quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 39)


KADHAFI, Muammar Al (1942- ) – Desde 1970 que é o primeiro-ministro (um dos muitos eufemismos para ditador: na América do Sul, Brasil inclusive, prefere-se a forma “presidente”) da Líbia, país quente e chato que se tornou mais quente e chato depois que ele tomou o poder. É isso mesmo: Kadhafi deu o golpe no rei Idris I. Creio que se eu tivesse dado o azar de nascer na Líbia também daria um pé na bunda do primeiro rei que folgasse comigo.
Kadhafí conseguiu fazer coisas positivas: expulsou as bases britânicas e americanas do país e expropriou os bens dos italianos e judeus.
Além disso, em 1973, nacionalizou todas as companhias estrangeiras que exploravam petróleo.
De boca defende a OLP, mas quando chega a hora de provar alguma coisa manda um telegrama para Yasser Arafat aconselhando-o a se matar antes de entregar-se às tropas do sionista Sharon.
Arafat preferiu não se suicidar, mas também não arrepiou e até conquistou uma vitória política para a sua organização.
Internacionalmente tenta divulgar a língua árabe e financia garotos e garotas que ficam enchendo o meu, o seu, o nosso, o vosso saco nas principais ruas das principais cidades da Europa pedindo dinheiro para a casa de Kadhafi.
São the children of the universe. Quando você pede a eles para irem chupar uma meia Lobo ou entrarem para o PC eles tentam imitar Deus entediado diante dos teus olhos mortais.
Kadhafi propôs a união islâmica a Sadat, mas ele foi mandado para junto de Maomé antes de poder dar uma resposta ao ex-coronel líbio.
Cerca de dois anos atrás passou a figurar alto na cotação política internacional graças à mancada de Reagan (o canastrão do Apocalipse), que bombardeou a Líbia e quase começou a festa nuclear.
Figura no meu ABC porque a letra K é muito pobre e porque, além de proibir o fumo e o álcool em seu país, dizem que entuba. Eu não digo nada. Há quem diga que ele entuba, ou seja, toca tuba. Entenderam? Entenderam? Compreenderam? Perceberam, seus chinchorros cloráticos? Eu não tenho nada com isso. Parece que por lá tocar tuba não é pecado.

KAMA-SUTRA – Vatsyayana (Vatsy para os íntimos) Mallanaga era um jovem poeta rico e talentoso que morria de tédio. Seus amigos – playboys como ele – viviam se queixando: “Já experimentamos todas as posições em matéria de sexo. Ninguém aguenta mais esse mesmo rame-rame”. Vatsy foi pesquisar o que havia sobre o assunto na literatura sânscrita e por volta do ano 100 d.C. começou a escrever o Kama-sutra (Versos de Kama, o Deus do Amor). 
O manual, que trata, além de sexo, principalmente do comportamento que se espera das castas superiores, foi sendo aperfeiçoado durante uns quatrocentos anos.
Apesar do seu caráter erótico, faz parte da literatura religiosa da Índia, o que se deve à importância dada pelos hindus à perpetuidade da família.
O Kama-sutra é como o Finnegans Wake, de Joyce, e O Coração, do A.C. Magalhães. O primeiro todo mundo fala dele, mas ninguém leu; o segundo, dizem que existe, mas ainda não deu nenhuma prova.
Eu, porém, posso dizer que o Kama é chato, pois li a tradução do Richard Burton.
É composto de onze capítulos que tratam das sessenta e quatro artes que o homem sofisticado deve conhecer e dos sessenta e quatro talentos da voluptuosidade; os princípios que devem ser observados para uma vida em sociedade; as uniões permitidas e as proibidas; os deveres conjugais do rei, do homem, da mulher, prendas domésticas, etc.
Dá dicas de tudo: desde como fazer um papagaio subir a como fazer um pau falar ou vice-versa, que já não lembro.
Vatsy informa no capítulo referente às posições sexuais, que é muito excitante lamber a axila da mulher enquanto se faz cócegas na planta dos pés dela com o dedão do nosso pé direito.
No capítulo referente ao que é e não é bom-tom, ele pisa na bola: “Embora as mulheres de Abhirra gostem de chupar pau e as mulheres de Benara apreciem um coito anal, essas gratificações são consideradas inferiores e não devem ser praticadas”.
O Kama não é contra bater na mulher desde que a violência da paixão não cause nem morte nem ferimentos graves.
Quanto aos afrodisíacos, há mais de duzentas receitas.
Eu, porém, hesitaria antes de acreditar que qualquer mulher se manterá fiel a mim para sempre se eu passar merda de burro com pó de noz-moscada nos pentelhos dela. Quem é que vai querer comer alguém todo sujo de cocô?
Finalmente o livro aconselha as mulheres-pomba a casar com os homens-lebre, as mulheres-mula a casar com os homens-búfalo e as mulheres-elefante a casar com os homens-cavalo.
É isso mesmo que vocês estão pensando: o homem-cavalo, ao ejacular, poderia explodir a mulher-pomba. Já o homem-lebre se perderia dentro da xota da mulher-elefante.
Vatsy informa ainda aos seus leitores que não é aconselhável trepar com leprosas.

