AMOR
– Se você não sabe o que é talvez não valha a pena continuar
lendo este livro. De qualquer modo, dê uma olhada no verbete
EROTISMO.
ANDERSEN,
Hans Christian (1805-1875) – Tive uma mulher, mãe da
minha segunda filha, que nasceu na mesma cidade que ele: Odense, na
Dinamarca.
Cidadezinha
bonita, mas muito triste, principalmente durante o inverno, que lá
também acontece no outono e num pedaço da primavera.
Hans
tinha cara de cavalo, muito alto, pés e mãos enormes, magrão e
desajeitado. Patão feio, mesmo.
Era
parecido com o Ronald Reagan Jr.
Duas
diferenças: o filho adotivo do homem que quer acabar com a Nicarágua
tem mania de dançar balé e parece que gosta de caçar armanhos.
Hans
tinha mania de ser cantor lírico, mas jamais caçou um armanho
sequer.
Em
compensação, nunca foi para a cama com mulher alguma.
Não
porque não gostasse.
Era
tímido demais.
Além
de feio, era pobre e tinha uma voz aguda, muito feminina.
Seu
pai era maluco e sua mãe mitômana.
Com
onze anos começou a trabalhar numa fábrica de tecidos para ajudar a
família.
Por
causa da sua voz, os outros operários baixaram suas calças para ver
se ele era homem mesmo.
Aos
quatorze anos, vestido como mendigo, foi para Copenhague onde,
naturalmente, não fez sucesso como cantor, mas arranjou um protetor:
Jonas Collin, diretor do Teatro Real, que tomou o lugar do seu pai.
Seria
muita sacanagem se não fizesse sucesso como escritor.
Não
pelas obras que considerava sérias, mas pelas que considerava
“bobagens”: os seus contos de fadas.
Escreveu
mais de 150 e eles abriram as portas da realeza europeia para ele.
Tudo
isso, porém, não foi suficiente para vencer sua timidez.
Deixava
os salões e ia aos bordéis onde batia papo com as piranhas.
Pagava
direitinho. Só exigia que elas batessem papo peladas.
Depois
corria para seu quarto de hotel e batia uma punheta.
O
autor do Patinho Feio, O Novo Traje do Imperador, A
Pequena Sereia e muitos outros contos conhecidos em todos os
continentes, morreu de câncer no fígado em Copenhague.
Tremenda
sacanagem.
APRIL
ASHLEY (1930- ) – Hoje em dia é moda. Bichona não
gosta da inútil paisagem, acha que não serve pra nada, economiza
uma grana, vai a um cirurgião e manda tirar fora.
Chato
é o cara depois da operação – já sem a iguaba – descobrir que
está apaixonado pela enfermeira.
Passa
de viado a sapatão. Destino marcado pela deusa Éphoda!
Mas,
como eu ia dizendo, na época da Ashley – princípio dos anos 50 –
era preciso ser muito macho para mandar cortar o pau fora.
Pois
o rapazinho, depois de passar algum tempo engajado na Marinha
Mercante Inglesa – o que terão feito com ele os velhos
lobos-do-mar, hein? –, chegou à conclusão, de que não gostava de
mulheres.
Ou
– quem sabe? – gostava tanto que até decidiu ser uma.
No
princípio se limitou a vestir roupas de mulher.
Foi
descoberto numa boate londrina de terceira pelo empresário Ali
Burnett, que o contratou para trabalhar em seu inferninho, então
conhecido no mundo inteiro, chamado Pigalle, em Londres.
Mas
o jovem Ashley se atormentava sempre que ia fazer pipi.
Se
perguntava: “O que é que eu faço com esta inútil paisagem?”
Aconselhado
pelo empresário, foi até Casablanca e mandou cortar.
Em
1963 se realizou como mulher ao se casar com Mr. John Corbett.
Viveram felizes durante seis anos, ocasião em que o marido pediu a
anulação do casamento porque “ele, apesar da operação, continua
homem”.
Alegou
que April mijava de pé e molhava o banheiro todo.
Levou
um tempão para descobrir isso, o sacana, hein?
De
qualquer modo, durante dois meses foram consultados
endocrinologistas, andrologistas, ginecologistas, psicologistas (são
psicólogos que nas horas vagas atendem no balcão como lojistas) e
outros entendidos nessas sacanagens.
Depois
de ouvi-los, o juiz Carl Ormerod decidiu: “Pelas evidências
apresentadas até agora, as cirurgias para a mudança de sexo não
são o suficientemente radicais (cáspite!!!) para que se modifique o
sexo que a criança tinha ao nascer”.
Quer
dizer: mesmo sem pau, Ashley, então com quase quarenta anos, foi
considerado homem pela justiça inglesa e Mr. Corbett deixou de pagar
a pensão que ele deveria receber caso fosse ela.
