DEFOE,
Daniel (1660-1731) – Não tinha nada de sacana, o autor
de Robinson Crusoe, Moll Flanders, Um Diário do Ano
da Peste e Coronel Jack. Também não tinha nada de
puritano. Era, isso sim, um moralista no sentido mais humano do
termo, além de ser um dos seis melhores escritores da língua
inglesa de todos os tempos, ombreando-se com Swift, Lawrence,
Gibbons, Blake, Shaw, e só não falo em Shakespeare porque também
seria covardia.
Tinha
um grande caráter, foi o primeiro panfletário de categoria da
Inglaterra e por isso acabou curtindo um tempo de prisão. Seu
crime: a ironia do panfleto The Shortest
Way to the Dissenters.
“Então
por que está aqui neste ABC?”, perguntará a curiosidade mórbida
do leitor que quer comer cru. E eu respondo: está aqui porque, em
1724, ele escreveu um ensaio intitulado: Conjugal Lewdness, a
Treatise Concerning the Use and Abuse of the Marriage Bed and Marital
Whoredom.
Nele
Defoe trata de um mau costume muito popular na época: os sacanas, a
fim de viver sem trabalhar, raptavam jovens herdeiras que depois
defloravam.
Para
evitar maiores escândalos, os pais da moça faziam com que ela se
casasse com o canalha que, a partir de então deixava de ter
problemas sociais, econômicos e sexuais.
Quando
morei na Itália (graças à Redentora) entre 1968 e 1972 (depois fui
morar em Copenhague), este hábito ainda era muito comum,
principalmente na Sicília, onde uma moça que não fosse virgem
(mesmo que houvesse sido estuprada por um biltre qualquer) estava
desonrada para sempre.
Em
1970, uma jovem raptada e deflorada, rebelou-se contra este costume e
denunciou o seu raptor que, em vez de casar-se com ela, foi parar na
cadeia pra ver o que era bom pra tosse.
Em
compensação, a jovem teve de mudar-se da Sicília, pois por onde
passava aquelas mulheres de longos bigodes e vestidas de negro
comentavam: “Guarda, la violata”.
Mas
voltando ao Daniel Defoe, em seu ensaio ele disse: “Me parece um
absurdo que um cavaleiro possa ter a satisfação de ver pendurado na
forca o ladrão do seu cavalo e não possa enforcar o ladrão da sua
filha”.
Logo
depois da publicação do trabalho, raptar mulheres passou a ser
punível com a morte.
DEFLORAÇÃO
– Ato de romper o hímen, o que permite a penetração
do pênis na vagina. Falei bonito, hein? Simbolicamente significa o
fim da virgindade feminina que, porém, pode acontecer também
acidentalmente, ocasião em que, convenhamos, perde muito em poesia,
pelo menos. Cuidado, portanto, minhas virgens, ao montarem cavalos,
andarem de motocicleta por estradas cheias de buracos, colocarem o
tampax, o Modess ou o OB muito lá para cima.
Eu
digo “cuidado”, leitorinhas, não porque queira (como o maluco do
Damiani) que vocês continuem virgens, eternamente e nem porque creia
que lhes agrade se manter neste estado ou, finalmente, que pretendam
guardar esta fina membrana para a noite de núpcias.
Digo
“cuidado” só porque imagino que perder a virgindade do modo
tradicional – aquilo naquilo – deve ser muito mais divertido.
Já
houve época (ver verbete anterior) que a jovem que fosse deflorada
antes do casamento era apontada na rua pela suja puritanada.
Hoje
em dia o preconceito funciona ao contrário: quem morre de vergonha é
a moça que chega virgem ao casamento.
Senhoras
que já comi ao longo do meu quase meio século de existência
informam-me que “dói um pouquinho, sangra ligeiramente, mas o
prazer supera a dor”. Quem, quando garoto, já solou uma neneta
para fazer a dor de dente passar, manja do riscado.
O
sangue produzido pelo rompimento do hímen já foi elemento principal
de muitos rituais.
