quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 3)


AMOR – Se você não sabe o que é talvez não valha a pena continuar lendo este livro. De qualquer modo, dê uma olhada no verbete EROTISMO.

ANDERSEN, Hans Christian (1805-1875) – Tive uma mulher, mãe da minha segunda filha, que nasceu na mesma cidade que ele: Odense, na Dinamarca.
Cidadezinha bonita, mas muito triste, principalmente durante o inverno, que lá também acontece no outono e num pedaço da primavera.
Hans tinha cara de cavalo, muito alto, pés e mãos enormes, magrão e desajeitado. Patão feio, mesmo.
Era parecido com o Ronald Reagan Jr.
Duas diferenças: o filho adotivo do homem que quer acabar com a Nicarágua tem mania de dançar balé e parece que gosta de caçar armanhos.
Hans tinha mania de ser cantor lírico, mas jamais caçou um armanho sequer.
Em compensação, nunca foi para a cama com mulher alguma.
Não porque não gostasse.
Era tímido demais.
Além de feio, era pobre e tinha uma voz aguda, muito feminina.
Seu pai era maluco e sua mãe mitômana.
Com onze anos começou a trabalhar numa fábrica de tecidos para ajudar a família.
Por causa da sua voz, os outros operários baixaram suas calças para ver se ele era homem mesmo.
Aos quatorze anos, vestido como mendigo, foi para Copenhague onde, naturalmente, não fez sucesso como cantor, mas arranjou um protetor: Jonas Collin, diretor do Teatro Real, que tomou o lugar do seu pai.
Seria muita sacanagem se não fizesse sucesso como escritor.
Não pelas obras que considerava sérias, mas pelas que considerava “bobagens”: os seus contos de fadas.
Escreveu mais de 150 e eles abriram as portas da realeza europeia para ele.
Tudo isso, porém, não foi suficiente para vencer sua timidez.
Deixava os salões e ia aos bordéis onde batia papo com as piranhas.
Pagava direitinho. Só exigia que elas batessem papo peladas.
Depois corria para seu quarto de hotel e batia uma punheta.
O autor do Patinho Feio, O Novo Traje do Imperador, A Pequena Sereia e muitos outros contos conhecidos em todos os continentes, morreu de câncer no fígado em Copenhague.
Tremenda sacanagem.

APRIL ASHLEY (1930- ) – Hoje em dia é moda. Bichona não gosta da inútil paisagem, acha que não serve pra nada, economiza uma grana, vai a um cirurgião e manda tirar fora.
Chato é o cara depois da operação – já sem a iguaba – descobrir que está apaixonado pela enfermeira.
Passa de viado a sapatão. Destino marcado pela deusa Éphoda!
Mas, como eu ia dizendo, na época da Ashley – princípio dos anos 50 – era preciso ser muito macho para mandar cortar o pau fora.
Pois o rapazinho, depois de passar algum tempo engajado na Marinha Mercante Inglesa – o que terão feito com ele os velhos lobos-do-mar, hein? –, chegou à conclusão, de que não gostava de mulheres.
Ou – quem sabe? – gostava tanto que até decidiu ser uma.
No princípio se limitou a vestir roupas de mulher.
Foi descoberto numa boate londrina de terceira pelo empresário Ali Burnett, que o contratou para trabalhar em seu inferninho, então conhecido no mundo inteiro, chamado Pigalle, em Londres.
Mas o jovem Ashley se atormentava sempre que ia fazer pipi.
Se perguntava: “O que é que eu faço com esta inútil paisagem?”
Aconselhado pelo empresário, foi até Casablanca e mandou cortar.
Em 1963 se realizou como mulher ao se casar com Mr. John Corbett.
Viveram felizes durante seis anos, ocasião em que o marido pediu a anulação do casamento porque “ele, apesar da operação, continua homem”.
Alegou que April mijava de pé e molhava o banheiro todo.
Levou um tempão para descobrir isso, o sacana, hein?
De qualquer modo, durante dois meses foram consultados endocrinologistas, andrologistas, ginecologistas, psicologistas (são psicólogos que nas horas vagas atendem no balcão como lojistas) e outros entendidos nessas sacanagens.
Depois de ouvi-los, o juiz Carl Ormerod decidiu: “Pelas evidências apresentadas até agora, as cirurgias para a mudança de sexo não são o suficientemente radicais (cáspite!!!) para que se modifique o sexo que a criança tinha ao nascer”.
Quer dizer: mesmo sem pau, Ashley, então com quase quarenta anos, foi considerado homem pela justiça inglesa e Mr. Corbett deixou de pagar a pensão que ele deveria receber caso fosse ela.
Onde andará a idosa bicha nos dias de hoje?
Eis um assunto à espera dos nossos jovens Tennessee Williams da Silva.
Conselho às bichinhas apressadas: pensem bem na triste história do Veado de Abril antes de se decidirem a dar o piu-piu pro gato.