Onde
andará a idosa bicha nos dias de hoje?
Eis
um assunto à espera dos nossos jovens Tennessee Williams da Silva.
Conselho
às bichinhas apressadas: pensem bem na triste história do Veado de
Abril antes de se decidirem a dar o piu-piu pro gato.
ASTROLOGIA
– Há quem diga (e eu acredito) que já foi uma ciência exata que
perdeu um elo em determinado momento do trotar da humanidade.
Humanidade, belo nome para uma égua, hein?
A
verdade é que os antigos persas, assírios, egípcios, romanos, não
davam um peido na esquina sem consultar os astros.
Minha
experiência pessoal com a astrologia se passou em Roma quando, a
pedido de uma dessas revistas brasileiras para se ler no barbeiro,
fui fazer uma entrevista com Francesco Waldner, considerado o papa
dos astrólogos europeus.
Mas
fui como cliente.
O
Waldner, jogando uma quantidade enorme de água fora de uma luxuosa
bacia, indagava ao mesmo tempo em que apertava a minha mão: “Você,
tão bem-falante, com a linha da vida tão acentuada, só pode
ser...”
Deu
uma paradinha.
Eu
aproveitei a deixa e mandei: “Gêmeos”.
E
ele:
“Isso
mesmo, só pode ser Gêmeos”.
E
eu, pegando de volta as minhas 20 mil liras que ainda estavam sobre a
mesinha: “Mas acontece que eu sou Câncer, ragazzo”.
Há,
porém, quem acredite.
Pra
mim dá tudo na mesma: macumba, psicanálise, confissão, astrologia,
quem faz justiça e quem está com o revólver na mão,
principalmente se for juiz, militar ou latifundiário.
E
o que é que isso tudo tem a ver com sacanagem? – perguntará o
incrédulo leitor.
Até
agora, muito pouco, mas vai ter.
Acontece
que tem nego que acredita que a astrologia nos condiciona
sexualmente.
Por
exemplo: mulheres nascidas sob o signo de Libra podem ir fundo que,
no mínimo, são ninfomaníacas.
Pensem
duas vezes quando se chocarem com as representantes do Escorpião e
do Touro.
Além
de frias, vivem dizendo: “Mas não podemos apenas ser bons amigos?”
As
mulheres leões, ou seja, as leoas, seriam fidelíssimas.
Eu,
por exemplo, não concordo.
Tive
uma mulher do signo de Leão que me presenteou com um par de cornos
de fazer inveja a muito carro alegórico.
Já
as mulheres de Câncer não esperam nem o marido dobrar a esquina
para deixar o vizinho entrar.
Capricórnio
não tem perdão: homem, mulher, tudo homossexual.
Os
homens Escorpião seriam grandes comedores. Metafóricos.
Os
sagitarianos são como o Hans Christian Andersen: não perdem uma
oportunidade e quando estão sozinhos se masturbam pensando na mãe.
O
Virgem homem – ainda não foram descobertas as razões – adora
mijar nas pernas de senhoras idosas.
Mas
deixem eu elevar um pouco o nível do nosso papo: já há alguns anos
que a Academia Tchecoslovaca de Ciências está estudando o controle
da natalidade através da astrologia.
Não
têm mais o que fazer, esses tchecoslovacos!
É
por isso que volta e meia levam uma traulitada russa.
Mas,
dizia eu, o Dr. Eugen Jonas, diretor do departamento de psiquiatria
da clínica Nagisurana, notou que a maioria das suas pacientes
apresentava notável disposição sexual, independentemente dos seus
ciclos menstruais.
Depois
de inúmeros testes, ele chegou à conclusão de que esses ciclos de
tesão extra relacionavam-se com a atividade planetária.
É
dose, hein? Descobrir que um planetão enorme como Júpiter, várias
vezes maior que a Terra, só serve pra dar tesão nas nossas
mulheres!
E
disse mais: “As mulheres têm maiores possibilidades de conceber
durante a mesma fase da lua que as viu nascer”. (De repente, eu me
pergunto se as fases da lua podem ver e ao mesmo tempo invade-me a
sensação de que devo esmagar urgentemente estas baratas à minha
frente, como se elas não passassem de meras metáforas representando
o PMDB e o PFL.)
Mas
vamos adiante.
Outro
troço que o bom Dr. Eugen disse ter descoberto: o sexo da criança
depende da lua estar num campo eclíptico positivo ou negativo.
Diz
ele que pode informar com 90% de precisão qual será o sexo da
criança e quando os pais devem ter relações sexuais para terem
filhos homens ou mulheres.
Eu
não acredito, mas as experiências do Dr. Eugen estão sendo
repetidas na Universidade de Stanford, bem mais respeitável a Gama
Filho, acreditem!
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