quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 14)


D’ANNUNZIO, Gabriele (1863-1938) – Como escritor e autor de teatro, definitivamente datado. Quando eu era criança costumava folhear seus livros só para ler as passagens sacanas, ricas em eufemismos como “monte de vênus”, “dardo do amor”, “globos de carne” e outras besteiras.
Este careca baixinho (tinha 1,65 m) não foi flor que se cheirasse, mas devo dizer uma coisa a seu favor: não foi hipócrita e era um cara corajoso.
Filho do prefeito da cidade de Pescara, desde a adolescência era conhecido (e admirado) como grande comedor de mulheres.
Com vinte anos, contra a vontade do pai da moça, se casou com Maria Gállese, filha do duque de Gallese, que não sabia que ela estava grávida.
Aos vinte anos ele já tinha reputação de galinha, mas ainda assim Maria ignorou as ameaças do pai.
Não deu outra: D’Annunzio, em quatro anos, lhe fez três filhos, a corneou com dezenas de mulheres e gastou quase toda a sua fortuna.
Maria, porém, declarou certa vez que, apesar do trabalho extra fora de casa, ele não descuidava dela, comendo-a sempre que requisitado.
Já outras línguas ressaltam que Maria gostava mesmo era de viados.
Não os de quatro patas, mas os de duas pernas.
Morreu em 1887, aos vinte e seis anos, conhecida como a Rainha das Bichas, ou, como diziam os italianos da época, La Regina dei Finocchi.
Viúvo, D'Annunzio continuou gastando com empregados e mulheres o dinheiro da herança da mulher (que deveria ir para os filhos) até que em 1910 teve que fugir dos credores e foi parar na França, onde continuou comendo tudo que usasse saia e não fosse nem escocês nem padre.
Quando estourou a Primeira Guerra Mundial, voltou para a Itália para se transformar no maior herói e piloto de guerra italiano e chegou a ficar cego de um olho em ação. Era rara a mulher, depois disso, que não quisesse ir para a cama com o baixinho careca.
A verdade é que ele fez a fama, deitou na cama e ficou esperando o mulherio, que arriscava fortuna e reputação para ser comido por ele.
Feministas, atenção: tratava mal as mulheres, jamais aceitou a possibilidade delas terem um cérebro e, entretanto, parece ser verdadeira a afirmação de que foi para a cama com mais de mil delas.
Na condessa Mancini, com quem teve um romance, ele conseguiu desenvolver um complexo de culpa tão grande que a mulher pirou.
A marquesa Alessandra de Rudini Carlotti, filha do primeiro-ministro italiano, depois de abandonada por ele, entrou para um convento.
Da bela Bárbara Leoni levava alguns pentelhos dentro de um medalhão. Depois que trepavam, enquanto ela dormia, ele anotava detalhes da foda, que posteriormente utilizava em romances que se tornariam muito populares.
A condessa Maria Anguisina gastou uma fortuna para manter o amor do romancista. O marido dela acabou botando os dois em cana por adultério. Em compensação, ficou conhecido como il grande cornuto d’Italia.
D'Annunzio fez dois filhos na condessa e se mandou para a cama da atriz Eleonora Duse, onde ficou durante nove anos, só saindo para comer outras mulheres e escrever novos romances e peças de teatro.
Ela também era maluca, pois bebia com ele durante o jantar estranhas misturas afrodisíacas servidas no crânio de uma virgem.
Nem isso fez com que ele deixasse de escrever um romance dizendo que havia se cansado dela (quatro anos e meio mais velha que ele) pois “aos quarenta e dois anos seus seios começaram a cair, uma coisa inconcebível”.
Malucão, disse que podia comunicar-se com a Duse (depois que ela morreu, é claro) sempre que comia uma romã em frente a uma estátua de Buda. Dizia ainda que depois de morto, queria ser disparado por um canhão ou desintegrado em ácido.
Fascista, como mais da metade da Itália na época, D'Annunzio morreu aos setenta e cinco anos escrevendo em sua elegante mansão no lago Gada, cercado por mais de cem empregados.
Um cara que leva uma vida como a que ele levou não precisa ser bom escritor, não é mesmo? Só não convenceu a atriz Sarah Bernhardt: “Aquele baixinho careca tem olhinhos de bosta”.

DASHWOOD, sir Francis (1708-1781) - Além de sacanólogo, um dos maiores sacanólogos do mundo, fundador de um clube de sacanas-satanistas chamado Clube do Fogo do Inferno. Comparados com os sócios do Hellfire Club (fica mais chique em inglês, não é mesmo?), os adoradores do bebê de Rosemary não passavam de pudicíssimas donzelas.
Aos dezesseis anos, por ocasião da morte dos seus pais, ele entrou numa grana pretíssima e partiu para...? Acertou quem pensou sacanagem.
Aos vinte e um anos já havia comido a imperatriz Ana da Rússia, fingindo ser o rei Carlos XII da Suécia.
Por que a imperatriz russa podia ser comida pelo rei sueco e por mais ninguém é um mistério quase tão impenetrável como alguém querer entrar para a Academia Brasileira de Letras e tomar chá com o José Sarney e o Eduardo Portella.
Não contente com isso, num domingo romano, armado de um longo chicote, entrou na capela Sixtina e lategou com saudável vigor a bunda dos penitentes que rezavam.
De volta à Inglaterra, fundou, juntamente com outros sacanólogos (o membro do parlamento John Wilkes e o escritor Lawrence Steme) o seu Hellfire Club, cuja sede era na abadia de Medmenham, em Londres.
Felizmente, Freud ainda não havia nascido para informar que uma vez que as coisas que agradavam a Dashwood não agradavam a Deus, ele sentiu-se na obrigação de adorar o Diabo. (E eu me pergunto: por que esta necessidade idiota de adorar algum troço?)
Vai daí que ele e sua patota, vestidos de monges, além de praticarem magia negra, ainda tinham sob seu domínio mais de cinquenta moças da melhor sociedade inglesa, que não devia ser das melhores.
Eram todas metaforicamente comidas enquanto se compraziam em imitar a madre Joana dos Anjos que foi, posteriormente, homenageada em grandes descabelamentos palhaçais por Aldous Huxley, Kavalerowsky e um diretor de cinema nervosinho chamado Ken Russell.
Além de sacana, Dashwood era também um pintor de razoáveis méritos. Decorou as paredes da abadia com afrescos eróticos onde abundavam velas em forma de trolha, crucifixos de cabeça para baixo, vitrais expondo os doze apóstolos em posições pouco ortodoxas... para dizer pouco, quase nada.
Na capela eram celebradas missas negras sobre o corpo de jovens peladas em cujos umbigos os sacanas bebiam vinho. Como bebiam galões todas as noites em que tinha missa, vocês bem podem imaginar quantos umbigos eram necessários pura matar a sede da rapaziada.
Quem duvidar do que eu estou dizendo, dê um pulo a Londres e visite a igreja, mediante uma módica contribuição. Ela está aberta à visitação pública.
Aparentemente, as sacanagens privadas de Dashwood não interferiram na sua vida pública, pois ele acabou sendo nomeado diretor-geral dos Correios Ingleses, cargo que exerceu com dedicação e honestidade até o dia da sua morte.

Acredita-se que não tenha ido para o céu e que os cornos do diabo aumentaram alguns centímetros desde que ele pintou no inferno.

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