sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 54)


ORGASMO Vocês lembra que no fim dos anos 70, princípio dos anos 80, os gorilas da direita (hoje a coisa está mais confusa) se divertiam jogando bombas em bancas de jornais, a OAB, na Assembleia Legislativa e no Riocentro? Isso se explica, pois só conseguiam chegar ao êxtase através do terror. Pra quem ainda não entendeu: um bando de broxas que só conseguia gozar jogando bombas nos outros.
Para as pessoas normais, entretanto, muito melhor que jogar bombas é ter um orgasmo, que é como se chama o clímax feminino e masculino, embora este último seja mais conhecido como ejaculação.
E você, leitorinha, não precisa nem fumar maconha, nem ser ninfômana para ter um orgasmo.
O melhor mesmo é ir para a cama como o seu hominho. Mas, na falta de um, já conheci moças que tiveram orgasmo com o auxílio do dedo médio da mão direita, com auxílio do chuveirinho do bidê e até mesmo espirrando, andando de bicicleta, andando a cavalo e jogando tênis. E note que qualquer um desses esportes é mais saudável que jogar bombas por aí.
Eu, que manjo razoavelmente deste verbete, posso informar aos leitores mais ignorantes que seja qual for o estímulo, os sinais de que o orgasmo está para fazer sua entrada em cena são sempre os mesmos: 1) mamilos eretos; 2) lubrificação vaginal; 3) aumento da pulsação, da pressão sanguínea e da respiração.
Se você surpreender qualquer mulher nessas condições, não tenha dúvida de que ela está tendo um orgasmo.
O orgasmo normal dura entre dez e quinze segundos e se caracteriza por contrações vaginais que vão de três a doze, mais ou menos.
Embora algumas se contentem com dois ou três orgasmos no capricho, há mulheres que podem ter dezenas deles.
O recorde cientificamente provado pelo casal de tarados Masters & Johnson é de 106.
Apesar desse incrível potencial energético, 65% das mulheres só atingem o orgasmo com o auxílio do amigo dedo médio e outras nem sabem se têm ou não orgasmo.
Estas últimas têm os chamados orgasmos suaves, que não podem ser comparados com os orgasmos fortes, que fazem lembrar segundo expressão de uma amiga minha de cama e mesa as ondas batendo contra os rochedos.
É isso aí, amiguinha: quando sentir uma vontade irresistível de sacanear alguém: tenha um orgasmo. Há quem diga que ele tem a cara de Robert Morley.
P.S.: Ia esquecendo, o primeiro orgasmo feminino cientificamente comprovado ocorreu nos Estados Unidos em 1872.
O ginecologista Joseph Beck, de Indiana, estava examinando uma mulher que lhe disse: “Tome cuidado, doutor, que sou extremamente sensível e posso gozar de repente”.
Beck não esperou mais. Enfiou o dedo na buceta da mulher, rapidamente, três vezes seguidas, tendo o cuidado de passá-lo pelo clitóris.
A mulher gozou na hora e, posteriormente, o bom médico escreveu um ensaio sobre a experiência.

ORGIA Naturalmente não sou muito chegado por ter a participação de outros homens além do locutor que vos fala e homem nu é troço extremamente desagradável. As orgias a que fui convidado aqui no Rio têm sempre duas gatas pingadas e uma porção de barbados. O dono da casa fatalmente se desculpa com ar de idiota: “Não sei onde se meteram essas mulheres.Você deveria ter pintado a semana passada”. Comigo é sempre assim: a festa boa foi invariavelmente na semana passada, quando eu não estava presente.
Orgias a sério mesmo eram as patrocinadas pelos imperadores romanos. Ninguém era de ninguém e, além de comerem metaforicamente tudo o que pintava pela frente, ainda comiam literalmente clitóris de lagosta, vulvas de colibri, cérebros de macaco, línguas de flamingos, ovas de enguia, cuzinhos de pavões e outras especialidades.
A classe dominante que se divertia desse modo, uma vez de bucho cheio, vomitava sobre os escravos e recomeçava a comer. Aliás, os escravos seguravam as jebas dos sacanas para que eles pudessem mijar.
Entre os vikings, os escravos esperavam pacientemente com um vaso na mão a hora dos guerreiros mijarem para poderem beber o mijo. É que a cerveja dos vikings tinha mais de vinte graus de álcool, e mesmo depois de transformada em mijo ainda dava porre.
Esses escravos de primeira depois mijavam num jarro para que os escravos de segunda pudessem tomar seu porrinho. Troço desagradável pacas.
Segundo Sêneca, Nero, uma vez, no meio de uma orgia castrou seu namorado, um tal de Sporos.
Heliogábalo, outro imperador viado e maluquete, por quem Gore Vidal, escritor americano que trabalha no ramo, nutre profunda admiração, chegou a pensar em cortar fora suas próprias ferramentas mas acabou desistindo da ideia. Limitou-se a servir de prostituta para mais de cem convidados.
Sabe-se que Deus, quando botou o cu no homem, não foi para que ele enfiasse objetos contundentes nele. E o povo pagava impostos para essas sacanagens.
As orgias só voltaram à moda oficialmente com a Renascença, graças à família Bórgia, liderada pelo próprio papa Alexandre VI.
Uma vez César e Lucrécia Bórgia deram uma festa e convidaram o povão. Nesta festa cinquenta prostitutas foram comidas por cinquenta convidados escolhidos a dedo. O povão premiou com aplaudos as melhores duplas.
Os Bórgias eram melhores que os Ulysses, Sarneys, Rafaéis e Fernandos Henriques, que jamais convidaram o povão para vê-los beber poir.
As orgias europeias, segundo Giacomo Casanova (que não entrou nesta minha enciclopédia por ser figurinha por demais manjada), atravessaram o barroco e só pararam, pelo menos oficialmente, com a subida ao trono da rainha Vitória, baixinha, gordinha, feinha, que amava muito o marido alemão, mas não desprezava uma manga carlotinha de vez em quando.
Atualmente, uma boa orgia pede principalmente muita grana e é um luxo exclusivo da grã-finada.
Às vezes em que fui convidado, por engano, a uma dessas festas, achei tudo muito deprimente, pois estava na cara que a grande maioria das mulheres era composta de profissionais, pagas para encenar orgasmos.
Essas coisas são boas quando acontecem espontaneamente, como aconteceu na suite de conhecida atriz americana em Madri, em 1969.
Éramos quatro homens e sete mulheres. Eu estava comendo uma namoradinha italiana que fora à Espanha comigo e ela começou sei lá se por show-off ou porque estava gozando mesmo a radiofonizar seus múltiplos orgasmos.
A atriz em questão a cutucou e perguntou: “Desculpa, mas você está gozando mesmo ou está querendo impressionar?” “Estou gozando mesmo”, respondeu a moça.
E a coroa de Hollywood: “Então deixa eu ficar no teu lugar um pouquinho”.
Já disseram também que aqui no Rio, de madrugada, no Arpoador, a exemplo do que ocorria no Parc aux Cerfs, em Paris, casais motorizados se encontram em determinadas noites de lua cheia para organizarem partouses (orgias). Eu duvido. Não creio que a nova geração tenha tanta imaginação.
Para quem quiser tentar, porém, um último aviso: camisa-de-vênus no pau e cu contra a parede.

