terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 30)


GROUPIE ou Tiete – Como é mais conhecida nos trópicos. Maluquetes entre onze e vinte e cinco anos, geralmente. Eu disse geralmente porque tem também muita velha debilóide. O negócio das groupies, pelo menos nos tempos que andei pela Inglaterra, era dar pra cantor de rock, artista de cinema e jogador de futebol.
Em 1974 estive numa festa onde também estava o Mick Jagger. O mulherio quase arrancou o peru do cara.
Frank Zappa, que foi o líder do conjunto Mothers of Invention, disse para a revista Rolling Stone que suas groupies tinham entre doze e quatorze anos. E mais: “Um dia gravei uma doidinha dessas em delírio dizendo que ia esfaquear a minha mulher para poder ficar comigo”.
Certas groupies mantêm cadernos de anotações sobre o seu ídolo, como tamanho do pau, comprimento do cabelo, cheiro do corpo, número de ejaculações, droga preferida, etc. Countryjoe, que fez a trilha sonora do filme dinamarquês Quite Days in Clichy, baseado no livro de Henry Miller, me disse: “Essas garotas são incríveis. Se você tirar o pau pra fora e pedir para chupar, as outras fazem fila”.
No Brasil vocês viram mães idiotas levarem as filhas para mostrar os peitinhos para esse grupo de viadinhos chamado Menudos.
Não percebem que quando transformam suas meninas em adultas antes do tempo, estão fazendo o jogo da sociedade de consumo.
Sociedade que quer que garotas que deveriam estar brincando com bonecos comecem logo a comprar cosméticos, saias, sapatos, camisetas e vestidos caros.
A maioria é pobre, não tem pai pra pagar esses luxos. Daí a encontrar um pedófilo (tarado que se amarra em criança) qualquer e partir para a prostituição é um pulo.
Na Europa e nos Estados Unidos as garotas vítimas dessa doença viajam por vários países e estados na esperança de deitarem na mesma cama que seu cantor, ator ou atleta preferido.
Chegam a se prostituir para não perderem o ônibus, trem ou avião e – parece mentira – depois de algum tempo, viajando sempre em grupos, as groupies ou tietes acabam por comer umas às outras e verificam que bom mesmo é mulher.
Estão duvidando? Então dêem uma olhada na fila do gargarejo quando algumas das nossas cantoras se apresentam.
Para mim é uma forma de fanatismo masoquista: transferem a responsabilidade da vida delas para um cantor ou uma cantora que precisam das groupies quando estão em início de carreira, mas que quando estão no auge botam os cachorros atrás delas.
Vão por mim, leitorinhas: ser tiete não é uma boa.

GUEIXA – Jovem japonesa treinada para diversão e prazer sexual. Aliás, usei mal o verbo treinar, pois a verdade é que essas moças estudam durante anos para a prática da profissão e só depois de diplomadas é que podem exercê-la. Negócio de profissional.
A palavra teve origem no século XVIII e no princípio havia duas classes de gueixas: as haori e as korobi.
Haori quer dizer jaqueta em japonês e essas moças permaneciam vestidas o tempo todo e recusavam-se a vender seu corpo, ou seja, não eram completas. O ramo delas era contar anedotas, tocar harpa, cantar, servir chá, escrever poemas, etc. Tudo menos botar aquilo naquilo.
korobi quer dizer sexualmente disponível, ou seja, historinhas, musiquinhas, dancinhas, chazinhos, harpinhas e mais aquilo naquilo. Para dizer a verdade, hoje em dia só existem korobis. Também era muita covardia.
A maiko, aprendiz de gueixa, é levada por seus pais, ainda criança, para a okazan (gerenta) de uma universidade gueixal legalmente reconhecida e que um ou outro leitor mais grosso chamaria de randevu ou puteiro, simplesmente. Lá, durante sete ou oito anos, aprendem as artes da feminilidade (nada a ver com feminismo), quer dizer, aprendem o que devem fazer para agradar ao homem.
Há as que ficam para a segunda época ou levam pau no vestibular, o que, no caso japonês, significa que não levarão pau.
Durante o curso elas aprendem a manejar o harigata, uma espécie de piroca de marfim que pode ter de 15 a 30 centímetros, e o knomichinju, também conhecido como pérolas do prazer.
Trata-se de um cordão com bolas de jade a 5 centímetros umas das outras. O cordão, com todas as bolas é colocado no popô da gueixa (às vezes do freguês, no caso dele ser meio perobo) e puxado para fora com muitas ternura na hora do orgasmo ou ejaculação ou – como elas preferem dizer – na “hora da nuvem e da chuva”.
Aprendem ainda a colocar na base da iguaba do senhor e mestre o himitsu- kava, um anel de couro (não o que vocês estão pensando, seus tarados) que mantém a ereção após a primeira, a segunda, a terceira e, às vezes, até depois da quarta.
São ensinadas a manejar dezenas de outros instrumentos de sacanagem que não vou enumerar por falta de saco.
Finalmente diplomada aos quinze, dezesseis anos, a gueixa é rebatizada, ocasião em que ganha nomes como “lágrimas de jade”, “orvalho suave”, “botão de cerejeira”.
Então ela pode escolher ser vendida para um senhor pela soma equivalente a uns 5 milhões de cruzados ou receber clientes na casa da gerenta, ou cafetina para os leitores menos sofisticados.
Se for vendida, ela vai para a residência do comprador como concubina e é recebida com todas as honras pela esposa legítima.
Experts em todo o tipo de escalada sexual, até hoje, porém, as verdadeiras gueixas não admitem nem o fellatio nem o cunnilingus, pois, segundo elas, a boca foi feita para comer e fim de papo.
Aliás, os primeiros beijos no Japão foram vistos através dos filmes americanos depois da Segunda Guerra Mundial.
Embora a linha que separa a gueixa da jono (prostituta) seja cada vez mais tênue, ainda existem cerca de 18 mil delas em Tóquio: sete para cada mil japoneses.

