quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 38)


JUDAS (?-cerca de 30 d.C) – Talvez uma das personalidades mais injustamente sacaneadas da humanidade. Segundo o Novo Testamento, Judas teria indicado Jesus Cristo aos guardas romanos, beijando-o na face. Por esta traição teria recebido trinta denários de Caifás, o líder religioso judeu. Arrependido, depois de ver Cristo condenado a morrer na cruz, na versão de João, ele se enforcou, e na de Mateus, se jogou de um precipício. Seu nome, há quase 2 mil anos, é símbolo de traição e as crianças católicas e protestantes aprendem a odiá-lo desde cedo. Uma história muito mal contada.
Se realmente aconteceu o que diz a versão oficial, então teria que acontecer de qualquer modo, independentemente da vontade de Judas, pois dizia a profecia que um dos apóstolos trairia Jesus.
Segundo Danillo Nunes em seu excelente livro (pouca gente faz pesquisa com tanto zelo em nosso país) Judas, Traidor ou Traído?, ele era membro do partido nacionalista zelota e acompanhava Jesus pois vira nele todas as qualidades de um líder revolucionário capaz de levar o povo a rebelar-se contra o império romano.
A expulsão dos vendilhões do templo não teria sido apenas um ato isolado, mas um verdadeiro quebra-quebra popular.
Os mercadores vendiam suas mercadorias em cima de bancos em frente às sinagogas. Estes bancos Jesus quebrou.
Daí a palavra bancarrota, que resistiu até os nossos dias e continuará resistindo enquanto tivermos ministros da Fazenda como Simonsen, Delfim, Bulhões, Dornelles, Funaro, Bresser Pereira e Maílson da Nóbrega.
Enfim, o que houve na cidade foi um princípio de revolução.
Judas teria instigado Jesus a liderá-la e ele teria dito: “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Talvez, neste momento, Judas, que era o único alfabetizado do bando, tivesse dito: “Vais ver o que é bom para a tosse”.
Eu, porém, duvido. Acho que pegaram o Judas pra Cristo.

JÚLIA LA MAYOR (39 a.C-14 d.C.) – Antigona, mas quem a viu deixou registrado: “Extremamente bonita e extremamente galinha”. A antigona aí de cima não é para ser confundida com a Antígona, personagem da tragédia grega que foi devida mente esquilada, soflocada e euripidiada e era, por sinal, bem mais antigona que a Júlia.
Disse que era antigona porque nasceu antes de Cristo e quando morreu JC devia ter uns dez anos.
Digo isso porque, como sabem os mais chegados à História, Cristo nasceu, realmente, no ano 4 d.C. ou seja, quatro anos depois dele mesmo. Milagre puro!
Vêem como eu estou confuso, hoje? Fico pensando na moça que estuda letras na Santa Úrsula e me perco.
Daqui a pouco tenho que tomar um avião para Vitória onde darei uma conferência para uma plateia da qual já sinto pena.
Mas voltemos à Júlia. Parágrafo para ver se o estilo melhora.
Júlia era filha do imperador Augusto, que fez com que ela se casasse aos quatorze anos com seu primo Marcelo. Dizem que ele morreu um ano depois de tanto trepar.
Augusto então a forçou a casar com o chefe do seu ministério, um tal de Agripa, que já estava beirando os cinquenta anos. Ele, porém, como se viu logo, não dava para o excessivo gasto de sua jovem mulher.
Ela não se apertou. Arranjou logo uma porrada de amantes.
Agripa, por sua vez, não tinha coragem de se queixar ao imperador, pois ele afinal tinha direito de vida e morte sobre todo mundo.
Já imaginaram o bom Agripa dizendo: “Divino Augusto, tua única filhinha é uma putona”? Seria muito chato pra saúde dele.
Engraçado é que Júlia teve cinco filhos. Todos com a mesma carinha de bunda enrugada do Agripa.
Quando alguém, surpreso, comentava a semelhança, Júlia, rindo, dizia: “Mamãe aqui só apanha passageiros quando o barco já está cheio”. Era chegada a mastruços e metáforas.
Agripa morreu corno depois de dez anos de casamento, no ano 12 d.C.
Augusto imediatamente casou-a com o seu enteado Tibério, filho de sua mulher, Lívia Drusilla.
Tibério já era casado, mas foi forçado a se divorciar para casar com Júlia.
Diz a História (logo, duvidem) que Tibério ficou tão puto dentro dos saiotes (as calças ainda não haviam sido inventadas) que se recusou a dormir na mesma cama que Júlia.
Mas a coisa não foi bem assim. O negócio de Tibério era outro, conforme ele se encarregou de propagar depois da morte do padrasto. Gostava mesmo era de ser comido por vegetais, minerais e, principalmente, animais, o baitolão.
Vocês já viram que ao perceber que o marido era mágico, aí mesmo que Júlia se largou e passou a ser comida por atacado.
Segundo Sêneca, tremenda bichona, deixou de ser adúltera para se transformar em prostituta. Apanhava homens em frente do fórum onde seu pai havia promulgado uma lei contra o adultério. Mas apanhava aos lotes.
Finalmente Augusto descobriu e informou-a: “Nunca mais voltarás a introduzir qualquer sésamo na tua caverna” ou um troço parecido com este.
Foi banida para a ilha de Pandataria, onde só havia pedras e mulheres.
Morreu dezesseis anos depois saudada por suas damas de companhia como campeã suprema da luta aranhal.
Júlia trabalhava no ramo. Mais puta mesmo, só Messalina.

