quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 28)


GOGH, Vincent van (1853-1890) – No verbete sobre Goethe pedi auxílio ao Dicionário Universal de Citações de Paulo Rónai, o grande intelectual tupi-magiar. Ele ficou aberto ao lado da máquina de escrever, quando vi de relance que, antes do Fausto, havia um verbete sobre fatalidade e quem o assinava era o meu querido amigo, o humorista Leon Eliachar, covardemente assassinado em junho de 1987 no Rio de Janeiro. Eis o que disse Leon sobre fatalidade: “Tudo aquilo que a gente prevê depois que aconteceu”.
Fiquei gelado, pois, algum tempo antes de ser assassinado a tiros a mando de um fazendeiro do interior do Paraná e cuja mulher fazia visitas costumeiras ao seu apartamento (todos sabem quem é e onde mora o mandante do crime, mas como é rico, não será preso nunca), ele almoçou comigo e Millôr Fernandes.
Na volta me deu uma carona de carro e eu, já não lembro por que, disse a ele: “Leon, se Deus aparecesse e me garantisse dez anos de vida, eu topava. E você?” Resposta dele: “Não topava não, pois quando faltassem uns seis meses para acabar o prazo, eu ia enlouquecer de desespero”. Foi morto quinze dias depois. Sentiram?
Esta história entra no verbete do maior pintor produzido pela Holanda (na minha opinião, maior mesmo que Rembrandt, Bosch e Breughel) pelo seguinte: como Leon, Vincent era carente pacas. Tudo que queria na vida era ser amado por uma mulher. Se apaixonou de tal maneira por Ursula Loyer e equivocou-se tanto em relação ao amor dela que, quando ela lhe apresentou o verdadeiro noivo, ele pirou.
Coitado, todo sábado de manhã caminhava até a casa dela. Eram mais de 45 quilômetros. E ele fazia isso apenas para vê-la de longe. Depois de dormir um pouco na estrada mesmo, voltava a pé para casa. Mais 45 quilômetros.
Um dia Ursula viu que ele a observava e entrou correndo para dentro da pensão da sua mãe. Eu me pergunto o seguinte: será que se esta idiota da Ursula soubesse que menos de cem anos depois da morte de Vincent, os seus quadros seriam vendidos por 40 milhões de dólares, ela o desprezaria da mesma maneira?
Por outro lado: será que Van Gogh seria o pintor que foi se ela o aceitasse, casasse com ele e tivesse filhos?
Um dos artistas mais infelizes do mundo, Van Gogh foi desprezado por todas as mulheres pelas quais se apaixonou.
Meio louco, cortou uma orelha e a enviou dentro de um envelope para uma prostituta pela qual se engraçara.
Nos últimos cem anos, milhares de pintores cortaram as orelhas nos cinco continentes, mas nenhum jamais voltou a pintar como ele.
Acabou dando um tiro na barriga atrás de um monte de merda no quintal de uma fazenda. Tinha trinta e sete anos.

GONORRÉIA – Chateação antiga. Imaginem que foi o médico romano Galeno que cunhou a palavra em 130. Ela não existiria não fora um microorganismo, o gonococo, gostar de se acomodar nas membranas mucosas encontráveis nas áreas genito-urinárias de homens e mulheres. Com exceção de raríssimos casos em que o gonococo vai se instalar nos olhos, a transmissão da gonorréia só é possível através de contato sexual. Isso complica as coisas principalmente para homens e mulheres casados.
Um conhecido meu apanhou uma gonorréia num puteiro quando viajava a negócios. Voltou pra casa, comeu a mulher e só no dia seguinte, quando o pau começou a pingar, foi que descobriu a lembrança que trouxera de viagem.
Por sorte sua, naquela mesma tarde sua mulher tinha que ir ao dentista. Ele passou um pouco antes por lá e já com a penicilina, dose cavalar, nas mãos, convenceu o dentista a dá-la para sua mulher.
Ele também tomou sua dose e, para evitar trepar com a mulher, o que considerava inevitável, arranjou outra viagem de uma semana.
Até hoje, e isso já aconteceu há alguns anos, ela não sabe de nada.
Outro conhecido amanheceu com o pau pingando e se separou imediatamente da mulher, pois fazia anos que só trepava com ela.
Tão ou mais comum que o resfriado em adultos, é impossível dizer quantas pessoas pegam gonorréia por ano, pois a grande maioria se automedica. Entretanto, quando não tratada, em muitos casos ela regride e acaba por si mesmo em pouco mais de um ano.
Nos homens ela é descoberta três dias após o contágio. As mulheres, porém, podem passar meses infectadas sem se darem conta. Eventualmente a infecção progride – quando as condições higiénicas são péssimas – e se transforma em gonorréia de gancho, responsável por lesões epidérmicas e até mesmo pela meningite.
Moisés descobriu a gonorréia entre os judeus e recomendou que suas vítimas fossem mortas.
Sofreram a visita de madame Gonô, entre outros: Abrahão, Tibério, Herodes, Carlos Magno, o papa Alexandre VI, Benvenuto Celini, Richelieu, Casanova (naturalmente), Van Gogh, Nietzsche, Mussolini, Hitler, Kennedy, etc.
De cada cinco homens que nasceram, se tornaram adultos e fuderam, três tiveram gonorréia certamente. Gonorréia vem do latim e quer dizer fluxo de sementes.

GOODWIFE NORMAN (?-?)– Em 1649, os vizinhos dedaram a nossa Goodwife (que quer dizer boa esposa em inglês) Norman e o xerife de Plimouth mandou dois esbirros até a casa dela. Os caras arrombaram a porta e encontraram a Goodwife beijando tudo aquilo que existia entre as pernas de Mary Hammond, de 16 anos, quase tão boa quanto ela. 
Goodwife estava vestida, mas Mary estava com a saia para cima, as pernas bem abertas e sem calcinhas, o que, também, é natural, pois elas ainda não haviam sido inventadas. 
Isto resultou no primeiro julgamento por lesbianismo na América.
As duas foram acusadas de “lude behaviour upon a bed, with divers lascivius speeches also spoken”, ou seja, de se comportarem mal sobre uma cama e ainda dizerem sacanagens. 
Aqueles troços: “Continua chupando, meu bem, que eu vou gozar!”

Goodwife foi condenada a ir para o centro da cidade durante dois meses ao meio-dia e repetir: “Nunca mais chupo buceta”. 
Estranhamente, Mary Hammond foi absolvida. 
Se fosse na cidade de Salem, as duas teriam sido queimadas. 
Tiveram realmente sorte, pois apenas quatro anos depois, na Inglaterra, uma mulher de oitenta e nove anos foi enforcada sob a acusação de... adultério.

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