PARAFILIA Qualquer troço feito na cama que ultrapasse o papai-mamãe. Por outro lado (da cama), há quem assegure que anormal mesmo é o papai-mamãe. Parafilia é, portanto, um desvio sexual (no sentido de desviar-se do caminho preestabelecido pela ética moral majoritária), mas tem muito parafilista que moita sobre as suas parafilias. Alguém conhece alguma senhora com menos de sessenta e mais de quinze que já não tenha se imaginado num filme como a mocinha, ou seja, a principal felatriz? Troço perigoso porque mexe com hipocrisia.
A maioria dos parafilistas não faz mal a ninguém. Meu falecido amigo Ronald de Chevalier, grande matemático e poeta gongórico, comentou comigo há alguns anos sobre um seu vizinho que pagava as moças da boate Bolero, da avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, para se vestirem de freiras e lerem em voz alta as atas da Academia Brasileira de Letras enquanto ele descabelava o palhaço. Ele fornecia os hábitos, as atas, o chá com torradas e os cachês.
Tem parafilistas que gostam de cortar pedaços de vestidos de mulher em lugares cheios de gente. Outros roubam calcinhas (aí já entramos no ramo do fetichismo ver verbete , que é uma forma de parafilia das mais comuns) estendidas nos varais dos quintais de subúrbio.
A cleptomania é, talvez, a forma mais popular de parafilia e vejam vocês, leitorinhas que me honram com os olhos cheios de lascívia 90% dos cleptomaníacos são cleptomaníacas. Mulheres às vezes ricas, que se arriscam a sofrer os maiores vexames roubando besteiras como tesourinhas, batons, vidros de esmalte nas Sears, Mesblas e C&A da vida.
Duas atrizes famosas dos anos 30-40, Verônica Lake (amor da minha vida) e Hedy Lammar, foram apanhadas em flagrante roubando bijuterias. Coisa mais triste: segundo a maioria dos sexólogos, depois do roubo, em casa, se masturbavam, pensando no risco que haviam corrido. Chato, né?
Mesmo velhinhas, na época em que isto aconteceu, quinze anos atrás, elas poderiam ter apelado para o ardoroso fã que ora escreve estas mal bolinadas letras.
Com o objeto roubado nas mãos, elas se masturbam. Atingido o orgasmo, a quinquilharia é jogada fora e a paz volta à região da vulva como o arco-íris depois de uma tempestade.
A parafilia é uma árvore cheia de ramos. Um dos ramos mais habitados é o que trata dos malucos chegados à uma deformidade física. Eu disse malucos? Besteira minha. O que seria dos manetas, das pernetas, dos caolhos e das berruguentas sem esses heróis e heroínas?
Em Amsterdam, há cinco anos, meu primo Johann von Wolffenbüttel me disse que vem aumentando na cidade os bordéis para parafilistas. Neles as profissionais, mais do que trepar, têm que demonstrar talento histriônico.
Tem a moça especializada em jogar tortas na cara do freguês até ele gozar. Tem a outra que, com os seios ao ar livre, corta as unhas do cliente. E tem até mesmo uma professora de latim, que toma os verbos de um banqueiro que erra propositalmente para ser posto de castigo: nu com um boné em forma de cone na cabeça, onde se pode ler a palavra “burro”.
Daqui a algum tempo, parafílico mesmo será o ato sexual responsável praticado por mim que vos escrevo e por vós, maníacos sexuais que me lêem.
Uma parafilia que está virando moda entre escritores menores é a de tratar os leitores na segunda pessoa do plural, como adoram fazer os maus tradutores de Shakespeare, Johnson, Marlowe e outros menos votados.

Calma, esperem um pouquinho... não digam nada... gozei!

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