LANDRU,
Henri Désiré (1869-1922) – Baixinho, careca, feio,
pobre, metódico, abstêmio e vaidoso. Entretanto, este parisiense
fudido, comeu proporcionalmente em quatro anos – 1914-1918 – mais
mulheres que Casanova e Dom Juan juntos. Se houvesse se limitado a
fazer amor enquanto a Europa fazia guerra, tudo bem. Acontece que
Landru, que manteve relações com no mínimo 283 mulheres, matou
pelo menos dez.
Conhecia
suas vítimas através de anúncios de jornais ou abordando-as na
rua.
Teve
mais de sessenta e cinco mulheres por ano e, às vezes, chegava a
encontrar sete num só dia.
Tanto
sua mulher como sua amante fixa – Fernande Segret – declararam
que o amavam muito, que ele era gentil, bom e afetuoso.
Landru,
evidentemente, matava aquelas que tinham algum dinheiro, mas acabou
lucrando apenas 8 mil dólares, o que não é muito.
Foi
para a guilhotina sem confessar porra nenhuma.
Dizem
que seu advogado teria perorado:
Acusam
este homem da morte de dez mulheres. Entretanto, seus corpos não
foram encontrados. O que diriam se uma delas entrasse aqui neste
momento? Por favor, aproxime-se, minha senhora.
Todos
os jurados teriam se voltado para a porta para a qual falava o
advogado, que, ato contínuo, não perdoou:
Os
senhores viraram-se para a porta. Consequentemente, têm dúvidas.
Não sabem, realmente, se as mulheres estão mesmo mortas.
Infelizmente
para Landru, um jornalista teria notado que ele não havia olhado
para a porta.
Era
o único que podia ter certeza que nenhuma das dez mulheres estava
viva.
Antes
de ser separado da sua cabeça, respondeu a alguém que lhe perguntou
por que havia aparado a barba minutos antes:
Não
posso desapontar minhas admiradoras.
Em
1946, Chaplin fez um filme – Monsieur Verdoux – baseado
nas suas aventuras e, em 1968, teriam encontrado uma confissão sua
atrás de um desenho emoldurado que dera de presente a um dos seus
advogados:
“Queimei
os corpos delas no forno da minha cozinha.”
LAUGHTON,
Charles (1899-1962) – Um dos maiores atores ingleses do
século. Quem não lembra dele no papel de capitão Bligh, em O
Grande Motim ou de sir Wilfrid Robarts, de Testemunha de
Acusação? Era genial e o dia em que decidiu dirigir fez uma
obra-prima e transformou Robert Mitchum num dos maiores atores
americanos de todos os tempos: O Mensageiro do Diabo. Quando
lhe perguntaram por que não voltava a dirigir, alegou preguiça.
Segundo ele mesmo declarou, tinha uma cara que parecia uma bunda de
elefante. Agora imaginem como era a sua bunda. Apesar disso, um dia,
sua mulher, a também atriz Elza Lanchester, entrou em casa e o
surpreendeu com uma mandioca na bunda. Mandioca é sofisticado
eufemismo para pau e pau de um atorzinho de terceira. Laugthon se
desculpou e informou:
–
Só tem uma coisa que eu gosto de fazer mais do que te amar: entregar
o anelão de couro.
Elza
ficou chateada, mas acabou por se acostumar. Trepavam eventualmente,
mas ela não quis mais ter filhos.
Dizia
que não gostava de crianças. Gostava sim. Gostava menos, porém,
que suas eventuais crianças tivessem um pai baitolo.
Um
dia brincou com uma amiga:
–
Quando Charles aparece em casa com alguns garotos eu vou ao mercado
comprar torta de peras para eles. Realmente, não me importo. Não
gosto de torta de peras.
LAWRENCE,
David Herbert (1885-1930) – Um
grande poeta mesmo. Se tivesse vivido mais – a tuberculose
estava à espreita e desde já peço perdão por esta metáfora de
merda – teria experimentado tanto como Elliot e Pound. Filho de um
mineiro de Nottingham, ele viu a vida rural abrir as pernas para a
crescente industrialização da terra e coisificação do homem.
Enquanto lutava contra o modernismo industrial, paradoxalmente,
recriava as formas literárias decadentes da Inglaterra vitoriana
através de versos livres. Não, meu filho, não foi o Mário de
Andrade quem inventou o verso livre numa das 120 mil cartas que
escreveu para os amigos guardarem e publicarem depois da sua morte
ou, se possível, de preferência antes.
