sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 5)


BICHA – Substantivo feminino. Nome comum a todos os vermes e répteis de forma alongada: lombriga, sanguessuga; fila, fileira de pessoas; divisa ou galão em mangas de uniforme; certo brinquedo infantil (fam.); mulher muito irritada (bras.); canudinho de papelão cheio de pólvora, que estala quando se lhe põe fogo; (gír.) febre amarela. Embora o Dicionário de Língua Portuguesa, de J. Carvalho e Vicente Peixoto, não registre, há ainda bichas que tomam no rabo e chupam pau.

BIZARRIA – Segundo G. L. Simon, autor do Simon’s Book of Sexual Records, a palavra é extremamente subjetiva, pois quem pratica um ato bizarro às vezes não se considera bizarro. Por exemplo: vocês acham que o júri do Sílvio Santos, que compõe o Museu do Bizarro, se considera bizarro?
Vocês acham que a turma do poire do Dr. Ulysses considera bizarro o fato de termos esperado vinte e cinco anos para ver eles encherem a cara com aguardente de pera importado enquanto 75 milhões de brasileiros vivem abaixo de cu de cachorro?
De qualquer forma, o Simon se referia à bizarrice no ato sexual.
Tem gente que só consegue gozar enterrado na lama até o umbigo.
Outros – havia um milionário alemão famoso que morava no Rio de Janeiro – têm mania de pedir para a mulher fazer cocô no peito dele.
Existem homens e mulheres que só conseguem gozar comendo a meleca do nariz do parceiro e outros que ainda precisam ser mijados dos pés à cabeça.
Falar nisso, não sei se eles gostam, mas sempre que vocês encontrarem alguém da seita Moon ou da Tradição, Família e Propriedade enchendo o saco dos transeuntes, dêem uma mijada nas pernas deles. Não servem para mais nada.
Mas, enfim, Krafft-Ebing, um sexólogo taradão, passou a vida inteira colecionando bizarrices sexuais.
Pessoalmente, creio que os políticos brasileiros que defendem o arrocho salarial e o descongelamento de preços são todos muito bizarros.
Bebem pipi e comem cocô.
Sério: é que teriam que ser super-homens para aguentarem tanto horror.
Fazem uma sacanagem com o povão e em seguida vão até o bordel onde pagam uma moça ou um rapaz para fazer cocô e pipi na cara deles, além de xingá-los de “ladrão”, “corrupto”, “canalha”.
O bizarro, todo mijado e cagado, goza ao ouvir esses insultos, chora um pouco e, completamente purgado, sai para a rua pronto para sacanear o povão novamente.

BOCCACCIO, Giovanni (1313-1375) – Filho da puta. Na época, um troço sério. Não como hoje em dia, quando qualquer garotinho xinga outro com este epíteto. Realmente, o Brasil moderno está cheio de filhos da puta, principalmente entre a classe dominante. As mães deles, embora incluídas no insulto (e as mais insultadas) não têm nada a ver com a filha da putice dos filhos.
Deu pra entender? Não? Então eu tento de novo: chamar um cara de filho da puta hoje em dia não significa necessariamente que você tenha alguma coisa contra a mãe dele.
Virou um insulto isolado, independente da mãe, sentiram?
É um troço tão maluco que, em certos casos, vira até adjetivo carinhoso: “Dá cá um abraço, seu filho da puta”.
Eu disse que o Boccaccio era um filho da puta não para insultá-lo, que eu estou muito velho pra me iniciar na profissão de dedo-duro.
Além disso, admiro o cara.
É que o pai dele – um mercador da Toscana – sempre que ia à Florença visitava uma certa casa dentro da qual o esperava uma certa senhora e que ele certamente tascava.
Depois de certo tempo a mulher deu à luz o nosso Bocca e foi logo dizendo pro velho toscano: “Toma que o filho é teu”.
Apesar de casado com a sra. Boccaccio, ele enfrentou a barra e levou o guri para casa.
Não sei se como filho da puta, como diplomata, como professor ou como amigo de Petrarca, o jovem não levou muito tempo para fazer sucesso.
A verdade é que foi o melhor escritor da sua época.
Ou tem aí algum membro da tribo dos analphas que nunca ouviu falar no Decameron?
Pois foi ele quem escreveu.
Aliás, não escreveu só o Decameron que o Pasolini homossexualizou demais na sua versão cinematográfica.
Quando jovem escreveu contos, pastorais e poemas, entre eles Filostrato, a história de amor entre Troilus e Cressida que mais tarde foi devidamente chupada por Chaucer e Shakespeare, respectivamente.
Mas façamos justiça aos ingleses: a versão deles é melhor que a do italiano.
Il Decamerone, que foi escrito em 1358, é uma coleção de cem histórias supostamente narradas por dez aristocratas que se refugiam numa casa de campo para escapar de uma peste braba que havia atacado Florença.
As sacanas e os sacanas passavam o tempo contando histórias de sacanagem uns para os outros.
O tema favorito: estratagemas usados por jovens esposas para cornear velhos maridos.
Recentemente, jovem senhora, casada com industrial ancião, rico, ladrão e filho da puta (no sentido que expliquei pra vocês no início deste verbete), me confessou que até hoje o velho Decameron lhe fornece excelentes ideias.
Muito anticlericarismo apresentando freiras ninfomaníacas perseguindo o jardineiro do convento e padres sacaníssimos fantasiados de anjos visitando senhoras “religiosas”, casadas com senhores ciumentíssimos.
Depois da Bíblia, o Decameron é o livro mais lido e mais proibido em todos os conventos da Itália.
Recentemente foi excluído do index porque simancol não se receita só pra paisano.
Proibir Boccaccio morto e permitir Marcinkus vivo seria uma heresia, pois não?
Chaucer bebeu muito nas águas de Boccaccio ao escrever The Canterbury Teles, também enviadados por Pasolini no cinema, mas com maior fidelidade à época.
Nas tetas generosas de Boccaccio mamaram ainda Dryden, Keats, Tennyson e Swinburne, entre outros.

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