ASTROLOGIA – Há quem diga (e eu acredito) que já foi uma ciência exata que perdeu um elo em determinado momento do trotar da humanidade. Humanidade, belo nome para uma égua, hein?
A verdade é que os antigos persas, assírios, egípcios, romanos, não davam um peido na esquina sem consultar os astros.
Minha experiência pessoal com a astrologia se passou em Roma quando, a pedido de uma dessas revistas brasileiras para se ler no barbeiro, fui fazer uma entrevista com Francesco Waldner, considerado o papa dos astrólogos europeus.
Mas fui como cliente.
O Waldner, jogando uma quantidade enorme de água fora de uma luxuosa bacia, indagava ao mesmo tempo em que apertava a minha mão: “Você, tão bem-falante, com a linha da vida tão acentuada, só pode ser...”
Deu uma paradinha.
Eu aproveitei a deixa e mandei: “Gêmeos”.
E ele:
“Isso mesmo, só pode ser Gêmeos”.
E eu, pegando de volta as minhas 20 mil liras que ainda estavam sobre a mesinha: “Mas acontece que eu sou Câncer, ragazzo”.
Há, porém, quem acredite.
Pra mim dá tudo na mesma: macumba, psicanálise, confissão, astrologia, quem faz justiça e quem está com o revólver na mão, principalmente se for juiz, militar ou latifundiário.
E o que é que isso tudo tem a ver com sacanagem? – perguntará o incrédulo leitor.
Até agora, muito pouco, mas vai ter.
Acontece que tem nego que acredita que a astrologia nos condiciona sexualmente.
Por exemplo: mulheres nascidas sob o signo de Libra podem ir fundo que, no mínimo, são ninfomaníacas.
Pensem duas vezes quando se chocarem com as representantes do Escorpião e do Touro.
Além de frias, vivem dizendo: “Mas não podemos apenas ser bons amigos?”
As mulheres leões, ou seja, as leoas, seriam fidelíssimas.
Eu, por exemplo, não concordo.
Tive uma mulher do signo de Leão que me presenteou com um par de cornos de fazer inveja a muito carro alegórico.
Já as mulheres de Câncer não esperam nem o marido dobrar a esquina para deixar o vizinho entrar.
Capricórnio não tem perdão: homem, mulher, tudo homossexual.
Os homens Escorpião seriam grandes comedores. Metafóricos.
Os sagitarianos são como o Hans Christian Andersen: não perdem uma oportunidade e quando estão sozinhos se masturbam pensando na mãe.
O Virgem homem – ainda não foram descobertas as razões – adora mijar nas pernas de senhoras idosas.
Mas deixem eu elevar um pouco o nível do nosso papo: já há alguns anos que a Academia Tchecoslovaca de Ciências está estudando o controle da natalidade através da astrologia.
Não têm mais o que fazer, esses tchecoslovacos!
É por isso que volta e meia levam uma traulitada russa.
Mas, dizia eu, o Dr. Eugen Jonas, diretor do departamento de psiquiatria da clínica Nagisurana, notou que a maioria das suas pacientes apresentava notável disposição sexual, independentemente dos seus ciclos menstruais.
Depois de inúmeros testes, ele chegou à conclusão de que esses ciclos de tesão extra relacionavam-se com a atividade planetária.
É dose, hein? Descobrir que um planetão enorme como Júpiter, várias vezes maior que a Terra, só serve pra dar tesão nas nossas mulheres!
E disse mais: “As mulheres têm maiores possibilidades de conceber durante a mesma fase da lua que as viu nascer”. (De repente, eu me pergunto se as fases da lua podem ver e ao mesmo tempo invade-me a sensação de que devo esmagar urgentemente estas baratas à minha frente, como se elas não passassem de meras metáforas representando o PMDB e o PFL.)
Mas vamos adiante.
Outro troço que o bom Dr. Eugen disse ter descoberto: o sexo da criança depende da lua estar num campo eclíptico positivo ou negativo.
Diz ele que pode informar com 90% de precisão qual será o sexo da criança e quando os pais devem ter relações sexuais para terem filhos homens ou mulheres.

Eu não acredito, mas as experiências do Dr. Eugen estão sendo repetidas na Universidade de Stanford, bem mais respeitável a Gama Filho, acreditem!

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