quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 49)


MISHIMA, Yukio (1925-1970) A você, leitora, que está pensando em casar mas que é bem baixinha, eu sugiro muita calma, pois não lhe desejo a sorte da infeliz Yoko Sugiyama. Em 1958, ela foi procurada em sua casa por dois rapazes altos e parrudos que, depois de um pequeno preâmbulo, perguntaram se ela não queria casar com Yukio Mishima.
Ela mal pôde acreditar, pois ele era o escritor mais popular do Japão e todas as moças ricas e inteligentes de famílias tradicionais deviam andar correndo atrás dele.
Ela, porém, foi a escolhida, porque tinha só dezenove anos, era mais baixa que Mishima, que tinha menos de 1,55m, queria casar com ele por considerá-lo um homem bonito e não por ser uma celebridade, seria gentil e obediente com seus pais e prometera não perturbá-lo enquanto ele estivesse escrevendo seus romances.
Mas entre as coisas que a pobre Yoko não sabia, estava o fato de que centenas de jovens procuradas pelos dois rapazes altos e fortes teriam respondido que prefeririam morrer a casar-se com Mishima. E no Japão, quando alguém diz que prefere morrer é porque prefere mesmo.
Casaram-se dois meses depois de se conhecerem. Puta festa. A sociedade endoidou. Partiram para a lua-de-mel e Yoko verificou que Yukio não era grande entusiasta do esporte. Trepava, é verdade, mas assim, meio distraidão.
Ao voltar para casa e verificar que ela estava cheia de rapazes altos e fortes foi que a pobre Yoko descobriu que seu marido não era só o escritor mais popular do Japão, mas também homossexual, líder de um Exército de mais de oitenta homens chamado literalmente de a Sociedade do Escudo, e tinha uma mãe que era uma verdadeira megera.
Quando Mishima não estava escrevendo, se reunia em casa com seus “soldados”. Passavam óleo nos respectivos corpos e faziam concursos de halterofilismo. Eventualmente, se beijavam, se abraçavam e enfiavam dedos nos respectivos cus.
Tudo isso Yoko aguentou pacientemente e até mesmo a sogra, que vivia lhe enchendo o saco (metáfora, metáfora): “Meu filho entrega o anel porque você não é uma boa esposa”.
Chegou mesmo a convencê-lo a ir para a cama com ela de vez em quando e a prova disso são os dois filhos do casal, já bem crescidinhos hoje em dia.
Li quase toda a obra do Mishima, infelizmente em traduções para o inglês. Era realmente um bom escritor, embora fosse fascista, sadomasoquista e um bom canalha, pelo menos em relação à mulher.
Se torturava com a ocidentalização do Japão que, segundo ele, estava se emasculando.
Paradoxalmente, porém, adorava o cinema americano, fazia boas imitações de Humphrey Bogart, James Cagney, Marlon Brando, e entre seus planos estava levar seus filhos para a Disneylândia.
Gostava também dos trópicos e antes do seu casamento, aos trinta e três anos, esteve no Rio de Janeiro durante um carnaval e seu quarto no Copacabana Palace estava sempre cheio de rapazes altos e fortes.
Vivia obcecado com a ideia da morte e seu melhor livro, na minha opinião, é uma análise de um clássico japonês, de autoria de um samurai do século XVII, o Hagakure, que informa: “Na dúvida, o verdadeiro samurai escolhe a morte”.
Em 1970, Mishima tentou dar um golpe de Estado. Troço ridículo: depois de usar um general das Forças Armadas como refém, tentou convencer os soldados a subverter o governo.
Riram dele que, na frente das cameras de TV, praticou o seppuku, desventrando-se com uma espada. Seu jovem amante, Morita, deu um passo à frente e cortou-lhe a cabeça.
Macho pacas, mas pessoalmente acho que se matou porque achava chato ser macho pacas e gostar de sentar num sabre.

MODÉSTIA Nada a ver com aquela demonstrada por Jesus após ser adorado por uma multidão de mulheres: “Por favor, minhas senhoras, foram apenas uns milagrezinhos”. A modéstia a que me refiro está mais para decoro e pudor determinados por convenções sociais. 
Na tradição judaico-cristã a modéstia está associada a roupas e ao ato de vesti-las. Adão e Eva, depois da primeira bimbada, foram se esconder atrás das moitas, pois não?
Os índios que insistem em se comportar como verdadeiros seres humanos e por isso mesmo estão sendo dizimados não pensam assim.
Por ocasião da abertura da Belém-Brasília, conheci alguns que viviam às margens do Tocantins e que tinham vergonha de usar as roupas que os bestalhões que estavam comigo lhes ofereceram.
Uma mulher muçulmana de uma das muitas tribos berberes do Saara, se fosse surpreendida pelada, tentaria cobrir a face e não a xota.
Na Espanha do século XVI e em algumas partes da China pré-Mao, os pés femininos só podiam ser vistos em toda a sua esplendorosa nudez pelo legítimo marido do resto da mulher.
Aliás, na China, para aumentar a tesão dos seus senhores, as pobres mulherinhas amarravam os pés desde a infância, deformando-os para sempre na maioria das vezes.
Como vocês vêem, volta e meia a proverbial sabedoria chinesa estava mais para proverbial do que para sábia.
Na Espanha, a inquisição chegou a pedir a cabeça de Murillo porque o pintor ousara apresentar “La Virgen” de pés descalços. Entretanto, ela já havia sido retratada de seios de fora durante toda a Renascença. Aliás, vou fazer um parágrafo para falar de seios.
No reino de James I (que, por sinal, entubava e a famosa tradução da Bíblia para o inglês não foi, realmente, de sua autoria; ele se limitou a pagar os tradutores e depois assinou embaixo), na Inglaterra, as mocinhas virgens usavam decotes imensos que expunham seus mamilos à gratificada curiosidade pública.
Era um modo de dizer: “Ainda não dei minhas prendas para ninguém”.
O topless-look entra e sai dá moda anualmente nas mais diversas partes do mundo.
Dizem alguns detratores do nosso competentíssimo governo que sempre que ele quer desviar a atenção do distinto público de alguma roubalheira maior que as corriqueiras, paga algumas maluquetes para andarem peladas pelas praias do país. Não há jornal que não caia no conto.
A verdade, meus chapinhas, é que tem sempre um babaca para dizer que a nudez é a fonte de todos os males, embora não tenha aparecido ninguém para dizer que viu o sr. Antonio Carlos Malvadeza pelado.
O papa Júlio II ficou tão horrorizado ao ver os pauzinhos que Miguel Ângelo pintou em anjos, santos e apóstolos, que contratou um pintor medíocre Giovanni Volterra para pintar uns paninhos diáfanos sobre as santas partes pudendas.
E nos Estados Unidos, ainda alguns anos atrás, uns malucos iniciaram uma campanha para tornar obrigatório o uso de culhoneiras em cachorros e cavalos.

Se Deus seus moralistas de merda!  achasse paus, bucetas, seios e bundas, coisas feias, teria feito suas criaturas sem essas partes... modestamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário