CATARINA,
a Grande (1729-1796) – Está aí uma mulherinha pra
feminista alguma botar defeito: pintou, bordou, cerziu, tricotou,
crochetou, trepou, bacanalou, bestializou, barbarizou, transou, deu,
comeu, escalou, enfim, vocês entenderam que ela era grande no
esporte, não é?
Além
disso, foi imperatriz da Rússia e – como a maioria das putas –
devia ser simpática, pois, embora alemã de nascimento, era amada
pelo povão.
Filha
do príncipe Anhalt Zerbst, aos dezesseis anos casou com Pedro, o
futuro Czar.
Um
ano depois ela encheu o saco e informou à escandalizada corte,
provavelmente numa linguagem mais refinada do que a do locutor que
vos fala, o que, em síntese, seria o seguinte: “Há um ano que eu
venho tentando, mas não há jeito de o Pedro me comer!”
Dito
isto, passou a dar descaradamente para dois sujeitos: Saltykov e
Poniatowski.
O
que tinha de jeitosa tinha de descarada.
Deu
tão abertamente que Pedro foi obrigado a bani-la do palácio.
Pra
que a bichona foi fazer uma coisa dessas!
A
massa ignara ficou puta dentro das calças: “Como é que é,
Pedroca? Não comes a Catarina e ficas aí dando uma de machão?”
Resultado:
Pedro foi destronado e a princesinha alemã colocada em seu lugar.
Rapidamente
ela provou que sabia fazer duas coisas muito bem: felacio e política.
Fazia
ambas con gusto.
Dizem
as más-línguas – quero dizer: línguas não tão boas quanto a
dela – que os oficiais de sua guarda pessoal que não fossem
horrendos, eram parte do seu estábulo de garanhões.
Todas
as noites, antes de dormir, ela selecionava um para lhe fazer
companhia.
Se
agradasse, o cara passava a ser amante oficial com todas as regalias
até... a primeira broxada, ocasião em que era posto na reserva.
O
negócio funcionava mais ou menos assim: ela dava um pulo ao estábulo
de oficiais-garanhões de régua na mão.
Selecionava
um, que mandava para o exame médico.
Depois
do esculápio da corte dar o seu nihil obstat do ponto de
vista físico, ela o mandava para ser provado por duas amigas e
confidentes: a condessa Bruce e mme. Protassav, que, é claro, também
eram da fuzarca.
Somente
depois das duas dizerem “Pode ir, imperatriz, que é uma boa”, é
que ela o nomeava ajudante-de-ordens para servir junto ao seu leito.
Também
gostava de cachorros e cavalos e era tão vaidosa que depois de
mandar fazer uma peruca deixou o peruqueiro três anos na cadeia para
que não espalhasse a notícia.
Confessou
na ocasião: “O defeito das bichas é que elas falam demais!”
O
talento de Catarina como felatriz foi imortalizado nos móveis do
palácio Gatchina, perto de Leningrado, que sobreviveu à revolução
de 1917.
Num
móvel, a imperatriz amada por seu povo aparece chupando uma iguaba.
O
Estado de Santa Catarina não tem nada a ver com ela, que era grande,
mas não era santa.
CELIBATO
– No mundo pré-cristão já havia muitas restrições a
sacerdotisas e sacerdotes transarem entre si ou com a plebe rude. A
coisa, porém, funcionava mais para as mulheres-sacerdotisas do
templo de Minerva e Diana (duas deusas que não eram chegadas ao sexo
oposto).
Não
existe no Novo Testamento nenhuma passagem que fale em celibato para
os apóstolos.
Em
verdade, a primeira vez que se exige a castidade dos padres é no
Conselho de Elvira, na Espanha, no ano de 305.
Há
muitas lendas sobre padres que corriam das mulheres como o diabo da
cruz.
Eu,
pessoalmente, nunca vi falar, em tempos modernos, de algum padre que
tenha permanecido casto a vida inteira.
Trata-se
de uma jogada inteligente da Igreja católica, que jamais abolirá o
celibato para padres, salvo em casos muito especiais.
