FLAGELAÇÃO
– Adepto da flagelação é o cara que pode tanto gostar de
chicotear e espancar o próximo ou a próxima como gostar de
chicotear e espancar a si mesmo, na maioria dos casos em busca de
admitida ou secreta gratificação sexual.
Foi
sempre um dos maiores musts da Igreja e em 1349 o Culto dos
Flageladores tinha milhares e milhares e milhares (todo mundo
escreveu milhares e milhares; eu escrevo milhares e milhares e
milhares) de membros que viajavam de cidade para cidade
chicoteando-se publicamente para deleite próprio e do distinto
público. Até que dava leite!
A
moda flagelatória expandiu-se rapidamente por conventos e
monastérios e muitos santos e santas católicos tomaram-se populares
graças ao zelo com que se aplicavam chicotadas.
O
negócio era mais ou menos assim: “Ai meu Deus do Céu, esqueci de
fazer a cama hoje de manhã! Acho que vou ter de me dar umas 150
chicotadas!”
E
como esqueciam de fazer a cama os santinhos!
No
fim do século XVII, porém, o Vaticano decidiu que o pessoal se
chicoteava demais e começou a desencorajar a prática do esporte.
Mas aí a moda já havia se espalhado pelo mundo, conforme o marquês
de Sade tão bem publicizou.
A
prática da flagelação era e é conhecida como le vice anglaise
no princípio deste século havia em Londres uma mrs. Walters,
reconhecida publicamente por pais e mestres uma excelente
profissional.
Mas
deixemos a boa mrs. Walters falar da sua especialidade: “Primeiro é
preciso medir a distância com o chicote na mão. Depois, colocar-se
ao lado do menino e da menina malcomportados e começar a chicotear.
Bem devagar, mas com decisão. Tenho o maior cuidado para dar as
lategadas em lugares diferentes do corpo e, às vezes, seis são
suficientes, sempre que aplicadas com força total. Se a falta
cometida pelas pestinhas pedir uma punição mais severa eu, depois
de chicotear as costas, chicoteio os peitos. No caso da criança
berrar, algumas chicotadas extras são aconselháveis. Se um menino
ou menina, porém, resiste à dor bravamente, eu costumo dar apenas
dez em vez de doze golpes".
Dizem
que os clientes da sra. Walters não entendiam por que assim que
acabava de aplicar o castigo ela se trancava no banheiro por mais de
meia hora e ficava dando gritinhos de prazer.
No
Brasil a flagelação (nos outros) é considerada normalíssima, o
que explica o tratamento dado pela polícia aos seus hóspedes,
principalmente se eles forem negros e pobres.
FRAGILIDADE
– Shakespeare disse pela boca de Hamlet, logo no primeiro ato,
“Frailty thy name is woman”, e Eugênio da Silva Ramos traduziu
para “Fragilidade, chamas-te mulher”, quando seria bem mais
literal e eufônico traduzir “Fragilidade teu nome é mulher”.
O
bardo de Avon (que não ficava de porta em porta vendendo talco e
água-de-colônia) não entendia picles de mulher ou fragilidade.
Em
primeiro lugar porque a mulher vive mais que o homem e, segundo
torturadores dignos de crédito, suportam com maior estoicismo a dor
física.
Em
segundo lugar porque a frase deveria ser “Fragilidade, teu nome é
cuIhão” ou "Fragilidade teu nome é saco”.
Vocês
já repararam que a parte mais importante da anatomia do homem, os
seus testículos, são os mais vulneráveis de todo o reino animal?
Mais mal situados que os nossos ovos só mesmo o pau do zangão, que
uma vez introduzido na vagina da abelha-rainha rompe-se imediatamente
e o pobre bichinho sangra até a morte.
FRASIER
(1951-1972) – Não estou falando daquele Joe Frasier que
primeiro deu e depois apanhou do Cassius Clay. Se o Frasier de que
falo fosse um homem, teria oitenta anos, mais ou menos, quando perdeu
seu emprego num circo mexicano. Frasier era um leão de dezenove,
quase vinte anos, todo fudido, meio cego, sofrendo de artrite e
reumatismo, tinha até problemas para caminhar.
Como
o dono do circo não tinha mais dinheiro para comprar-lhe comida,
acabou dando o velho para o Lion Country Safari, da Califórnia, no
dia 13 de fevereiro de 1971.
Frasier foi para um hospital, onde o
trataram até considerá-lo curado, mas ainda assim todo ruim.
De
sacanagem, o pessoal do zoológico colocou-o junto com doze jovens
leoas que tinham entre dois e quatro anos de idade.
Digo
de sacanagem porque essas leoas já tinham botado pra correr dois
leões ainda rapazinhos e extremamente viris. Um deles, o mais metido
a Casanova, saiu todo arranhado.
Frasier
entrou no espaço reservado às leoas como quem não quer nada. Os
tratadores ficaram observando de longe e viram que as fêmeas nem se
aproximaram dele.
Na
manhã seguinte o encontraram feliz da vida, patas para o ar, deitado
no meio do mulherio (leoío?). Chegaram à conclusão que o bicho
havia passado uma das noites mais felizes de sua longa vida.
Nos
dias subsequentes o pessoal do Lion Country Safari notou que sempre
que Frasier demonstrava sinais de estar com fome as doze leoas
brigavam para trazer comida para ele. E mais: como não tinha quase
dentes, elas mastigavam a carne antes dele metê-la na boca.
Quando
ele decidia dar uma voltinha, duas leoas andavam ao seu lado para
protegê-lo. A maior parte do dia, porém, ele ficava deitadão,
rodeado pelas fêmeas como se fosse um deus.
Gentileão,
aparentemente, ele trabalhava à noite com discrição, silêncio e
afinco, pois em menos de dezesseis meses as doze leoas deram à luz
nada menos que trinta e cinco leõezinhos e leoazinhas.
O
sucesso de Frasier como amante ganhou manchetes nos jornais de todo o
país, mandaram confeccionar T-shirts com a sua cara estampada
e o Congresso decidiu dar-lhe o título de “pai do ano”.
Morreu
tranquilo, dormindo, depois de uma boa trepada no dia 13 de junho de
1972.
O
senhor aí que está com oitenta anos, não desista. Faça como
Frasier: engravide umas trinta e cinco mocinhas e em pouco tempo será
o patriarca de uma cidade.
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