segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

ABC do Fausto Wolff (Parte 8)


BYRON, lorde George (1788-1824) – Este nasceu manco, filho de uma mãe chatíssima e de um pai bêbado e pobre. Teria tudo para ser um desses “deixa que eu chuto” perseguidos por latidos de crianças e pedras de cachorros efedepês, não fora ter recebido – graças à morte providencial de um tio – o título de lorde e mais algumas propriedades.
Com soldi e nobiltá o capengar do bicho passou a ter seu charme e ele mesmo passou a ser considerado um homem bonito graças aos seus poemas românticos, realmente esplêndidos.
O mulherio não deixava o Byron em paz.
Para vocês terem uma ideia, a mulher do primeiro-ministro, lorde Melbourne – o nome dela era lady Caroline Lamb –, escreveu em seu diário: “Esse tal de lorde Byron é louco, ruim e perigoso”.
Vocês acham que depois de chegar a esta conclusão ela se afastou do poetinha? Que nada!
Deu uma punhalada no próprio peito quando viu ele arrastando as asas para outra mulher num baile para aristocracia, cornificação e orquestra.
Eu, pessoalmente, acho que há mais justiça e harmonia quando os poetas comem as mulheres dos políticos que o contrário.
Ponto para Byron, portanto!
A esta altura, porém, Byron já estava literalmente em outra, ou seja, já estava comendo a sua meia-irmã (só por parte de mãe) Augusta Leigh.
Ela era Leigh porque era casada com um tal de Leigh que não se incomodava que o cunhado executasse a sua mulher de vez em quando, entre um e outro poema de amor.
Afinal, o cara era lorde!
Mas a sociedade (que, quando não tem nada mais nada sério para fazer, faz dessas cagadas), exigiu a reparação quando Byron publicou The Bryde of Abydos, um conto onde exalta o amor incestuoso.
A sociedade exigia que Byron se casasse e ele se casou com uma cri-cri chamada Annabella Milbanke que, embora rabelha, tinha muita grana.
Mesmo assim Byron continuou visitando esporadicamente a cama da irmã e acabou tendo uma filha – Medora – com ela.
Foi quando a Annabella resolveu tirar o seu time de campo e deixar Byron numa ilha rodeada por um mar revolto feito de escândalos, porres e credores.
O mancão boa pinta, porém, não se emendou.
Encheu muito a moringa companhia de Shelley na Itália, para onde fugiu, e teve uma pá de amantes e pelo menos um filho bastardo.
De saco cheio com tanto sucesso (seus livros de poemas eram vendidíssimos), lutou ao lado dos gregos contra os turcos e morreu de febre, porra, aos trinta e seis anos de idade!
Viveu pouco, mas incomodou pra cacete!
Leiam Byron, que vocês vão gostar.
Pelo menos Hugo, Musset, Heine, Pushkin, Lermantov e, mais recentemente, Ray Bradbury, gostaram.
Depois saiam mancando por aí numa boa.

CANIBALISMO – O ato de comer carne humana ainda é muito comum entre algumas tribos da África e outras perdidas nos confins da floresta amazônica que nós civilizados ainda não conseguimos exterminar.
No que diz respeito aos negros e aos índios, comer carne humana tinha (tem?) um sentido não só prático, pois matava a fome, mas também religioso, místico: quem comia o coração de um guerreiro corajoso e forte, presumia-se, recebia dele essas virtudes.
Já no caso do homem branco que gosta de comer carne humana, o negócio é mais sério.
Agora tem um troço: se me vendassem os olhos e me dessem pra provar um bife de carne de carneiro e um bife de bunda mole humana bem temperados, eu acho que não notaria a diferença.
Mas eu queria dizer que o homem branco quando come carne de gente geralmente o faz associado à atividade sexual.
O conhecido maníaco sexual Kraft-Ebbing registra, em sua Psychopatia Sexuallis, o caso de um operário cuja tara era comer um pedaço de carne branquinha, de mulher.
Andava pelos parques londrinos atrás de uma vítima da qual cortaria um pedaço de carne para depois comer em casa sossegado, numa boa.
Mas cadê coragem?
O nosso operário, enquanto esperava por ela – a coragem –, cortava pedacinhos dos seus próprios braços e pernas.
Mastigava a sua carninha, fechava os olhos e imaginava que se tratava da carne de uma bela mulher.
Acabava gozando.
Malucão, sofria demais enquanto se cortava, mas o prazer era maior que a dor.
Quando finalmente foi preso num parque, seu corpo apresentava mais de cinquenta cicatrizes.
E, agora, muita atenção, mamães e papais: amores consentidos levam ao canibalismo metafórico, mas amores contrariados podem levar à antropofagia pra valer.
O caso que passo a relatar teve lugar na Escócia, um século antes de Shakespeare escrever o seu Macbeth (teria Macbeth comido Duncan depois de matá-lo?).
O papel de Romeu foi desempenhado por um camponês chamado Sawney Beane e o de Julieta pela jovem filha de um senhor feudal.
Os pais da moça não faziam gosto do casamento dos dois e eles fugiram e se refugiaram numa caverna na costa de Galloway.
Não teriam sobrevivido, caso o moço não tivesse lido a ideia de assaltar os viajantes que passavam pela estrada, quase sempre deserta.
Os corpos das vítimas eram arrastados até a caverna onde, depois de assa dos, eram devidamente devorados.
Esta dieta manteve o casal em excelentes condições físicas.
Tão excelentes, aliás, que tiveram oito filhos, que herdaram dos pais o gosto pela carne humana.
Os filhos tiveram filhos e durante gerações a família canibal viveu muito feliz até o dia em que todos foram capturados e seus corpos, os das criancinhas inclusive, rasgados na praça central de Edimburgo.
Um detalhe interessante: na caverna, além de centenas de esqueletos, foram encontrados dinheiro e jóias dos viajantes.
Coisas que, logicamente, não tinham a menor utilidade para o clã, pois que a carne de sua preferência eles não podiam comprar.
Como vocês vêem, o dinheiro não compra tudo.
O homem moderno – tirante os taradões – não pratica a antropofagia ou canibalismo por vários motivos religiosos, éticos, legais, etc. E, principalmente, porque o produto enlatado ainda não é encontrável nos supermercados.
Paro por aqui, pois não me aguento mais de fome!

