terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 32)


HERMAFRODITA-HERMAFRODITISMO – O hermafrodita sofre, naturalmente, de hermafroditismo, uma anomalia sexual raríssima. O hermafrodita tem características sexuais de ambos os sexos e mais os cromossomos macho-fêmea XX e XY. A escolha do sexo deve ser feita logo após o nascimento, geralmente baseada nas condições externas da genitália, ou seja, qual o sexo predominante. Depois disso segue-se uma cirurgia para remover os resquícios do sexo intrometido. A genitália que permanece é, então, reconstruída de modo a se assemelhar com o sexo escolhido.
Quando isso acontece em centros urbanos e o hermafrodita tem pais esclarecidos, a coisa é mais simples. No interior do Brasil, porém, é muito comum a notícia de homens que dão à luz. “Rapaiz, tu sabe o Chicão, aquele mulato grande?”. “Manjo”. “Pois tá prenho.”
A palavra vem do grego, da junção de Hermes e Afrodite. Há, ainda, uma versão de que os dois teriam tido um filho, Hermafrodito, que seria meio-homem, meio-mulher.
Hipócrates, o primeiro médico da antiguidade grega a fazer anotações, registra um caso de hermafroditismo.
Em 1955, os Drs. Money e Hamson estudaram 76 casos e chegaram à conclusão de que, quando os pais não tratam de operar o filho-filha, ele-ela adotará o sexo que os pais decidiram que é o dele.
Se for criado como filho, gostará de esportes, preferirá roupas de homem e acabará se apaixonando por uma mulher e vice-versa.
Não acredito, pois nem sempre as características são fifty-fifty e aí o que predominará será a genitália mais desenvolvida.
Rogéria, a famosa travesti, sempre jurou que nunca quis ser mulher. Disse ela uma vez: “Sou hedonista e a melhor coisa da vida para mim é o prazer. Ser hermafrodita seria o maior barato. Assim, quando alguém dissesse ‘Vai te fuder’, eu ia.”

HETERA – Personagem do meu romance Matem o Cantor e Chamem o Garçom, mas em grego (hetaíra) significa “companhia” e “prostituta”. Mas não qualquer uma. Eram prostitutas de primeira classe. As de segunda e terceira eram as peripatéticas, ou seja, as que caminhavam pela rua rodando as bolsinhas e as dançarinas que, como as do Brasil Danças e do Escandinávia, estavam lá para dançar e trepavam – preço a combinar – se quisessem.
O que havia de tão especial com as heteras, minha senhora? Primeiro, como as gueixas japonesas, eram extremamente inteligentes, versadas em todas as formas de arte.
Segundo: eram extremamente boas e com isso não quero dizer que viviam dando esmolas para mendigos.
Além disso, eram especialistas em coito anal. Escolhiam seus clientes e, às vezes, eram capazes de serem fiéis aos seus amantes por anos, coisa que não se pode dizer de muita esposinha de papel passado e tudo.
Seu status era superior ao da esposa que vivia confinada ao lar e não participava da vida pública.
Dizem que foi por culpa de Aspásia, a amante de Péricles, que estourou a guerra contra Esparta.
Thais, outra hetera, acompanhou Alexandre, que, eventualmente, praticava o feio vício de entermar marmotas quase tão grandes como ele, que era conhecido como “Alexandre, o Grande”.
Depois de ver as guerras de Alexandre de sua tenda, Thais acabou casando com o rei Ptolomeu, do Egito, outro entubador.
Frinéia foi a hetera mais famosa de todas e posou para o escultor Praxíteles, que cobrou os tubos para fazer sua estátua. Apesar disso, ela achou o trabalho tão bom que escreveu ao artista: “Agora só falta você me comer”. Ele comeu e ela não cobrou, troço raríssimo.
Que Demóstenes era gago qualquer vereador do interior do Nordeste sabe. E que curou a gagueira falando com a boca cheia de pedrinhas, também.
O que poucos sabem é que o bicho era mais feio que o Adolfo Bloch e o César Calls juntos. Está certo, eu exagerei. De qualquer modo o bicho era quase tão feito quanto os dois.
Um dia, através de um amigo, ele marcou um encontro com outra hetera famosa, Laís, que pediu mil dracmas, que hoje pode não ser nada, mas 2.100 anos atrás era dracma pacas. Mas quando ela viu Demóstenes em pêlo aumentou o preço para 10 mil dracmas.
Eram as heteras que posavam para a maioria das estátuas gregas ainda hoje existentes. Repararam no popô das moças? Aphrodite Callipygos quer dizer, literalmente, “Vênus boa de bunda” e o número enorme de estátuas dela parece confirmar a preferência sexual dos gregos.

HITE, Shere (1943- ) – Difícil vê-la sem pensar em performar-lhe um cunnilingus. Dá a impressão de ter acabado de sair do banho, não importa a hora que você a encontre. Tem a beleza clássica de Deborah Kerr, por exemplo, mas dá pra se notar que a menina dos seus olhos está sempre informando: “Por trás dessa classe toda, eu sou bem sacana”.
A conheci em Roma, através de T. Grace Atkinsons, cuja irmã era minha vizinha. Não comi.
Se você acha que batalhadora feminista tem necessariamente que dar a impressão de que gostaria de estar coçando os culhões, caso os tivesse, devia conhecer a Shere.
Depois de receber o seu diploma de Master of Arts em história das ideias, da Universidade da Flórida, ela foi para New York e se matriculou na Universidade de Columbia, onde pretendia ganhar seu PhD em sociologia. Mas, boa pacas, acabou aceitando um convite para ser modelo, não só em New York como em Paris, Roma e Milão.
Nesta época – no meio dos anos 60 – deve ter sido muito mal comida, o que, talvez, tenha feito com que decidisse descobrir a quantas andava a sexualidade feminina.
Shere não gosta de falar sobre seu tempo de modelo. Diz ela: “Quando digo que fui modelo, todo mundo pensa que sou frívola”.
E não é para pensar? Conhecem alguma profissão mais idiota do que desfilar para ricaças e ser cantada por ricaços? O que não impede que uma modelo, dessas que só tem cocô na cabeça mesmo, um dia chegue à Presidência dos Estados Unidos.
Reagan, caso ainda não tenha sido assassinado, é a prova viva de que tudo é possível.
Para descobrir a quantas andava a sexualidade feminina, mandou questionários a 3.019 mulheres perguntando literalmente TUDO sobre a vida sexual delas.
O livro – Relatório Hite, como acabou sendo chamado e foi publicado até em português – saiu em 1976 e, na minha opinião, é o documento mais honesto e sem reservas que já li sobre o assunto.
Eis alguns resultados da pesquisa realizada apenas entre as mulheres americanas:
1) somente 30% das mulheres obtêm orgasmo através da relação sexual normal, ou seja, através da entrada e saída do pênis da vagina;
2) 29% nunca tiveram um orgasmo durante o ato sexual, mas gostam de pratica-lo por causa da intimidade que ele provoca;
3) 82% das entrevistadas se masturbam e 95% declaram que chegam ao orgasmo deste modo com facilidade;
4) a maioria também aprecia o cunnilingus e 45% das apreciadoras gozam deste jeito;
5) mais da metade acha que os homens não estão interessados em levar a mulher ao orgasmo e que depois de alguns minutos de bolinação, ocorre a penetração, a relação, a ejaculação e fim de papo. (Tem muito idiota aí que diz: “Mas eu comia ela todo o dia. Por que foi me comear?” Resposta: “Porque você a comia mal, seu muar”.);
6) um grande número de mulheres admitiu fingi que gozava e uma, gozadora, comentou: “A coisa toda acaba quando o homem goza, a não ser que a mulher tenha a sorte de ter dois deles na cama”.
Não sei não, mas, pessoalmente, acho que o cara que convida um amigo para juntos comeram uma mulher, está mesmo a fim de dar o rabo pro amigo. Pois se ele já tem a mulher, pra que dividi-la?
Finalmente, o relatório demonstrou que as mulheres, com raras exceções, mais que orgasmos querem afeto espontâneo e comunicação com menos ênfase na genitália que nas emoções.
E a nossa Hite, o que achou? Bem, ela acha que o pênis é uma espécie de dissolvedor do orgasmo feminino e que a relação sexual não existe para levar a mulher ao orgasmo.
Shere Hite não é casada, não se sabe se trepou e, em caso positivo, com quem e com quais resultados.
Minha opinião: acho que o dedo médio da mão direita dela está apaixonado pelo clitóris. Vivem se esfregando e não dão bola pra mais ninguém.

Além de muito instrutivo, seu relatório é bem escrito. Certos trechos valem uma punheta.

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