sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 42)


LANDRU, Henri Désiré (1869-1922) – Baixinho, careca, feio, pobre, metódico, abstêmio e vaidoso. Entretanto, este parisiense fudido, comeu proporcionalmente em quatro anos – 1914-1918 – mais mulheres que Casanova e Dom Juan juntos. Se houvesse se limitado a fazer amor enquanto a Europa fazia guerra, tudo bem. Acontece que Landru, que manteve relações com no mínimo 283 mulheres, matou pelo menos dez.
Conhecia suas vítimas através de anúncios de jornais ou abordando-as na rua.
Teve mais de sessenta e cinco mulheres por ano e, às vezes, chegava a encontrar sete num só dia.
Tanto sua mulher como sua amante fixa – Fernande Segret – declararam que o amavam muito, que ele era gentil, bom e afetuoso.
Landru, evidentemente, matava aquelas que tinham algum dinheiro, mas acabou lucrando apenas 8 mil dólares, o que não é muito.
Foi para a guilhotina sem confessar porra nenhuma.
Dizem que seu advogado teria perorado:
Acusam este homem da morte de dez mulheres. Entretanto, seus corpos não foram encontrados. O que diriam se uma delas entrasse aqui neste momento? Por favor, aproxime-se, minha senhora.
Todos os jurados teriam se voltado para a porta para a qual falava o advogado, que, ato contínuo, não perdoou:
Os senhores viraram-se para a porta. Consequentemente, têm dúvidas. Não sabem, realmente, se as mulheres estão mesmo mortas.
Infelizmente para Landru, um jornalista teria notado que ele não havia olhado para a porta.
Era o único que podia ter certeza que nenhuma das dez mulheres estava viva.
Antes de ser separado da sua cabeça, respondeu a alguém que lhe perguntou por que havia aparado a barba minutos antes:
Não posso desapontar minhas admiradoras.
Em 1946, Chaplin fez um filme – Monsieur Verdoux – baseado nas suas aventuras e, em 1968, teriam encontrado uma confissão sua atrás de um desenho emoldurado que dera de presente a um dos seus advogados:
“Queimei os corpos delas no forno da minha cozinha.”

LAUGHTON, Charles (1899-1962) – Um dos maiores atores ingleses do século. Quem não lembra dele no papel de capitão Bligh, em O Grande Motim ou de sir Wilfrid Robarts, de Testemunha de Acusação? Era genial e o dia em que decidiu dirigir fez uma obra-prima e transformou Robert Mitchum num dos maiores atores americanos de todos os tempos: O Mensageiro do Diabo. Quando lhe perguntaram por que não voltava a dirigir, alegou preguiça. Segundo ele mesmo declarou, tinha uma cara que parecia uma bunda de elefante. Agora imaginem como era a sua bunda. Apesar disso, um dia, sua mulher, a também atriz Elza Lanchester, entrou em casa e o surpreendeu com uma mandioca na bunda. Mandioca é sofisticado eufemismo para pau e pau de um atorzinho de terceira. Laugthon se desculpou e informou:
– Só tem uma coisa que eu gosto de fazer mais do que te amar: entregar o anelão de couro.
Elza ficou chateada, mas acabou por se acostumar. Trepavam eventualmente, mas ela não quis mais ter filhos.
Dizia que não gostava de crianças. Gostava sim. Gostava menos, porém, que suas eventuais crianças tivessem um pai baitolo.
Um dia brincou com uma amiga:
– Quando Charles aparece em casa com alguns garotos eu vou ao mercado comprar torta de peras para eles. Realmente, não me importo. Não gosto de torta de peras.