KEELER, Christine (1942- ) – Boa pacas! Michê de 100 libras... no princípio da carreira. Chegou a balançar o ministério britânico por volta de 1963. Aos dezesseis anos, acometida de uma terrível vontade de dar (coceira também conhecida como tesão galopante), deixou a província e se mandou para Londres, onde, entre uma escada e outra, tirava a roupa numa boate. Neste inferninho, cujo nome a História não registra e não interessa mesmo, ela foi introduzida ao Dr. Stephen Ward. Na mesma noite ele se introduziu nela.
Acontece que o bom doutor ganhava uma grana extra como proxeneta e imediatamente passou a introduzir Christine aos industriais, políticos, aristocratas and other rascalls. Gente, enfim, que tivesse dinheiro para introduzir o aquilo no naquilo da moça.
Eu não sei se é a grana que atrai as mulheres peladas ou se são as mulheres peladas que atraem a grana. A verdade é que o Ward e a Cristininha estavam as the devil likes.
Ele dava festinhas em seu apê incrementadíssimo e convidava os javalis do society. A Christine convidava suas amiguinhas. A sacanagem corria solta com sexo grupal, flagelação, uma sodomiazinha de sobremesa e tudo aquilo que a nossa vã filosofia não alcança, como, por exemplo, o garçom da suruba.
Diz Christine: “Ele era uma figura conhecidíssima da sociedade e as únicas peças que vestia eram uma rosa no rabo e um laçarote no piu-piu. Era ele que servia pó, erva e pico pros convidados numa bandeja. Usava uma máscara, evidentemente, para não ser identificado”.
Enquanto isso, na neve, do lado de fora da janela, o proletariado inglês sifu do modo pouco original que os pobres têm de sifuder.
Foi numa dessas festinhas, enquanto Christine molhava o monte de vênus e, de consequência, o resto do corpo nu, na piscina, que lorde John Profumo, então o ministro da Guerra de Sua Majestade Elisabeth II, fez a sua entrada.
Botou os olhos no popô da Keeler, então com vinte e um anos, e chamou o Stephen Ward para um canto: “Também vou querer”.
Acertaram o preço e o lorde Profumo passou a molhar o fumo nos orifícios cristinais.
Acontece que outro sujeito já estava molhando o seu esturjão por ali sem que o ministro da Guerra soubesse: nada menos que Eugene Ivanov, adido naval e espião da embaixada russa.
Como os mais perspicazes já devem ter percebido, os ingredientes para a monumental cagada estavam todos à mão. Faltava apenas misturá-los.
Informado a tempo, o lorde retirou o fumo.
Alguns meses depois, porém, um sujeito chamado Edgecombe, que Christine havia chutado depois de ter dado umas voltinhas, alui o apartamento de Ward numa tentativa de vê-la. (Eu sempre disse: os Edgecombes são muito fominhas.)
A polícia foi chamada e durante o julgamento do invasor de domicílio, ela informou: “Ora, que bobagem, até mesmo o ministro da Guerra é habituée da minha cama”.
Mas Christine era uma putinha e Profumo era troço pacas.
De modo que algumas semanas depois ela fugiu pra Espanha, provavelmente a mando dele, que no dia 22 de março de 1963 fez o seu célebre discurso perante os membros da Câmara dos Comuns.
Se resumia numa frase: “Senhores, juro por minha honra que nunca molhei o brioche naquela chávena”.
O pessoal não acreditou e acreditou menos ainda quando um jornal de Londres publicou uma carta dirigida a Christine (o babaca escrevia, gente!) dizendo como gostara de fazer o que fizera com ela. Acabou confessando e resignando do cargo. Nem sei se está vivo.
Vendo que o rio não estava para piranhas, Christine mandou Ward passear e se mandou com um crioulo jamaicano que não se chamava Profumo, mas era pró-fumo, tremendo puxador.
Ward foi preso por conduta imoral e se suicidou antes do julgamento.
Christine vendeu suas memórias por 50 mil dólares para o jornal News of the World, que aumentou consideravelmente a tiragem, pois não há nada que o povão goste mais do que sacanagem.
Há alguns anos vi um filme muito ruim sobre a vida da moça num cinema em Copenhague.
Hoje (1988) com quarenta e seis anos, deve ter baixado a tabela.

O Evaristo Paraná diz que a comeu na Alemanha, mas o Paraná é o cara mais mentiroso que eu conheço.

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