ÍNCUBO
E SÚCUBO – São que nem tique-taque, ziguezague,
pingue-pongue, não dá pra falar de um sem falar do outro. Há quem
diga que eles não existem, mas o que tem de nego em terreno de
macumba que parece estar sendo enrabado pelo diabo, não é
brincadeira. Negócio é o seguinte: o íncubo, que quer dizer
literalmente “pesadelo” em italiano (embora isto não tenha nada
a ver com as calças deste verbete), é um diabo que mantém relações
sexuais com mulheres. Diz a lenda que o mago Merlin (lembram do filme
Excalibur?) era filho de um íncubo. Já o súcubo (devia
chamar-se súcuba, pois é uma diaba) gosta de trepar com ho mens.
Daí a mulher incubar e o homem sucumbir. Eu, entre um casamento e
outro, vivo sucumbindo. Sério: não precisa me cantar muito pra eu
sucumbir. Mas vamos voltar ao que interessa e por isso vou fazer até
um parágrafo.
Os
verdadeiros criadores dos súcubos e dos íncubos foram os cristãos
da Ida de Média que reprimiam o sexo.
Não
sei quem inventou que Jesus Cristo alguma vez foi contra o ato de
fazer amor. Pessoalmente, até desconfio que ele traçou a Madalena.
Aliás,
não foi ele quem defendeu a adúltera contra os atiradores de pedras
que, como a turma do Monty Python nos mostrou no filme A Vida de
Brian, era composta de mulheres usando barbas postiças? Nada
mais sujo que a cabecinha de um puritano!
No
período pré-renascentista, os sacanas dos íncubos infestavam os
conventos. Era só alguém abrir uma frestinha que entra vam íncubos
de todos os tamanhos, marcas, tipos e jeitos.
Gostavam
muito de freiras e também de virgens e viúvas. As virgens, então,
viviam se queixando: “Eu estava distraída na cama quando um incubo
me comeu”.
É
lógico que os médicos mais esclarecidos (havia alguns, podeis crer)
viam nesses íncubos e súcubos nada mais que a realização
histérica de fantasias sexuais.
Até
uns duzentos anos atrás, porém, a Igreja garantia que se tratava de
diabos com a aparência humana.
Lembram
daquelas freirinhas do convento de Loudun lideradas por madre Joana
dos Anjos sobre as quais Aldous Huxley escreveu tão bem? Todas
possuídas por íncubos!
Se
sexo não é a mola que move a humanidade, pra que grana, pra que
poder, pra que sucesso?
Tinha,
é lógico, muita mulherinha da pá virada (deve fazer uns vinte anos
que eu não escrevo “pá virada” e vai levar outros vinte para eu
escrever “pá virada” e nesta brincadeira já escrevi “pá
virada” quatro vezes) que fantasiava o vizinho de íncubo e fazia
tudo o que o diabo gosta, enquanto os chifres do marido cresciam.
A
maioria, porém, acreditava que estava possuída pelo demônio.
R.
Scott, um médico do século XVI, deixou escrita a sua opinião de
que íncubos e súcubos não passam de males do corpo que causam
problemas à mente. Foi chamado de burro pelos intelectuais da época
e gozado pra cacete.
Enquanto
isso as mulheres histéricas, que diziam ter sido possuídas por
íncubos, apresentavam sintomas de falsa gravidez. A barriga
realmente inchava e ao fim de nove meses ela dava à luz ar em
profusão.
Vocês
me desculpem, mas tem uma súcuba aqui do meu lado que, por acaso, é
minha mulher e eu pretendo subumbir à ela. Boas sucumbidas e boas
incubadas, aliás, é o que desejo a todos vocês.
INSEMINAÇÃO
(e Inovolução) Artificial –
Não vai doer nada. Primeiro vou inseminá-la e depois inovulá-la. É
quase como brincar de papai-mamãe. Aparentemente, a inseminação é
apenas a introdução do esperma na vagina da mulher por qualquer
outro meio que não a ejaculação propriamente dita. Mas apenas
aparentemente.
Na Umbria (Itália), mais de dez anos atrás, vi como
inseminam as vacas. As coitadas ficam em fila, rabo para cima. Chega
o veterinário e enfia todo o braço envolto em plástico dentro das
clarabelas. Depositam o esperma direitinho nos ovários. O esperma,
não só de touros como de cavalos e cães puro sangue é vendido –
principalmente quando o exemplar é campeão de exposição – a
preço altíssimo. Em Minas Gerais tem um cidadão que vive de porra
de boi que exporta para o mundo todo.
A
inseminação artificial serve também para engravidar mulheres cujos
maridos são estéreis e mais: para engravidar mães de aluguel com
esperma de um homem cuja mulher não pode ter filhos.
