GRAFITE
– Alguns meses depois que cheguei de Porto Alegre, em 1958, garotão
de 18 anos, fui trabalhar na Manchete (o que é que há? Ninguém é
perfeito) e morar numa espécie de hotel que havia ao lado do Forte
Copacabana, em frente à antiga TV-Rio. Disse espécie de hotel
porque eu, graça a uma combinação com o espanhol dono do
estabelecimento, era o único hóspede fixo, com atestado de
residência e tudo.
Para
os comuns mortais tratava-se de um pétél (assim mesmo, com
dois acentos agudos para parecer verbo tchecoslovaco), ou motel a pé.
Nego a perigo, pegava a moça, profissional ou amadora que fosse,
dava a sua bimbada e se mandava. Era o único pétél em toda a zona
sul da cidade.
Também
era um bom negócio tanto para o espanhol quanto pra mim. Minhas
vantagens: além de pagar uma micharia por mês, ele me havia dado
permissão para fazer dois buracos nas portas que davam para os
quartos que ladeavam o meu. As melhores mulheres o espanhol mandava
para aqueles quartos.
Eu
não tinha (e não gostava de) televisão. Vocês já viram, né? Às
vezes o cara ia embora depois da performance. Era quando eu visitava
as moças.
A
vantagem do espanhol: sempre que a polícia dava uma batida, o
mulherio corria para o meu quarto. Às vezes havia mais de dez
mulheres, todas meio peladas, que eu, mostrando meu registro de
jornalista e meu atestado de residência, dizia serem minhas
convidadas.
O
delegado era o Padilha, que se divertia mandando cortar o cabelo de
malandro e deixando uma laranja correr pelo lado de dentro da calça
do marginal. Se ela ficasse presa na boca da bainha, o cara ia em
cana. O Padilha tinha um estranho senso de humor.
Como,
porém, isto se passou antes de 1964,o presidente era o Juscelino, os
guardas não podiam tirar as mulheres do meu quarto na marra. Fiquei
muito amigo das moças até que mudei de lá para me casar em 61.
A
maioria delas sabia que eu estava olhando pelo buraco do outro lado
da porta enquanto elas fudiam. Gentis, insistiam em deixar a luz
acesa durante toda a sessão. Uma mão lava a outra.
“O
que é isto tem a ver com grafite? Está mais para voyeurismo” –
dirá o leitor impaciente. E eu, calmão, vos digo: eu chego lá.
Não
era moleza apanhar mulher naquela época. Ainda mais eu, que recebia
uma miséria na Manchete e vivia mais duro que pau de náufrago em
ilha deserta. Foi quando comecei a frequentar o La Gôndola, um
bar-restaurante que existe até hoje na Sá Ferreira, entre a Avenida
Copacabana e a Atlântica.
Na
época, ele era frequentado pela classe teatral que, como vocês
sabem, não é exatamente a classe mais masculina do mundo.
Paradoxalmente, embora eu não trabalhe no ramo, o número enorme de
bichas no bar era um bom negócio, pois diminuía a concorrência.
Bolei
um plano diabólico para comer atrizes: pedi ao Floriano, dono do
boteco, que deixasse eu escrever umas frases no banheiro das mulheres
e fiz ele jurar que não diria nada a ninguém.
Munido
de lápis, de tarde, quando não havia freguês no estabelecimento,
eu escrevi no banheiro das moças: “O Fausto Wolff é um tesão”.
Embaixo, numa caligrafia diferente: “É verdade. Grande trepada!”
Eu,
rapaz desconhecido, quando dizia o meu nome para as atrizes que só o
conheciam de lavabo, os olhinhos delas piscavam de pura
pré-excitação. Foi assim que comecei a minha carreira teatral.
Algumas
senhoras de meia-idade que ainda hoje aparecem em palcos, telas e TV
devem lembrar como eram discretamente turbulentos aqueles verdes
anos. Viram?, grafite puro! Mas tem mais.
O
que são os grafites além do mineral que, envolto em madeira, forma
o lápis e vive quebrando? São mensagens sexuais e escatológicas,
geralmente deixadas nas paredes dos banheiros públicos.