É
que vestido com a batina, com aquela voz especial de seminarista, aos
olhos do homem comum, o padre não é homem e nem mulher e está
acima das coisas da carne.
Se
não pensasse desse modo, nunquinha que o camponês deixaria sua
mulher se confessar com outro homem.
Se
o padre Alexandre VI, nascido Rodrigo Bórgia, aos sessenta e dois
anos tinha uma amante de dezesseis, bem mais moça que muitos de seus
filhos bastardos, imaginem o que não poderia fazer um padrezinho
discreto do interior!
Um
modo tranquilo do Vaticano assegurar a virgindade dos padres seria
castrá-los ou parar de falar no assunto.
Fora
da Igreja há alguns casos célebres de castidade e celibato:
Immanuel Kant morreu virgem e sir Isaac Newton nunca foi para a cama
com uma mulher (ou homem ou gato ou cachorro), o que pode não
explicar seu gênio matemático, mas explica suas constantes dores de
cabeça.
Bernard
Shaw casou-se e, inquirido sobre os prazeres da vida sexual,
respondeu: “Experimentei uma vez. Tedioso, ridículo e cansativo”.
Foi
casado com mme. Bernard Shaw, mas nunca fuderam.
CENSURA
– Em qualquer país razoavelmente civilizado, quando ela existe, é
apenas classificatória, ou seja: determinados espetáculos só podem
ser assistidos por maiores de dezoito anos. O Brasil, que ainda está
fazendo vestibular pra nação, tem e não tem censura.
Não
tem porque deram até uma festa (quando o deputado Fernando Lyra era
ministro da Justiça), no teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, para
comemorar o seu fim.
E
tem porque sempre que qualquer pessoa ligada à uma alta autoridade
judiciária, legislativa, executiva ou clerical se sente
“escandalizada” diante de obra escrita, falada, televisada, etc.,
a censura volta a ser acionada.
Foi
assim por ocasião de um filme chatíssimo de Godard – Je vous
salue, Marie –, que acabou não passando no Brasil.
Interessante
que na mesma época a televisão apresentava um comercial no qual os
três reis magos davam de presente para o menino Jesus um
walkie-talkie e a Virge Maria piscava os olhos de felicidade.
Ninguém
reclamou.
Eu
disse que o Brasil está fazendo vestibular para nação porque não
se pode considerar nação um país que impede quase 100 milhões de
seus filhos de exercerem seus direitos de cidadania.
Daí
a censura: uma instituição fascista composta de alguns senhores que
se consideram sexual e politicamente superiores aos mortais comuns.
Imaginem
que esses senhores passam o dia inteiro vendo obras perigosas que se
fossem realmente tão perigosas já os teria transformado em
verdadeiros maníacos homicidas.
De
todas as censuras, a pior de todas é a autocensura.
Imaginem
que quinhentos anos antes de Cristo, Sófocles escreveu uma tragédia
na qual o personagem central, Édipo, além de matar o pai, Laio,
casa-se com a mãe e tem filhos com ela.
Dois
mil e quinhentos anos depois, Dias Gomes escreve uma novela de TV em
cima da peça de Sófocles, só que nela o filho não vai pra cama
com a mãe.
Progrediu
ou não progrediu a autocensura?
Talvez
mais perigosa que a autocensura seja a censura política.
O
caso que me dá arrepios foi registrado no filme dirigido por Sydney
Pollack, Os Três Dias do Condor, no qual o protagonista
descobre uma trama da CIA para assassinar líderes políticos e dar
um golpe no país.
Ameaçado
de morte, ele busca refúgio na redação do New York Times, onde
pretende denunciar tudo.
O
filme acaba com ele entrando na redação e o espectador sem saber se
o jornal faz ou não parte da conspiração.
Macaqueamos
em tudo os Estados Unidos, menos no que eles têm de positivo.
Por
que não colocamos na nossa Constituição a primeira emenda da
Constituição americana: “Não se pode legislar sobre liberdade de
expressão”?
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