JUNG, Carl Gustav (1875-1961) – Gênio especializado em tudo. Uma das três glórias Suíça. As outras duas são o queijo e o relógio-cuco. Psiquiatra, estudou medicina na Basileia e praticou psiquiatria em Zurique. Provavelmente, se houvesse topado com o Joyce por lá, acabaria por analisá-lo e inutilizá-lo para a literatura pelo resto da sua miserável vida. De 1907 a 1913, foi grande amigo e discípulo de Sigmund Freud. Vaidosíssimos, acabaram brigando. 
Os dois, como se sabe, são acusados de serem os responsáveis por esta praga que assola os países subdesenvolvidos. Estou falando dos psicanalistas que durante vinte anos no Brasil e em outros países, enquanto anestesiavam a consciência dos tubarões (fardados ou não), ainda faziam hora extra dando psicoterapia de apoio aos torturadores do DOI, do CODI e da puta que os pariu.
Jung era o peixinho preferido de Freud e com ele se correspondeu durante anos na base do “Lieber herr professor doktor” pra cá e pra lá, terminando com recomendações às fraus Freud e Jung.
Entre as saudações e as despedidas comentavam as sacanagens que se passavam nas mentes doentias lá deles.
Estranhamente, Freud, que – dizem – não comia ninguém além da frau Freud, dava ênfase ao sexo como mola propulsora do comportamento subconsciente, enquanto Jung que, tirando padres, escoceses e a Maria da Conceição Tavares, não perdoava ninguém que usasse saias, achava que havia algo mais.
Tremendo gozador e boa-pinta, o suíço teria dito depois de romper com o mestre: “Afinal, o pau não passa de um símbolo fálico”.
De qualquer modo, a briga com Freud deixou Jung meio maluco.
Mas ele reagiu e se analisou entre 1914 e 1918 enquanto a Europa fazia a guerra para acabar com todas as guerras, enriquecer definitivamente a indústria bélica e matar alguns milhões de soldados.
Depois que se deu alta, Jung desenvolveu a sua teoria da psicologia analítica, da psicoterapia e passou o resto da vida clinicando, escrevendo (e como!) e dando palestras a preços módicos.
Foi ele o criador dos conceitos de extroversão e introversão e o postulador do inconsciente coletivo.
Um dos cérebros mais prodigiosos do século XX, interessava-se por tudo que fosse humano e até desumano: dos discos voadores ao I Ching, passando por grafologia, fantasmas, alquimia e outros modos de trocar de tédio.
Estranhamente, além de Freud, seu outro guru foi Ridder Haggard, um escritor prolífico de romances de aventuras sobre quem Robert Louis Stevenson, autor de Dr. Jeckill and Mr. Hide, teria dito: “Grande romancista, mas como escreve mal”. Estava certo.
Se pelo menos os psicanalistas que infestam Ipanema e arredores se dessem ao trabalho de ler Jung talvez ficassem mais humildes e, envergonhados, acabassem mudando de profissão.

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