CIRCUNCISÃO
– Invenção de Deus. Sério. Um dia ele estava muito
entediado e disse: “Aquele que tiver oito anos entre vocês deve
ser circuncidado. Quem não tiver o prepúcio cortado terá cortada a
sua alma à parte do meu povo, pois quebrou o pacto” (Gênesis,
XVII, 10-14). Quer dizer: Deus, além de ter posto uma cobra no
Paraíso, ainda fez um homem que precisava ser mutilado! É dose!
E
ele, Deus, será circuncidado? E se é, quem levou a cabo a operação?
E se não é, não estará transgredindo a sua própria lei?
Embora
os judeus e muçulmanos pretendam que Deus e Alá tenham sido os
inventores da circuncisão (ato de cortar parte do prepúcio dos
recém-nascidos e neófitos entre judeus e algumas seitas
muçulmanas), a verdade é que este rito de mutilação (sem
perguntar a opinião da criança) já era praticado em tempos
pré-bíblicos.
Até
metade do século passado, uma tribo árabe costumava tirar toda a
pele do pênis do menino em frente do seu pai e futura noiva.
Uma
quinta parte dos garotos morria na operação e aquele que não
morresse, mas chorasse, acabava sendo morto pelo próprio pai, por
ser covarde e indigno.
Certas
tribos africanas que nunca ouviram falar no deus dos judeus preferem
circuncidar as meninas, amputando-lhes o clitóris.
Como
vocês podem ver, o único fenômeno que realmente não conhece
limites é a estupidez humana.
CLÉOPATRA
(69 a.C. – 32 a.C.) – Como a História é sempre
escrita pelos vencedores, é preciso dar um bom desconto. Foram
romanos como Virgílio (seu contemporâneo) e Plutarco (cem anos
depois) que escreveram sobre Cléopatra. Aparentemente não era um
mulherão: baixinha de traços delicados, mas com uma energia,
charme, sensualidade e ambição impressionantes. Tão
impressionantes que estou aqui escrevendo sobre ela mais de 2 mil
anos depois da sua morte, em vez de ir à praia.
Foi
a sétima Cleópatra e a última rainha da dinastia Ptolomeu,
macedônios que governaram o Egito durante trezentos anos. Para quem
não sabe, a Macedônia ficava onde hoje está a Iugoslávia.
Diderot
dizia que se o nariz de Cleópatra fosse um pouco maior ou um pouco
menor, a história da humanidade seria outra. Diderot não entendia
nem de retórica nem de assalto.
Por
que não dizer então que se César, conhecido como marido de todas
as mulheres e mulher de todos os maridos, fosse um pouco mais viado
do que era, o mundo não seria hoje o que é?
O
pai de Cleópatra, Ptolomeu XII, vivia de porre e inteiramente
subjugado ao poder romano.
Quando
ele morreu, Cleópatra, segundo o costume egípcio, casou com o irmão
Ptolomeu XIII. Ela tinha dezessete e ele dez anos.
Ptolomeu
era uma bichinha muito dengosa e inteligente e percebeu logo que se
deixasse a irmã-esposa (o casamento nunca foi consumado) permanecer
no Egito ele é que não permaneceria muito tempo no trono.
Aconselhada
por bichas mais taludas, expulsou nossa heroína, que fugiu para a
Síria onde preparou um exército para invadir o Egito.
A
esta altura, César, um careca de seus cinquenta anos, mas o homem
mais poderoso do mundo, resolveu acabar com a briga das crianças.
Cleópatra,
que parecia saber que seria tema de Gibbon, Shakespeare, Shaw e uma
porrada de diretores de cinema medíocres, preparou sua rentrée
triunfal.
Seu
escravo, Apolodorus, jogou-a de dentro de um tapete e ela foi rolando
até os pés de César no palácio de Alexandria. Aparentemente o
coroa gamou e a comeu no mesmo dia.
Depois
tentou reconciliá-la com o esposo-irmão, mas a bichinha morreu numa
batalha e ela casou-se com outro mano, ainda mais moço, Ptolomeu
XIV, que morreu envenenado posteriormente.
Com
César teve um filho chamado Cesário e dois filhos com Marco
Antônio.
Pode-se
dizer que tanto César quanto Marco Antônio se apaixonaram de fato
por Cleópatra.
Ela,
porém, não era uma bobinha qualquer: dona de uma cultura
poderosíssima, queria – e quase conseguiu – fazer do Egito o
Império Oriental.
Não
se deixou aprisionar viva, como pretendia Otávio, mas deu um jeito
de ser mordida por uma serpente naja. Saiu de cena tão
espetacularmente como entrou.
Seu
filho com César foi assassinado por ordem de Otávio e seus filhos
com Marco Antônio foram criados como patrícios romanos.
Era
o fim da dinastia Ptolomeu, mas a morte de Cleópatra a transformou
numa legenda, o símbolo que mantém vivo o nacionalismo egípcio até
os dias de hoje.
Não
era bem o nariz – conforme queria Diderot – que amarrava o poder
a Cleópatra. Ela teria sido a mais famosa felatriz do mundo antigo.
Segundo Virgílio, teria chupado mais de mil homens.
Talvez
por isso os gregos a chamassem de Cheílon (a dos lábios
grossos), ou a mulher das mil bocas, que teria felaciado cem oficiais
romanos numa noite.
Para
uns, César já sabia disso quando entrou na dela; para outros, ela
era virgem quando conheceu César.
Enfim,
como eu escrevi no princípio do verbete, não foram os egípcios que
escreveram a História.
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