Tudo
começou em 1972, quando um casal londrino que não podia ter filhos
procurou o Dr. John Hunter. Ele verificou
que por causa de um problema na uretra o marido não conseguia
ejecular dentro da mulher.
Não
teve dúvidas: mandou ele bater uma punheta, botou o esperma ainda
quente numa seringa e o injetou na parte posterior da vagina da
mulher. Sucesso absoluto. Nove meses depois, nascia a primeira
criança produzida por inseminação artificial.
Outro
dia, ao dar uma palestra para uma turma de jornalistas, parodiei
Jefferson e disse que entre um país sem governo e um país sem
jornais, eu preferia um país sem governo.
Infelizmente,
em termos de Brasil, deram-me mais do que pedi: um país sem governo
e sem jornais.
O
jornalismo deveria informar o povo o que faz o governo e não o
contrário.
Exatamente
por isso a população vive na maior ignorância no que diz respeito
à física nuclear. Só soubemos da existência do césio depois dele
ter matado um bocado de gente.
No
que diz respeito à engenharia genética, a nossa ignorância ainda é
maior, pois o progresso científico envolve fatores éticos, morais,
religiosos, econômicos e, como sempre, políticos.
Um
aspecto positivo: uma senhora casada com quarenta anos espera um
filho. Ela tem uma chance em sessenta de que a criança nasça com a
síndrome de Down, ou seja, com defeitos internos, retardamento
mental e uma morte prematura.
Se
tivesse vinte e cinco anos, a chance da criança nascer com a doença
seria de uma em 1.500.
A
gigantesca maioria, que é pobre, enfrenta os riscos no escuro, mas
esta senhora de que estamos falando vai a um médico especialista
quando está no quarto mês de gravidez.
Ele
tira uma prova do fluido amniótico do seu útero e em seguida conta
os cromossomos. Se tiver um extra, a criança nascerá com a síndrome
de Down.
O
casal pode optar pelo aborto. E a síndrome de Down é apenas uma das
mais de 1.800 doenças congênitas capazes de produzir até mesmo
monstros sem cérebro.
Se
o médico constata que o marido carrega um gene perigoso, o casal
pode optar pela inseminação artificial.
Geralmente,
nesses casos o doador é um estudante de medicina que ganha uma
graninha para bater punhetas e dar ao hospital esperma sem defeitos.
Discretamente,
o médico que trata da mulher que quer ter um filho através da
inseminação, procura um doador saudável que se pareça com o
marido dela.
Eu
pergunto: e se ela escolhesse – porque essas mulheres de um modo
geral têm dinheiro – numa sala, entre vinte doadores, o esperma de
um determinado cidadão, não estaria implícito o adultério?
Há
menos de oito anos uma clínica especializada na Noruega fez uma
pesquisa, com trezentas mulheres que queriam ser inseminadas, sobre
quais qualidades preferiam que tivesse o doador do sêmen.
Duzentas
e trinta queriam que ele fosse inteligente, física e mentalmente
saudável e reconhecidamente honesto.
Setenta
queriam que eles fossem parecidos com os respectivos maridos.
Se
não houver uma legislação muito séria sobre este assunto, podemos
muito bem cair (se é que já não caímos sem saber) no fascismo
genético.
Por
exemplo: um cavalo campeão de corridas, com seu esperma, pode
engravidar num ano 10 mil éguas. E se começarem a vender esperma de
prêmios Nobel, campeões de atletismo, artistas de cinema? Teríamos,
de repente, milhões de Paul Newmans, Milton Friedmans, Pelés e
Alexander Flemmings e – é preciso contar, principalmente, com as
imbecis – Silvester Stallones e Josés Sarneys? E o homem comum, o
operário comum, se tornaria ainda mais parte de uma raça inferior à
parte? E quando irmãos começassem a trepar entre si?
E
o que é que vocês pensam da inovulação artificial?
É
o seguinte: mulheres com bloqueio nas trompas não podem engravidar.
Entretanto, a medicina genética, há mais de dez anos estimula os
ovários da mulher com hormônios. Depois disso, remove os óvulos,
que são fertilizados em laboratório com o esperma do marido.
Os
óvulos crescem numa solução morna, rica e nutritiva durante oito
dias. Em seguida os médicos escolhem um óvulo que se transformará
numa criança e os demais são jogados na lata de lixo.
O
óvulo escolhido, já embrião, é colocado no útero da mulher e
nove meses depois nascerá uma criança, filha de alguém que em
princípio não poderia ter filhos. Ao escolher qual dos óvulos
vingará, os médicos não estão brincando de Deus?
A
complexidade, porém não pára aí.