Em
1911 ele publicou sua primeira novela — O Pavão Branco —
e, em 1913, o clássico Filhos e Amantes.
A
partir daí passou a viver da publicação dos seus textos e da grana
da sua mulher, Frieda von Richtofen, prima do Barão Vermelho, que
durante a Primeira Guerra Mundial mandou pintar seu avião a fim de
atrair os aliados e derrubá-los.
Mas
ficou famoso mesmo post-mortem, mais precisamente depois que passou a
lutar com o beagle Snoopy, nas histórias em quadrinhos de Schultz.
Mas
voltemos ao Lawrence, que só Sephodeu Epaminondas das Silva depois
do barão.
De
saco cheio com a Inglaterra, Lawrence e sua mulher viveram
principalmente no exterior: Itália, México, Austrália, Ceilão.
Foi
perseguido a vida inteira pelos adoradores de tabus, preconceitos,
convenções e outras utilidades para uso público e doméstico.
Em
1915, uma corte inglesa decretou que seu livro O Arco-íris
era pornográfico.
Em
1928, a polícia fechou uma galeria que expunha uma série de
desenhos que ele havia organizado. Por quê? Porque as obras
mostravam essas coisas feias boladas por Deus e com as quais se fazem
os seres humanos.
A
maior porrada, porém, ele levou em 1929. Seu livro, O Amante de
Lady Chatterley, havia sido publicado na Itália.
Imediatamente
as autoridades inglesas deram ordem na Alfândega para impedir a
entrada de qualquer livro no país.
Só
em 1960, durante um julgamento, no qual testemunharam centenas de
experts em arte e censura (como se uma coisa não abolisse a outra
necessariamente), a obra foi liberada na Inglaterra.
Porra,
viva o governo do Getúlio Vargas!
Em
1953, eu tinha treze anos e roubei da livraria do Globo, de Porto
Alegre, um exemplar traduzido para o português que ficou muito gasto
e lambuzado entre as páginas 113 e 117 e 182 e 184.
Os
ingleses não podiam perdoar que Mellors, um guarda-florestal,
comesse até mesmo o cuzinho da lady Chatterley.
Embora
servisse perfeitamente ao propósito, Lawrence não escrevia apenas
para motivar sexualmente os seus leitores.
Para
ele, como posteriormente para Henry Miller, o único modo do homem
ser genuinamente ele mesmo e não um boneco da civilização
industrial (agora, eletrônica) era através de uma intensa vida
sexual.
Segundo
eles, a raiz da sanidade mental está nos bulhões de carvalho.
Um
grande estilista, o único que faz com que eu consiga ler, sem morrer
de tédio, vinte páginas de descrição da natureza, acreditava que
o mundo caminhava – como o Brasil – para o abismo e que a única
ponte era o birro.
Realmente,
se todo o mundo, inclusive os burocratas, os banqueiros, os
militares, os capitães-de-indústria, tivesse feito amor com suas
mulherinhas desde então, hoje talvez não tivéssemos este golpe
parado no ar nem esta ameaça de guerra atômica sobre as nossas
cabeças e as cabeças dos nossos filhos.
LAWRENCE,
Thomas Edward (1888-1935) – O
outro Lawrence, por sinal contemporâneo do David Herbert, foi o T.
E. Lawrence, ou seja, o Thomas Edward Lawrence, mais conhecido graças
ao desempenho do ator Peter O'Toole no filme Lawrence da Arábia.
Viveu
cinco anos mais que D.H., mas nunca se encontraram.
Quando
a Primeira Guerra Mundial estourou, o da Arábia, que era um expert
em assuntos do Oriente Médio, ajudou os países árabes a se
livrarem da dominação turca para caírem com maior facilidade nas
malhas hering inglesas.
Acabada
a guerra, escreveu Os Sete Pilares da Sabedoria, em seguida se
alistou novamente na RAF como soldado raso, sob o nome de T.E. Shaw,
em homenagem ao seu amigo Bernard Shaw, que, por sinal, não ia com
os cornos do outro Lawrence.
Em
seu livro ele descreve o homossexualismo árabe como limpo, puro e
assexuado.
Entretanto,
não conta nada sobre quando foi brutalmente sodomizado pelos turcos
que o capturaram em 1917.
Basta
ler o livro para ver que o Lawrence gostou. Era das arábias mesmo.
Morreu
num desastre de motocicleta aos quarenta e sete anos.
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