quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 24)


FLAGELAÇÃO – Adepto da flagelação é o cara que pode tanto gostar de chicotear e espancar o próximo ou a próxima como gostar de chicotear e espancar a si mesmo, na maioria dos casos em busca de admitida ou secreta gratificação sexual.
Foi sempre um dos maiores musts da Igreja e em 1349 o Culto dos Flageladores tinha milhares e milhares e milhares (todo mundo escreveu milhares e milhares; eu escrevo milhares e milhares e milhares) de membros que viajavam de cidade para cidade chicoteando-se publicamente para deleite próprio e do distinto público. Até que dava leite!
A moda flagelatória expandiu-se rapidamente por conventos e monastérios e muitos santos e santas católicos tomaram-se populares graças ao zelo com que se aplicavam chicotadas.
O negócio era mais ou menos assim: “Ai meu Deus do Céu, esqueci de fazer a cama hoje de manhã! Acho que vou ter de me dar umas 150 chicotadas!”
E como esqueciam de fazer a cama os santinhos!
No fim do século XVII, porém, o Vaticano decidiu que o pessoal se chicoteava demais e começou a desencorajar a prática do esporte. Mas aí a moda já havia se espalhado pelo mundo, conforme o marquês de Sade tão bem publicizou.
A prática da flagelação era e é conhecida como le vice anglaise no princípio deste século havia em Londres uma mrs. Walters, reconhecida publicamente por pais e mestres uma excelente profissional.
Mas deixemos a boa mrs. Walters falar da sua especialidade: “Primeiro é preciso medir a distância com o chicote na mão. Depois, colocar-se ao lado do menino e da menina malcomportados e começar a chicotear. Bem devagar, mas com decisão. Tenho o maior cuidado para dar as lategadas em lugares diferentes do corpo e, às vezes, seis são suficientes, sempre que aplicadas com força total. Se a falta cometida pelas pestinhas pedir uma punição mais severa eu, depois de chicotear as costas, chicoteio os peitos. No caso da criança berrar, algumas chicotadas extras são aconselháveis. Se um menino ou menina, porém, resiste à dor bravamente, eu costumo dar apenas dez em vez de doze golpes".
Dizem que os clientes da sra. Walters não entendiam por que assim que acabava de aplicar o castigo ela se trancava no banheiro por mais de meia hora e ficava dando gritinhos de prazer.
No Brasil a flagelação (nos outros) é considerada normalíssima, o que explica o tratamento dado pela polícia aos seus hóspedes, principalmente se eles forem negros e pobres.

FRAGILIDADE – Shakespeare disse pela boca de Hamlet, logo no primeiro ato, “Frailty thy name is woman”, e Eugênio da Silva Ramos traduziu para “Fragilidade, chamas-te mulher”, quando seria bem mais literal e eufônico traduzir “Fragilidade teu nome é mulher”.
O bardo de Avon (que não ficava de porta em porta vendendo talco e água-de-colônia) não entendia picles de mulher ou fragilidade.
Em primeiro lugar porque a mulher vive mais que o homem e, segundo torturadores dignos de crédito, suportam com maior estoicismo a dor física.
Em segundo lugar porque a frase deveria ser “Fragilidade, teu nome é cuIhão” ou "Fragilidade teu nome é saco”.
Vocês já repararam que a parte mais importante da anatomia do homem, os seus testículos, são os mais vulneráveis de todo o reino animal? Mais mal situados que os nossos ovos só mesmo o pau do zangão, que uma vez introduzido na vagina da abelha-rainha rompe-se imediatamente e o pobre bichinho sangra até a morte.

FRASIER (1951-1972) – Não estou falando daquele Joe Frasier que primeiro deu e depois apanhou do Cassius Clay. Se o Frasier de que falo fosse um homem, teria oitenta anos, mais ou menos, quando perdeu seu emprego num circo mexicano. Frasier era um leão de dezenove, quase vinte anos, todo fudido, meio cego, sofrendo de artrite e reumatismo, tinha até problemas para caminhar.
Como o dono do circo não tinha mais dinheiro para comprar-lhe comida, acabou dando o velho para o Lion Country Safari, da Califórnia, no dia 13 de fevereiro de 1971. 
Frasier foi para um hospital, onde o trataram até considerá-lo curado, mas ainda assim todo ruim. 
De sacanagem, o pessoal do zoológico colocou-o junto com doze jovens leoas que tinham entre dois e quatro anos de idade.
Digo de sacanagem porque essas leoas já tinham botado pra correr dois leões ainda rapazinhos e extremamente viris. Um deles, o mais metido a Casanova, saiu todo arranhado.
Frasier entrou no espaço reservado às leoas como quem não quer nada. Os tratadores ficaram observando de longe e viram que as fêmeas nem se aproximaram dele.
Na manhã seguinte o encontraram feliz da vida, patas para o ar, deitado no meio do mulherio (leoío?). Chegaram à conclusão que o bicho havia passado uma das noites mais felizes de sua longa vida.
Nos dias subsequentes o pessoal do Lion Country Safari notou que sempre que Frasier demonstrava sinais de estar com fome as doze leoas brigavam para trazer comida para ele. E mais: como não tinha quase dentes, elas mastigavam a carne antes dele metê-la na boca.
Quando ele decidia dar uma voltinha, duas leoas andavam ao seu lado para protegê-lo. A maior parte do dia, porém, ele ficava deitadão, rodeado pelas fêmeas como se fosse um deus.
Gentileão, aparentemente, ele trabalhava à noite com discrição, silêncio e afinco, pois em menos de dezesseis meses as doze leoas deram à luz nada menos que trinta e cinco leõezinhos e leoazinhas.
O sucesso de Frasier como amante ganhou manchetes nos jornais de todo o país, mandaram confeccionar T-shirts com a sua cara estampada e o Congresso decidiu dar-lhe o título de “pai do ano”.
Morreu tranquilo, dormindo, depois de uma boa trepada no dia 13 de junho de 1972.

O senhor aí que está com oitenta anos, não desista. Faça como Frasier: engravide umas trinta e cinco mocinhas e em pouco tempo será o patriarca de uma cidade.

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