HAMILTON, Alexander (1755-1804) – Filho ilegítimo, foi educado para ser um aristocrata pela família de seus pais adotivos. Nascido e criado nas Ilhas Britânicas Ocidentais, em 1772 já estava em New York, no King’s College (hoje a Universidade de Columbia). Foi o panfletário mais brilhante do seu tempo a defender a causa da independência americana e aos vinte e um anos era capitão de artilharia de New York.
Foi tão competente que em menos de um ano já era o auxiliar nº 1 do general George Washington.
Depois da guerra, casou-se Alice Schuyler, dedicou-se à advocacia e foi o representante de New York na convenção constitucional da Filadélfia em 1787.
Para assegurar a aprovação da nova Constituição (ela existe até hoje. Nada a ver, portanto, com a colcha de retalhos brasileira, uma autorização aos ricos para sugar o sangue dos pobres até a morte) escreveu juntamente com James Madison e John Jay os oitenta e cinco ensaios de O Federalista, que se tornaram clássicos da literatura política e deram forma política aos Estados Unidos.
Aprovada a Constituição, ele serviu sob as ordens do presidente Washington como primeiro secretário do Tesouro (1789-95), criou o Banco dos Estados Unidos e estabeleceu o crédito interno e externo da nova nação.
Líder do Partido Federalista, se viu preterido como candidato a presidente da República em favor de John Adams, que foi eleito e novamente reeleito em 1800.
Quando Jefferson e Burr receberam o mesmo número de votos na campanha daquele ano, Hamilton persuadiu os federalistas que queriam votar em Burr a transferirem seus votos para Jefferson.
Em 1804, igualmente, prejudicou a campanha de Burr para o governo de New York. Desta vez Burr o desafiou para um duelo e contra todas as expectativas (era um excelente esgrimista e um atirador melhor ainda), acabou sendo morto por ele.
Em todas as universidades americanas, este jovem revolucionário, advogado, político, guerreiro, homem de letras, economista, corajoso e boa-pinta, desde há muito é considerado uma das dez personalidades mais importantes da história americana.
Certamente figuraria neste dicionário não fora uma carta que escreveu ao seu companheiro de armas John Laurens, um ano mais velho:
“Meu querido Laurens... eu gostaria de ter o poder – quer por ações, quer por palavras – de convencê-lo do meu amor. Te digo apenas que até você me dar adeus eu mal sabia o quanto você havia ensinado ao meu coração. Você sabe minha opinião sobre os homens, o quanto desejo preservar minha liberdade de qualquer compromisso e manter minha felicidade independente do capricho dos outros. Você não deveria aproveitar-se da minha sensibilidade e roubar o meu afeto sem o meu consentimento. Mas uma vez que você trabalhou muito bem e como devemos ser indulgentes em relação àqueles que amamos, eu não terei escrúpulos em perdoar a fraude que você cometeu com a condição de que por mim, senão por você, você continue a merecer essa parcialidade que com tanto engenho instilou dentro de mim”.
E esta foi apenas uma das muitas cartas que Hamilton escreveu a Laurens que, estranhamente, também foi morto num duelo vinte e dois anos depois.
O que disse o biógrafo de Hamilton, John C. Miller, quando as cartas foram descobertas: “A amizade dos dois rapazes era como a de Damon e Pythias”.
Estes eram filósofos gregos da escola pitagórica que viviam em Siracusa cerca de 400 a.C. Eram famosos pela estreita amizade que os unia. Em virtude de falsas testemunhas, o rei Dionísio condenou Pythias à morte.
Ele pediu ao rei o tempo equivalente a duas semanas para saldar alguns compromissos. Durante a sua ausência, Damon ficaria em seu lugar e em seu lugar seria morto, caso ele não voltasse.
No dia marcado, Pythias retornou e o rei admirou tanto o seu procedimento que perdoou tudo e pediu para ser amigo dos dois filósofos.
Eram viados? Só sei que ambos teriam respondido: “Ser seu amigo, majestade? Preferimos a morte!”

E agora?

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