DON
JUAN – Don Juan Tenório, de uma ilustre família dos 24
de Sevilha, matou uma noite o comendador Ulloa, depois de lhe ter
roubado a filha. Don Juan era um sedutor emérito, homem rico,
altivo, de bom aspecto, se ria de Deus e do Diabo, não acreditava em
porra nenhuma e não sabia o que era remorso.
Comendador
Ulloa foi enterrado no convento de São Francisco, cujos monges
convidaram Don Juan para uma visita e o mataram à traição. Fizeram
correr o boato de que ele teria ido insultar a vítima no seu túmulo
e que a estátua do velho o tragara e carregara para o inferno.
O
personagem é lendário, mas deve ter existido. Pessoalmente, creio
que nenhum outro despertou tanto a curiosidade de tantos artistas.
Desde
Tirso de Molina (1561-1648), que inspirado em Don Juan escreveu a
comédia El Burlador de Sevilla, até Lorde Byron, passando
por Villiers, Dorimand, Dumesnil, Corneille, Shadwell, Antonio
Zamorra, Molière, Goldoni, Gluck, Righini, Alexandre Dumas,
Zorrilla, Holtei, Grabbe, Wise, Ponte, Mozart, para citar apenas os
mais conhecidos, que Don Juan vem servindo de motivo para dramas,
comédias, óperas e, naturalmente, no século XX, filmes.
Sem
nenhuma base científica, eu ousaria dizer que Shakespeare só não
aproveitou a história de Don Juan porque viveu antes dele, se é que
ele viveu alguma vez.
De
qualquer forma, Molina, o primeiro a usar Don Juan Tenório no
teatro, era uns trinta anos mais jovem que o pai de Romeu, Julieta,
Hamlet, Macbeth e tantos outros amantes infelizes.
Por
que estou dedicando um verbete a Don Juan? Só porque ele raptou uma
donzela e matou seu pai? Não, minha senhora. O homem era fogo. Ou
melhor: com ele era foda!
Kinsey
descobriu em sua longuíssima pesquisa que poucos homens foram para a
cama com mais de cem mulheres.
Mas
houve um sujeito na Inglaterra vitoriana chamado Walter que teria
comido 1.002 mulheres.
Giacomo
Casanova Veneziano teria chegado a 1.203, o que é brincadeira
comparado ao recorde de Don Juan: 2.065 donzelas raptadas e
devidamente executadas até a noite em que os monges do convento de
São Francisco botaram a piroca, bem como o corpo de Don Juan que
estava ligado a ela, para descansar.
No
carnaval de 1952 – não lembro o nome do autor – surgiu no Rio
uma marchinha que dizia “Fidalgos, fechai portas e janelas, que Don
Juan é ladrão de donzelas”.
DOUGLAS,
Lorde Alfred (1870-1945) – Eu estava em dúvida entre
dismenorréia e ducha. Acabei ficando com o lorde
Douglas, porque ninguém perde nada em continuar ignorando o que é
dismenorréia e ducha é ducha mesmo. Dizem que certas dachas
têm duchas, mas creio que isto logo acabará, agora que Gorbachev
provou que o comunismo é possível na Rússia.
Nossos
jornalistas mais babacas e a direita mais reacionária, feita de
gorilas que se fazem chamar de falcões, acham que a Rússia abriu as
pernas para o capitalismo quando ela apenas está começando a
exercitar o comunismo.
Mas
voltando ao lorde Douglas: ele aparece aqui porque estava impaciente
no limbo batendo o pezinho e perguntando: “E a boneca aqui, quando
vai ser verbetada?”
Alfred
Douglas foi apenas um entre as centenas de maus poetas baitolas que a
Inglaterra produziu e continua produzindo.
Mereceu
levar uma verbetada no rabo porque entregava o anel para outro perobo
– este bom poeta –, Oscar Wilde, que o chamava carinhosamente de
Bosie.
O
autor de O Retrato de Dorian Grey conheceu a bichinha, aliás
filha do oitavo marquês de Queensberry, quando já tinha quarenta
anos.
Ela,
a Douglas, que desmunhecava tanto em criança que seus pais tiveram
que amarrar seus pulsos, estudava em Oxford onde editava um jornal
poético chamado The Spirit Lamp.
Viram?...
O pessoal do jornal Lampião (que circulou no começo dos anos
80 aqui no Brasil e tinha entre seus diretores Aguinaldo Silva e
Darcy Penteado), ao escolher o nome para a publicação, não se
inspirou apenas no famoso cangaceiro.
Mas
voltando à vaca que a esta altura já deve estar congelada: o
negócio entre os dois foi amor à primeira vista mesmo. Douglas,
porém, jogava tanta água fora da bacia que, de cara, Wilde foi
obrigado a se livrar dum cara que o comia e ameaçava fazer
chantagem.
As
brigas, reconciliações, cartas de amor, telegramas e poemas dos
dois eram famosos na Londres da rainha Vitória. Acabaram chegando a
um acordo: em vez de brigarem por ciúme decidiram sair juntos à
caça.
Costumavam
dar esplêndidos jantares no restaurante Kettner, para cavalariços,
soldados e prostitutos masculinos que passavam da cama de um para a
cama do outro.
Pai
de viado é como marido corno: é sempre o último a saber. Cedo ou
tarde um cara, cujo sobrenome traduzido para o português quer dizer
literalmente o frutinha da rainha, tinha que ter um fresco na
família.
De
modo que um dia alguém informou ao marquês de Queensberry: “Rapaz,
tu abre o olho que o teu filho está entregando o anel de couro pro
Oscar Wilde”. O velho ameaçou matar o poetão se ele não parasse
de comer o poetinha.
Chegou
até a ir falar com a mulher do poetão, que era casado, tinha
filhos, mas não tomava vergonha. A mulher do Oscar disse que também
tentara persuadi-lo a deixar o esporte de “acrocar” no salame,
mas em vão.
Na
estreia da peça – uma das melhores, senão a melhor escrita no
século XIX na Inglaterra – The Importance of Being Earnest
(de tradução impossível), o marquês compareceu com um cestão
cheio de legumes podres que jogou no palco, mas a nossa Oscarina, nem
deu bola!
Só
encheu quando o “sogro”, a quem nunca poderia dar netos, deixou
um bilhete no Albermale Club, endereçado a “Oscar Wilde, que posa
de sondomita” (é sondomita mesmo, revisor, porque o velho fruto da
rainha não sabia escrever direito).
Vai
ver porque era sodomita mesmo e não “posava de”, Wilde decidiu
processar o pai de Bosie por calúnia e entrou bem, pois muitos
garotos que haviam trabalhado na mesa e na cama dele foram ao
tribunal confirmar: “O Oscarzão é chegado a um pepino”.
E
o Oscarzão, em vez de se mancar, durante sua defesa declamou poemas
em louvor do amante: “A sua alma passeia entre a paixão e a
poesia” ou “como são belos os seus lábios de pétalas de rosa”.
Esses poemas de merda, entretanto, não melhoraram a situação de
Wilde, que foi condenado a alguns anos de trabalhos forçados.
A
bichinha Douglas aproveitou para se arrancar da Inglaterra e passou o
resto da vida entre Paris e Roma escrevendo maus versos e dando
pacas. Troço chato!
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