LAWRENCE, David Herbert (1885-1930) – Um grande poeta mesmo. Se tivesse vivido mais – a tuberculose estava à espreita e desde já peço perdão por esta metáfora de merda – teria experimentado tanto como Elliot e Pound. Filho de um mineiro de Nottingham, ele viu a vida rural abrir as pernas para a crescente industrialização da terra e coisificação do homem. Enquanto lutava contra o modernismo industrial, paradoxalmente, recriava as formas literárias decadentes da Inglaterra vitoriana através de versos livres. Não, meu filho, não foi o Mário de Andrade quem inventou o verso livre numa das 120 mil cartas que escreveu para os amigos guardarem e publicarem depois da sua morte ou, se possível, de preferência antes.
Em 1911 ele publicou sua primeira novela — O Pavão Branco — e, em 1913, o clássico Filhos e Amantes.
A partir daí passou a viver da publicação dos seus textos e da grana da sua mulher, Frieda von Richtofen, prima do Barão Vermelho, que durante a Primeira Guerra Mundial mandou pintar seu avião a fim de atrair os aliados e derrubá-los.
Mas ficou famoso mesmo post-mortem, mais precisamente depois que passou a lutar com o beagle Snoopy, nas histórias em quadrinhos de Schultz.
Mas voltemos ao Lawrence, que só Sephodeu Epaminondas das Silva depois do barão.
De saco cheio com a Inglaterra, Lawrence e sua mulher viveram principalmente no exterior: Itália, México, Austrália, Ceilão.
Foi perseguido a vida inteira pelos adoradores de tabus, preconceitos, convenções e outras utilidades para uso público e doméstico.
Em 1915, uma corte inglesa decretou que seu livro O Arco-íris era pornográfico.
Em 1928, a polícia fechou uma galeria que expunha uma série de desenhos que ele havia organizado. Por quê? Porque as obras mostravam essas coisas feias boladas por Deus e com as quais se fazem os seres humanos.
A maior porrada, porém, ele levou em 1929. Seu livro, O Amante de Lady Chatterley, havia sido publicado na Itália.
Imediatamente as autoridades inglesas deram ordem na Alfândega para impedir a entrada de qualquer livro no país.
Só em 1960, durante um julgamento, no qual testemunharam centenas de experts em arte e censura (como se uma coisa não abolisse a outra necessariamente), a obra foi liberada na Inglaterra.
Porra, viva o governo do Getúlio Vargas!
Em 1953, eu tinha treze anos e roubei da livraria do Globo, de Porto Alegre, um exemplar traduzido para o português que ficou muito gasto e lambuzado entre as páginas 113 e 117 e 182 e 184.
Os ingleses não podiam perdoar que Mellors, um guarda-florestal, comesse até mesmo o cuzinho da lady Chatterley.
Embora servisse perfeitamente ao propósito, Lawrence não escrevia apenas para motivar sexualmente os seus leitores.
Para ele, como posteriormente para Henry Miller, o único modo do homem ser genuinamente ele mesmo e não um boneco da civilização industrial (agora, eletrônica) era através de uma intensa vida sexual.
Segundo eles, a raiz da sanidade mental está nos bulhões de carvalho.
Um grande estilista, o único que faz com que eu consiga ler, sem morrer de tédio, vinte páginas de descrição da natureza, acreditava que o mundo caminhava – como o Brasil – para o abismo e que a única ponte era o birro.
Realmente, se todo o mundo, inclusive os burocratas, os banqueiros, os militares, os capitães-de-indústria, tivesse feito amor com suas mulherinhas desde então, hoje talvez não tivéssemos este golpe parado no ar nem esta ameaça de guerra atômica sobre as nossas cabeças e as cabeças dos nossos filhos.

LAWRENCE, Thomas Edward (1888-1935) O outro Lawrence, por sinal contemporâneo do David Herbert, foi o T. E. Lawrence, ou seja, o Thomas Edward Lawrence, mais conhecido graças ao desempenho do ator Peter O'Toole no filme Lawrence da Arábia.
Viveu cinco anos mais que D.H., mas nunca se encontraram.
Quando a Primeira Guerra Mundial estourou, o da Arábia, que era um expert em assuntos do Oriente Médio, ajudou os países árabes a se livrarem da dominação turca para caírem com maior facilidade nas malhas hering inglesas.
Acabada a guerra, escreveu Os Sete Pilares da Sabedoria, em seguida se alistou novamente na RAF como soldado raso, sob o nome de T.E. Shaw, em homenagem ao seu amigo Bernard Shaw, que, por sinal, não ia com os cornos do outro Lawrence.
Em seu livro ele descreve o homossexualismo árabe como limpo, puro e assexuado.
Entretanto, não conta nada sobre quando foi brutalmente sodomizado pelos turcos que o capturaram em 1917.
Basta ler o livro para ver que o Lawrence gostou. Era das arábias mesmo.

Morreu num desastre de motocicleta aos quarenta e sete anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário