GOGH,
Vincent van (1853-1890) – No verbete sobre Goethe pedi
auxílio ao Dicionário Universal de Citações de Paulo
Rónai, o grande intelectual tupi-magiar. Ele ficou aberto ao lado da
máquina de escrever, quando vi de relance que, antes do Fausto,
havia um verbete sobre fatalidade e quem o assinava era o meu
querido amigo, o humorista Leon Eliachar, covardemente assassinado em
junho de 1987 no Rio de Janeiro. Eis o que disse Leon sobre
fatalidade: “Tudo aquilo que a gente prevê depois que aconteceu”.
Fiquei
gelado, pois, algum tempo antes de ser assassinado a tiros a mando de
um fazendeiro do interior do Paraná e cuja mulher fazia visitas
costumeiras ao seu apartamento (todos sabem quem é e onde mora o
mandante do crime, mas como é rico, não será preso nunca), ele
almoçou comigo e Millôr Fernandes.
Na
volta me deu uma carona de carro e eu, já não lembro por que, disse
a ele: “Leon, se Deus aparecesse e me garantisse dez anos de vida,
eu topava. E você?” Resposta dele: “Não topava não, pois
quando faltassem uns seis meses para acabar o prazo, eu ia
enlouquecer de desespero”. Foi morto quinze dias depois. Sentiram?
Esta
história entra no verbete do maior pintor produzido pela Holanda (na
minha opinião, maior mesmo que Rembrandt, Bosch e Breughel) pelo
seguinte: como Leon, Vincent era carente pacas. Tudo que queria na
vida era ser amado por uma mulher. Se apaixonou de tal maneira por
Ursula Loyer e equivocou-se tanto em relação ao amor dela que,
quando ela lhe apresentou o verdadeiro noivo, ele pirou.
Coitado,
todo sábado de manhã caminhava até a casa dela. Eram mais de 45
quilômetros. E ele fazia isso apenas para vê-la de longe. Depois de
dormir um pouco na estrada mesmo, voltava a pé para casa. Mais 45
quilômetros.
Um
dia Ursula viu que ele a observava e entrou correndo para dentro da
pensão da sua mãe. Eu me pergunto o seguinte: será que se esta
idiota da Ursula soubesse que menos de cem anos depois da morte de
Vincent, os seus quadros seriam vendidos por 40 milhões de dólares,
ela o desprezaria da mesma maneira?
Por
outro lado: será que Van Gogh seria o pintor que foi se ela o
aceitasse, casasse com ele e tivesse filhos?
Um
dos artistas mais infelizes do mundo, Van Gogh foi desprezado por
todas as mulheres pelas quais se apaixonou.
Meio
louco, cortou uma orelha e a enviou dentro de um envelope para uma
prostituta pela qual se engraçara.
Nos
últimos cem anos, milhares de pintores cortaram as orelhas nos cinco
continentes, mas nenhum jamais voltou a pintar como ele.
Acabou
dando um tiro na barriga atrás de um monte de merda no quintal de
uma fazenda. Tinha trinta e sete anos.
GONORRÉIA
– Chateação antiga. Imaginem que foi o médico romano Galeno que
cunhou a palavra em 130. Ela não existiria não fora um
microorganismo, o gonococo, gostar de se acomodar nas membranas
mucosas encontráveis nas áreas genito-urinárias de homens e
mulheres. Com exceção de raríssimos casos em que o gonococo vai se
instalar nos olhos, a transmissão da gonorréia só é possível
através de contato sexual. Isso complica as coisas principalmente
para homens e mulheres casados.
Um
conhecido meu apanhou uma gonorréia num puteiro quando viajava a
negócios. Voltou pra casa, comeu a mulher e só no dia seguinte,
quando o pau começou a pingar, foi que descobriu a lembrança que
trouxera de viagem.
Por
sorte sua, naquela mesma tarde sua mulher tinha que ir ao dentista.
Ele passou um pouco antes por lá e já com a penicilina, dose
cavalar, nas mãos, convenceu o dentista a dá-la para sua mulher.
Ele
também tomou sua dose e, para evitar trepar com a mulher, o que
considerava inevitável, arranjou outra viagem de uma semana.
Até
hoje, e isso já aconteceu há alguns anos, ela não sabe de nada.
Outro
conhecido amanheceu com o pau pingando e se separou imediatamente da
mulher, pois fazia anos que só trepava com ela.
Tão
ou mais comum que o resfriado em adultos, é impossível dizer
quantas pessoas pegam gonorréia por ano, pois a grande maioria se
automedica. Entretanto, quando não tratada, em muitos casos ela
regride e acaba por si mesmo em pouco mais de um ano.
Nos
homens ela é descoberta três dias após o contágio. As mulheres,
porém, podem passar meses infectadas sem se darem conta.
Eventualmente a infecção progride – quando as condições
higiénicas são péssimas – e se transforma em gonorréia de
gancho, responsável por lesões epidérmicas e até mesmo pela
meningite.
Moisés
descobriu a gonorréia entre os judeus e recomendou que suas vítimas
fossem mortas.
Sofreram
a visita de madame Gonô, entre outros: Abrahão, Tibério, Herodes,
Carlos Magno, o papa Alexandre VI, Benvenuto Celini, Richelieu,
Casanova (naturalmente), Van Gogh, Nietzsche, Mussolini, Hitler,
Kennedy, etc.
De
cada cinco homens que nasceram, se tornaram adultos e fuderam, três
tiveram gonorréia certamente. Gonorréia vem do latim e quer dizer
fluxo de sementes.
GOODWIFE
NORMAN (?-?)– Em 1649, os vizinhos dedaram a nossa Goodwife (que quer
dizer boa esposa em inglês) Norman e o xerife de Plimouth mandou dois
esbirros até a casa dela. Os caras arrombaram a porta e encontraram
a Goodwife beijando tudo aquilo que existia entre as pernas de Mary
Hammond, de 16 anos, quase tão boa quanto ela.
Goodwife estava vestida, mas Mary
estava com a saia para cima, as pernas bem abertas e sem calcinhas, o
que, também, é natural, pois elas ainda não haviam sido
inventadas.
Isto resultou no primeiro julgamento por lesbianismo na
América.
As
duas foram acusadas de “lude behaviour upon a bed, with divers
lascivius speeches also spoken”, ou seja, de se comportarem mal
sobre uma cama e ainda dizerem sacanagens.
Aqueles troços: “Continua
chupando, meu bem, que eu vou gozar!”
Goodwife
foi condenada a ir para o centro da cidade durante dois meses ao
meio-dia e repetir: “Nunca mais chupo buceta”.
Estranhamente,
Mary Hammond foi absolvida.
Se fosse na cidade de Salem, as duas
teriam sido queimadas.
Tiveram realmente sorte, pois apenas quatro
anos depois, na Inglaterra, uma mulher de oitenta e nove anos foi
enforcada sob a acusação de... adultério.
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