Na
Europa, até o princípio do século XVIII, por exemplo, o rei depois
de executar a rainha com quem recém se casara, exibia pra plateia
ignara um lenço manchado de sangue, prova da virilidade dele e da
inocência da moça.
Também,
mesmo que o sangue fosse do dedo dele, quem iria discutir? Rei
mandava pacas naquelas épocas.
Durante
o século passado (e até mesmo hoje em dia) muitos babacas gostavam
de contar vantagens sobre o número de jovens que haviam deflorado.
Vai
daí que as donas de puteiros viviam providenciando “virgens”
para esses idiotas. Havia sempre um médico de plantão nos bordéis.
A
“moça” era “deflorada” e assim que o cliente se retirava era
imediatamente revirginizada pelo esculápio, exímio restaurador de
hímens usados. No dia seguinte, lá estava a nossa “virgem” à
espera de outro imbecil.
Nas
sociedades mais primitivas (mais ainda?) se acreditava que as moças
que perdiam a virgindade antes do casamento abriam as portas para o
demônio.
Aproveitando-se
da falta do hímen, os demônios entravam nas bucetas e só saíam
depois de exaustivos exorcismos. Ninguém explicava por que os
sacanas não entravam nas vaginas casadas quando elas estavam
momentaneamente desocupadas.
Mas
quem é este modesto cronista para discutir dogmas?
Alguns
antigos rituais de defloração eram verdadeiros exercícios de
tortura. As senhoritas transformavam-se em senhoras diante da
sociedade quando o hímen delas era rompido por enormes falos de
pedra, madeira, marfim ou barro. As mocinhas mais ricas recebiam,
naturalmente, os de marfim.
Nataniel
Jebão, presidente do Sindicato Nacional de Cronistas Sociais sem
Coluna, acha isso tudo muito complicado. Segundo ele, o hímen, como
a crase, não foi feito para humilhar ninguém.
“Ele
está onde está – diz Jebão – para ser usado apenas no momento
em que o casal quer procriar. Uma vez que o clitóris está fora do
útero, para efeitos de prazer, sugiro o coito anal que, por outro
lado, ou melhor, do outro lado, é um anticoncepcional natural”.
Aconselho
as leitoras mais impressionáveis a não levar a sério as palavras
do nefando cronista mundano.
DEFORMAÇÃO
SEXUAL – Além do infinito e do nada, a única outra
coisa que, creio eu, não tem limites é a estupidez humana. Desde os
primórdios da civilização, por exemplo, que homens e mulheres se
mutilam para se tornarem mais atraentes sexualmente.
Até
a revolução de Mao Tsé Tung, na China, por exemplo, as mulheres
mantinham seus pés atados fortemente por panos, a fim de que jamais
ultrapassassem, por exemplo, o nº 32.
As
mulheres da tribo Bogobo, das ilhas Mindanao, limam seus dentes
frontais até torná-los todos pontudos.
Em
outras tribos do norte da África, as mulheres, desde crianças,
colocam anéis, uns sobre os outros, no pescoço, de modo a
esticá-los mais que Modigliani esticava os das suas modelos.
E
os índios, como o nosso Raoni, que faz o mulherio correr atrás dele
por causa do disco que tem no lábio inferior!
A
mulher urbana progrediu muito nas últimas décadas: mutilação
mesmo só o ato de furar as orelhas. No mais, equilibram-se sobre
tacos que podem ir até quinze centímetros e lambuzam a cara todos
os dias.
Os
homens põem fumaça para dentro dos pulmões, através de pequenos
caralhinhos de papel cheios de fumo, e usam um pedaço de pano no
pescoço que ninguém sabe para o que serve.
Mutilação
só os punks (apedeutas que não têm nada dentro da cabeça e por
isso precisam colorir os cabelos), que gostam de enfiar argolas no
nariz, e os judeus, que cortam um pedaço da pele do pau das suas
crianças logo depois que elas nascem.
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