.
Provavelmente
referia-se a Jack, o Estripador, que não verbetei neste livro porque
ninguém sabe nada sobre esse maluco.
Como
todo calhorda, Krafft-Ebing também era inimigo da masturbação, em
cuja prática ele via a origem de todos os males. E eu que acabo de
bater uma punheta na esperança de verbetar este verbete com mais
molho do que o verbetado merece!
Dizia
Krafft-Ebing que conhecera uma menina cujos pais não a proibiram de
siriricar-se quando tinha sete anos. Aos onze, apesar deles colocarem
uma chapa de ferro quente em volta do seu clitóris, “ela continuou
praticando o abominável vício”.
Só
parou quando lhe extirparam o clitóris, que alguns microcéfalos da
nossa melhor sociedade insistem em chamar de clítoris porque são
muito púdicos em vez de serem simplesmente pudicos.
Esteja
ele onde estiver (no céu, quizas!), deve estar muito puto
dentro das calças por saber que seu livro continua sendo publicado,
não por seu interesse científico, mas por que estimula o fã-club
de Onan, que, por sinal, não era onanista.
Disso
falaremos na letra “O”, aquela em que a Maria Candelária caiu de
pára-quedas!
LACLOS,
Pierre Choderlos de (1741-1803) – Em 1782 sentou o rabo
numa cadeira... Como? Não, seu berôncio, não sentou o rabo numa
cadeira e disse: “Tu ficas aí, Rabo, que eu já volto”. Sentou o
rabo numa cadeira e escreveu Les Liaisons Dangereuses. Claro
que deu bode. Pois não tratava de relações perigosas? Um dos
romances mais importantes já escritos na França, foi condenado
pelos moralistas (da casa para fora) como obra de aviltante
imoralidade. E existe imoralidade que não seja aviltante? As
autoridades francesas eram tão cloacinas que acabaram proibindo e
confiscando o livro em 1824 através de um decreto-lei (pqp!).
E
de que trata a novela do Lolô? Das sacanagens do visconde de Valmont
e da sua cúmplice, a marquesa de Merteuill.
Eis
o esquema: o visconde arrumava amantes para a marquesa e a marquesa
arrumava amantes para o visconde, ou seja, uma mão lava a outra.
Depois
os dois se encontravam na cama e ele contava para ela o que fizera
com as outras e ela contava para ele o que os outros haviam feito
nela.
Evidentemente,
havia um código ético que norteava ou sulava as ações do casal:
sempre que um não gostava da (do) amante do outro, a regra era puxar
o trem.
Embora
a dupla acabe sendo castigada (ele morre num duelo e ela,
prosaicamente, de varíola, não se pode dizer que a virtude triunfe
na novela de Laclos que, se não me engano, foi traduzida por Carlos
Drummond de Andrade, que não era de traduzir nada que fosse menos
que uma obra de arte), tanto o visconde como a marquesa são
personagens inteligentes, brilhantes, irônicos, cheios de
savoir-faire.
Já
os assim chamados personagens positivos são sandeus estúpidos e tão
expressivos quanto a parte inferior de uma caixa de sapatos.
O
que encheram o saco do Laclos por causa da novela eu nem conto, para
não encher o saco de vocês.
E
tudo porque ele contou as sacanagens de um casal; sacanagens que
fariam morrer de rir os profissionais do esporte que frequentam as
colunas sociais do Zózimo e do Ibrahim.
Aporrinhado,
Laclos casou-se com a mulher com quem vivia já há dois anos, teve
um filho e se transformou num marido exemplar.
Para
mostrar que tinha defeitos, além de escritor era general de
Napoleão.
Infelizmente,
em 1959, Roger Vadim dirigiu um filme baseado na novela que nem a
presença de Gerard Phillipe conseguiu salvar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário