ISHTAR
– Verdade ou estou de sacanagem? Consultem vossas enciclopédias,
telefonem para os vossos Houaisses, enfim, façam alguma coisa em vez
de olharem para o livro com caras de idiota. Dá azar não acreditar
nela. É uma deusa da Babilônia, bem mais antiga que Ísis, deusa da
fertilidade. Era também conhecida como Milyta e quando os gregos a
importaram passou a ser conhecida como Afrodite, a que mais tarde os
romanos chamariam de Vênus. Caso a Babilônia não houvesse caído
para dar lugar a outras civilizações, estaríamos todos usando
camisas de Ishtar.
Ainda
recentemente arqueólogos descobriram anui letos de lápis-lazúli
esculpidos na forma do seu símbolo sagrado que era... uma xota ou
xoxota, como se dizia antigamente, de generosas dimensões.
Seu
culto na Babilônia (estou falando de mais de 3 mil anos atrás) era
mantido por sacerdotisas de duas espécies: 1) as kadishtu, que eram
castas; e 2) as zermashitu, que vocês já devem ter adivinhado,
traçavam o que pintasse e ainda pediam sobremesa.
Observem
a sacanagem desse pessoal antigo: havia um deus chamado Marduk, que
às vezes tomava a forma humana e pedia para dormir com uma
sacerdotisa numa alcova da velha Torre de Babel.
Lá
ia a moça atrás do deus.
Não
podia contar o que acontecera com ela, mas aparecia no mercado no dia
seguinte com o mesmo sorriso de felicidade que a freirinha daria
muitos séculos depois, após a visita de um tarado ao convento.
Cinco
séculos antes de Cristo, Heródoto escreveu sobre um ritual sexual
público em homenagem à deusa Ishtar: “Toda mulher nascida na
Babilônia, uma vez na vida, tem que ir ao templo de Ishtar e lá
entregar-se a um homem estranho. Ela não terá privilégios e nem
poderá escolhei o seu par. Irá com o primeiro que jogar moedas
sobre o seu colo. Depois de trepar com o desconhecido, terá cumprido
o dever para com sua deusa e poderá voltar pra casa”.
Tem
cada religião phoda, não é mesmo?
O
problema era o seguinte: as altas, bonitas, inteligentes, elegantes
ou ricas encontravam de cara quem pagasse os tubos para comê-las.
Mas
e as baixinhas, feias, burras, desajeitadas, fedorentas, horrorendas?
Muito
bagulhinho babilônio esperava, às vezes, três, quatro anos até
que aparecesse no templo um chinelo mal enjambrado e ela pudesse dar
sua trepadinha em homenagem à deusa.
Mas
antes de vocês começarem a falar mal de Ishtar e correr o risco de
provocar a sua ira, devo informá-las que ela também protegia as
feinhas.
Todos
os anos as moças em idade de casar eram reunidas em praça pública.
Saíam primeiro as bonitas, que eram compradas a peso de ouro.
As
monstrinhas ficavam para o fim e quem quisesse casar com elas não
pagava nada e ainda levava parte do dinheiro que os apressados haviam
pago à municipalidade pelas gatonas.
A
mais feia, naturalmente, ganhava o maior dote e, assim, com as graças
de Ishtar, todas acabavam casando.
JEBÃO,
Nataniel – Esconde a idade, mas deve ter mais de
cinquenta anos. Veio do interior do Nordeste (Piauí, provavelmente),
embora diga que nasceu em Londres. Nunca trabalhou na vida e é
presidente do Sindicato dos Colunistas Sociais sem Coluna. Embora
seja um duro, só traja smoking e é de extrema-direita. Vive
à custa dos vagabundos do society carioca, mas não desdenha
o paulista. Seu ídolo é Ibrahim Sued, embora seja bem mais
alfabetizado que o famoso cronista de O Globo.
Esi
algumas notas que pincei de uma coluna de Nataniel Jebão no tempo em
que escrevia para a revista Status:
Casamento
do Ano – “Foi, sem dúvida, o casamento do ano o de Chiquinha
Paranhos Tigre com Guilherme Pedro Dantas Fuscoli. A cerimónia
religiosa chiquíssima foi mostrada por um sacerdote que sabe que o
dever primeiro da Igreja é tratar das coisas do espírito. (Mire-se
neste exemplo, dom Arns.) O detalhe destoante ocorreu em frente à
mansão dos pais da noiva, na rua Loes Quintas, no Jardim Botânico.
Favelados se jogaram como moscas no mel sobre o vômito de alguns
convidados que beberam champã um pouco demais. É de bom-tom esperar
a retirada do último convidado para depois saborear o vômito da
classe dominante com a elegância que o momento exige.”
Id&Ego...
– “Não fora o simples fato da psicanálise, assim como o cartão
de crédito e o cheque especial, dar status ao psicanalisado, ela é
também uma necessidade junto à nossa sociedade. Nossas locomotivas
são pessoas sobre cujos ombros pesam enormes responsabilidades e do
seu equilíbrio psicológico depende, às vezes, o bem-estar de
milhares de pessoas. Imaginem um alto executivo de uma multinacional
chegar em casa e encontrar seu filho adolescente com um salame
italiano enterrado no rabo! Sem a ajuda de um bom psicanalista como o
meu amigo Eduardo Mascarenhas, o choque pode ser fatal!”
Campanha
Nobre – “As empregadas domésticas, as copeiras, os mordomos,
os chauffeurs que quiserem colaborar com a nossa campanha
'Ajudem os seus patrões a melhorarem a imagem do Brasil no jet-set
internacional' devem mandar seus donativos para esta seção em nome
de Nataniel Jebão. A campanha tem o propósito de fazer com que os
patrões e patroas, quando viajarem em férias para a Europa ou os
States, possam competir com os colunáveis locais, vestindo-se melhor
e gastando mais. Mandem 10% (quem quiser pode mandar 20 % ou 30%) dos
seus salários e o dinheirinho será entregue aos vossos empregadores
discretamente. Imagine como você, copeira, ou você, cozinheira,
ficará feliz ao saber que contribuiu para que seus patrões
abafassem nos inferninhos de Paris, Londres e New York!”
JEFFERSON,
Thomas (1743-1826) – Para o marquês de Lafayette ele
era o homem mais honesto, capaz e sábio da América. É possível,
mas era também um bom sacana. Eis o que o maior intelectual
americano, a menina dos olhos de George Washington, o redator da
Declaração de Independência e o terceiro presidente dos Estados
Unidos escreveu em 1785, sob o título de Notas Sobre a Virgínia:
“O
fino matiz entre o vermelho e o branco na raça branca é preferível
à eterna monotonia da raça negra, cujo irremovível véu escuro
esconde todas as emoções. A nosso favor temos ainda o cabelo liso
ou ondulado e a simetria muito mais elegante da forma. O próprio
preto reconhece a nossa superioridade estética do mesmo modo que o
orangotango da África prefere a mulher preta à orangotanga. Se
levarmos em consideração o fator beleza superior na criação de
nossos cachorros e cavalos, por que não considerá-la no homem?
Os
negros, como todos sabem, eliminam mais líquido através da pele que
através dos rins, o que faz com que espalhem um cheiro forte e
desagradável. Precisam de mais sono do que nós e se atiram com
maior ardor sobre suas fêmeas que nós sobre nossas mulheres. Mas
para eles o amor é mais um ávido desejo que uma delicada e tema
mescla de sensações e sentimentos, como acontece conosco.
As
aflições, mágoas, tristezas e fracassos do preto são passageiras
e sua existência é mais sensorial do que racional. Daí sua
predisposição para dormir quando não está trabalhando. Um animal,
cujo corpo descansa e que não reflete, está mais propenso ao sono
que qualquer outro. Em termos de memória, brancos e pretos se
equiparam. Em termos de razão os negros são inferiores, uma vez que
dificilmente encontraríamos um que compreenda as investigações de
Euclides.
Qualquer
índio, encorajado, nos sublimará com sua oratória. Até hoje, não
encontrei um negro que fosse além da narrativa linear. É preciso
reconhecer, porém, que ele possui maior ouvido para a música, o
tempo, o ritmo, a melodia.
A
raça negra é acusada de ter uma predisposição para o roubo, mas
isso se deve mais às circunstâncias em que vive que a alguma
depravação de ordem moral. O homem a cujo favor não existem leis
de propriedade sente-se menos inclinado a obedecer as leis que
favorecem outros homens.
Apesar
disso, existem negros da mais rígida integridade, gratidão e
fidelidade. Minha opinião de que eles são inferiores quanto à
imaginação e à razão não deve ser aceita integralmente.
Precisamos andar com muito cuidado neste terreno para não degradar
toda uma raça da escala de seres humanos, escala esta que,
provavelmente, foi-lhes dada pelo Criador”.
Jefferson
gostava de negros. Tanto que herdou 135 escravos do seu sogro. Vinte
e dois deles lutaram a favor dos ingleses durante a Guerra da
Independêcia na esperança de se tornarem livres.
De
uma escrava, aliás, ele gostava especialmente: Sally Hemmings, que
vinha a ser meia-irmã de sua verdadeira mulher, Martha Wayles
Skelton.
Sentiram
o drama da hipocrisia americana, da colônia até os dias de hoje?
O
sogro de Jefferson comeu uma escrava que deu à luz uma menina que
não foi perfilhada.
Esta
garota, por sua vez, foi comida pelo próprio Jefferson, que tinha
dois filhos com a mulher e cinco com ela. Sally, aliás, ficou
grávida dele quando tinha apenas quinze anos.
Dizem
que a semelhança de Jefferson com um dos seus filhos mulatos era
tanta que, a certa distância, ninguém distinguia um do outro.
Ele
nunca perfilhou nenhum dos cinco filhos bastardos e se fizesse isso –
é claro – jamais seria presidente dos Estados Unidos. Mas poderia
tê-lo feito depois de deixar a presidência, não é mesmo?
Um
país tão hipócrita onde o grande intelectual, o liberal, o
humanista, o presidente Jefferson mantinha os próprios filhos como
escravos, não poderia mesmo dar certo. Tinha que acabar em Reagan.
Agora,
vocês acham que o crioulo americano não tem razão em querer fazer
castanholas dos culhões do branco?
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