CASTIDADE, Cinto de – Aparentemente inventado por um corno cansado de ser como. Consiste de um cinto (com uma fechadura) ao qual são coligadas placas de metal que tapam a vagina e o ânus da usuária. Essas placas têm buracos suficientemente largos para sair o pipi e, eventualmente, o cocô, mas não suficientemente largos para a entrada de um pênis.
Sempre achei esta história de cintos de castidade meio mal contada.
Ora, desde os antigos egípcios que o cobre, pelo menos, já era conhecidíssimo e com ele se poderiam fazer excelentes cintos de castidade.
Porque, então, o gadget só foi aparecer lá pelo fim do século XVI?
Será que antes disso o mulherio não ornamentava a testa dos maridos?
Prefiro acreditar que os maridos simplesmente estavam se lixando, pois o moralismo só se tornou violento mesmo na Inglaterra do século XIX.
Observei, entretanto, que o cinto de castidade fez sua entrada triunfal na mesma época das grandes navegações, época também em que a gonorréia e a sífilis matavam mais gente que o AIDS hoje em dia.
Vai daí que o bravo guerreiro botava o cinto na mulher e ia para suas batalhas certo de que nenhum cara passaria gonorréia nela. Isto penso eu.
A literatura erótica, entretanto, insiste que os cintos de castidade não tinham como propósito salvar a piroca do marido, mas a sua testa.
A piada mais antiga a este respeito é a de um cavaleiro que vai para a guerra e deixa a chave do cinto de castidade da sua mulher com seu melhor amigo.
Mal cavalga alguns quilômetros quando foi alcançado pelo “amigo”: “Rapaz, me deste a chave errada!”
A história verdadeira mais engraçada sobre o assunto aconteceu na França em 1934.
Henri Littière era um padeiro casado com uma bela mulher que tinha defeito de ter fogo no rabo.
Ele vivia de olho na galinha, mas ainda assim ela deu um jeito de corneá-lo quatro vezes em menos de oito meses.
Por mais que Henri lhe aplicasse uns justos corretivos, ela não se emendava.
Um dia, passeando pelo Museu Cluny, em Paris, o padeiro viu o cinto de castidade que Henrique IV da França havia mandado fazer para a sua amante, a marquesa Catherine Henriette de Balzac D’Entragues (1579-1633).
Com ajuda de um ortopedista, de um ferreiro e de um chaveiro, Henri acabou dando de presente o cinto para a mulher.
Chaveou o cadeado direitinho e foi para a padaria.
Algumas horas depois um velho amante de mme. Littière aparece na casa para dar uma bimbada.
Tira a roupa da fogueteira e descobre o cinto.
Sai de lá direto para a polícia, onde denuncia o padeiro, acusando-o de maus-tratos para com a mulher.
Intimado, Henri comparece diante do juiz que já está pronto para condenado por crueldade quando mme. Litièrre confessa: “Não adianta, seu juiz, sem cinto de castidade eu dou mesmo!”
A História não registra nenhum caso de mordaça de castidade, mas informa que, como hoje, o coito oral era muito difundido no século XVI e subsequentes.
Quem quiser encomendar um cinto, escreva para David Renwick, Sheffield, Inglaterra.
Verdadeiras obras de arte em ferro batido, feitas à mão.

Três anos atrás custavam 80 dólares a unidade.

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