Robert
Reisner, em 2000 Anos de Grafite, nos informa da antiguidade
do hábito ao qual as mulheres, embora menos que os homens, também
são afeitas. Eis um exemplo de grafite feminino: “Êi, você aí
que faz pipi com essa cara tão chateada, por que não dá um pulo no
banheiro dos homens?”
No
banheiro dos homens, com raras exceções, o que há mesmo é
propaganda viadal. Aliás, pelas inscrições na parede, dá pra se
ver quando um boteco é frequentado pelos rapazes alegres que fungam
muito e não deixam ninguém mijar em paz.
Muitos
escrevem as suas preferências e deixam até telefone. Outros botam
lá: “O meu tem 22 centímetros. E o teu?” Este, certamente,
estava a fim de bater espadas.
Os
donos de botecos detestam grafites a ponto de pintarem a parede de
dois em dois meses. Quando Manoel Capão, o dono do Veloso, mandou
pintar o banheiro, no dia seguinte apareceu na parede: “Manoel
Capão odeia literatura”.
Os
grafites mais conhecidos do Brasil são de autoria de poetas
desconhecidos. Eis o primeiro: “Neste lugar solitário/ onde toda
vaidade se acaba/ todo covarde faz força/ todo valente se caga”. O
segundo: “Merda não é tinta/ Dedo não é pincel/ Quem quiser
cagar aqui/ É favor trazer papel”.
Mas
o grafite mais poético foi descoberto por Ferdy Carneiro e o
falecido Darwin Brandão num boteco na Penha, perto da fábrica de
sutiãs De Millus: “Desconfio que o Toninho Bíblia é Veado”.
Que tal?
GRAHAM,
Silvester (1794-1851) – Autor do livro mais engraçado
já escrito sobre sexo até o dia em que este meu estiver nas
livrarias. Eis o título: Palestra Para Jovens em Estado de
Castidade e Dirigida Também à Atenção de Pais e Tutores.
Segundo
ele, casais que trepassem demais estavam sujeitos a aumento de peso,
depressão, debilidade geral, fraqueza muscular, perda de apetite,
indigestão, desmaios, ânsias de vómito, inflamação da pele,
tosse, má circulação do sangue, melancolia, dores de cabeça,
hipocondria (?), histerismo, cegueira parcial, doenças pulmonares,
tosse nervosa, desordens no fígado e nos intestinos, dificuldades
para mijar, dor na coluna vertebral, debilidade mental, perda de
memória, epilepsia, apoplexia, abortos, mórbidas disposições,
morte prematura e, por último, mas nem por isso menos importante,
caganeira.
Temendo
que tudo isso não fosse suficiente para evitar que os casais
fudessem, ele ainda preveniu: “Cada ejaculada diminui
consideravelmente a expectativa de vida”.
O
pessoal não se impressionou.
GRILO
– Não fiquem grilados porque é grilo mesmo. Esses bichinhos
quando querem fuder são capazes de produzir canções complexas e
com intenções sofisticadas e específicas. A coisa é mais ou menos
assim: sentiu vontade de dar uma fodinha, o macho roça as pernas de
trás contra as asas. Produz com isso uma série de notas, faz uma
pausa e volta a produzir mais notas com pequenas variantes, seguidas
de outra pausa.
Uma
grila que está a fim responde num tom mais suave. Em seguida macho e
fêmea produzem sons alternados.
A
canção do macho, mais uma vez levemente modificada, segundo os
especialistas, quer dizer agora: “Então está a fim? Olha que eu
vou te comer!”
As
pesquisas de Perdeck demonstraram que as canções dos grilos são
sexualmente estimulantes para ambos sexos.
Tanto
isto é verdade que se o grilo-cantor para o qual ela respondeu não
aparecer logo, a grila parte pra cima do primeiro que estiver
quietinho no seu canto, mesmo que ele não seja da mesma espécie.
Quando
alguém chegar perto de sua mulher e perguntar “Qual é o grilo?”,
responda depressa: “O grilo sou eu”.
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