Uma
vez fertilizado, o óvulo pode ser depositado em qualquer útero.
Quem garante que já não existem mulheres ricas e comodistas que
preferem ter os óvulos fertilizados fora do útero e depois
colocalos no útero de uma mulher que ganharia dinheiro para carregar
o filho alheio?
Isso
já acontece com animais. Os veterinários retiram, por exemplo, os
óvulos de uma vaca (algumas dezenas) que são fertilizados pelo
esperma de um touro campeão. Um óvulo é recolocado na vaca
original e os demais em outras.
Se
elas estão longe, o óvulo viaja agarrado no útero de uma coelha e,
posteriormente, é transferido para a vaca.
Com
bichos, tudo bem, mas numa luta judicial para a posse de uma criança
de quem é o filho? Da dona do óvulo ou da que carregou a criança
por meses? Isso para não falar do bebê de proveta, que cresce fora
do útero.
Quem
sabe dentro de algum tempo poderemos ter um feto num vaso, como
decoração, em nossa sala de visitas? Ficamos todos batendo papo
vendo-o crescer lentamente.
Levando-se
em conta a ignorância irresponsável dos políticos que dominam o
mundo neste fim de século, pensem o que cientistas loucos, físicos
e biólogos com mania de grandeza podem fazer! Bum!
ISHERWOOD,
Christopher (1904-1987) – Eu poderia escrever um verbete
sobre Somerset Maugham (O Fio da Navalha), ou Edward Morgan
Forster (Passagem Para a Índia), ou qualquer grande escritor
menor inglês nascido no fim do século passado ou princípios deste
que fosse bem-comportado e tia velha como Isherwood. Acontece que a
letra “I” está muito pobre de personagens. Sobrou pra ele,
portanto.
Garoto
da alta classe média, ele descobriu sua preferência aos doze anos,
quando gozou ao lutar com um coleginha. Na mesma escola, aliás,
estudava o excelente poeta Hugh Wystan Auden, três anos mais moço,
também viadinho e que chegou a ser seu amante por muitos anos.
Isherwood,
que gostava de ver seu pai – que morreu durante a Primeira Guerra
Mundial – fazer ginástica meio pelado no quarto, só conseguiu
convencer sua mãe de que era chegado a um trolho quando tinha quase
cinquenta anos. Ele, Maugham, Forster e muitos escritores britânicos
eram enrustidíssimos.
Quem
ler seus livros com atenção verá, porém, que tanto o professor de
Forster de Passagem Para a Índia, como o escritor de Maugham
de Fio da Navalha e o jovem professo de The Berlin Stories,
de Isherwood, são completamente assexuados. Aliás, isso fica mais
ou menos claro pelo menos na transposição de Passagem Para a
Índia e The Berlin Stories (Cabaré), para o cinema.
Depois
de passar alguns anos dando muito nos bares gay de Berlim pra
Hitler, Isherwood entrou para o partido comunista, mais porque era
moda que por ideologia.
Mudou
para os Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial, mas só aos
sessenta e cinco anos confessou publicamente seu homossexualismo.
Eis
um trecho de uma entrevista que deu para o Gay Sunshine (O
Raiar do Sol Bichal), de São Francisco: “Apaixonei me quando ainda
adolescente, mas nunca fiz nada a respeito. Só na universidade tive
um affair deveras
físico. Não tinha qualquer dúvida sobre minha homossexualidade.
Era como uma escolha que minha mente e meu corpo tinham feito em
caráter definitivo. Estava pronto a admitir que poderia ser
igualmente heterossexual se quisesse. Cheguei a fazer uns dois
testes. Tudo funcionou direitinho, mas eu preferia garotos e já
sabia que podia amá-los. Sempre fui perfeitamente feliz como sou. Se
minha mãe é responsável por isso, sou-lhe grato... Foi em Berlim
que conheci André Gide (autor de Os Moedeiros Falsos, prêmio
Nobel). O francês também gostava de meninos. No bar que
frequentávamos, na ausência de alguém suficientemente jovem para
ele, arranjaram-lhe um rapazinho que tinha de fato vinte anos mas que
aparentava ter quinze. Não houve reclamações”.
Até
sua morte não houve uma bichinha bem-comportada que não o adorasse,
quer nos Estados Unidos, quer na Inglaterra.
Apesar
de andar sempre com viados (“Sinto-me asfixiado quando estou longe
de minhas irmãs e irmãos”), apesar de nunca ter tido uma
namorada, apesar de desmunhecar pacas e apesar dos personagens
centrais dos seus livros serem sempre indefinidos, Isherwood ficou
muito surpreso ao saber que sua confissão de profissão de fé
homossexual não apanhou ninguém de surpresa.
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